Ainda pesaroso e com medo do que sua avó poderia ter feito sobre o torneio, Belionte trocou sua roupa e arrumou seu cabelo, saindo com seu amigo Caim da cabana. Seus passos eram pesados, e quem visse de longe e não os conhecesse, pensaria que Belionte seria um condenado à morte, e Caim o guarda que lhe levava para a execução.
–'O que será que a avó falou com o chefe da vila? Será que ela quer que eu participe desse torneio? Mas ela disse que eu focasse no das minhas técnicas! Realmente não dá para saber o que ela está pensando.'– Pensou Belionte aflito.
Enquanto isso, Caim tagarelava sobre como seria divertido participar do torneio, lutar contra os jovens mais poderosos da vila, e provar ser digno do reconhecimento de todos os habitantes da vila Lopus.
O contraste do estado de espírito entre Belionte era gritante, como o dia e a noite. Caminhando para a vila da cabana mais afastada que a vila possui, muitas pessoas sorriam e cumprimentavam Caim, e davam um simples cumprimento para Belionte, outras pessoas olhavam curiosas para o jovem rapaz loiro.
– Por que essas pessoas estão me encarando? Moro aqui desde que nasci e eles ainda não se acostumaram com meu charme natural?– Falou Belionte com uma expressão confusa.
Caim olhava para seu amigo como se ele tivesse se esquecido do seu cérebro em casa.
–Talvez seja porque você vive na cabana mais isolada da vila, longe dos muros de proteção e nunca está em casa?– Respondeu Caim.
Eles continuaram caminhando para o centro da vila, onde ficava a casa do chefe da vila. Enquanto eles caminhavam, várias jovens apontavam para os dois jovens e sussurravam entre si, e quando os dois olhavam e cumprimentavam, elas sorriam e respondiam com as bochechas vermelhas.
Era inegável que ambos os jovens, apesar da grande diferença um do outro, eram muito belos aos olhos das jovens garotas da vila. Caim era alto e mesmo com apenas 15 anos, já tinha músculos que chamavam atenção. Com ombros largos e rosto com traços marcantes com um olhar afiado, ele sempre ganhava suspiros das moças da vila. Belionte era o completo oposto do seu amigo. Mais baixo que a altura padrão do continente, ele tinha membros esguios e traços faciais mais femininos, dando-lhe uma beleza delicada em comparação a seu amigo. No entanto, sempre que estava na vila, ganhava vários olhares das jovens, até mesmo mais que Caim em algumas ocasiões.
A vila Lopus era construída em forma circular, e não tinha grandes diferenças nas residências, sejam elas nas áreas mais próximas do centro da vila ou na região nas bordas da vila. Cercando a vila, havia um grande muro de madeira com largura de 2 metros, e uma altura de 3 metros. Os muros foram construídos com troncos de árvores resistentes, e todas as casas da vila estavam nos muros, menos a casa de Belionte.
Todas as casas eram feitas de madeira, com grossas peles de animais na parede na parte de dentro das casas para isolar o calor dentro e evitar que o frio entrasse. O continente norte estava na maior parte do ano sempre gelado, enquanto nevava quase o ano inteiro na vila Lopus.
Para as pessoas do resto do reino, essa floresta significava a morte e poucas pessoas sabiam que haviam humanos vivendo aqui. Mas para as pessoas que viviam aqui, não podiam se sentir mais seguras vendo os muros e os soldados acima deles.
— Meu pai me disse que dessa vez você e sua avó estava no oriente Bell. Lá é muito diferente da vila? — Perguntou Caim com os olhos brilhando de expectativa.
Para os jovens da vila Lopus, proibidos de saírem da vila por conta dos perigos da floresta, Belionte, que estava sempre fora da vila com sua avó viajando pelo continente, era sempre uma grande atração, pois sempre lhes contava de suas aventuras.
— Lá é bem mais quente do que aqui, tem muitas construções incríveis e muitas outras coisas mais. Mas antes de qualquer coisa, já foi definido como será o torneio desse ano? — Perguntou Belionte.
— Acho melhor você perguntar isso diretamente para o chefe da vila, ele disse que tem uma surpresa para você. — Disse Caim com um leve sorriso.
