Não demora mais que alguns segundos para que Junny invada o quarto. Gabriela está rindo, o rosto cheio de máscara, Beatrice se joga na cama e acaba rindo junto.
— Alguém me explica o que aconteceu?
— A Beatrice se assustou ao acordar e me ver com essa... — Gabriela aponta para o rosto cheio da camada da máscara espeça em seu rosto, ainda achando graça da situação.
— Ok, entendemos isso... — Alexandra murmura atrás de Junny, que observa uma de cada vez. Gabriela vai sentar na cama, ao lado de Beatrice, murmurando 'desculpa' para a Rivera, mas que Junny não escuta.
— Eu não entendi a parte em que Beatrice dormiu no seu quarto, gosto de detalhes.
— Ah, por favor, Junny! — Gabriela entende onde os pensamentos de Junny conseguiram chegar, mas finge não perceber. — Nós começamos um filme e depois Beatrice dormiu aqui.
— Exatamente, começamos! — Beatrice se ergue da cama implicando com Gabriela, sua roupa de seda parecia mais curta no momento. — Sua amiga é péssima em escolher filme e acabou que nem terminamos ele.
— Pare, Beatrice! — A resposta quase mal humorada de Gabriela vem em seguida, a influencer aprendeu que duvidar do gosto da latina era algo muito grave. — Como eu iria saber?!
— Olha, "meu bem", não vamos discutir isso outra vez. — Beatrice cantarola bem humorada e um pouco sarcástica, pegando seu robe no canto da cama e vestindo-o em seguida. Alexandra e Junny estão assistindo a cena toda, achando muito suspeita, elas estão para lá de desconfiadas. — Que cheiro é esse? É do seu rosto?
Beatrice se abaixa perto do rosto de Gabriela, mas não muito para que nenhuma das duas fique desconfortável, só que não adianta muito e o reboliço no interior de Gabriela está pronto.
— É mel e pó de café. — Alexandra passa na frente de Junny para responder, que ainda está petrificada olhando a cena. Beatrice volta a ficar de pé normalmente, longe do rosto de Gabriela.
— Ah, é o cheiro de mel! Isso aí, eu gosto... — Beatrice conversa enquanto prende o cabelo em um coque, ela olha envolta e só então ficando um pouco desconfortável por não estar em um ambiente rotineiro e nem com pessoas que ela tenha muita intimidade. — Acho melhor ir embora, tenho algumas coisas para fazer hoje!
— Toma café com a gente? — Junny oferece, deixado a explicação toda para apurar de Gabriela mais tarde.
— Ah, obrigada, mas tenho muitas coisas para fazer hoje.
— Em um sábado?
— Uh, sim! — Beatrice responde andando para fora do quarto, passando por Alexandra e Junny. — Costuma ser o dia mais corrido da minha semana!
— Você vai na apresentação da Gabriela hoje?
— Gabriela não falou nada comigo, mas se estiver tudo bem para ela... — As quatro olham para Gabriela, que concorda, forçando um sorriso maior do que ela tem capacidade naquele momento. — Eu adoraria ir, manda o horário e o lugar por mensagem!
— Mando.
— Ok, até mais! — Beatrice responde animada e surpresa por Gabriela fazer uma apresentação. — Tenham um bom dia!
Beatrice sai após acenar para as três no quarto.
— Sua xícara está na bancada! — Junny grita para Beatrice que responde com 'Ok', obrigada!
— Você tem o número dela, hmm...
— Somos amigas... Eu acho. — Gabriela dá de ombros ignorando Alexandra por alguns segundos. — Pois é, ela me deu o número dela um dia desses.
— Legal...
— Eu vou tirar isso do meu rosto agora. — Gabriela levanta da cama e encara suas amigas. — Mas volto para conversar com vocês sobre ter falado da apresentação para Beatrice, vamos conversar sério.
— Ih, esse papo é com a Junny! — Alexandra rapidamente quer tirar o seu da reta, enquanto Gabriela entra no banheiro de seu quarto.
— Bela namorada você é, Alex!
— Não sei de onde tirou que sou sua namorada. — Alexandra responde em um misto de surpresa e ironia para Junny. — Bela? Eu com certeza sou!
