A realidade da cidade grande tocou Bia. Nordestinos recém-chegados no Sudeste, seus pais não tiveram muitas oportunidades e foram morar na periferia.
Uma casa simples, com sala, que servia também de cozinha, quarto e banheiro os esperava.
Pedro, seu pai, sempre ranzinza, saia à procura de trabalho, porém sempre voltando com uma resposta negativa. As economias da venda da casa na Bahia acabaram e ele teve que fazer "bicos".
E essa situação se seguiu por anos. A mãe continuava a costurar e Bia frequentava um colégio municipal.
Assim passaram-se quatro anos. E aos dez anos, Bia era já uma bela mocinha que começava a despertar olhares dos meninos.
Mas também despertava olhares de cobiça dos bêbados da esquina onde o pai sempre estava.
E certa noite, Pedro chegou mais bêbado do que nunca. Ouvira comentários maldosos, de homens que diziam que sua filha estava ficando "gostosa".
Chegando em casa, viu sua filha dormindo. Bia dormia num colchão na sala e sua camisola deixava adivinhar pequenos seios do tamanho de meia maçã. Um corpo de menina com traços de mulher.
Estava sedento de sexo. Sua esposa há muito tempo não fazia sexo com ele. Afinal, não era fácil ceder aos instintos animais de um bêbado impotente.
Ele se lançou sobre a filha, arrancando a sua calcinha e com mãos atrevidas, buscou sua vagina quase de menina.
Bia acordou apavorada e tentou gritar, mas teve sua boca tapada por uma enorme mão suja, com fedor de álcool e suor.
Sentiu os dedos da outra mão buscando sua vagina, enquanto a boca de seu pai se fechava sobre um de seus seios.
Em seguida, sentiu suas entranhas sendo rasgadas e desmaiou.
Não pôde ver sua mãe, que acordara e olhando a cena, esbravejou, querendo saber o que havia acontecido.
Seu pai, então, disse que ao chegar, Bia estava nua, se insinuando para ele e como ele não tinha sexo por parte da esposa e sendo um marido fiel, não procurava na rua, estava sentindo falta...
– Eu sou um homem! Sou de carne e osso e a carne é fraca! – rugiu entre dentes, avançando para a mãe de Bia, tropeçando nas palavras e nos poucos móveis que havia em casa.
Ana então sentiu medo de ser surrada.
E apenas depois de tal pensamento, se lembrou da filha.
Bia jazia desmaiada no colchão, que se encharcava com seu sangue.
Em sua ignorante comodidade, Ana pensou que não poderia dizer a verdade. Não poderia se separar de Pedro.
Afinal, a culpa nem fora dele. A filha se insinuara para o pai. Era uma devassa, que há quatro anos atrás quase destruíra a vida do casal.
O dinheiro que ganhava com as costuras não era suficiente para o seu sustento. Deveria ficar calada.
Pedro fora para o quarto e já dormia, roncando como o porco que na realidade era.
Então Ana correu para a vizinhança, gritando que enquanto ela e o marido dormiam alguém entrara na sala e estuprara sua filha.
Em seguida correu para dentro de casa e a muito custo, conseguiu acordar Pedro e dizer que ele tomasse um banho e se desfizesse das roupas ensanguentadas.
A ambulância fora chamada, mas demoraria a chegar. Era sempre assim se alguém precisasse de socorro.
Enquanto Pedro tomava banho, ela colocou as roupas em um saco plástico e jogou no esgoto a céu aberto que corria no quintal da casa. Ali, ninguém procuraria. Afinal, cada um vivia a sua vida. Ninguém se incomodaria com o que acontecera ali.
Depois de mais de meia hora de espera, a ambulância chegou, levando as duas para o hospital. Ana alegou que Pedro ficaria em casa, pois estava muito chocado, tomara um calmante e não poderia ir para o hospital com elas.
Bia ficou internada em estado de choque. Os exames detectaram estupro, mas sob a alegação de Ana, que disse na delegacia que não sabia nada sobre o autor, o caso seria esquecido para a comunidade. Mas não para Bia.
Quando saiu do estado de choque, sua mãe disse que se ela falasse a verdade, seria jogada na rua. Ela teria que se calar.