Caim era um jovem cheio de disposição e espírito de luta, estava sempre pronto para treinar suas artes marciais e mal via a hora do torneio chegar para ele poder ter a permissão de sair da vila e conhecer o mundo, seu grande sonho.
Belionte, por outro lado, sempre que possível, evitaria qualquer esforço extra e, se não fosse por sua avó que estivesse sempre mandando-o treinar, ele passaria o dia inteiro à toa sem fazer nada.
Chegando bem ao centro da vila, havia uma grande casa feita de grandes pedras, ela tinha dois andares e grandes janelas por toda a casa. Cercada por um muro com dois menos de altura, no portão principal havia três guardas com armaduras leves e espadas embainhadas, sempre guardando os portões da casa do chefe da vila.
Assim que os guardas da casa do chefe da vila viram Caim e Belionte se aproximando, abriram os portões com uma saudação e uma leve reverência dizendo:
— Jovem mestre Caim. —
O único guarda que carregava duas espadas se aproximou dos jovens e por um breve momento analisou Belionte e Se voltou para Caim em seguida.
— Jovem mestre, A Senhora Yoani está esperando você e o jovem Belionte no jardim da residência.— Disse o mesmo guarda que carregava duas espadas.
— O chefe da vila está na residência agora? — Perguntou Caim com uma expressão séria.
Assim que chegaram próximos à residência do chefe da vila, Caim perdeu seu jeito alegre e curioso para a de um jovem sério e de poucas palavras. Vendo isso, Belionte olhou de Caim para o guarda e teve que se segurar para não suspirar.
Por sempre estar viajando, Belionte não visitava a vila Lopus por mais de 1 ano, e a última vez que veio já havia notado que as responsabilidades de seu amigo aumentava a cada dia. Por ser o filho do chefe da vila, sempre foi esperado dele uma conduta perfeita, seja seus modos, sua forma de andar, sua forma de falar e até mesmo em suas artes marciais.
Belionte sempre sentiu pena do seu amigo por ter que viver isso desde cedo, mas não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso, a não ser contar a ele sobre suas viagens e torcer para ele ganhar o torneio e pudesse ver o mundo por si mesmo.
— Jovem mestre, o chefe da vila já está indo encontrar o representante do reino para o torneio. — Disse o guarda de forma respeitosa.
Quando Caim e o guarda já iam começar a falar de outras banalidades, Belionte já foi passando pelo portão principal sem se importar com formalidades ou dar face a qualquer pessoa. Em sua cabeça, Belionte estava com raiva por ter que estar ali e já pensava em uma forma de não ter que participar desse torneio.
—' Ela me faz treinar diariamente. De manhã tenho que treinar meu condicionamento físico, à tarde tenho que treinar artes marciais e à noite ainda tenho que cultivar! No meu primeiro dia de folga em dias já que ela não está por perto, ela ainda arruma algo que eu serei obrigado a fazer.'— Pensou Belionte um pouco irritado.
Caim logo o acompanhou e Belionte se dirigia ao jardim. O jardim da casa do chefe da vila fica após uma trilha ao lado direito da casa. Quase nos fundos da casa, estava o exuberante jardim. No belo jardim, havia uma bela estrutura feita com uma madeira branca, da qual o telhado era feito com plantas.
O jardim tinha diversos canteiros com várias flores como amarílis, antúrio, tulipas entre várias outras.
No meio da estrutura, havia uma mulher com roupas pesadas de frio, que aparentava ter 30 anos, com longos cabelos negros, uma pele branca como a neve sem nenhuma mancha, um belo rosto oval com linda sobrancelhas e bochechas rosadas, com grandes olhos de um verde-claro límpido. Ela tinha uma estatura media e, apesar de estar coberta com roupas de frio, era possível notar sua figura graciosa.
Vendo os dois jovens se aproximando, ela deu um sorriso enquanto se levantava para os receber.
— É bom vê-lo de novo Bel. Espero que tenha descansado bem, pois sua avó lhe deixou uma missão e você tem pouco tempo para suas preparações. — Disse a bela mulher.
Belionte, assim como esperava, teve seu pesadelo se tornando realidade.