— Você se acha muito! — Junny retruca quando Alexandra logo sai do quarto de Gabriela, ela estava em pânico. — Mas vai ser minha namorada ainda!
*****
Carlos está dirigindo o carro de Junny, levando Gabriela para o bar onde a latina vai se apresentar, Junny estava na casa de Alexandra e iriam da casa da negra para o local da apresentação.
— Você conhece o Doodlebug? — Gabriela questiona, enquanto está brincando com seus pés, ansiosamente.
— Doo o quê? — Carlos questiona fazendo sua melhor cara de confuso, que sempre faz quando Gabriela abre a boca para falar as curiosidades que descobre.
— Doodlebug! — Gabriela responde nervosa, ela deixa de olhar para os pés, olhando para rua iluminada. — É um canguru que foi abandonado ainda bebê em uma estrada, ele abriu os braços para ser carregado pela pessoa que passava por onde estava... Essa pessoa adotou o Doodlebug e deu para ele um ursinho que nunca mais largou.
— Uau, isso é... — O homem respira pesado, olhando brevemente para a irmã já que está no volante, ele não sabe bem o que dizer no momento. — Legal!
— Você sabia que uma foca foi excluída pelo grupo dela ser ruiva? — Gabriela emenda o assunto como se nem importasse o que o irmão está pensando.
— Você está no nível Britney Spears em 2007? — Usando uma brincadeira, Carlos tenta quebrar o clima estranho que está sentindo com a irmã, ela definitivamente não está bem.
— Não...
— Eu entendo que é aleatória, mas essas curiosidades estão ainda mais aleatórias hoje. — Carlos oferece sua mão direita para a irmã pegar, talvez ajudasse. — Você pode me contar o que está sentindo, sempre, Gab!
— Eu sei! É que eu... — a respiração pesada de Gabriela é ouvida. — Eu não entendo o que sinto, Carlos!
— Se você quiser desistir e voltar para casa saiba que te dou total apoio! — a mão de Carlos apertando a mão da irmã passa algum conforto para Gabriela.
— Não, eu quero ter essa experiência. — A resposta de Gabriela faz o irmão olhá-la para confirmar se aquilo era sério. — Depois do estágio percebi que tenho que arriscar um pouco e testar coisas, assim posso saber o que realmente quero.
— Meu Deus, isso é maravilhoso! A última vez que você quis testar algo, foram as experiências com as mulheres e aconteceu de descobrir que é lésbica, quem sabe agora você não descobre que gosta de fazer apresentações?
Gabriela acaba soltando uma risadinha boba por seu irmão ter as piores comparações no momento ideal.
— Você é o pior melhor irmão, sabia?
*****
Algumas noites antes ela e Carlos estiveram no bar para conhecer o dono e o local, tratar do cachê também obviamente. Gabriela está prestes a subir no pequeno palco que fica quase no centro do bar, seus amigos não conseguiram pegar os lugares da frente, das mesas, mas isso Gabriela ainda não sabia se era bom ou ruim, ela estava mesmo esperando que Junny pulasse fora no último minuto, mas nem aparecer para lhe desejar boa sorte parece demais.
Gabriela está escutando as instruções do dono do bar, são 15 músicas e dependendo do show ela tem que mudar o repertório que estiver agradando o público.
— Então combinado? Pode subir quando quiser. — O homem fala e Gabriela balança a cabeça, entendendo e segurando o próprio violão com força.
— Chegamos no limite de tempo! — Junny respira aliviada, Beatrice logo atrás um tanto sorridente. — Desculpa por isso!
O dono do bar está surpreso em ver Beatrice Rivera ali, querendo ou não ela é famosa, mesmo que nem todo mundo a conhecesse.
— Ela estava morrendo por você, Gabriela! — Beatrice aponta para Junny, observando que ela e Gabriela pareciam ter combinado de irem vestidas em sobretudos e botas de cano longo. — E nós vamos parecer uma dupla combinando naquele palco.
— Nós? — Gabriela tem aquela cara de idiota estampada, de quando não compreende algo.
— Não achou que eu fosse te deixar na mão e não trazer reforços, não é mesmo? — Junny questiona já sabendo que era aquilo mesmo que sua amiga estava pensando. Beatrice está sorrindo, olhando para o palco e depois olha para Gabriela, em um convite mudo.
