De repente, Christian mais uma vez abriu os olhos. As coisas aconteciam sucessivamente de forma que ele não conseguia mais entender onde estava. Olhando ao seu redor ele viu que estava de pé, porém, havia algo estranho. Para todo lado que ele olhava, só via o céu azul, então olhando para seus pés, viu algo que o encheu de confusão.
Ele não pisava sobre a terra, mas sim sobre algo macio. Como se pisasse sobre um monte de algodão. Não eram como nuvens, era mais como uma cortina de névoa negra que cobria tudo. A névoa se mexia de forma que tornava um pouco estranho andar sobre ela.
Em alguns lugares, uma pequena brecha parecia abrir- se na névoa, que rapidamente se fechava tentando impedir os raios de sol de chegar abaixo. Passando-se um tempo, Christian lentamente começou a se acostumar com a sensação de andar naquele solo instável, e olhando ao redor se perguntou:
-Onde estou?
Mas não houve respostas. Então de repente, a névoa que cobria o chão a sua frente começou a se contorcer, e logo cuspiu algo. Pegando o objeto que caiu à sua frente, Christian percebeu que se tratava de um guarda chuva preto. Vendo que o sol irradiava com intensidade no puro céu azul acima, ele sentiu-se compelido a pegá-lo para se proteger do sol.
Então, vendo que ao seu redor não havia nada de diferente, decidiu começar a andar para ver se encontrava algo, enquanto se protegia do sol com o guarda chuva aberto. O tempo se passou, e Christian começava a se perguntar por quanto tempo deveria continuar andando, afinal, acreditava já andar a uma hora aproximadamente, e ele ainda não tinha visto nada de diferente, para onde quer que olhasse, ele só via a névoa escura e o céu azul.
Durante seu trajeto, quase caiu em buracos que se abriram à sua frente diversas vezes, escapando por pouco de cair nos buracos escuros. Ele já estava com seu corpo exausto de tanto andar e de todo o esforço que teve que fazer para sair dos buracos em que caia. Logo ele gritou para os céus, exausto:
-ONDE ESTOU, PORQUE EU ESTOU AQUI?
Porém ele não esperava uma resposta, mas assim que sua voz ecoou pelos céus, uma voz profunda soou em seus ouvidos:
-Christian, estais desde o início parado no mesmo local. Desde que começastes a andar por ti próprio, andando sobre caminhos enevoados, ficastes andando em círculos no mesmo lugar sem que tu percebesses!
Christian ouvindo aquela voz, imediatamente voltou-se para o sol que brilhava intensamente no puro céu azul acima. Olhando para o sol, Christian perguntou:
-Eu estive andando em círculos este tempo todo? Como é possível? Estou andando a tempos, deveria ter percebido isso!
A voz vinda do sol soou em seus ouvidos mais uma vez:
-É isso que a névoa faz! Ela cobre o seu caminho de forma que não sabes aonde vai. Ela tira o seu discernimento, obscurecendo tudo, de forma que tu não consigas dizer onde estás!
Christian ouvindo aquilo, e olhando para a névoa que cobria toda a terra, perguntou:
-Como devo eu então sair daqui?
A voz profunda respondeu:
-Uma ovelha que anda sozinha está perdida. Um rebanho de ovelhas que anda sozinho, está perdido, somente tem rumo as ovelhas se estiverem com o pastor!
No momento em que a voz soou, o sol irradiou ainda mais intensamente seus raios em Christian, fazendo com que o guarda chuva preto em sua mão rapidamente se dissipasse como névoa. No momento que os raios solares o envolveram, Christian sentiu seu vigor restaurado, e sentiu que, a luz, assim como dissipava o guarda chuva, também o fazia com suas fadigas. Logo, Christian sentiu a mesma sensação de algo gentilmente o conduzindo para uma direção.
Lembrando-se de Krystallos, Christian, com um sorriso em seu rosto, seguiu a orientação, e conduzido por aquela sensação, como se alguém o tomasse pelas mãos para orientá-lo, Christian começou a caminhar na névoa escura. Às vezes, brechas abriam-se na névoa, perto de onde Christian estava, e inicialmente ele temeu poder cair em um desses buracos, mas sentindo a presença que lhe conduzia, continuou avançando com segurança, desviando dos buracos.
