Gabriela Álvarez contou para Beatrice sobre o que aconteceu no apartamento dela, logicamente pulando partes como ter ficado com vontade de beijá-la e ter achado que ela ficou com ciúmes de Veronica.
Gabriela está em um pijama confortável de algodão, azul claro com detalhes em azul marinho, sentada em 'posição de índio'. Beatrice está com uma das pernas sobre a cama, quase sentada por cima dessa e a outra perna pendendo para fora da cama.
— Veronica pediu desculpas mais umas... Duzentas vezes. — Beatrice conta um tanto mais conformada do que no dia em questão. — Ela não queria ter dado aquele beijo e ficou extremamente culpada, ela namora e...
— Eu estava nervosa demais, não fiz por querer também. — Gabriela se ajeita na cama e coloca rapidamente sua mão esquerda no joelho da perna encolhida de Beatrice. — Eu não saio beijando pessoas que nunca vi, do nada.
— Ok, isso é bom. — Beatrice brinca, se mexendo e colocando a outra perna para cima da cama e ajeitando seu robe cinza escuro no corpo.
Elas ficam em silêncio por algum tempo, mas ambas sabem que Gabriela iria acabar quebrando esse silêncio em algum momento.
— Você quer tocar alguma coisa no meu "estúdio" ou assistir um filme? — Gabriela olha discretamente para o banheiro, seus instrumentos estão lá dentro ainda e ela espera não ter quebrado nada quando correu atrás de Beatrice. — Ou quer ir para o que quer que esteja acontecendo fora desse quarto?
— Pode ser o filme, se estiver tudo bem para você.
— Totalmente! — Gabriela responde de forma animada e levanta da cama. — Essa era a opção que eu estava sussurrando em minha cabeça para que você escolhesse!
Beatrice acha uma graça o sorrisinho frouxo de Gabriela. A latina corre para o banheiro e coloca a banheira para esgotar a água e logo pega seu notebook que está por cima da tampa do sanitário.
*****
Gabriela está quase deitada por cima de Beatrice enquanto assistem 'The Babysitter', a latina está atenta no notebook enquanto Beatrice assiste o filme e às vezes observa Gabriela. Em determinado momento Gabriela levanta rapidamente da cama e vai até o seu armário, voltando com alguns pacotes de salgadinho.
— Você deu sorte que sempre tenho alguns salgadinhos escondidos de Junny aqui no quarto. — Gabriela despeja os pacotes na cama.
— Vocês são tipo duas crianças, duas irmãs... É super fofa a relação de vocês, deve... — Gabriela faz barulho, interrompendo Beatrice, ao abrir dois pacotes de salgadinho seguidos. — Deve ser porquê você também é fofa!
Beatrice não consegue deixar de elogiar, mesmo com Gabriela lhe atrapalhando e enfiando quase sua mão cheia de salgadinhos na boca.
— Eu falo 'a' e você: nossa, você é fofa! — Gabriela implica enquanto mastiga, nenhuma das duas prestando atenção verdadeiramente no filme. Beatrice fica vermelha, Gabriela se aconchega perto de Beatrice novamente, ignorando tudo que está sentindo por estar perto da famosa.
— Desculpa, eu não faço por mal. — Beatrice responde forma desconcertada, seu coração um pouco acelerado com Gabriela encostada nela.
— Você é tão fofa, — A Álvarez repete em brincadeira, enfiando mais salgadinhos na boca enquanto Beatrice nem ao menos pegou nada ainda. — Trice Vera!
— O quê? — Gabriela dá de ombros para a pergunta de Beatrice, sem entender. — Eu entendi 'Trice Vera', você me chamou assim?
— Não de propósito, me embolei toda. — Gabriela nem fica sem graça, apenas ri e Beatrice a encara fingindo estar enraivecida pelo erro com seu nome. — Pois vou te chamar assim agora!
— É mesmo? — Beatrice desafia, Gabriela encara de volta da mesma forma.
— Sim, eu posso te chamar como eu quiser! — Gabriela responde sendo atrevida, nada de fofura para ela no momento. Esse momento fez Beatrice se lembrar de quando Gabriela não falava com ela no elevador e Gabriela era só sua vizinha que ela achava gostosa, não a vizinha simpática ou a tagarela fofa.
'Estamos virando amigas e é isso que amigas fazem, ignore essas malditas borboletas no seu estômago!', Gabriela repete isso por algumas vezes em sua cabeça. Beatrice ignora tudo que sente também e então se volta ao filme, onde duas mulheres estão se beijando de maneira que ela não acha nem um pouco atraente, parece só mais uma realização de fetichismo.
