Enquanto Charlie, Colton, Joshua estão trocando os móveis de quarto, Heather está dormindo no sofá depois de pedir comida. Gabriela está fazendo uma pausa no canto do quarto, uma pausa que está durante quase 20 minutos.
— Ei, Gabriela! Para de jogar isso e vem ajudar! — Charlie cutuca a perna da amiga com o pé e quando a latina desvia sua atenção, Charlie está com as mãos na cintura, quase numa pose do Superman.
— Vem ajudar! — Colton chama e para perto de Charlie, mexendo no cabelo quase numa Alexa.
— Estou jogando TRIVIA 360, não consigo parar! — Gabriela fala de maneira dramática, não causando efeito nenhum nos dois.
— O Josh está trabalhando praticamente sozinho, não é você que gosta dele e iria protegê-lo enquanto viver? — Charlie questiona sendo totalmente pretensioso e dramático.
— Não falei para que levassem à sério! — Gabriela reclama, deixando o jogo pausado.
— Levanta ou vamos embora... — Colton é tão dramático e chantagista quanto Charlie, Gabriela revira os olhos e levanta. — Hoje em dia não se pode nem fazer pausas mais...
— Aham, Gabriela!
Os três vão até o mais novo quarto de Junny, mas não encontram Joshua em lugar nenhum.
— Vou procurar o Josh.
— Vamos com você! — Charlie decreta fazendo birra, Gabriela não fez nada para ajudar por pura manha.
No ambiente da sala os três já viram Joshua e Heather na cozinha, a mulher com as mãos nas costas e peito do homem. Charlie logo já ficou atento na cena, todo mundo sabe que os quietinhos são os piores.
— Josh está até vermelho de tanto fazer tudo sozinho. — Gabriela brinca não levando a cena com os maliciosos, até porque nem tinha necessidade. Charlie que era um bobo inseguro.
— Não, ele engasgou com uma tortinha. — Heather explica enquanto o homem ao seu lado respira profundamente. — Mas agora está bem... Certo, Josh?
— Aham! — O homem se vira para olhar os três, ele faz um sinal de positivo e tosse, Heather se afasta risonha e vai para perto do balcão pegar mais tortinhas.
— Só o Josh para engasgar com tortinha mesmo. — Colton brinca e também ataca as tortinhas salgadas que Heather tinha pedido.
— Vocês são tão ruins com ele! — Gabriela entra em defesa do homem que está bebendo água.
— Você que disse que alguém precisa falar para ele ir dar o... Porque não gosta de mulher. — Heather acusa, ela não perde uma oportunidade.
— Gabriela... — Colton coloca as mãos sobre a boca, fingindo choque.
— Estou arrependida! Eu disse isso mesmo, mas achava ele um bobo. Agora acho ele o homem mais fofo do mundo!
— Perdi o posto de homem mais fofo! — Charlie dramatiza.
— Você nunca esteve nele. — Gabriela rapidamente responde, fazendo Heather rir da cara de desgosto do namorado.
— Sou massacrado o tempo todo, não tenho um minuto de paz.
— Macho hétero merece isso! — Joshua se aproxima ainda com seu copo de água e brinca com Charlie.
— O Josh tem senso de humor! — Colton fala antes de levar mais uma tortinha até a boca.
— Ou a capacidade de fazer brincadeiras! — Heather não consegue controlar a língua.
— Heather!
— Você não é hétero?
— Eu posso ser bem lerdo, mas não sou burro, apesar de que deixo as pessoas pensarem que sim. — Joshua olha diretamente para Heather, que fecha os olhos envergonhada. — E sou gay, caramba, vocês são cegos?
— Mas e o encontro com a Junny? — Gabriela pergunta, ela e os outros estão surpresos por Josh ser bem resolvido e não ser tão lerdo quanto aparenta.
— Encontro? — Joshua olha preocupado para Gabriela. — Junny não queria ser minha amiga?
— Josh, vocês se conheceram no 'Tinder'!
— Eu pensei que pudesse fazer amigos por lá. — Josh fala um pouco acuado por pensar que Junny criou expectativas. Bem, ela criou, mas também já está com outra 'expectativa'.
— Pode, mas...
— Eu namoro, ela entendeu errado.
— Caramba! — Colton soltou, fazendo uma cara preocupada. Ele nem conhece Junny e nem sabe da história toda por isso ele é o único — E quem é o seu namorado, deixa eu ver o cara.
Colton está animado, ele até chega perto de Joshua quando esse faz menção de pegar o celular.
— Existe 'rebuceteio' versão masculina?
— Gabriela, que raio de pergunta é essa? — Colton olha estranho para a latina que tem uma cara pensativa.
— Não sabe o que é rebuceteio? Pelo amor de Deus, sai da minha casa!
— Até eu sei o que é! — Joshua diz simplesmente, Gabriela sente dó por ele ser taxado como burro, lerdo ou qualquer coisa do tipo.
*****
— Então... O prefixo 'pan' refere-se apenas aos gêneros e não a práticas sexuais. Portanto, pansexualidade não implica aceitação de todos os comportamentos sexuais. A pansexualidade refere-se ao papel do gênero na atração sexual e não aos atos e comportamentos sexuais.
