Chereads / Dead End: Caos de Laplace / Chapter 12 - Encurralados

Chapter 12 - Encurralados

Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

O arsenal se fecha, impedindo-me de fazer qualquer coisa, e o cheiro de gás invadindo aquela sala de segurança faz meu cérebro derreter e meus pensamentos serem rapidamente diluídos.

— Você caiu no jogo deles, fofinha! — exclama em tom de deboche uma voz infantil.

— Cala a boca! Você não sabe de nada!

— Quem diria, hein? Logo você, Bruninha. Tão determinada, tão convicta, tão desconfiada…

— Para! Quem é você!?

— Alô? — diz uma voz que sai do meu bracelete.

— Você se deixou enganar por aquela mulher e não foi capaz de perceber o óbvio.

— Sim, eu baixei a guarda, deixei ela me enganar. Não tinha como a Jessica saber que a Esther tinha perdido as memórias.

— Exatamente! E agora, todos vão morrer por sua culpa! Em alguns minutos essa sala de segurança vai ficar cheia de gás, e você vai morrer sufocada!

— Quem é você, cacete!?

— Ah, não me diga que ainda não percebeu, Bruninha.

Nesse momento, vejo diante de mim um urso de pelúcia, que repousa tranquilamente sobre o painel de Nexus.

— Você…

— Alô? — diz uma voz que sai do meu bracelete.

— O quê? Vocês ainda estão na linha?

— Sim, nós estávamos conversando e do nada você começou a falar sozinha.

— Eu… Quanto tempo se passou?

— Uns 3 minutos. Tá tudo bem?

— Não, não tá. Vocês já estão invadindo a mansão?

— Afirmativo, não daremos tempo para o alvo fugir.

— Que ótimo, eu estou na sala de segurança. Venham aqui me resgatar.

— Perdão, mas o quê? Você não está na nossa lista de prioridades.

— Como assim!? Eu ajudei vocês!

— Ajudou mesmo? Você só nos deu o nome de um cara morto.

— Escuta, se eu ficar mais tempo aqui vou morrer!

— E, infelizmente, eu não posso fazer nada. Vamos te buscar assim que nossa missão estiver concluída.

— Eu não tenho esse tempo todo, seus merdas! Vocês da EDEN são todos uns lixos!

— Sim, eu sei… Me desculpa por isso. — O homem finaliza a ligação com essas palavras.

Então, olho tristemente para o painel de Nexus.

— Isso tudo não pode ter sido em vão. Nexus, pare essa coisa imediatamente!

— Não posso atender ordens da senhorita.

— Foi o que eu pensei…

— Que bobinha, você achou mesmo que ele atenderia seu pedido? — O urso debocha mais uma vez.

— Não custa nada tentar, não é? Bem, parece que eu vou ter que dar uma "apeladinha".

Na sequência, pego a escopeta e aponto para o painel de Nexus.

— Se não vai por bem, vai por mal!

Após descarregar a arma dando tiros no painel, percebo que de nada adiantou.

— É, agora parece que não tem jeito mesmo.

— Fico feliz que tenha percebido, mocinha. Você já está perdendo a linha, ficando louquinha.

Assim que o urso termina de falar, sua cabeça começa a encher como se fosse um balão de gás, ficando grande o suficiente para tomar conta de toda a sala.

— Ei, o que tá acontecendo com você?

— Nada, eu estou ótimo. Você é quem não parece nada bem. — O urso fala com uma voz distorcida.

— É, acho que é isso…

De repente, a cabeça do urso explode, fazendo jorrar sangue por todo o ambiente. Além disso, o impacto da explosão é grande o suficiente para me fazer cair no chão e perder a consciência em instantes.

Diante de mim, está aquela mesma figura que vi dias atrás: um homem ruivo, de terno, caminhando, despretensiosamente, em meio à tempestade. Quem é ele? E acima de tudo, quem sou eu?

— Você vem comigo, não é? Não tem mais nada pra você aqui. — Ele pergunta com um sorriso suave.

— Olá… Senhorita! Espero que… Esteja… Sentindo-se bem.

— Hã?

Ainda que deitada sobre meu próprio vômito, começo a levantar. Enquanto isso, todo o gás que antes invadia a sala parece ter parado, e uma voz robótica familiar me cumprimenta.

— A senhorita… Parece surpresa e… Confusa. Maximus não disse que… Estava tudo correndo bem?

— Carry? É, acho que ele disse isso mesmo.

— Viu? Você… Precisa confiar mais… Em nós.

— A sua voz tá saindo do computador do Nexus. Como você conseguiu entrar aqui?

