O pôr do sol banhava a pele esverdeada da orc a causando um calor aconchegante e acolhedor que a lembrava de casa, da época em que fugia da fortaleza e descia o morro até o litoral carioca onde se divertia no mar sentindo aquele calor inconfundível do Rio de Janeiro, uma época boa que a orc temia não voltar nunca mais, mas naquele dia, naquela hora, ao lado de uma pessoa amada compartilhando uma memória inesquecível, essas poucas horas de aventura ao lado do moreno dono do mais penetrante olhar escarlate a fizera esquecer a saudade de casa por um dia.
Uma vez Toga ouviu de uma das concubinas de seu pai: "Se alguém te fizer esquecer o resto do mundo, esquecer do frio que assola a realidade, fizer você se perder em seu olhar, é a essa pessoa que o seu destino vai se entrelaçar, essas sensações você não sentirá com mais ninguém."
Toga nunca entendeu direito o seu pai ter um harém de concubinas mesmo dizendo que sua mãe fora o amor de sua vida e sua perda sendo a pior dor que ele sentira, mas foi mais tarde que a mesma descobriu através de uma delas que em seus últimos momentos em vida, Urzoth, a Rainha da Liberdade, o fez a prometer que seguiria em frente, que ele aproveitasse a vida, não se sentisse preso a ela e que ele criaria Toga seguindo a mesma ideologia.
Foi só aí que a princesa orc entendeu não só seu pai e sua mãe, como havia descoberto a si mesma, seu coração pertencia ao Rio, mas seu espírito era livre, ela ansiava a vida toda por uma oportunidade de ver o mundo e viver a própria aventura e estar alí, deitada na areia da praia nas costas de uma tartaruga gigante, após correr por aí com o corpo fundido ao de outra pessoa e se perder na imensidão vermelha daquelas íris apenas confirmaram o seu lugar no mundo: ao lado dele, e da família que aos poucos se tornava cada vez mais unida.
Era como seu pai dizia: "Sua mãe levou meu coração com ela, mas meu espírito é livre, e por ela eu segui em frente." Se Toga fosse usar uma frase parecida seria: "Meu coração sempre ficará no Rio, mas não há lugar melhor que aqui, ao lado de vocês."
-Tá ficando tarde né?-Zakk a trouxe de volta a realidade, os dois haviam brincado com seu novo poder pelo resto do dia, os outros deviam estar preocupados, ainda mais com os recentes ataques.
Quando o moreno se levantou de costas para a orc porém, Toga se surpreendeu com a visão de uma enorme tatuagem as cobrindo totalmente: uma caveira branca com rosas crescendo para fora de seus globos e boca, com dois pares de asas ligadas às extremidades baixas e altas do crânio o cobrindo como as asas de um corvo acolhendo o que antes fora uma pessoa e agora não passava de uma casa para as rosas invasoras.
Como caralhos eu não percebi essa fodendo tatuagem nas costas dele?(Toga)
Eu ainda consigo te ouvir viu.(Zakk)
-Foi mal.-Toga decidiu responder com a boca dessa vez.-Mas sério, essa tatuagem é gigantesca, como eu não percebi antes?
-Não percebeu porque não é uma tatuagem, é a marca da escola da morte, tipo aquela que o Chase tem no pescoço.
-Aquele que permite que ele respire embaixo d'água né? Eu também tenho uma, mas a minha me dá um fator de cura, e não é tão grande como a sua.
-Eu sei, eu já vi ela muito bem...
Zakk sorriu cheio de malícia ao se lembrar de onde a marca da natureza se encontrava no corpo da orc, aquele era o segredo vergonhoso dela, a marca se encontra na região pélvica da orc, um pouco acima da intimidade da mesma, seu rosto tornou-se um tom mais escuro de verde quando a mesma corou devido a lembrança do dia que Zakk descobriu o coração marcado com uma textura parecida com o carvalho de uma árvore naquela região.
-Eu fiz alí pra simbolizar fertilidade, tá bom? As mulheres na minha aldeia costumam fazer tatuagens alí em nome da deusa Jaci, eu só queria continuar a tradição já que um dia eu iria embora.
-Relaxa Tesoro, eu acho sexy.-O rosto da orc corou violentamente outra vez e a mesma virou de costas para o moreno com os braços cruzados, tentando parecer emburrada.
-Eu não fiz essa marca pra chamar a atenção de macho, eu fiz por mim mesma!-Toga parecia irredutível em sua afirmação de independência, mas bastou Zakk abraçá-la por trás e depositar um beijo em sua nuca para o corpo robusto da orc estremecer.