Gabriela não conseguiu explicar para Junny tudo que aprendeu sobre pansexualidade na manhã de terça, mas na quarta pela tarde ela acaba pegando Beatrice na reta na volta da academia e a Rivera lhe deixou falar de tudo, achando uma graça o quão fofa Gabriela é quando tagarela.
— Uau, isso foi um aprendizado! — Beatrice fala um tanto fascinada olhando Gabriela.
— Sério? — Gabriela sorri bobamente para a influencer, que sorri de volta.
— Sim, totalmente! — Beatrice responde enquanto estaciona o carro em sua vaga na garagem do prédio. Gabriela sorri mais uma vez, ainda se surpreende que Beatrice é a pessoa mais gentil consigo que conhece. — Você tem memória eidética?
— Algo por aí, imagino. — Gabriela responde e abre a porta do carro, logo Beatrice sai do carro também carregando uma bolsa e em suas roupas justas da academia.
— Incrível! — Beatrice responde animada, as duas andam até o elevador e Gabriela quase se engasga com a água de sua garrafinha por ser afoita demais e querer falar mais enquanto está fazendo outra coisa. — Tudo bem?
— Sim, sim... — Gabriela ri sem graça e enxuga seu rosto e peito que molharam quando se engasgou, claro que por mais que saiba que não deveria Beatrice repara em cada movimento que Gabriela faz. — Ah, esqueci de falar e não queria mandar mensagens sobre isso, mas... Você deveria tomar cuidado com seu carro.
— Meu carro? Por quê? — Beatrice volta a olhar para Gabriela, pela milésima vez em um período curto de tempo. Gabriela não sabe se é coisa de sua cabeça ou se Beatrice é observadora, mas sente que a influencer está sempre atenta a cada movimento seu quase antes de acontecer.
— Os Teslas estão acelerando mais do que devem no piloto automático... — Beatrice não fazia ideia do que Gabriela falou e a preocupação de Gabriela consigo com certeza deixou suas esperanças renovadas. — E causando muitos acidentes, alguns até fatais.
— Oh, uau! Isso é sério?
— Sim, há várias matérias nos jornais. — Gabriela concorda e desvia os olhos para o chão com vergonha de olhar para Beatrice por tanto tempo, ela fica nervosa e começa a passar sua garrafa e seu celular de uma mão para a outra.
— Vou pedir para meu pai dar um jeito nesse carro e me ajudar a escolher outro. — Beatrice não fala para se gabar ou algo assim e por sorte Gabriela nota isso, pois a Rivera fica com medo de que acha que ela está sendo esnobe.
— O que vai fazer com esse? — Gabriela pergunta com humor, deixando Beatrice aliviada.
— Vender, por quê?
— Você falou como se fosse jogar ele fora, apenas como se fosse um saco de lixo e se fosse fazer isso eu com certeza imploraria por ele. — Gabriela implica falando rapidamente, e depois sorri.
— Você é boba. — Beatrice brinca e notando que seu andar será o próximo ela se adianta em explicar. — Vou entregar para meu pai que pode colocar na loja dele para vender e pego a BMW dele, até comprar outro carro.
— Claro, claro... Simples. — Gabriela faz uma careta proposital para causar graça, como Beatrice é uma das poucas pessoas que reconhece o humor de Gabriela, ela sorri e ri alto.
— Sua gargalhada é muito fofa! Parece um neném! — Gabriela elogia e então a porta do elevador se abre no andar de Beatrice.
Beatrice está vermelha pelo elogio e vai ficar ainda mais pelo que vai fazer.
— Hã... Você prefere chá ou café? — Beatrice sai do elevador assim que pergunta, ficando para no elevador.
— Ok, vou dizer nenhum. — Gabriela responde, andando para perto de Beatrice e notando que a deixa mais vermelha ainda. — Porque café me deixa... É demais para mim! — Beatrice ri e se afasta um pouco para trás quando Gabriela sai do elevador e para no corredor. — E chá... Se não for 'Throat Coat', não gosto do sabor.
— Ah... — Beatrice fala sem graça, ela aperta a bolsa em seu ombro como se fosse uma descarga para sua vergonha ir embora, por mais que as respostas de Gabriela tenham sido nada mais que sinceras e sem a menor pretensão de deixá-la envergonhada.
— Desculpa, mas... — Gabriela fica com vergonha de perguntar, mas quando Beatrice sorri um pouquinho e fica com mais vergonha, ela vê que para Beatrice pode ser pior do que para si e toma coragem. — Tem um motivo para sua pergunta?
As portas do elevador fecham atrás de Gabriela e nem sem apressa para tentar fazer nada, apenas deixa que siga seu curso.
— Ah não... Nada demais. — Beatrice limpa a garganta, sua voz saindo mais rouca por estar nervosa. — Você gosta de suco ao menos?
Não saiu como uma acusação, mas foi o que sentiu ter acontecido. Beatrice não tinha o chá da marca 'Throat Coat' em casa, até porque preferia fazer seu chá naturalmente, com produtos comprados em sua forma natural.
— Sim, Beatrice, eu gosto. — Gabriela acaba dando ênfase no nome da mulher e nem sabe porquê, apenas apreciando ao dizer.