— Vocês sabem que não vou pagar extra por show com famosa, não é? — Mark, o dono do bar, pergunta preocupado. Beatrice sorri para Gabriela, que fica bem menos tensa em pensar que não estará sozinha.
— Sim, nós sabemos. — Beatrice responde fazendo pouco caso. — Gabriela é minha amiga, eu não iria querer tirar vantagem em algo dela.
— Até porque você nem precisa! — Junny acrescenta de maneira desnecessária.
— Ok, ok... — Gabriela toma toda atenção para si. — Vamos ao palco antes que eu desista!
*****
Gabriela ficou nervosa quando subiu no palco, ficou quando teve que falar com o público do local para se apresentar, ficou nervosa quando começou a cantar, mas nenhum nervosismo foi páreo para Beatrice Rivera cantando ao seu lado e se mexendo feliz ali, definitivamente ela não está sabendo lidar com Beatrice sendo tão cúmplice consigo.
Beatrice sinaliza discretamente com os dedos para Gabriela quando ela vai deixar para Gabriela cantar, então definitivamente não era o violão ou público que tem a atenção de Gabriela, era apenas Beatrice sorrindo ou sinalizando para si, mais nada.
Beatrice nem liga para ter público ou não, mesmo que algumas pessoas gritassem seu nome em um intervalo ou outro de tempo, ela apenas estava entretida em Gabriela cantando e às vezes sorrindo para si. 'Como ela pode ser tão linda?', Beatrice pensa em determinado momento quando a segunda música termina.
Beatrice se levanta para sussurrar para Gabriela, enquanto as pessoas aplaudem:
— Podemos cantar a música que você me enviou quando te pedi uma canção sua.
— 1000 Hands?! Você aprendeu?! — Gabriela mal pode acreditar nisso, mas ela mal lembrava que havia mandado aquela música para Beatrice, mesmo que tenha sida a única de suas composições que compartilhou, por mais que fosse uma de suas favoritas e tivesse muito ciúmes dela.
— Sim, é perfeita! — Beatrice continua perto de Gabriela sussurrando para ela, enquanto algumas vozes de pessoas conversando se misturam. — Você produziu e ficou...
— Ei, não vão cantar?
Beatrice faz um gesto com as mãos e volta para seu lugar não muito distante de Gabriela.
— Vamos logo com isso!
— Cala a boca, macho chato! — Junny grita para o homem que interrompeu a conversa de Gabriela e Beatrice.
— Obrigada, Junny! — Beatrice brinca, rindo feito uma criança e ajeitando seu microfone. Algumas pessoas riem dela e Gabriela a observa. — Essa música não é um cover, é uma composição autoral de Gabriela e espero que gostem!
Gabriela fica vermelha, ela levanta e leva o microfone até onde o teclado está e se ela ajeita ali.
— Isso aí!
— Arrasa, Gabriela!
Ignorando suas amigas ela logo começa a música. As duas fazem apenas os refrões juntas, elas combinam bem e apesar de ser totalmente arriscado suas vozes parecem entrar em harmonia. Elas têm uma sincronia corporal esquisita e uma química perceptível apenas por olhares, os sorrisinhos cúmplices, mesmo que não saibam nem o que, entrega tudo e elas nem ao menos são capazes de perceber no momento.
I just wanna feel a thousand hands from you and only you
Can you make me feel a thousand hands from you and only you?
— Olhe para elas! — Junny cutuca Iris Brooke, que a Rivera previamente colocou em sua mesa sem saber que estava unindo almas sem misericórdia, e nem ao menos lembrava que Iris era paciente de Alexandra.
— Elas são tão idiotas!
I just want to feel a thousand, from you
A thousand hands from you
Just wanna feel a thousand
A thousand hands from you
Feel a thousand hands from you
Quando a música terminou, Carlos observa bem sua irmã abraçando Beatrice, enquanto sussurra algo para ela. O Álvarez mais velho percebe o brilho nos olhos da irmã, mas não tem como saber se ela gostou de fazer a apresentação ou gostou de estar com Beatrice.