Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)
Após pegar alguns equipamentos na enfermaria, retorno ao porão da mansão.
— Conseguiu pegar os equipamentos para transfusão lá na enfermaria, Bruna? — Jim pergunta.
— Sim, está tudo aqui.
— A Esther está descansando. Como estão as coisas lá em cima?
— Bem quietas e estranhas. É como se tivesse acontecido um massacre. Tem corpos de soldados da EDEN espalhados por toda a mansão.
— Com certeza foi isso que aconteceu, um massacre…
— Você diz isso com muita convicção. Por quê?
— Não faz sentido te explicar, você não vai entender.
— Sei…
Então, Jim se aproxima do pai de Esther para iniciar sua transfusão de sangue. Porém, o velho abre os olhos no instante em que ele começa.
— O que tá acontecendo aqui? Quem é você!? — O velho pergunta irritado.
— Ah, então parece que a donzela acordou… — Jim debocha.
— O que você tá fazendo!? Sai de perto de mim!
— Silêncio… Fica quietinho enquanto eu pego seu sangue, tá bom?
— Seu merda! Você é um daqueles desgraçados da Corporação EDEN!
— Olha a forma que você fala comigo, filho da puta… — diz Jim apertando o pescoço daquele homem. — Se eu quiser, eu meto um tiro na tua fuça aqui e agora, tá entendendo!? Eu tô tentando salvar a porra da sua filha!
— Filha?
— A filha que você acabou de tentar matar, caralho! Que tipo de pai mira uma escopeta na própria filha!?
— Eu…
— Tá perdendo tempo, Jim. Esse aí já passou da validade…
— Tem razão, Bruna. Nem sei porque tô tentando conversar com esse demente.
Nesse momento, o homem para de apresentar resistência.
— Vocês dois estão falando da Esther, não é?
— É claro né, seu babaca! — Jim responde. — Você é George Wright, correto?
— Sim, sou eu…
— Ótimo! O seu sangue é A+, correto?
— Sim…
— Então, é isso. Agora, você vai me fazer um grande favor ficando em silêncio.
— Eu gostaria de falar com a minha filha.
— Bruna, fica aqui pegando o sangue dele, eu vou cuidar da Esther enquanto isso.
— Claro, claro, pode deixar.
— E não precisa responder nenhum pedido ou pergunta idiota que ele fizer.
Após dizer essas palavras, Jim vai até Esther, me deixando sozinha com George Wright.
— Parece que agora a situação mudou, né velhote?
— Escuta, eu preciso falar com a minha filha, é sério!
— Olha, eu acho que na sua posição atual você não tem direito a pedir nada.
— Por favor…
— Eu já disse que não!
Assim que termino de coletar o sangue, entrego a bolsa cheia para Jim Crooks, que logo inicia a transfusão de sangue.
— Tem certeza que você sabe o que tá fazendo?
— Ué, do nada ficou mais preocupada com ela? — Jim ri de maneira suave. — Bem, sei sim. Mas, não tem muito mais o que fazer agora. — Ele fala com uma voz entristecida.
— A Esther é uma mulher inteligente, por mais que não pareça. Seria muito frustrante se ela morresse.
— Frustrante? É isso que você acha? Olha, eu fiz o possível, mas, eu não sou médico. Ela tá cheia de fraturas e isso pode ter causado alguma hemorragia interna grave. No melhor dos casos, ela vai ficar um tempo sem poder andar ou fazer qualquer coisa.
— Sendo assim, precisamos pensar em um jeito de sair desse lugar logo.
— Ah, que bom que você pensa assim, Bruna. Pensei que você teria aquelas mesmas ideias malucas da Esther de retomar a mansão.
— Não, eu só estava ajudando ela por interesse. Não tenho nada a ver com essa porcaria.
— Huh! Então, você já deve ter notado que existe algo errado com esse lugar.
— É claro que sim.
— Esse lugar é grande feito um castelo. Além disso, tem um monte de corredores confusos e estreitos. Pra falar a verdade, acho que já tô até alucinando.
— Bom saber que eu não sou a única maluca… Mas, me responde uma coisa, Jim.
