Camila estava debruçada sobre o balcão da loja de seu pai, estava entediada. Há dois dias que Agnes não respondia, tudo bem, entendia que Agnes deveria estar ocupada... Ou desistido de lhe dar ideia.
— E essa cara aí? De quem comeu e não gostou. — Alejandro Oleja brincou, fazendo sua filha saltar levemente assustada.
— Hã? — Camila pergunta, voltando para a realidade.
— Está pensando em quê? — O homem insiste, se debruçando ao lado da filha.
— Ah, em nada de importante, — Camila olha para o pai e sorri brevemente — só que eu tenho que procurar um emprego como
— Kaki, não se preocupa, eu conheço muitas pessoas influentes e aqui por mais que não pareça, tem empresas de grande porte, mas você sabe... São no campo agrícola. — Alejandro deu um aperto na mão mais próxima da filha e logo se ergueu de cima do balcão. — Mesmo assim acho que consigo achar alguém para te "prender" dentro de um escritório.
— Não se preocupe com isso, papá. — Camila afaga o ombro do pai e então avista um novo cliente rodando na delicatéssen, saindo de perto de Alejandro para ir atender. — Eu vou dar meu jeito...
*****
Agnes estava de volta do hospital de onde fazia plantões como voluntária pela tarde, algumas vezes por semana. Era por volta das 5 da tarde quando Agnes entra em sua confeitaria, estava começando o maior movimento do dia. Sempre por volta daquele horário o local se enchia com pessoas voltando do trabalho e pais voltando com seus filhos da escola.
A Velazco sempre ficava na confeitaria até as 7 da noite, o horário que fechava, deixando sua filha com uma de suas funcionárias no andar de cima. A Velazco tinha 3 funcionários: Frigg, Sigrid e Elizabeth. Sigrid era quem normalmente ficava de babá para Agnes ou responsável por abrir a confeitaria, por ser a mais confiável e responsável entre as três. Frigg era a atendente, irmã de Sigrid, que ajudava as vezes no preparo dos quitutes servidos na confeitaria por mais que quase 100% era obra de Agnes pela manhã ou em dias que não ia para o hospital.
Também tem Elizabeth que faz de tudo um pouco, desde ajudar no caixa, atendendo e se necessário até entregando encomendas, mesmo que quem fizesse isso geralmente fosse um dos funcionários de meio período.
— A Sigrid deixou algumas tortas especiais pré-aquecendo. — Frigg avisa rapidamente pegando uma bola de sorvete no congelador para colocar ao lado de uma fatia de bolo. — Ariel cresceu muito, chefa. Está enorme!
É mais um apelido carinhoso do que qualquer outra coisa quando uma das funcionárias de Agnes a chamava de 'chefa'.
— Sim, ela só tem 4 anos e já joga com as crianças de 7.
— Está brincando? — Frigg pergunta, enquanto sai com um prato em mãos, quase esbarrando em Elizabeth.
— Torta tradicional na mesa 5, Frigg. — Elizabeth avisa, indo pegar um pedido de outra mesa.
— Ok, torta de maçã... — Elizabeth resmunga um sim para a loira. Agnes observa a interação das duas e como elas não se davam bem, apenas conviviam porque tinha que fazer isso.
Para que elas parassem de conviver pelo menos um pouco, Agnes tentou fazer com que uma das duas fossem a babá de Ariel, mas a garotinha não se deu bem com Elizabeth e Frigg não gosta muito de crianças, só sobrou Sigrid que é a favorita de Ariel.
— Eu te ajudo. — Agnes oferece, sorrindo para sua funcionária.
*****
Camila acorda atrásada mais uma vez, ela nunca foi de se atrásar até começar a trabalhar com seu pai, algo naquele emprego fazia parecer que não era coisa muito importante. Mesmo que não gostasse de ir trabalhar, Camila estava gostando de interagir com pessoas, algo muito atípico vindo dela.
Com bastante preguiça Camila seguiu seu caminho de todos os dias pelo centro da cidade, passando em frente o apartamento de Agnes e confeitaria por baixo, que até então a latina não sabia pertencer à Agnes Velazco. Se dependesse de Camila não entraria ali, afinal não gostava de Tortas e o slogan da 'Confeitaria Ariel' era 'a melhor torta da Georgia'.
Camila passou pela confeitaria batida, como passava todos os dias.
— Ei! Você! — Camila continuou andando, nem percebendo a garota loira que lhe chamava. — Ei, ei, ei! — Frigg quase passou por cima de Camila quando a latina parou para ver de onde viam os chamados e para quem era. — Você!
— O quê? — Camila questiona, confusa para a loira em sua frente. Frigg respira profundamente por conta da pequena corrida que teve que fazer para chegar até Camila.
— Você... Minha chefe mandou eu vir atrás de você. — Frigg aponta para a confeitaria.
— Sua chefe? — Camila questiona e acompanha a loira para a confeitaria. O cheiro de massa de torta era inconfundível dali e não agradava o estômago da latina em momento nenhum.
— Agnes Velazco. — Frigg responde à pergunta de Camila.
— Ah...
— Por favor escolha um lugar para sentar, ela foi correndo em casa por isso me mandou ir atrás de você. — Frigg oferece de forma cortês, Camila observa as duas garotas, atrás dos expositores de vidro, conversando animadamente.
— Ok, obrigada. — Camila agradece, ela avalia o local todo. Há alguns clientes no momento, são poucos por não ser horário de pico, o lugar tem uma 'vibe' daqueles bistrôs franceses e mesmo que Camila odeie o fato do lugar ser cheio da pior sobremesa do mundo para si, ela gosta de como tudo é organizado.
Camila manda uma mensagem para seu pai, avisando que vai chegar mais tarde ainda e quando se dá conta ela percebe uma fatia de torta de maça sobre a mesa, a mais tradicional das tortas. Agnes chega perto de Camila, mas a mesma nem percebe a presença ali.
— Você não vai comer? — Agnes questiona para Camila que está há alguns instantes olhando de forma estranha para a fatia de torta em sua frente. A Velazco suspira frustrada e só então Camila acorda de seu transe, segurando o estômago levemente com as mãos, como se isso pudesse fazer seu nojo passar. — Não gosta de tortas?
— Hmm... — Camila encara o rosto um tanto aborrecido de Agnes, só por ela pensar que alguém pode não gostar de suas tortas. — Eu amo tortas! — Agnes sorri e Camila acrescenta ainda mais mentiras ainda. — Mas sou diabética, não posso comer...