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Chapter 15 - Cicatrizes

INTERLÚDIO - Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

Então, ao segurar o corpo desacordado de Esther, Jim diz:

— Eu consegui, Esther. Eu fiquei forte o bastante para te proteger. Eu cumpri a minha parte do acordo, mas não espero que você cumpra a sua. Já passou tanto tempo mesmo…

Do lado de fora, é possível ouvir os soldados cada vez mais perto.

— Chegou a hora.

Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

Ao sair da sala de estar, desço a breve escadaria que provavelmente leva até o lugar onde está David. Adiante está a porta da garagem da mansão, completamente aberta, indicando que estou no caminho correto. Porém, o som de disparos sucessivos atrás de mim faz o meu corpo travar, e questiono-me se algo ocorreu com Esther e Jim.

— Esther!? Jim!? — grito, mas não obtenho resposta. — Bem, não importa.

Na sequência, entro naquele ermo local, deparando-me imediatamente com dezenas de carros elétricos da marca Evolve, e nenhum sinal de David ou de que ele já tenha fugido. Então, silenciosamente, escondo-me atrás do veículo mais próximo para pegar cobertura.

— Onde você está, David!? Esse é o fim da linha! Agora que obtive controle sobre o Nexus, somente eu posso abrir os portões da mansão! Você não tem mais pra onde correr! — digo para provocá-lo, mas não obtenho resposta. — Então, vai ser assim? Que fofo! Sabe… Eu bem que estava curiosa para conhecer mais sobre esse homem, saber quem é David… — falo ainda mais alto, fazendo minha voz ecoar na garagem. — Pra falar a verdade, acho que toda essa curiosidade tem a ver com minha vontade de te matar. Que estranho, não é? Eles me trouxeram aqui para te capturar com vida, mas, desde que te vi pela primeira vez, sabia que teria que te matar em algum momento. Será que já estou sentindo os efeitos do tal Laplace?

De repente, tenho uma sensação semelhante a um choque elétrico que percorre todo o meu corpo, como se algo estivesse prestes a acontecer.

— Carry, eu preciso de informação!

— Não tenho… Como ajudar… Senhorita. Ele… Destruiu a câmera… Da garagem.

— Mas, o que…

Nesse momento, dou-me conta de uma luz vermelha piscando ao meu lado.

— Isso é…

— Um… Explosivo, senhorita.

— Merda!

Então, corro o mais rápido que consigo para longe do carro, mas não consigo evitar ser atingida pelo raio da explosão, que faz-me cair e soltar minha escopeta.

— Sim! Parece que sim! Isso é fantástico! Você está indo tão bem com uma quantidade tão baixa! — grita o homem rindo extremamente alto. — Você conseguiu prever a explosão, mas, isso não é suficiente! Você fez exatamente o que eu esperava, menina! Eu consigo prever tudinho! Esse Quociente de Laplace é mesmo incrível!

— Merda… Que dor! Como ele… Seu covarde!

INTERLÚDIO - Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

Após deitar Esther em um canto escondido da sala, Jim abre a porta para cumprimentar os soldados. Porém, ele se surpreende ao perceber que conhece um dos homens.

— Major Thomas!?

— Jim, não é? Fico feliz que se lembre de mim. O que acha que tá fazendo!? — Pergunta o homem.

— O que eu acho que tô fazendo!? O que vocês pensam que tão fazendo? A Corporação EDEN acha que pode vir aqui e fazer o que ela quiser? Invadir a casa de inocentes, sair atirando, por aí ignorando todas as consequências!?

— Não seja ingênuo, garoto! Você sabe como tá o mundo lá fora! Ninguém é inocente! Todo mundo tem sangue nas mãos!

— Não importa! Apenas deem meia volta! Não tem nada pra ver aqui!

— Eu sei quem você tá tentando proteger, Jim. Mas, tá perdendo seu tempo. A mulher que você queria proteger já deve ter morrido…

— O quê!? De quem você tá falando!?

— A mulher tinha um bracelete de modelo semelhante ao da EDEN, então foi fácil me comunicar com ela. Mas, não deu, Jim. Ela deve ter ficado presa na sala de segurança… Olha, eu realmente queria resgatá-la.

Nesse momento, Jim começa a rir.

— A Bruna é mais inteligente do que vocês pensam, e, também, muito sortuda.

— Como assim?

— Não, a Bruna não morreu, e ela também não é a pessoa que eu quero proteger.

— Que bom que não fomos necessários, então.

— A EDEN nunca salvou ninguém, nem nunca vai salvar. É por isso que ela vai ruir. Eu fiquei tempo o suficiente para saber disso.

