— Mocinha, está na hora de ir para cama.
— Não!
— Mas que grude todo é esse com o seu irmão? Papai vai chorar.
— Não e não!
Assim que entrara em casa novamente, quase voando de pura felicidade, Theodore se deparou com a irmã pulando no sofá toda energética para o desespero de seus pais. O relógio pendurado na parede marcava nove da noite, e Lisa ainda estava animada demais para dormir.
Ficando atrás do sofá, Theodore assistia aquela negociação falha de Pete em acalmar a menininha. E assim que sua presença fora notada por ela, Lisa pulara em sua direção abraçando sua barriga onde esfregava as bochechas.
— Olha isso... Ela me ignora por completo.
— Será que é ciumes por ver um alfa perto do Theo? — Questionava a mãe cruzando os braços.
Acariciando os cabelos de Lisa, Theodore olhava a irmã que nos últimos dias descansava a cabeça em sua barriga. Houveram noites que ela dormia naquela posição. Sempre grudada ao irmão mais velho, procurando por ele quando chegava em casa.
Um grude que só!
— Lisa, minha barriga já tá ficando quente com você esfregando as bochechas desse jeito.
— Tem que esquentá! — Dizia a menina erguendo os olhos pro irmão. — A mamãe passarinho esquentá os ovinhos.
Balançando a cabeça confuso, Theodore rira. Por acaso a sua irmã estava o chamando de pássaro? O que ela estava aprendendo na escolinha?
— Mas eu não sou um passarinho. Não boto ovo.
A menininha inclinara a cabeça fitando a barriga do irmão, parecendo tentar assimilar as informações complicadas em sua cabecinha. Passando a mãozinha gordinha sobre o corpo do irmão, ela o olhava de novo ainda confusa.
— Mas... Tem ovinho aqui.
— Ovinho? — Theodore olhara para a mãe e o padrasto, que pareciam mais confusos que ele. — Que ovinho, Lisa?
Aproximando o rostinho da barriga do irmão, a menina farejava.
— Tem um ovinho de passarinho aqui dentro. Irmãozão vai botar um ovinho.
Como um estalo fizesse na mente de Aline, ela se aproximara do estofado ficando de joelhos, imitando a filha caçula ao farejar Theodore. Ver aquela cena era bizarra e estranha, não é como se ele tivesse comido ovos no jantar e ainda estivesse digerindo. Por que estavam daquele jeito?
— Nossa, o faro de Lisa é muito bom. — Comentara a mãe ao se afastar
— Por quê? Eu tomei banho, não deveria estar fedendo a ovo.
— Não é questão de sujeira, mas seu cheiro mudou.
— O meu cheiro? — Naturalmente Theodore erguera os braços farejando o seu cheiro, sem notar muita diferença. — Não sinto nada de diferente.
— Usou proteção quando fez aquilo, não é? — Sussurrava a mãe, deixando o filho avermelhado.
— Mãe! Por que está me perguntando uma coisa dessas? É claro que usamos.
Diferente de antes que sua mãe estava toda eufórica com a aparição súbita de Gabriel, agora a seriedade formava uma sombra. Theodore até engolia em seco. Virando-se para o padrasto, percebia ele também perdido em pensamentos.
O que estava acontecendo com eles?
— Amanhã você tem alguma coisa importante na escola? — Perguntou Pete depois de um tempo.
— Acho que não, por quê?
— Vou te levar pro hospital amanhã então. Se importa de me acompanhar no trabalho?
— Vou colocar Lisa pra dormir. Espere aqui mocinho, ainda temos muito o que conversar. — Dissera a mãe ao pegar a caçula no colo e levá-la para o andar superior.
— Eu fiz alguma coisa errada?
Pete apenas afagara os ombros do enteado, suspirando tentando lhe dar o melhor sorriso.
— É o que pretendemos descobrir.
Sentando no estofado esperando sua mãe voltar, mais uma vez Theodore fora assolado pela ansiedade. Já estava cansado e seu corpo pedia por uma cama macia e aconchegante. Além de ajudar no treino tivera a surpresa com Jake, e agora esse momento com Gabriel. Mais alguma coisa estava prestes a deixar seu dia ainda mais intenso?