— Ah… Pensei que tivesse reparado… Senhorita. O pen drive… Que você usou… Estava infectado com… A melhor I.A. do mundo.

— Sei… Você e aquele velho tem formas bem estranhas de resolver as coisas, né?

— O que importa… É que funciona… Não acha?

— É, acho que sim… Droga, a minha cabeça tá doendo.

— Deve ser… O efeito… Do gás. Bem… Não vamos… Perder tempo. Agora tenho… Acesso a toda a interface… Nexus. Então… Permita-me oferecer-lhe… Algumas armas e… Munições.

Em seguida, as portas do arsenal se abrem novamente.

— Bem, acho que só vou pegar bastante munição para minha escopeta.

— Não… Pretende levar… Alguma arma para… O senhor… Jim Crooks?

— Você conhece ele? Ah, tanto faz. Ele tem muitas armas, mas eu vou levar um fuzil só pra garantir.

— Muito bem!

— Outra coisa, me deixa dar uma olhada nas câmeras. Você tem acesso a elas agora, certo?

— Claro! Pode… Olhar. Mas, já vou… Avisando… Que a bateria das câmeras… Está… Acabando.

Ao observar as câmeras, vejo vários soldados da Corporação EDEN correndo pelos corredores, enquanto um homem tão forte e alto que chega a nem parecer humano caminha próximo a eles.

— Quem é esse cara? Ele deve ter mais de dois metros.

— Esse é o… Warlord. Confia… Em mim. Ele é uma… Máquina de matar… Quase ilimitada. Você… Não vai querer comprar… Briga com ele.

— Um braço desse tamanho com certeza não vai servir pra fazer carinho.

Do outro lado, o homem que afirma ser George e Jessica correm, atirando nas câmeras pelo caminho.

— Esses desgraçados estão levando a Esther…

— Mais um… Motivo para você ir. Vou… Estar em contato… Pelo… Bracelete. Agora, vai!

Nesse momento, saio da sala de segurança e corro até o porão da mansão, na esperança de encontrar Jim Crooks lá.

— Jim!

Ao descer as escadas, vejo o jovem soldado da EDEN, amarrado pelos pulsos a um cano de metal. Além disso, ele possui feridas na cabeça e um tiro no abdômen.

— Bru…

— Você me enganou, seu merda!

— Eu… Te enganei?

— Você sabia que aquele homem não era George Wright! Você sabia que era ele o alvo da EDEN! Você sabia e mesmo assim não falou nada!

— Bruna, por favor, não é hora pra isso.

— É melhor você falar se não quiser que eu meta um tiro na sua boca.

— Escuta, seu eu tivesse te contado, você teria dado um jeito de estragar tudo, tenho certeza!

— O quê?

— Isso mesmo que você ouviu, sua corna. Você quase matou ele sem motivo nenhum! O que você teria feito se eu tivesse te contado que ele tava tentando enganar a gente!?

— Seu merda…

— Nós não teríamos conseguido nem metade do que conseguimos se você tivesse se intrometido.

— E você não teria levado um tiro!

— Olha, se tudo der certo, esse cara vai se tornar um pesadelo para a EDEN, e levar vários soldados de elite com ele.

— Mas, é isso que você quer? Você deveria querer o bem da EDEN!

— Não, desde que aqueles putos foderam a minha vida.

— Quê?

— Eu falei que você não iria entender, mulher.

— E a Esther, hein? Eles vão acabar matando ela.

— Não, eles não vão. Não seria nada inteligente, e, mesmo que tentassem, eu não iria deixar. Eles sabem que a cilada que eles armaram não vai segurar a gente por muito tempo, então, vão tentar usar a Esther como moeda de troca.

— Não seja idiota! O refém não vai fazer diferença alguma para a Corporação EDEN.

— Sim, é por isso que temos que alcançar eles antes.

— Mas, isso é impossível! Olha pra você! Eles roubaram seu traje, seu colete, suas armas. E esse tiro aí? Não temos tempo para remover a bala!

— Só me tira daqui logo, ficar com os braços pra cima assim tá doendo pra porra.

Então, removo as amarras de Jim cuidadosamente.

— Obrigado, finalmente estou livre. Escuta, quando eu entrei aqui pensei que seria só mais uma missão no meu caminho para destruir os caras que estão no topo dessa empresa maldita. Mas, a situação mudou quando eu encontrei a Esther. Eu decidi que deveria tirar vocês duas desse lugar de qualquer jeito, levando o máximo de filhos da puta que eu conseguisse.

— Isso é…

Nesse momento, o jovem soldado da Corporação EDEN olha no fundo dos meus olhos e diz:

— Eu nunca disse que sobreviver fazia necessariamente parte do plano.

