Algo que poucas pessoas sabem sobre as aranhas é que todas elas possuem veneno, mas poucos realmente prejudicam o corpo humano. O veneno dos Tecelões é um desses poucos.
Destruição Mental como é chamado, é o "feitiço-veneno" mais forte de todos os MBS aracnídeos. Além disso, os Tecelões não são os únicos de sua espécie, os Viúvos, Saltadores e Argyro são as outras três espécies, essas por sua vez, possuem um grupo especial apenas para elas: Os Aracna.
Muitos devem achar isso estranho, por que os Tecelões são os únicos presos aos Insecter? A resposta é que nem mesmo os outros Aracna gostam dos Tecelões.
Para entender os verdadeiros motivos de toda essas desavenças, é preciso voltar ao passado quando os Aracna e todos os Insecter tinham um inimigo em comum: Os Tecelões.
Tiranos, saqueadores, invasores e tudo de ruim que uma monarquia poderia trazer, esses eram os Tecelões da antiguidade. Naquela época, os Aracna haviam sido dominados pelos antepassados de V, que se auto intitulavam Vorgesetzte, ou seja, superiores a todos os outros.
Por serem uma das mais poderosas raças Aracna tanto política, quanto belicamente, os Tecelões se sentiam no direito de governar e faziam isso oprimindo os outros de sua espécie. Não demorou muito para que todos temessem o poder da Destruição Mental.
Cansados de toda a opressão, os Aracna se juntaram em uma rebelião contra os tiranos.
Mas mesmo estando em maior número, a rebelião Aracna não foi párea para o poder dos Tecelões e logo sucumbiu, com a maioria de seus líderes mortos ou presos, a resistência não viu outra opção a não ser implorar pela ajuda dos Insecter.
Mas mesmo assim, os Tecelões eram simplesmente fortes demais e a batalha durou por muito mais tempo, de um lado estavam os valentes, destemidos e honrados Louva-Deuses e do outro estavam os cruéis e desalmados Tecelões.
A guerra só viu o seu fim quando a aliança dos MBS e humanas se formou, porém os terrores da guerra ainda assombram o mundo e muitos ainda temem os Tecelões, mesmo com anos de paz provando a mudança deles.
Alguns deles, porém, não parecem se importar se causam medo nas pessoas ou não. V é um deles, ele não sabia, mas estava prestes a reviver a época em que sua espécie era temida não só pelos Insecter, mas por todos os MBS igualmente.
-Sua amiga é estranhamente parecida com você, é alguma irmã perdida?
V ouviu Valery o perguntar enquanto o mesmo observava o mar em volta do navio.
-Quem ela é ou que tipo de relação nós temos é irrelevante, ela se comprometeu em me ajudar, por tanto suas ações são extensões da minha vontade.-Ele respondeu e a capitã apenas assentiu, mesmo achando estranha a resposta evasiva.
-É uma serviçal então?
-Ela é uma criação minha, considere-nos a mesma pessoa se precisa de uma definição mais concreta.-Valery arqueou as sobrancelhas em uma expressão claramente confusa.
-Estranho, mas como preferir, estamos quase chegando, prepare-se.
-Estarei pronto.-E com isso, Valery se afasta e Victória toma seu lugar.
-"Mesma pessoa"? Sério?
-É melhor do que serviçal não é?
-É, mas você devia ter pensado em algo melhor não acha?
-É melhor assim, as pessoas não vão te incomodar sobre quem você é, ou melhor, sobre quem EU sou.
-Como assim?
-Pra ser alguém em quem eu confio, você obviamente teria que saber minha identidade, o que te tornaria um alvo.
-Mas se acharem que eu sou alguma espécie de criação sua...
-O que não é impossível, algumas runas e um conhecimento básico de necromancia e voilà, você tem o servo perfeito, um que as pessoas nem ao menos se importaram em fazer perguntas desnecessárias.
-Até porque morto não fala né?
V não percebeu quando começou a rir, a personalidade da Victória é realmente cativante. Ela sorria e gargalhava sem nenhuma preocupação, ela o lembrava bastante da Astrid, se sentia seguro perto dela.
De repente sentiu alguma coisa subindo por sua perna, pequenas patas se movendo por seu corpo, estendeu a mão e a pequena intrusa moveu-se para ela.
-Essa é...-Victória perguntou, quase não acreditando em seus olhos.
-A aranha devora-homens, uma das criaturas mais mortais da terra, só podem ser controladas pela magia antiga dos tecelões.-A pequena aranha negra possuía uma marca branca em seu torso que obviamente remetia a um crânio humano.
-Isso... É triste...-O humor dela mudou da água para o vinho, os olhos antes cheios de alegria agora tinham a mais profunda tristeza.-A magia agora é considerada "antiga" é parte da nossa história, da nossa cultura, é triste saber que se não fosse por nós essa parte da história tecelã estaria morta.
V entendia a dor que ela sentia, mas ele não sentia tristeza, a esse ponto ele não sentia quase nada além da raiva. E mais uma vez, ele foi tomado por ela.
-Eles pagarão por isso, todos eles, quando eu descobrir quem é o responsável por isso eu juro, vou matar ele e todos que o apoiam.-A aranha em sua mão se tornou fumaça e logo desapareceu.
