Belionte havia acabado de sair do jardim pensativo, se despedindo brevemente de mãe e filho. Caim e Yoani ficaram sozinhos no jardim. Caim, apesar de cheio de espírito e vontade de luta, era alguém que sabia suas responsabilidades e deveres. Por isso, sempre tentou fazer tudo o que seus pais lhes ordenara, criando o hábito de nunca questionar suas decisões.
No entanto, ele estava com dúvidas sobre essa decisão e queria falar sobre isso, mas estava hesitante. Yoani, vendo isso, foi para uma cadeira mais próxima a seu filho e deu um sorriso caloroso para ele.
— Sei o que você está pensando, mas Bertha já decidiu que o dia está chegando, e esse será um dos testes finais para saber se ele conseguirá cumprir o seu papel. — Disse Yoani ainda sorrindo, mas era possível ver em seus olhos, preocupação e também tristeza.
— O quê?! Mãe, ele ainda tem apenas 12 anos! Como ele irá conseguir lidar com esses inimigos?! — Disse Caim quase gritando.
— Concordo que ainda é cedo, mas depois de 20 anos, eles voltaram a se mover e não sabemos se eles vão continuar o que não puderam no passado. O pequeno Bell terá que ser forte, pois os próximos anos serão turbulentos e serão prelúdio da grande tempestade que se aproxima. — Disse Yoani com um suspiro.
Mãe e filho ficaram em silêncio, cada um imerso em seus pensamentos e temerosos com o que o futuro lhes reserva.
*****
Belionte estava caminhando pela vila perdido em pensamentos. Ele não ingênuo o suficiente para achar que todo o treinamento infernal e todos os ensinamentos que teve por toda a sua vida não tinha uma finalidade. Após viver com Bertha por todo esse tempo, ele sabia que ela era metódica e não, fazia qualquer coisa que seja sem haver uma finalidade.
Erguendo o rosto, Belionte notou que nuvens escuras se aproximavam da vila. Saindo da vila ele retornou para a cabana fora da vila. Atrás da cabana e próxima à floresta, havia uma pequena colina. Belionte sempre que estava na Vila Lopus, ele cultivava nessa pequena colina.
Sentando-se de pernas cruzadas e com as mãos unidas em forma de concha abaixo do estômago, Belionte acalmou seus pensamentos e começou e executar sua técnica de respiração e começou a cultivar. Uma respiração lenta e constante se tornou uma respiração apressada e violenta.
Cada vez que inspirava, Belionte sugava a mana do mundo para dentro dos seus pulmões que logo passavam por todo o seu corpo e por fim descansavam em seu núcleo de mana. A mana em seu núcleo não tinha forma, não tinha cor, mas isso estava mudando. Seu núcleo se expandia e encolhia com o ritmo de sua respiração, acumulando a mana, a comprimindo e exigindo mais.
Nos céus, a chuva caía e logo trovões ressoaram por toda a vila. Raios caíam na floresta e a chuva se intensificava, animais e bestas mágicas se escondiam das fúrias dos céus. Relâmpagos iluminavam o fim da tarde que estava tão escuro como a noite. Os céus pareciam irados ou celebravam o nascimento de algo.
Os cidadãos da vila Lopus estavam assustados com a violência da tempestade, especialistas franziam a testa e crianças choravam por medo do desconhecido barulho.
Belionte respirava na mesma frequência em que os raios caíam sobre à terra, sua pele formigava, seu núcleo que expandia e encolhia lhe causava dor, mas a descarga de adrenalina a qual ele sentia o impedia de sentir a dor em sua totalidade.
Repentinamente, seu núcleo de mana expandiu-se à força, fazendo Belionte bradar de dor. A mana que estava ao redor de Belionte que ainda estava na pequena colina em meio a violenta tempestade, começou a formar um redemoinho com Belionte como centro.
A mana começou a forçar sua passagem para dentro do corpo do jovem, invadindo violentamente suas veias, artérias, ossos e músculos. Seu núcleo de mana sugava toda a mana que circulava em seu corpo. A velocidade que a mana entrava em seu núcleo era tamanha que gerava faíscas, e a mana que já descansava ali, como combustível para as faíscas, foram infladas e transformadas em tempestades de faíscas. O núcleo de mana de Belionte parecia não suportar tamanha mudança em tão pouco tempo e demonstrava sinais de desmoronar.
Rangendo os dentes para a dor sentida, Belionte sabia que se não voltasse para seu estado meditativo de cultivo morreria pela explosão de seu núcleo de mana. Lutando contra a dor que parecia querer rasgá-lo no meio, Belionte voltou a cultivar.
Sua mana estabilizou e não mais ameaçava explodir. A mana dentro de Belionte que antes era calma e sem forma, agora tinha a aparência de nuvens sem fim. As nuvens estavam carregadas e havia 'flashes' dos relâmpagos, mas não se ouvia os sons dos trovões e nem a queda dos raios. Não havia chuva, apenas as nuvens que ameaçavam destruir tudo com um dilúvio.
Belionte ficou naquele estado pelo resto da tarde e entrou pela noite, e durante todo o tempo a chuva caía na vila e na floresta. Naquela noite, Belionte viu e sentiu algo que nunca conseguiria expressar em palavras.