— Certo… Entendi.

Então, Jim pega o fuzil da minha mão e caminha até as escadas.

— Outra coisa, Bruna. Quando eu te conheci, eu te achei um pé no saco. Mas, acho que estou começando a mudar a minha opinião. No fim das contas, você não parece uma pessoa tão ruim.

— É melhor não criar expectativas.

— Não vou criar. E aí, vamos?

Em seguida, subimos as escadas e corremos pelos corredores da mansão. Enquanto isso, podemos ouvir ao longe passos e gritos de soldados da EDEN.

— Cuidado, Bruna! — diz Jim, empurrando-me para uma cobertura.

E assim, ele elimina rapidamente dois soldados que estavam prontos para nos matar.

— Esses merdas queriam atirar em nós, mesmo sabendo que não somos a droga do alvo deles!

— É por isso que não dá pra confiar na porra da Corporação EDEN. Me diz aí, seu bracelete já detectou alguma coisa?

— Alguém com Laplace alto nas proximidades, Carry?

— Negativo… Senhorita.

— Que I.A. bosta que você foi arrumar, hein, Bruna? — diz Jim em um tom provocativo.

— Por favor… Jim… Delete-se à sua própria insignificância imediatamente.

— Me passa o mapa aí, Bruna.

— Toma.

— De todos esses lugares, tenho certeza que esses filhos da puta estão indo para a garagem da mansão. É o melhor lugar para fugir daqui.

— Pegar um carro e fugir? Até que não é um plano ruim.

— Pois é, eles só não contavam que a gente fosse prever isso. Vamos!

Após mais alguns minutos correndo pela fétida mansão, Jim faz um comentário.

— Esses corpos no chão são recentes, Bruna.

— Eles devem estar próximos…

— Sim! Acabei de… Detectar… Uma anomalia de… Laplace… Logo à frente.

— Na sala de estar?

— Esse lugar é perfeito, Bruna. Vamos aproveitar a oportunidade para encurralá-los.

— Encurralar quem? Eu gostaria de saber, de verdade. — A voz de George ecoa por todo o corredor. — Vamos, entrem. Vamos conversar pacificamente.

Então, nós entramos no cômodo e, ao contemplar o local, vejo George, segurando Esther em seus braços, e Jessica logo ao lado.

— Você tentou me matar, sua vadia.

— Acalme-se Bruna. Isso tudo ficou no passado, certo? Agora estamos aqui para negociar. — diz George de maneira estranha.

— Vejo que ainda não abandonou a máscara de palhaço, George. Ou será que eu deveria te chamar por outro nome? David, talvez? — Jim comenta.

— Então, vocês perceberam… Fico feliz! — o homem gargalha de maneira histérica. — A partir de agora fiquem à vontade para me chamar de David. Sobre a máscara, acho que ela já virou parte de mim, sabe? Faz parte da minha identidade agora.

— Bem, se quisermos fazer uma boa negociação, acho melhor não usarmos máscaras, velhote. Seria um desrespeito com todos os negociadores que vieram antes de nós.

— Certo, certo. Você me convenceu.

— Então, significa que a negociação já começou. Mas, eu tô curioso. Como você é tão parecido com o pai da Esther?

— Não faça perguntas idiotas. Acho que não estamos aqui para discutir isso, certo?

— Claro. Antes de começarmos, me informa que horas são Bruna.

Nome: Não consta nos registros

Idade: Estimativa de 19 anos

Tipo Sanguíneo: AB+

Frequência Cardíaca: 116 bpm

Quociente de Laplace: Menor que 1%

Data e Hora: 08:23 AM, 04/03/2025

— São oito e vinte e três.

— Obrigado, acho que ainda temos algum tempo.

— Olha, vocês querem essa coisinha aqui na minha mão, e eu quero fugir. — diz David, apontando o fuzil para a cabeça de Esther.

— A dois passos da loucura, e você ainda quer fugir? Olha para o seu estado, acha mesmo que vai conseguir?

— Eu sou mais inteligente que todos vocês! É por isso que eu vou conseguir! Eu sou um gênio! — George grita.

— Se você diz… Nos entregue a Esther com vida e podemos te deixar fugir.

— Eu já vi um homem assim antes, Jim. Ele é como uma bomba prestes a explodir. Você sabe que não dá pra deixar ele fugir. Não depois de tudo isso…

— Sim, eu sei. Isso é o que acontece quando pessoas de mente fraca lidam com algo como o Laplace. Mas, é a vida da Esther que está em jogo aqui, Bruna.