A raiva dele era quase palpável, ela podia ver a carranca de ódio por trás daquela luxuosa máscara, uma reação que deveria mudar pelo próprio bem dele.
-V, você não tá levando isso pro lado pessoal né?
-Como não poderia? Isso afetou minha vida assim como todos os outros.
-Não deve fazer isso por você e sim pelo nosso povo, fazer justiça, não vingança.
-Por que justiça ou vingança importam? Estaremos livres de qualquer jeito, os fins justificam os meios nessa situação.
-V, escute...-Ela apóia as mãos em seus ombros e o olhou com sinceridade atrás da própria máscara antes de voltar a falar.-Um guerreiro não pode deixar suas emoções o atrapalharem principalmente o ódio e a raiva e é exatamente que a vingança trás, ela não vai aliviar a dor, pelo contrário, só vai alimentá-la.
-É impossível, é simplesmente impossível ignorar a dor que me causaram.
-Eu sei, eu também sinto uma grande dor no meu peito e por várias vezes quase a deixei me cegar mas aí...-Sua destra moveu-se instintivamente se moveu para dentro de sua camisa de onde tirou um colar dourado, dentro do pingente de coração havia a foto dela abraçada com outra pessoa, um rapaz da pele morena, cabelos brancos e olhos azuis.-Aí eu me lembrei de tudo de bom que aconteceu na minha vida e toda a dor simplesmente some e dá lugar ao amor.
Estou com você V. A voz da sua amada ecoou pela sua cabeça na mesma hora, era impressionante como aquela garota conseguia acalmá-lo.
-Essa é a sua primeira lição contra o ódio: Não importa o quão grande seja a sua dor, você deve lembrar de toda a positividade na sua vida pra que no seu coração só exista amor.
Foi como se alguma coisa em sua mente tivesse estalado, a única coisa em sua mente eram Astrid e seu avô, apenas os momentos positivos e instantâneamente se sentiu um pouco mais leve, as lições já estavam dando resultado.
Horas depois...
As várias íris escarlates observavam V como se ele fosse um pedaço carne, ele, Victória e Valery estavam sendo escoltados até o castelo do rei dos vampiros, Vlad Dracula, por quatro subordinados vampiros. Aquilo obviamente era uma armadilha, talvez não uma ordenada pelo lorde da ilha, mas aqueles indivíduos com certeza planejavam cravar suas presas neles assim que eles estivessem mais fundo na floresta.
V sentiu que estavam prestes a serem atacados quando um dos vampiros moveu discretamente sua canhota para o cabo de sua espada ainda embainhada.
O movimento brusco da espada sendo sacada deixou as outras duas em alerta, o vampiro se preparou para atacar V pelas costas mas para quando sente alguma coisa andando em sua mão, inicialmente assustado, o vampiro caiu na gargalhada quando percebeu que se tratava apenas de uma pequena aranha.
-Cuidado, eu não brincaria com as pequeninas, onde existem filhotes sempre há uma mãe superprotetora.-V diz.
Um fato interessante sobre as devora-homens é que o que as pessoas pensam ser as adultas são meramente bebês recém nascidos, essa espécie ganhou seu nome por seus exemplares adultos chegarem ao tamanho de hipopótamos e serem tão agressivas ao ponto de ativamente caçar qualquer coisa que entre em seus territórios, até mesmo humanos e MBS.
O vampiro sentiu algum líquido pingar em sua cabeça, ouviu um leve ruído parecido com guincho estridente de alguma criatura acima de si, estava paralisado, era a primeira vez que se sentia assim, aquilo era medo? Um vampiro estava sentindo medo?
Quando finalmente juntou coragem para olhar para cima já era tarde demais, a última coisa que viu foi a enorme devora-homens pendurada em uma linha de seda logo a cima soltando um alto rugido antes de lhe puxar para sua boca. Os dois pares de olhos brilhando com o tamanho da sua nova refeição.
Seus gritos não duraram muito já que a primeira coisa a ser devorada foi sua cabeça, os outros três vampiros assistiram horrorizados seu amigo ser comido vivo.
Sentiram alguma coisa se mexer pelo chão e assistiram com horror quando outros filhotes, centenas deles, correram pelo chão e se juntaram em volta do V, sentiram o chão tremer atrás deles seguido do rugido da mãe devora-homens, estavam cercados.
-Hoje eu estou de bom humor, então vou lhes dar uma escolha...-Conforme ele se aproximava, as aranhas o seguiam como se estivessem o protegendo.-Vocês vão se comportar e nos levar ao Dracula como combinado, ou minhas amigas dançaram em cima dos seus cadáveres...
Ouviram o som de um cuspe e viram algo ser arremessado no meio das pequenas aranhas por sua mãe. Assim que o objeto as atingiu, um frenesi começou entre elas, as pequenas se amontoavam naquele objeto freneticamente, o que sobrou foi apenas um crânio, um com as presas de um vampiro.
-A escolha é de vocês.
V faz uma elegante reverência, ele estava se livrando de todo o ódio, mas nada lhe proibiu de ser cruel e sádico.
De qualquer forma, essa era a realidade de quem enfrentava um Tecelão, seu destino seria dançar com as aranhas.