— Oh, uau... Isso é muito desconfortável! — Beatrice murmura, sem olhar para Gabriela que se sente da mesma forma.
— Esse filme não me parecia tão ruim.
— Eu não quero ser do contra, mas parecia totalmente ruim. — Não era a primeira vez que Beatrice dava uma de sabichona para cima de Gabriela, mesmo que a latina fizesse isso com mais frequência. Só que até isso faz a Álvarez gostar um pouco mais da influencer. — Na sinopse falava que o garoto descobria que a babá pertencia a um culto satânico adolescente, Gabriela... Culto! Satânico! Adolescente!
— Ok, Trice... — Gabriela ergue as mãos em rendição, por mais que tenha usado o apelido novo de Beatrice apenas para irritá-la. — Posso ter ignorado alguns sinais! Eu posso mesmo ter ignorado, admito...
— Você totalmente ignorou! — Beatrice retruca sendo implicante, catando em seguida um pacote de salgadinho para si antes que Gabriela não deixasse nada.
Gabriela pausa o filme e encara Beatrice, com sua melhor cara de deboche.
— Já que é tão ruim podemos trocar! — Gabriela cruza os braços em uma posição de teimosia, enquanto exala sarcasmo para Beatrice. — O que a senhorita 'Não-ignoro-as-informações-das-sinopses' sugere?
— Meu Deus, isso foi sarcasmo? Para cima de mim? — Beatrice debocha com uma das mãos no peito dramaticamente. — Está mostrando sua face de "não-sou-fofa"?
— Responder alguém rapidamente com sarcasmo indica que seu cérebro está saudável, sabia? — Gabriela ignora a forma que Beatrice fala, sendo sabichona.
— Não, mas vou te ignorar sobre isso. — Beatrice faz um gesto para Gabriela que é obrigada a rir também da careta que faz. — Quero saber pelo menos cinco dos seus filmes favoritos para poder testar o seu gosto.
— Hmm, sinto cheiro de desafio... — Gabriela faz um biquinho quase fofo se não fosse os olhos desafiando Beatrice. 'Ok, ela consegue ser irônica até com os olhos.', Beatrice pensa. Ela respira pesado, seu peito pode explodir quando Gabriela está por perto.
— Podemos fazer um jogo de perguntas, só para nos conhecer melhor. — Beatrice sugere, ignorando todas as sensações de seu corpo e o que a carinha de desafio de Gabriela pode lhe remeter em questão de pensamentos impróprios para o momento.
— Estou dentro, então cinco filmes... — Gabriela aponta para Beatrice rapidamente e lhe lança uma piscadela. — Dez coisas que odeio em você (10 Things I Hate About You), Mesmo Se Nada Der Certo (Begin Again), Uma linda mulher (Pretty Woman), De repente 30 (13 going on 30) e Esposa de Mentirinha (Just Go with It).
— Não foi tão duvidoso quanto achei que fosse! — Beatrice responde provocando Gabriela, o biquinho desafiador de Gabriela continua no rosto. Beatrice rapidamente lembra que Iris conseguiu a informação com Junny de quem Gabriela gostava de 'Uma linda mulher'.
— Manda ver, Trice Vera! — Gabriela se remexe na cama e aperta a coxa direita de Beatrice. — Manda ver, hã?
— Ok, pare de me provocar... — Beatrice rebate em um tom sério, Gabriela é muito abusada quando se conhece de fato. — O clube dos cinco (The Beakfast Club), The Fundamentals Of Caring, As Vantagens de Ser Invisível (The perks of Being a Wallflower) e acho que Captain Marvel...
— Mais um! — Gabriela pressiona, sua mão cutucando a coxa de Beatrice mais uma vez, fazendo ela pensar com muito menos capacidade. A Álvarez age como se fosse uma competição. — Vamos, Beatrice Rivera! Fale!
— Antes que eu vá (Before I Fall)! — Beatrice quase grita, se mexendo na cama. Gabriela comemora por ser uma boba animada e sorri.
— O que me deixou mais surpresa foi você assistir filme de herói! — Gabriela provoca, ela nunca assistiu um filme de heróis por conta própria, apenas com Isadora ou Carlos e por muita insistência deles.
— Vai me dizer que tem preconceito com isso!
— Não... — Gabriela responde a acusação de Beatrice de forma incerta. — Talvez!
— Eu tenho nojo de você, Gabriela Álvarez! — A resposta dramática veio em seguida.
— Eu prefiro um bom romance ou um drama bem leve. — Beatrice revira os olhos, respondendo com sarcasmo:
— Nem desconfiei disso... Nem por um segundo!
