No terceiro dia no acampamento, Ingall já tinha se acostumado a sair do poço, ainda com certa dificuldade, mas com muito mais agilidade do que em sua primeira tentativa. Logo após o desjejum, Ingall era levado até a floresta para iniciar o trabalho, onde passaria o dia inteiro derrubando e carregando árvores. Lendall tentava convencer os homens de que o trabalho seria muito mais rápido se deixassem o gigante cortar as árvores também, mas o homem rechonchudo que comandava os trabalhos, senhor Volkan, se opunha a entregar qualquer tipo de ferramenta ao gigante antes que ele mesmo confiasse em Ingall. O capitão Lendall tentava argumentar com respeito, mas o xingava exasperadamente assim que Volkan dava as costas. "O idiota prefere deixar um bando de escravos fracotes erguerem machados do que uma criatura que levanta dez vezes mais que o próprio peso", o capitão murmurava para o gigante. Ingall, no entanto, preferia as coisas do jeito como estavam, pois duvidava que tinha a força que seu mestre dizia ter. Além do mais, seu trabalho já era exaustivo o suficiente. Derrubar as árvores era fácil, mas carregá-las pela floresta até o acampamento até a chegada da lua era penoso o suficiente. Um machado em sua mão certamente aceleraria o trabalho na região, os humanos, mesmo fortes e saudáveis, eram muito fracos e lentos. Se o capitão não conseguisse acelerar o processo com o gigante, todo o gasto do rei seria em vão. Ingall não gostava de admitir, mas ver o mestre Lendall desesperado e impotente lhe dava certo prazer.
Enquanto os homens começavam a atacar os troncos grossos das faias, Ingall cavava em volta de um toco de árvore já cortada a fim de tirar toda a raiz. O senhor Volkan explicara que era preciso arrancar as raízes, caso contrário as árvores voltariam a crescer sob as casas. Volkan não deu mais detalhes e voltou para o acampamento, deixando Ingall confuso com a nova informação. O reino de Ruzgar era fortalecido pela exploração e venda de madeira, Ingall acreditava que estava lá apenas para derrubar árvores e ajudar o rei a enriquecer, mas o que o senhor Volkan acabara de dizer sugeria que pessoas viveriam naquela região. Ninguém daria detalhes ao gigante sobre o trabalho, nunca davam, tudo que sabia era coletado em pequenas informações, bem como a muralha que construía no reino era formada por pequenas pedras.
Um homem ordenou que os guardas que rodeavam Ingall o levassem até as árvores que estavam prontas para serem derrubadas. Ingall não precisava de muita força para levá-las ao chão, o corte feito pelos machados facilitava o trabalho e um simples empurrão as fazia cair, a parte difícil era direcioná-las para não caírem sobre as vizinhas e comprometerem a madeira. Já estava na quinta árvore, os braços doloridos e as mãos avermelhadas não conseguiram impedir que a árvore se chocasse contra outra. Galhos se partiram e caíram, os homens correram com as mãos protegendo a cabeça, até mesmo os lanceiros que cercavam Ingall saíram em disparada. A floresta foi tomada por gritos de alerta e desesperados, os estalos da madeira se rachando e o farfalhar do encontro violento da copa das árvores e então o estrondo do tronco contra o chão.
A calmaria que se seguiu era quase tão assustadora quanto os urros assustados. Ingall estava imóvel, de olhos fechados, temendo ver o estrago causado. Abriu os olhos com cuidado, folhas dançavam no ar como flocos de neve, o tronco estava deitado no chão como um cadáver. A árvore vizinha continuava de pé, mas com tantos de seus galhos no chão que parecia estar nua. Os galhos e folhas cobriam todo o solo, se houvesse algum ferido, só poderia estar debaixo dos galhos. Ingall não pensou, apenas correu e começou a tirar tudo que cobria a terra.
– Alguém se machucou? – gritou o gigante com sua voz grave.
Não houve resposta, o que não o ajudava a se tranquilizar. Jogando os galhos e folhas para o alto, Ingall ouviu o senhor Volkan trovejar furiosamente. Então suas mãos tocaram algo estranho, mole e flexível. Ao tirar a mão do meio dos galhos percebeu que estava segurando uma sandália simples feita de couro. Não era um calçado de humano, pois era maior do que sua mão. Com horror percebeu que a sandália poderia servir em seu pé, um pé de gigante