— Admiro sua bravura, garoto. Mas, não posso tolerar sua traição. Você não tem um motivo razoável para fazer isso.

Então, Jim encara friamente aquele que o acompanhou desde seu primeiro ano na empresa: Thomas.

— Ah… Agora eu entendi — diz o major. — Tem a ver com o que aconteceu com seu pai, não é?

— É…

— Faz sentido você nos culpar pelo que aconteceu… Mas, pretende mesmo sacrificar tudo que conquistou dessa maneira? Você tá cercado e provavelmente não vai sobreviver.

— Eu não tenho nada a perder…

Com isso, a expressão de Thomas se fecha.

— Você é tão tolo… — diz ele, enquanto aponta sua arma para o jovem soldado ruivo.

Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

— Olha só pra você, Bruna. Tão fraca… Tão vulnerável… — diz David, enquanto caminha lentamente até mim.

— Escuta aqui, seu lixo! Não vai mudar nada se você me matar! Você precisa abrir o portão elétrico da mansão pra fugir! — digo enquanto tento me levantar, mas meu corpo cai novamente no chão, enfraquecido. — Sem luz e com aquele monte de soldados lá fora, você não tem chance!

— Ah, mas você tem o Nexus, não tem? É justamente por isso que eu vou te eliminar. Com essa I.A na minha mão, os soldados da EDEN não vão representar ameaça alguma.

— Eu vou acabar com a sua raça, seu merda!

— Não, você não vai. Você não é burra, e sabe muito bem que está em desvantagem agora. Eu não levantaria daí se fosse você. — diz ele, enquanto chuta minha escopeta para longe. — Você disse querer saber mais sobre mim, não foi, Bruna? Então, eu vou te dizer…

— Ah, não…

— É um prazer te conhecer, eu sou David Wright, irmão gêmeo de George Wright. Desde que minha família foi expulsa de seu país de origem e veio morar aqui nos Estados Unidos, eu passei a desejar tudo que esta terra tinha a oferecer. Matei meu irmão para pegar suas propriedades e acabei recebendo um prêmio muito maior! Tornei-me amante da esposa da minha sobrinha para evitar que ela descobrisse o que fiz, e quando ela estava perto de descobrir, ordenei que sua esposa a matasse.

Enquanto David continua seu monólogo, tento rastejar para longe, mas ele me agarra pelo tornozelo e me puxa para trás.

— Onde você pensa que vai? Eu ainda não terminei de falar! — diz ele com um sorriso perturbador.

Mesmo que eu tente me soltar, de nada adianta, pois o aperto dele é muito forte.

— Eu tive que tomar muitas decisões difíceis e até cruéis pra chegar onde cheguei. Mas, eu sobrevivi a tudo isso, então, não vai ser você ou os soldados da EDEN que vão me matar agora. Não resta nenhum objetivo para mim, além de me tornar o próprio Demônio de Laplace! — grita o homem.

— Você é só mais um surtado! — grito, cuspindo na cara dele em seguida.

— Chegou o fim dessa peleja sem sentido. — diz David, apontando seu fuzil para minha cabeça.

Nesse instante, uma borboleta de coloração azul pousa sobre o dorso da minha mão para assistir aos meus momentos finais.

— Isso, Bruna. Desista! Lutar contra é inútil!

Então, ele atira.

INTERLÚDIO - Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

Do lado de fora da sala de estar, somente o som de sangue pingando pode ser ouvido. Tudo deve ter acontecido em menos de um segundo, e por isso, todos estão chocados, sem saber como reagir.

— Major!? — grita um dos soldados.

A resposta vem apenas com grunhidos inexprimíveis, emitidos pelo Major, que agora possui uma faca enfiada em sua jugular.

— Muito lento. — esnoba Jim.

Em seguida, o homem cai para trás, despejando litros de sangue no chão enquanto perde a capacidade de respirar.

— Ele matou o Major Thomas!

Nesse momento, todos os soldados atiram na direção de Jim, que, apesar de seus esforços para contra-atacar, acaba ficando sem munição e sendo perfurado inúmeras vezes, caindo de joelhos.

— Vai se fo… Corpora… E… — Jim tenta falar, mas não consegue.

Ao perceber que ele não está mais em condições de lutar, os soldados simplesmente seguem para adentrar a sala de estar.

— Eu… Não vou… Deixar…

Então, Jim decide usar seu último recurso.

— Eu não vou deixar!

Os olhos de Jim repentinamente mudam de cor, adquirindo a coloração de um amarelo brilhante, enquanto sua pele perfurada se une novamente, regenerando-se a uma velocidade altíssima.