Christian não sabia a quanto tempo andava, mas acreditava que andava pelo menos a quase uma hora. Porém, ele não sentia seu corpo fatigado como antes, e a luz do sol não o cansava, na verdade o preenchia com ainda mais vigor. E desta forma ele continuou, até que viu algo diferente.
Mais a frente, Christian viu que havia uma fenda na névoa que se estendia até o horizonte, como uma linha. Se aproximando dali o que viu o surpreendeu, afinal, de lá ele conseguia ver a terra, porém, ele estava muito alto. Lá em baixo, vendo através deste estreito caminho que atravessava a névoa, Christian viu um vale, cheio de ervas daninhas e árvores infrutíferas espalhadas por aí como uma mata fechada. No momento em que Christian viu aquela imagem, a compreensão desceu sobre si. Na verdade ele estava em seu COR!
Andando sobre a névoa escura que cobria os céus de seu COR. A névoa escura que tentava loucamente impedir a passagem dos raios solares à terra. Enquanto se perguntava o porquê e como ele havia parado lá, a voz profunda soou do sol novamente:
-Há algo que Eu Sou deseja te mostrar! Primeiro deveis andar neste caminho estreito que corta a névoa escura, que vos foi preparado com antecedência.
Christian ouvindo aquilo, voltou-se para o sol perguntado em confusão:
-Caminho? Esta fenda na névoa?
A voz respondeu:
-Sim.
Christian falou em dúvida:
-Para mim, não parece um caminho. Se eu pisar ali, será uma queda livre para minha morte não será?
A voz profunda respondeu com paciência:
-Criança não tenhas medo. É isso que a névoa faz com você, ela vos habitua a andar em caminhos instáveis e escuros, te fazendo acreditar que estais andando em solo firme, mas não é esse o caso. A névoa é instável e arma continuamente armadilhas para ti, tentando te derrubar nos buracos escuros, para que caias em profunda escuridão. Estais tão acostumado a ver o solo instável e nublado pela névoa, que quando encontras um caminho reto, firme e transparente, acreditas que irás cair se segui-lo. A névoa faz isso para que te afastes do caminho estreito!
Christian ficou chocado com aquilo, afinal, não importa como ele visse, para ele ainda parecia um buraco e não um caminho. E parecia ser tudo, menos sólido e firme. Enquanto pensava sobre aquilo, mais uma vez Christian sentiu-se ser conduzido. Ele sentia Krystallos querer conduzi-lo por aquele caminho. Porém, ela ainda hesitou, e não se entregou à condução. Krystallos parecia querer conduzi-lo, mas não o obrigava a andar por este caminho. Logo, mais uma vez a voz profunda soou:
-Quem segue a Luz, não andará nas trevas, mas caminhará na Luz da Vida. Criança, a Luz é Vida. Pode a Vida vos conduzir para um caminho de morte? Pode a Luz vos conduzir para um caminho de trevas? Não! Ela pode vos conduzir por um caminho de trevas, mas não para um! A Vida sempre conduz à vida e a Luz à luz! Se para chegar até a Luz precisas passar pelas trevas, a luz te conduzirá em segurança pelas trevas para chegar à Luz. Se precisas atravessar o vale da morte para chegar à Vida, a vida vos conduzirá em segurança por lá! Poderia por acaso o bom pastor conduzir suas ovelhas ao abismo?
Logo ele continuou:
-Quando andavas sem pastor, tu andavas em círculos, sem rumo, andando nos caminhos escuros e nebulosos. Conduzido por um pastor, já não mais andastes em círculos pois o pastor vos guiou em segurança pelas trevas até aqui. Agora que o pastor te trouxe até o caminho claro, onde a escuridão não cobre, tu desejas voltar para o caminho escuro? Não sabes que é na escuridão que a morte espera? Não sabes que na escuridão se escondem os lobos? Não sabes que é no escuro que se preparam as armadilhas?
Christian ouvindo tudo aquilo, imediatamente lembrou que Krystallos o conduzia, e a segurança tomou mais uma vez seu coração. Ele sabia que quem o conduzia não desejava seu mal, então se entregou nas mãos do condutor, dando um passo à frente e pisando no ar. Porém, ao contrário do que ele esperava, quando ele pisou ali, sentiu como se pisasse sobre um firme chão transparente. Logo, Christian se viu de pé, no ar, enquanto olhava para baixo onde a vegetação infrutífera cobria todo o vale.