— Isso, isso, exatamente. É a vida da Esther que está em jogo. Se bem que eu não acho que ela vai durar muito tempo também. E mesmo que ela sobreviva, não deve servir pra muita coisa. É claro que ela pode servir pra ser sua boneca sexual, Jim. Tudo que você sempre quis…

— O quê você falou, seu merda!?

— Puff… Boneca Sexual! — Esther ri alto.

— Ela tá acordada!? — grita o velho com surpresa.

Nesse momento, Esther chuta os testículos do homem, correndo na nossa direção em seguida.

— Garota maldita!

Porém, ele atira em sua perna, fazendo-a cair no chão.

— Que merda! Isso dói muito! — Ela geme de dor.

— Eu vou meter um tiro na sua cara, seu filho da puta! — grita Jim.

— Não, Jim! É como você disse. É a vida da Esther que está em jogo aqui. — digo enquanto seguro seu braço.

— Aí, não acha que estamos passando um pouco do ponto, D? — Jessica decide falar algo após um bom tempo quieta. — Não acho que precisamos disso…

— Passando do ponto!? Você acha que estamos passando do ponto!? Você disse que me amava! Que morreria e que mataria por mim!

— Calma aí pessoal. A Jessica não era a minha esposa? — Esther indaga.

— Acho que tudo tem um limite. Já matamos gente demais, não acha? Justamente porque amo você, acho que deveríamos por um fim nisso tudo.

— Por um fim nisso tudo?

Então, Jessica se aproxima de David, o homem que até agora se passava por George, e colocando a mão sobre seu rosto pede pelo fim daquele pesadelo.

— O Quociente de Laplace é amaldiçoado, D. Todos que adquirem ele acabam cedendo à loucura. Tenho certeza de que se você se entregar, a EDEN vai ter algum meio não letal de tirar isso de você. E assim, poderemos viver felizes.

— Eu só não atiro em você por causa da nossa história, Jessica. No fim, eu aceito sua escolha. Pode ficar aqui e perecer junto com esses imbecis.

Na sequência, David pega sua mochila e lança duas bombas de fumaça, acesas previamente, saindo pela porta logo depois.

— Mas, eu… — Jessica fica sem palavras para dizer.

— É com você, Bruna. Vai matar esse filho da puta. — diz Jim.

— Nem precisa pedir.

INTERLÚDIO - Residência dos Wright, São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

Assim, que Bruna sai pela porta, Jim dá um suspiro de alívio.

— Que bom que conseguimos te recuperar com vida, Esther.

— Também tô feliz de te ver, Jim. Acho que você vai ter que voltar a ficar me carregando por aí. — Ela fala enquanto ri. — Tem uma arma pra me emprestar aí?

— Eu tenho essa pistola aqui! Não tá feliz de me ver? — pergunta Jessica.

— Olha, acho que eu tô, né?

— Espera aí, significa que você realmente perdeu suas memórias?

— É, eu não lembro de nada. Só sei que você é minha esposa porque ouvi os outros comentando.

— Bem, não tem problema. Acho que vamos ter que reescrever a nossa história do zero, então.

— Calma, você não acabou de me trair com aquele cara?

— Ah, isso… Eu só estava fazendo ele de trouxa, sabe? É assim que eu lido com os homens.

— Acho que entendi…

— Só estava enganando ele para que se rendesse logo. Quem eu amo de verdade é você.

Então, Jessica se abaixa e beija Esther romanticamente.

— Não demorem muito, valeu? — Jim comenta constrangido.

— Ah… Pode… Deixar. — Esther responde.

De repente, Esther saca a pistola e dá um tiro na cabeça de Jessica.

— Viu? Foi rapidinho.

— O que você tá fazendo!? Você ficou maluca, Esther!?

— Eu não.

O corpo de Jessica cai para trás, e Esther descarrega o resto do pente até o rosto dela ficar totalmente irreconhecível. Enquanto isso, seu sangue mistura-se ao carpete da sala de estar.

— Beija mal pra caralho.

— Por que você fez isso!?

— Olha, eu não sou do tipo que se apega a paixões antigas, sabe? Além do mais, não vai me dizer que tu pensou que eu tivesse acreditado naquele papinho de "só tava engando ele".

— Não, mas…

— Essa ratazana ainda sujou o meu boot. Filha da puta…

— Cara, eu tô sem palavras.

— Por quê? Não gostou?

— Pra falar a verdade, isso foi do caralho...

— Fico fel…

Antes de terminar a frase, Esther cai no chão convulsionando.

— Esther!? Esther!?

Enquanto isso, o som dos passos dos soldados pode ser ouvido do outro lado da porta.

— Merda! Merda!