— Vai se foder Corporação EDEN! — grita ele.

Na sequência, Jim corre na direção de um dos soldados da EDEN, pega ele pelo cabelo e lança sua cabeça contra a parede com uma força absurda, fazendo-a explodir.

— O quê!? — grita o soldado ao lado, assustado.

Sem hesitar por nem um segundo, ele corre para o próximo, dando um soco em seu abdômen poderoso o suficiente para quebrar suas costelas e fazê-lo desmaiar. Enquanto isso, um terceiro soldado atira na direção de Jim, mas as feridas são curadas rapidamente, de uma maneira sobrenatural. Então, ele avança em direção ao terceiro soldado, desviando das balas que ainda são disparadas contra ele. Ao se aproximar, Jim agarra a arma do soldado e a retorce em um movimento rápido, desarmando-o e chutando-o na direção da parede. A força do chute é tão grande que faz o homem atravessar o concreto.

Os outros soldados da EDEN ficam em pânico, sem saber o que fazer diante da força sobrenatural de Jim. Mas, ele não dá tempo para que se recuperem. Avançando com velocidade sobre-humana, ele derruba um após o outro, sem demonstrar piedade.

Quando a poeira baixa, Jim está sozinho, cercado pelos destroços e corpos de seus inimigos.

— Eu sei que usar esse poder vai me custar caro. — Ele diz para si mesmo com um suspiro. — Não poderei ver o final desse dia, nem vingar a minha família. Ao menos, eu encontrei pessoas que vão se vingar da EDEN por mim. Isso me alivia um pouco. Bruna e Esther, confio em vocês.

Então, ele se volta para o resto da mansão, onde sabe que ainda há mais soldados da EDEN. A luta ainda não acabou.

Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

Ao abrir meus olhos, contemplo três borboletas pousadas sobre o dorso da minha mão, as quais são rapidamente espantadas quando tento mexer-me. Além disso, vejo meu bracelete brilhar em vermelho, como se tivesse sido adulterado, e David caminhando tranquilamente até um dos carros para sair da garagem, que agora está aberta.

Como isso é possível? Como estou viva?

Com uma forte sensação de queimação, passo a mão sobre meu rosto e sinto o sangue escorrer, enquanto a minha visão parece ter desaparecido completamente do lado direito. Mesmo que a dor ainda não tenha substituído a sensação de dormência, percebo que o homem acertou precisamente em meu olho.

Mas, isso não faz sentido algum! Pude sentir a minha cabeça explodindo! Tenho certeza que ele me acertou em cheio!

— Parabéns, Bruninha! Você é mesmo uma sortuda, não é? — diz uma voz infantil animada.

— Você de novo!?

— Isso mesmo, euzinho! Mas, olha, acho que não é uma boa hora pra você se preocupar comigo. Vai deixar ele fugir?

— O que você é urso de pelúcia? Aliado ou inimigo?

— Não sei, me diz você. O que você acha?

— Deixa pra lá. Não vou perder tempo com você. — digo enquanto pego minha escopeta do chão.

Analisando a situação, percebo que dessa distância o meu tiro não vai ser preciso o suficiente para matar David, mas, no momento, só tenho que impedi-lo de entrar naquele carro vermelho. Então, miro em sua direção, e ele claramente sente o perigo, mas, antes que possa fazer qualquer coisa para se esquivar, atiro.

— Como você tá viva ainda, sua puta!? — diz ele após ser acertado na perna.

Ele dispara sua arma em resposta, mas consigo cobertura em uma das pilastras da garagem, enquanto avalio minhas opções e recarrego. Agora, preciso ser mais esperta que ele.

— Finalmente eu entendi quem é você. — Ele ri. — Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você viria me buscar e estava preparado para isso. Mas, não esperava que fosse dar tanto trabalho. Você não entende! Você é apenas um peão em um jogo muito maior, Bruna! Um jogo que você não pode vencer!

— Entendeu quem eu sou?

Nesse momento, a visível insanidade de David faz-me lembrar do que aquele velho moribundo me disse:

— Cê vai se transformar em um monstro ainda pior que eu, uma grande assa…

O velho não chegou a terminar frase, pois, finalizei ele antes que pudesse. Mas, será que se eu matar David, vou me tornar louca como eles?

Ao ouvir seus passos se aproximando, decido agir. Então, salto da pilastra e disparo minha escopeta, mas ele se esquiva e não é atingido.

— Você é patética! Tão patética que nem consegue me acertar! Pode continuar desperdiçando suas balas. — Ele ri confiante.