-Claro que não fez, você é uma mulher poderosa e independente.-Ao olhar por cima dos ombros os olhos azul safira(outrora castanhos)da orc encontraram os olhos vermelho ruby do moreno, encontrando neles um olhar completamente apaixonado e irresistivelmente hipnotizante.-Mas amore mio, esse aspecto do seu corpo do qual você se sente tão envergonhada é belo aos olhos do homem que você ama, não se sente feliz? Eu mesmo nunca gostei dessa coisa nas minhas costas, mas se você gostou, talvez eu possa começar a me orgulhar dela, porque eu saberia que a mulher da minha vida a acha bonita, e isso é tudo que me importa.
Toga tentou, Deuses como ela tentou continuar com a pose de emburrada, mas olhar aqueles belos olhos e ouvir tais palavras derretia seu coração, Zakk podia ter todos os defeitos possíveis, mas a falta de charme não era um deles, por isso a orc bufou de raiva de si mesma por se derreter tão facilmente com qualquer palavra doce que o dullahan dizia. Ao se virar, depositou um selinho demorado nos lábios do menor.
-Caralho eu não consigo ficar brava com você, eu sou uma dominatrix caramba! Tenho que ter pulso firme!
-Fazer o que, mamãe passou açúcar em mim.
Toga suspirou em derrota, realmente não havia como vencer aquela discussão, então ela faria o que sempre fazia quando um submisso a tirava do sério, ela esperaria até que Zakk se sentisse seguro e nesse momento ela atacaria, em sua cabeça a orc já tinha todo um plano arquitetado, por algum motivo, Zakk não pôde ler seus pensamentos impuros então não tinha noção do lhe aguardava:
Vou precisar de algemas, uma mordaça de bola, um monte de lubrificante e da maior cinta peniana que eu tenho guardada, hoje você tá tirando onda com a minha cara, amanhã você não vai nem conseguir sentir a sua bunda, me aguarde Zakk, só me aguarde!
Deixando os pensamentos malignos de lado, Toga decidiu agir naturalmente para que Zakk não suspeitasse, por isso ela decidiu mudar de assunto:
-Mas enfim, o que a sua marca faz? Tem que ser algo mirabolante pra uma marca tão grande.
-Ah isso? É simples.
Zakk parecia não desconfiar, o que fez a orc suspirar aliviada, ela poderia colocar seu plano em prática sem maiores preocupações, mas quando sua atenção voltou ao moreno a orc quase caiu de costas, das costas do dullahan batiam dois enormes pares de asas negras, duas na altura dos ombros e as outras na região lombar, Zakk parecia mais a vontade agora que suas asas estavam livres, a mesma sensação que uma mulher teria ao tirar o salto que usou a noite inteira ou o sutiã apertado usado o dia todo, ele suspirou aliviado e bateu suas asas livremente jogando uma lufada de vento em Toga.
-Você tinha asas esse tempo todo?-Toga estava tão indignada quanto surpresa.-Esse tempo todo você poderia usar suas asas mas preferiu usar o Morrígan?
-Essas asas são parte do meu corpo, elas podem se cansar, sabia? É mais fácil usar o Morrígan.
-Mesmo assim, porque você nunca mostrou elas pra nós?
-Não era tão necessário, não é nem de longe o detalhe mais importante da minha vida.
-Mesmo assim, uma demonstração não mataria ninguém.
-Bem, agora você sabe, que tal voltarmos pra casa agora, ainda estamos no meio do nada, esqueceu?
-Verdade, vai ser mais rápido se nos fundirmos, o que me diz?-Toga estendeu a mão para o moreno e o mesmo não demorou a aceitar.
Toga o girou e abaixou como se estivessem em uma dança, seus corpos foram envoltos por duas chamas, uma escarlate que cobriu o corpo do dullahan, e uma azul que cobriu a orc, as chamas se juntaram, formando uma única chama lilás e então se apagaram, revelando Urzoth pela segunda vez naquele mundo.
A fusão amarrou o longo cabelo em um rabo de cavalo e cobriu os olhos com a mão, uma chama lilás os cobriu e logo desapareceu, deixando em seu lugar um de óculos escuros cobrindo os dois pares de olhos que tinha, após um breve alongamento, Urzoth disse:
-Agora sim.-Então saltou tão alto que acabou alcançando as nuvens, desaparecendo da praia tão rápido quanto havia chegado.