Aliás, por que seu cheiro teria mudado? Pensando um pouco à respeito, o ômega lembrara da aula de biologia que tivera, onde seus colegas falavam sobre a mudança no cheiro de Gabriel. Será que tinha relação?
O alfa tinha sido o único a notar a diferença em seu cheiro, da mesma forma que ele notara o mesmo em Gabriel. Fora naquele dia em que descobrira sobre serem almas gêmeas.
Seria por causa disso?
Minutos depois, Aline voltava do primeiro andar para se sentar no sofá ao lado de Theodore. Pete também se juntou a eles, ficando abraçados ao ômega.
— Me conte, Theo, você já se relacionou com aquele rapaz, não é?
— Passei o meu cio com ele. Eu disse pra vocês.
— E vocês usaram proteção, tudo como te ensinei, certo? — Theodore concordara com a cabeça. — Aconteceu mais alguma coisa entre vocês além do cio?
Theodore pensou se deveria contar sobre o vínculo ou não. Sua mãe e padrasto aguardavam pacientemente ele tomar sua decisão, sem forçar a barra ou questioná-lo demais. Ele percebia a preocupação deles e por isso escolhera em ser sincero.
Se estavam tendo aquela conversa é porque alguma coisa notaram. Theodore não tinha motivos para guardar segredos com sua família. Eles havia lhe dado suporte nos momentos em que mais precisou quando o seu mundo estava desabando. Receberam ele de braços abertos, mostraram o quanto o amavam.
Nada mais justo do que compartilhar seus doces momentos.
Theodore contara sobre Gabriel ser sua alma gêmea, e sobre a mudança do cheiro de ambos desde que passaram o cio juntos. Disse também sobre assumirem o romance perante a escola, e dos probleminhas que estavam enfrentando naquele momento. Em especial sobre lidar com os ciúmes.
Gabriel de Jake e Theodore de Sadie.
O casal ficou bastante surpreso em saber que Jake estava de volta à cidade, e ainda disposto a reparar os danos da cooperativa. Mas elogiaram sua conduta, acalmando Theodore sobre ter seu tempo em resolver seus problemas. Ele ainda era jovem demais para tentar resolver coisas tão grandiosas como aquelas.
De toda forma, a conversa franca durara um bom tempo, até que Alice segurasse as mãos de seu filho e sorrisse para ele.
— Veja bem, Theo, você é um garoto ômega e eu sempre te ensinei a se cuidar. Principalmente quando começou a ter interesse em namorar.
— Eu sei, e sou muito grato mamãe.
— Tem certeza de que ele é sua alma gêmea?
Theodore assentira cuidadosamente. Não tinha outra explicação para aqueles sentimentos tão fortes e desejos crescentes. Precisava de Gabriel perto de si, e a semana em que ficaram afastados um do outro deixara explícito o quanto estavam conectados de uma maneira inexplicável. Não tinha erro.
Eles foram fadados a se completarem.
— Tenho sim.
— Tudo bem... Entenda, meu querido, quando encontramos nossa alma gêmea nossos instintos se adaptam a ele. Sabe, precisa se cuidar muito mais.
— Ah, aprendemos sobre isso na aula de biologia. Mas a gente tem se cuidado.
— Theo, o que sua mãe quer dizer é que devido ao comportamento da Lisa e a mudança do seu cheiro, estamos pensando se por acaso você não esteja já esperando um filhote.
— Como é que é? — Questionava o ômega soltando um riso nervoso. — Não... Não, não é impossível.
— Não precisa ficar nervoso, é só um exame de rotina.
— A gente se cuidou! Do jeito que nos ensinaram. E.. A professora disse que garotos ômegas tem baixa taxa de sucesso na fecundação. Não estou no meu cio, então não tem como...
— Theo, todo ômega passa a fazer exames regulares quando tem um parceiro fixo — Acalmara a mãe, afagando suas costas carinhosamente. — Você apenas começará a fazer também pra cuidar da sua saúde.
— Isso, garoto. Não estamos afirmando nada do tipo. Só dizendo pra começar a cuidar mais.
Era tarde demais para acalmar a mente daquele garoto ansioso. Mais tarde, já deitado em sua cama, o ômega rolaria pelo colchão incapaz de dormir direito só pensando em que tipo de resultado daria no exame do dia seguinte.