— Pode falar.
— Como você se separou da Esther?
— Digamos que eu encontrei um velho conhecido.
— Então, foi desse encontro que surgiram todas essas suas feridas?
— Você…
— Achou que eu não notaria, não é? Normalmente eu não diria nada, mas acho melhor você se cuidar.
— Eu estou bem. Quem precisa de ajuda nesse momento é a Esther. — O homem olha para Esther, preocupado.
— Foi difícil chegar até aqui? Pra quem não tem um mapa deve ser complicado se localizar em uma mansão como essa.
— Realmente é. Mas, é como você disse antes: eu sou um soldado treinado. Além disso, um pássaro estranho me mostrou o caminho.
— Um pássaro?
— Por mais incrível que pareça, sim. Falando nisso, ele deve estar aqui em algum lugar. — diz Jim, procurando pelo pássaro com sua lanterna.
À medida que ele ilumina os cantos e paredes daquele porão empoeirado, sua estrutura é revelada, com a presença de grandes armários de metal e itens velhos empacotados. Além disso, percebo, também, uma porta no fim da sala que, muito provavelmente, dá em um banheiro. Enquanto isso, um misterioso pardal repousa sobre uma caixa de ferramentas.
— Tá ali ele.
— Um pássaro ter te trazido aqui não te impressiona, Jim?
— Já vi coisas bem mais bizarras que essa na vida. Você também deve ter visto.
— Sim… Mas, isso não é um pássaro…
Ao olhar no fundo dos olhos daquele pardal, uma sensação de vazio e medo percorre meu corpo.
— Bruna, você não parece muito bem. O que você vai fazer?
Então, me aproximo do pássaro silenciosamente...
— Bruna?
E soco ele com toda a minha força!
— Você é maluca, mulher!?
Em seguida, o pardal cai no chão, quebrando-se em pedaços de metal.
— Isso foi…
— Exatamente como eu pensava.
— Um pássaro robô? — Ele questiona.
— Sim…
Com os restos do pardal em mãos, identifico uma frase escrita no metal.
"Que bom que você me encontrou!"
— O informante…
— Pelo seu sorriso, parece que você descobriu algo, Bruna.
— Onde você encontrou esse pássaro, Jim?
— Pra tu ter noção, ele tava dentro do estômago de um cara.
— Só isso?
— Como assim só isso!?
— Nenhuma informação ou coisa parecida?
— Ah, na verdade, tem sim. Dá uma olhada. — diz Jim, retirando um pequeno objeto de seu traje.
— O que é isso?
— Um pendrive. Dá uma lida nessa fita colada nele.
"DR. MAXIMUS"
— Esse nome… Será que é ele?
— Ele quem?
— Precisamos de um computador para ler isso!
— Boa sorte em usar o computador em uma casa sem luz! — O pai de Esther debocha ao longe.
— E quem foi que pediu a sua opinião. — Jim responde irritado.
— Ah, não foi nada. Eu só pensei que poderia ser útil para vocês.
— Útil como? — Eu pergunto.
— Bem, a sala de segurança tem um supercomputador que poderia fazer o trabalho de leitura desse pendrive. Um que eu mesmo projetei.
— A sala de segurança? Eu estive lá com a Esther.
— Você deve ter percebido que a porta não abriu. O motivo para isso é que somente eu posso abri-la, somente a minha retina.
— Isso parece bom… Arrumou sua escopeta lá?
— Claro!
— Mas, e a energia elétrica, Jim? Já faz algumas horas desde que teve esse apagão.
— Isso não é um problema, Bruna. Essas fechaduras eletrônicas normalmente usam baterias para lidar com situações como essa. Só não podemos deixar isso atrasar nossa fuga da mansão.
— Mas, é claro, nada sai de graça, meus amigos. Eu tenho algumas exigências.
— O quê!?
— Impressionado, Jim? Era exatamente o que esperava dele. Mas, não se preocupe, eu resolvo isso rapidinho.
Segurando a faca que o Jim tinha me dado, vou em direção ao velho para remover seu globo ocular. Quem esse merdinha pensa que é? Ele acha que vai conseguir me fazer de otária?