Ele ficou encantado com aquela sensação, era como se ele andasse sobre um vidro firme e sólido. Quando Christian pisou sobre este caminho ele imediatamente sentiu a diferença, e teve até certa dificuldade para se ajustar. Pois, acostumado a andar por caminhos instáveis, andar no solo firme, mostrou clara diferença. Mas então, de repente, enquanto sentia a dificuldade de andar no reto caminho sólido que se estendia até o horizonte, sentiu-se apoiado por algo.
Era como se o pastor o apoiasse com seu cajado, de forma que não mais andasse instável no caminho estável, mas andasse de maneira firme e justa ao caminho que andava. Assim que isso aconteceu, a voz soou mais uma vez do sol em direção a Christian:
-Agora, pisas sobre o caminho de vidro. Este vidro parece mais fraco quando comparado à névoa escura, porém é mais firme e mais confiável. O vidro não impede a passagem de luz, a névoa escura o faz. Lembre-se criança, a Vida é Luz, logo, o vidro não impede a passagem da Vida, mas a névoa escura o faz. Sendo assim, a névoa é um caminho de morte, enquanto que o caminho que pisas agora, não. A névoa parece mais firme, mas ela é incapaz de te sustentar!
Ele continuou dizendo:
-O vidro pode parecer frágil, mas se pisardes com gentileza e suavidade, podes andar sobre ele. Porém, se andardes descuidado, pisando furiosamente sobre ele, podes quebrar o vidro que sustenta teus pés, e pensando poder salvar sua vida, te jogarás sobre a névoa escura, pulando para sua morte. A névoa escura pode fazer-se parecer capaz de te sustentar, porém, enquanto o vidro parece frágil mas é firme, a névoa parece firme mas não é sólida! Por isso, criança, não tenhas medo, confie no pastor, que conduzirá seus passos!
Christian acenou com a cabeça em confirmação, mas então pensando sobre algo, se aproximou do caminho escuro e tentou passar a mão sobre a névoa, mas sua mão atravessou-a. Então em confusão, Christian perguntou:
-Como que antes eu andava sobre ela, se a névoa não é sólida?
A voz respondeu:
-O Bom Pastor vos sustentava. A questão é que, mesmo que não soubesses, o Bom Pastor sempre esteve lá, vigiando cada um de teus passos e nunca te perdendo de Sua Vista. Ele esteve o tempo todo contigo, mas, em tua escuridão, não o vês, e, em tua aridez, não o ouves. Mas Bom Pastor dá Sua vida por suas ovelhas, de forma que se inclinou sobre vós e com Suas Mãos sustentou seus pés! Mas mesmo assim, deste ensejo às trevas, indo em direção aos buracos que a névoa escura abriu para fazer tu tropeçar, de forma que mergulhes de cabeça na escuridão.
Após uma breve pausa a voz continuou:
-O Bom Pastor, perdendo uma de Suas Ovelhas, deixa as outras e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la. E quando a encontra, sustenta-a em seus ombros cheio de júbilo, e leva-a para casa! Que pastor tendo sua ovelha a cair no poço, não irá procurá-la e retirá-la?
Christian acenou a cabeça em compreensão, e a voz continuou:
-Enquanto tu andavas nas trevas, não conseguia ver para onde ia. Agora a Mão do Pastor te conduziu ao caminho de vidro. Um caminho estreito e reto, em meio ao grande caminho escuro que não conduz a lugar nenhum, mas vos faz andar em círculos. Um caminho circular, te faz dar voltas no mesmo lugar, porém, o caminho reto te leva a algum lugar! A transparência deste caminho vos permite discernir para onde vais, e somente andando neste caminho poderás chegar a algum lugar!
Então, ele disse:
-Se não podes discernir para onde vais, como podes querer ir? Se vais sem rumo, sem rumo andarás, e sem rumo terminarás, a não ser que andes no caminho reto. O caminho transparente não vos impede de saber aonde vais, e não esconde aonde andas, mas vos permite ver com clareza onde pisas! Por isso, não desvieis do caminho que o Pastor vos conduz, para que não entres mais uma vez onde os lobos e chacais se escondem. Agora siga adiante criança, Eu Sou deseja vos mostrar algo neste caminho!
Christian então, mais uma vez conduzido e sustentado pelo cajado, começou a avançar gentilmente, com leveza, atenção e paciência pelo caminho de vidro, com seus passos conduzidos por Krystallos.