Camila entra na delicatéssen da família, há três senhoras envolta do expositor dos queijos discutindo sobre qual era o melhor para fazer determinada receita. Os Oleja nem se importam mais com essas três senhoras, antes ficavam envolta esperando que elas decidissem ou ajudando-as em fazer uma escolha, mas não adiantava em nada e ainda consumiam a paciência deles.
— Bom dia!
— Bom dia, Camila. — As três mulheres disseram animadas.
Camila seguiu seu caminho até o balcão, na lateral da loja, onde seu pai conversava com um senhor branco e rechonchudo.
— Os aspectos naturais do Geórgia foram e ainda são muito importantes para o estado. — Alejandro comenta de forma tranquila, ele fala com tanta paixão do lugar, que apesar de anos morando ali ainda surpreende Camila. — Culturalmente, as belezas naturais inspiraram diversos artistas que cresceram no estado... Sabe, não me arrependo de ter vindo de Cuba para Miami e nem de Miami para Tifton.
— Sei, te entendo. — O senhor responde de forma alegre para Alejandro Oleja. — Economicamente os aspectos naturais fazem da indústria madeireira importante fonte de renda da Geórgia. O estado é um dos líderes nacionais na produção de produtos de madeira e definitivamente por causa disso, também não tenho arrependimentos.
— Só você mesmo para transformar uma conversa banal em conversa de trabalho. — Alejandro é sarcástico para cima de seu amigo, que sorri e nega um balançar de cabeça.
— Bom dia! — Camila deseja bem próxima ao balcão, Alejandro ergue as sobrancelhas para a filha em repreensão por seu serviço um tanto mal feito.
— Bom dia!
— Bom dia! — Alejandro responde, o amigo logo virando-se para olhar para a mulher. — Michael, essa é Camila... Camila, esse é o homem que te falei, que poderia conseguir que você se enfiasse em um escritório, do jeito que gosta.
— Michael?
— Sim. — O homem responde e sorri para Camila. — Se estiver interessada pode agendar uma entrevista em minha empresa, gostaria de ter a oportunidade de tê-la trabalhando lá, seu pai é um velho amigo meu e isso seria muito oportuno para ambos os lados.
— O senhor tem uma madeireira, certo? — Camila questiona, ela não está tão animada para talvez conseguir um emprego em uma madeireira, sente como se fosse matar o planeta (talvez fosse mesmo) de forma ainda mais direta que o normalmente todos humanos fazem.
— Sim, mas não se preocupe... — Michael faz uma pausa, achando graça da cara da mulher. — Nós não saímos queimando as florestas do nada, temos uma área enorme de reflorestamento e fazemos tudo conforme a lei pede.
Michael explica tudo para Camila e eles engatam em uma conversa animada, logo se dando bem e combinando de se encontrarem para que a entrevista corresse em um lugar onde pudesse manter a concentração intacta e que Camila pudesse ser avaliada efetivamente.
*****
Agnes está tirando algumas tortas do forno enquanto Sigrid e Elizabeth estão na frente atendendo os clientes e Frigg está cortando algumas fatias de tortas e bolos, todas devidamente equipadas com tocas e luvas térmicas.
— E aí, chefinha? Está namorando a aquela latina bonitona? — Frigg questiona com bom humor, o que é meio estranho, de tão raro de acontecer. — Eu a vi saindo novamente do seu apartamento.
— Você e as meninas vivem achando que eu namoro com todo mundo, daqui a pouco vocês vão achar que uma das minhas amigas está namorando comigo. — Responde tentando desconversar, mas não adianta muito.
— Ah, chefa... — Agnes olha para Frigg que olha por cima dos ombros, quase encostada no balcão enquanto corta as fatias de torta. — Não é assim, nós sabemos diferenciar. E essa Camila nem de longe é apenas sua amiga.
— Vocês são fofoqueiras. — Agnes acusa com humor, um sorriso enorme tomando conta do rosto apenas por tocar no nome de Camila.
— É um fato que não podemos negar. — Frigg concorda sorrindo também.
Angela entra na cozinha segurando uma sacola lotada, fazendo o assunto com Frigg ser temporariamente esquecido.
— Agnes, eu passei na delicatéssen da sua namorada, comprei várias coisas gostosas lá. — Angela comenta e ergue a sacola com o logo da delicatéssen dos Olejas. Frigg debocha para Agnes após escutar a palavra 'namorada'.
— Ela não é minha namorada. — Agnes retruca, a resposta servindo para as duas.
— Ainda! — a funcionária completa rapidamente.
— Frigg!
— Essa garota merece um aumento de salário por ser tão sensata. — Angela brinca e Frigg sorri para a mesma.
— Essa mulher é uma amiga, essa sim é amiga de verdade. — Frigg retruca numa brincadeira, Agnes até estranha que ela esteja tão bem humorada.
— Você está feliz demais, Frigg, por acaso esqueceu que a Sigrid namorada a Elizabeth. — Agnes provoca só para irritar a loira.
Frigg grunhi irritada e então pega uma bandeja com torta para levar até os expositores na frente da loja.
— Ela não namora!
— Ainda! — Agnes provoca, repetindo a fala da funcionária instantes antes.
— Uê, a Sigrid não é irmã dela? Por que a raiva? — Angela pergunta para Agnes e então tira da sacola alguns produtos que comprou na delicatéssen.
— Ela odeia a Elizabeth.
— Talvez ela gosta dela em segredo. — A Iglesias sugere e Agnes logo nega. — Pode ser uma paixão encubada.
— Essa opção não existe, ela realmente não vai com a cara da Elizabeth e nem a Elizabeth com a dela. — Agnes explica e então se aproxima do balcão onde Frigg estava, ficando perto de Angela que mostra um pote de doce.
— A Camila falou que esse doce é impecável, a amiga dela disse que come um pote desse doce em dois dias. — Angela comenta com diversão. — Ela nem parece trabalhar lá, ela comeu quase um pote desse doce de banana na minha frente, sem exagero. Ela deve dar prejuízo para o pai dela!
— Camila comeu? — Agnes questiona de forma preocupada, Camila é diabética afinal.
— Sim, segundo ela é o único que ela gosta. — Angela responde sem dar importância. — A amiga dela disse que só com uma torta com esse recheio talvez fosse capaz de fazer Camila gostar de tortas... Achei super contraditório e cômico porque você ama tortas e ela as odeia com todas as forças.
— Ela odeia? Ela disse isso? — Agnes questiona totalmente decepcionada, mas não querendo demonstrar isso para sua amiga.
— Ah, merda... — Angela fecha os olhos e quase se bate por ser tão burra. — Você não sabia?
— Ah, claro. Sabia...
— Menos mal! — Angela fala se dando por vencida por mais que não acredite muito na fala da amiga.