— Eu nunca pensei que Beatrice Rivera fosse assim. — Gabriela acusa se fingindo de irritada. — Você é tão...
— O quê? — Beatrice instiga numa provocação boba.
— Idiota!
— Ah... Você também é! — Beatrice devolve a resposta para Gabriela.
— Certo, certo. — A latina balança uma das mãos no ar como se fosse mudar de assunto assim. — Vamos continuar com o jogo de perguntas!
— Ok!
Beatrice se aconchega melhor na cama, quase no colo de Gabriela, ambas nervosas com o contato. Por mais que lhes deixasse ansiosas, elas sentiam certo conforto em estarem perto.
Ao longo do jogo de perguntas, as respostas foram ficando monossilábicas e em terminado momento ambas estavam dormindo juntinhas.
Gabriela acordou primeiro, sentindo a respiração perto de sua boca, ela abriu os olhos assustada, mas parada na cama porque quem quer que fosse não precisava ser acordado por ela. Quando viu ser Beatrice ela se acalmou e logo depois se assustou novamente.
'O que eu fiz essa noite mesmo... Não fiz nada idiota, dormimos sóbrias e fizemos um jogo de perguntas, não pira por nada!' Gabriela respira profundamente após pensar. Ela tira o cobertor com cuidado de cima do próprio corpo e senta na cama, antes de levantar e por pouco não pisar no notebook, que Beatrice previamente tinha avisado quando tirou de cima da cama para colocar mais distante para não correr risco de pisar.
O quarto estava quase todo escuro se não fosse pela porta entreaberta e alguma claridade vindo de fora, Gabriela segue para o banheiro e acaba não demorando lá. Ela observa por alguns instantes Beatrice dormindo na mesma posição que antes, indo procurar algo para comer em seguida.
— Fala aí, Gabriela. Se divertiu com quem essa noite, Zazie ou Alice?
Gabriela fica confusa com a pergunta de Junny, mas logo depois liga os pontos, Junny viu que ela não estava sozinha na cama.
— Por que eu estaria com alguma das duas? — Gabriela senta em frente a Junny, pegando seu alimento de todo dia: bananas.
— Eu fui por eliminação... De LGBT assumidas aqui ontem só havia as duas e nós. — Junny aponta para si e para Gabriela.
— Eu também! — Alexandra se ergue detrás do balcão, na cozinha com uma caneca na mão, quase como um passe de mágica. — Caramba, vocês não guardam as coisas, escondem!
Alexandra reclama enquanto despeja o seu chá na caneca, Junny ignora encarando Gabriela.
— E aí? Quem foi?
— Junny, você sabe que eu não durmo com pessoas que não mantenho contato. — Gabriela responde, sem olhar para a amiga e prestando atenção no que come. — Elas são amigas do Carlos, eu não ia transar com nenhuma delas.
— Mas eu achei que tinha visto alguém na sua cama.
— Minha pele tem que ficar linda porque eu estou mais feio ainda! — Carlos chega com um potinho de metal nas mãos e seu rosto coberto por uma máscara feita de pó de café e mel.
— Meu Deus! — Gabriela exclama dramaticamente e depois lança um olhar para o irmão. — Veste a merda de uma camisa logo.
— Ah, que saco! — Carlos reclama dramaticamente deixando o conteúdo da máscara na mesa e indo para o quarto. — Olha o que o feminismo faz!
— Se eu não posso ficar sem camisa por que você pode?
— Eu fiz para você ficar com pele perfeita para hoje à noite! — Alexandra aparece com sua caneca com chá. — Bom dia, Mila.
Alexandra deixa um beijo na cabeça de Gabriela e arrasta uma cadeira para sentar pertinho de Junny.
— Bom dia! E obrigada, Alex! — Gabriela pega mais uma banana na fruteira, enquanto Junny come ovos e bacon dividindo o prato com Alexandra. — É só aplicar isso no rosto?
— Sim, depois espera por alguns minutos. — Gabriela concorda, come uma banana deixando a casca no colo de Junny e levanta indo para o banheiro do quarto.
— Vagabunda!
Gabriela passa o líquido espesso no rosto e depois vai até seu armário pegar roupa para trocar, pois ainda está de pijama. Depois de pegar uma muda de roupa ela vê Beatrice se contorcendo na cama, acordando aos poucos, Gabriela se aproxima para falar com Beatrice.
— Bom dia!
— Aaaaaaa! — Beatrice grita quando olha para o rosto de Gabriela, ela ainda estava processando de quem era aquele quarto. — Meu Deus! Gabriela!
— Eu disse que tinha mais gente no quarto!