Porém, uma mão segura-me, impedindo-me de iniciar o processo.
— Ei, Bruna. Eu não sei o que você está pensando, mas, não somos açougueiros. Vamos ouvir o que ele tem a dizer.
— Você vai deixar ele vencer fácil assim, Jim!? Vai deixar ele abusar de nós dessa maneira? Vai deixar ele nos pisar como se fôssemos vermes inúteis e miseráveis?
— Eu entendo como você se sente, Bruna. Mas, não podemos fazer isso. Até porque ele é o pai da Esther.
— Você não entende!
Então, irritada, afasto-me dos dois e sento em um canto do porão.
INTERLÚDIO - Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)
— Acha que vai conseguir lidar com essa aí? — George Wright pergunta.
— Bem, eu estou me esforçando pela Esther.
— Foi o que eu pensei…
— Quais são as suas condições, afinal?
— Que bom que ainda está interessado. São duas apenas. A primeira condição é você me libertar dessas amarras.
— Sem chance.
— A segunda é você encontrar Jessica Wright, a esposa de Esther.
— Como assim? A Esther tem esposa?
— Hm? Ela não te contou? Não vai me dizer que você tem algum problema com lésbicas, vai?
— Não, não é isso. Só, não esperava que ela fosse casada.
— Como não? Uma garota bonita como a minha filha não poderia estar solteira aos vinte e quatro anos.
— É, acho que você tem razão… Olha, evita falar muito do passado quando tiver a oportunidade de conversar com a Esther. Ela parece ter perdido algumas memórias, então, pega leve.
— O quê? Coitadinha! A minha pequena não merecia passar por isso…
— Sim…
— Mas, você pretende aceitar as condições, então?
— Só posso aceitar a segunda.
— Acordo fechado. Essa era a condição mais importante mesmo.
— Onde ela se meteu?
— Ela se separou de mim para tentar ligar a luz da mansão novamente e até agora não voltou.
— A luz dessa mansão cai com frequência?
— Você sabe que não. É óbvio que houve alguma sabotagem da EDEN.
— Faz sentido, já que são eles que cuidam do fornecimento de eletricidade aqui na Califórnia.
— Não, não. Essa mansão utiliza painéis solares há muito tempo. A sabotagem foi aqui dentro.
— Isso é um bom sinal. Se foi aqui dentro dá pra resolver. Mas, são só essas informações que você tem?
— Infelizmente, sim.
— Certo.
Então, Jim se aproxima de Bruna e entrega a escopeta de George para ela.
— O que é isso? Resolveu me dar uma arma agora?
— Vamos sair pra procurar pela esposa da Esther.
— N…
— Antes de dizer não, lembra que é você quem tá mais interessada em descobrir o conteúdo desse pendrive, não eu.
— Eu…
— Só tenho que dar uma passadinha no banheiro primeiro.
— Como é essa esposa da Esther?
— O nome dela é Jessica Wright. Essa mulher deve ter ajudado velho a te sequestrar.
— Quanto a isso, eu ainda estou um pouco confusa. Não me lembro de nada desde o momento em que me separei de Esther até a hora em que encontrei ela de novo.
— Isso é porque você foi dopada. Mas, relaxa que você vai lembrar.
— Sim…
— Aproveita e se prepara enquanto eu vou ao banheiro.
Em seguida, Jim Crooks vai até o banheiro do porão carregando um kit de primeiros socorros e, jogando seu corpo sobre o vaso sanitário, começa a vomitar.
— Que merda! Isso dói pra caralho! — Ele resmunga em baixo tom, evitando ser ouvido. — Filhos da puta, filhos da puta, filhos da puta! — Jim vomita mais uma vez. — Porra, eu nem sei como eu tô vivo. Mas, caralho, eu não posso morrer agora! Aquele espectro… Ele era… — O corpo de Jim tremula dos pés à cabeça. — Eu tenho que foder eles, tenho que foder todos eles. Eu tenho que tirar essas pessoas daqui, tenho que salvar a Esther…