Percebendo que estou exposta, começo a mover-me rapidamente pela garagem, me escondendo atrás de carros e prateleiras. Mesmo que ele possa prever minhas ações, não saberá meu próximo passo se eu conseguir enganar seus sentidos. Logo, preciso aguardar pelo momento certo.

De repente, David parece se distrair com algo, então aproveito a oportunidade para disparar, mesmo sabendo que ele vai se esquivar. Na sequência, corro para trás de um carro e mudo de direção rapidamente, confundindo o homem, que se vira para onde acha que estou, mesmo que eu já esteja em outro lugar. Com isso, atiro novamente, acertando-o no ombro.

— Porra! Sua piranha! — Ele grita de dor.

Apesar disso, não me precipito e continuo me movendo, mudando de posição constantemente para não dar a ele a chance de prever meus movimentos.

— Eu vou destruir a sua vida, tá me ouvindo!? — grita David enfurecido.

Nesse momento, ele se move para a frente, acreditando que eu estou em outra posição, então movo-me silenciosamente para suas costas, encostando minha escopeta em sua nuca.

— Fim da linha, David.

— Você…

— Você e os outros Wright podem queimar juntos no inferno agora.

Eu atiro, e os miolos de David mancham as paredes da garagem com sangue.

— Isso foi… Extremamente satisfatório. Não acha, Carry? — pergunto, mas não obtenho resposta.

De repente, o som de passos e um metal caindo chama a minha atenção.

— Ah, agora faz sentido… Tinha alguém nos observando. Deve ter sido isso que distraiu o David. Mas, não importa.

Na sequência, retorno para a sala de estar, onde o corpo de Esther está caído no chão. Então, rapidamente coloco a mão sobre seu pescoço para conferir a sua pulsação.

— Fico feliz que ainda esteja viva, Esther.

Após confirmar que ela está viva, vou até a entrada da sala de estar para procurar por Jim. Ao abrir a porta, vejo sangue e corpos mutilados, e, logo além, está ele, cheio de ferimentos. Mas, o rapaz não está sozinho. De frente para Jim, está um homem extremamente musculoso, que deve ter quase três metros de altura, o mesmo que eu tinha visto nas câmeras. Seu corpo é tão deformado e anormal, que sequer parece humano. Esse é o monstro do qual Carry tinha falado, o Warlord.

Então, Jim se vira, cumprimentando-me com um sorriso triste, que apesar de silencioso, deixa bem claro o que eu preciso fazer a partir de agora. Em seguida, corro de volta para a sala de estar e coloco Esther nas minhas costas, levando ela o mais rápido possível até o carro vermelho que David já tinha destrancado.

Com isso, coloco Esther deitada no banco traseiro e sento na cadeira de motorista, procurando por um botão de piloto automático na sequência, tendo em vista que não tenho certeza se sei dirigir ou não.

INTERLÚDIO - Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

Desta vez, Jim está de frente para um inimigo formidável, um inimigo que ele sabe que não pode vencer, o Warlord.

— Ei cara, eu prefiro não lutar com você, entende? Não quero ter que te humilhar. — diz Jim.

Aquele monstro imponente permanece em silêncio, encarando o jovem sem dizer uma única palavra.

— Ah, lembrei. Warlords não falam, não é? Bem, eu pensei que vocês fossem racionais pelo menos, mas pelo que eu tô vendo você é tão burro quanto uma pedra.

Ele continua sem responder às provocações de Jim.

— Quer saber? Pra mim já deu.

Então, Jim utiliza suas últimas balas para metralhar o Warlord. Porém, os tiros ricocheteiam na pele impenetrável do monstro, que nem esboça reação.

— Puta merda…

Ao perceber que seu plano falhou, Jim recua alguns passos enquanto observa o Warlord se aproximando lentamente, como se fosse um predador observando sua presa. Então, o jovem soldado decide utilizar sua destreza para desferir golpes no inimigo. Porém, ele falha em superar o monstro imbatível e recebe três socos no crânio.

— Mer… Da. — diz ele antes de cair no chão, tonto e com sangue escorrendo de sua cabeça.

Apesar do jovem tentar se levantar, ele não consegue, pois seu corpo já está no limite. Então, o Warlord levanta Jim pelo pescoço e o arremessa brutalmente contra a parede, fazendo ecoar no ambiente o som de ossos quebrando.

— Merda! Eu não tenho mais forças pra regenerar! — grita o jovem, chorando de dor.

— Warlord, pare! — diz uma voz suave e tranquila. — Não estamos aqui para chutar cachorro morto.

Imediatamente, o Warlord para.

— Você… Eu já imaginava…

Das sombras, surge um homem misterioso, que chama atenção pelas suas vestimentas pretas, com um terno e luvas, além de seus olhos amarelos, que brilham na escuridão.

— Que foi? Eu sei que você já esperava que eu viesse. Estou decepcionado, Jim. Quem te deu permissão para usar meu poder indiscriminadamente assim?

— Eu não preciso da sua permissão pra nada!

— Que ingratidão… Eu te dei vida, te dei força e poder. Tudo isso para você desperdiçar aqui a chance que te dei de se vingar da EDEN? Matando alguns soldados? — diz o homem enquanto se aproxima.

— Eu percebi que nada que eu fizer vai curar essas cicatrizes… Além disso, você nunca quis me ajudar. Você só queria um lacaio.

— É… Isso é verdade. Felizmente, já encontrei alguém melhor que você para te substituir. Alguém mais esperto, eficiente, e, acima de tudo, obediente.

— Ah, que bom pra você. E como vai me matar agora?

— O quê? Eu não vou te matar. Por que eu faria isso?

— Hã?

— Agora, eu só quero uma coisa de você. — diz o homem, colocando sua mão no queixo de Jim.

— O que você quer?

— Diga o meu nome.

— O seu nome?

— Isso… Qual é o meu nome?

— Eu… Não lembro…

— Perfeito… — O homem diz com um sorriso.

Então, ele segura a cabeça de Jim e pressiona os polegares contra seus olhos, até enfiá-los completamente em seu crânio.

— Não! O que você tá fazendo!? Aaaaaaah!

— Shhhh…

— Não! Por favor!

O jovem Jim se debate incansavelmente, enquanto grita e chora de dor, até morrer nas mãos do homem de terno, que suspira aliviado.

— A verdade é que você tentou ser um herói, Jim. Mas, você se enganou. Em um mundo como esse, não existe espaço para heróis. — diz o homem enquanto vai embora.

São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

Conforme o carro vai se afastando da mansão, relembro tudo que ocorreu nesses últimos dois dias e do quão intensos eles foram. De repente, Esther recobra a consciência.

— Bruna? Onde estamos? Onde está o Jim? E o que aconteceu com o seu olho?

Ouvindo isso, permaneço em silêncio encarando a estrada.

— Bruna! Eu estou falando com você!

Eu realmente não quero dizer a ela o que aconteceu lá.

— Onde tá o Jim, Bruna!? — Ela grita com lágrimas nos olhos. — Nós precisamos voltar, ele ainda tá lá!

— Nós não vamos voltar, Esther. O Jim está morto.

— Não, não! Ele não faria isso! Nós tínhamos um acordo!

— Me perdoe, Esther. Ele se sacrificou para te proteger. Essa foi a decisão dele.

Depois de um tempo de completo silêncio no carro, Esther me pergunta:

— Pra onde estamos indo, Bruna?

— A minha ideia agora é procurar pelo Dr. Maximus. Provavelmente ele vai conseguir tratar nossas feridas.

— Entendi… Eu queria o Jim pudesse estar com a gente aqui. Você sabia que a gente já se conhecia há um tempão?

— Sério?

— Sim, ele gostava de mim no colégio.

— Então, significa que você recuperou suas memórias?

— É, dá pra dizer que sim.

De repente, escuto um som vindo do meu bracelete e percebo que sua luz voltou ao normal.

— Restaurando funções operacionais básicas da unidade Carry. Olá… Senhorita.. Bruna.

— Finalmente acordou, é?

Nome: Bruna

Idade: Estimativa de 19 anos

Tipo Sanguíneo: AB+

Frequência Cardíaca: 47 bpm

Quociente de Laplace: 4%

Data e Hora: 11:24 AM, 04/03/2025

— Realizei uma… Pequena atualização… No seu bracelete. Agora consta o nome… Bruna.

— Espera aí!? Essa é aquela inteligência artificial que você falou, Bruna!? Que incrível!

— É ela sim…

— Olha, eu nem sei o que dizer! Eu amo robôs e tecnologia! É um prazer dona I.A, me chamo Esther! Seu nome é Carry né?

— Olá, senhorita… Esther… É um… Prazer. Você já faz… Parte do meu banco de dados.

— Ai, que emoção! Você é maravilhosa, Carry! Ma-ra-vi-lho-sa!

— Assim… Você me deixa… Tímida… Senhorita… Ou seria… Lisonjeada… Acho que não tenho um plugin para… Essas coisas.

— Chega de perder tempo, Esther! Carry, assuma o controle do veículo!

— Sim… Senhora!

— Estamos chegando, Dr. Maximus.