O tempo se passou, e Christian ainda continuava andando pelo caminho de vidro, conduzido e sustentado. Ele agora sabia que estava avançando no caminho, e conseguia ver a imagem do vale abaixo de seus pés. Porém, ele percebeu, que conforme avançava mais fundo no vale em determinada direção, ele percebia que o vale parecia tornar-se cada vez mais árido.
Durante sua caminhada, notou que em meio ao vale, na vegetação infrutífera, havia animais selvagens espalhados por todos os lados, todos pareciam ser ferozes e agressivos. Se houvessem animais pacíficos lá, estes estavam escondidos na vegetação. Os animais pareciam ser agressivos devido ao fato de estarem cercados de vegetação infrutífera de forma que muitos fossem levados a predar.
Já aqueles que não recorreram à predação, eram predados por outros animais, e além disso se alimentavam de alimentos ruins, que os deixavam fracos e vulneráveis diante dos predadores.
Porém, conforme o vale ficava mais árido, menos vida se encontrava lá, de forma que não só os animais tornavam-se escassos, como também a vegetação. A vegetação não só não dava frutos, como parecia cada vez mais seca, de forma que o vale parecia cada vez mais tomar aspecto de um deserto, como se algo tirasse toda a vida daquela região.
Christian então continuou avançando, e conforme o fazia, via que as árvores assim como as ervas daninhas tornavam-se cada vez mais dispersas, a maioria das que encontrava estava seca, e cada vez que avançava mais, o cenário só piorava, ao ponto de que Christian via em alguns lugares ossos de animais mortos, secos no meio do deserto.
O cenário que antes era uma mata fechada lentamente mudou para um deserto, onde nada havia além de secura. Não haviam mais árvores, nem ervas daninhas, nem qualquer vida, somente deserto. Ele ficou chocado vendo aquilo, afinal, aquele cenário estava em seu COR. Logo, enquanto Christian avançava mais adiante observando o deserto perplexo, a voz soou mais uma vez em seus ouvidos:
-Estamos quase chegando!
Assim que a voz ecoou, Christian percebeu, vendo através do caminho de vidro em que andava, que mais a frente, em meio ao deserto, uma grande árvore, que se estendia até à névoa negra que cobria todo o seu COR. Conforme Christian se aproximava, mais detalhes da grande árvore ele conseguia discernir.
A árvore tinha um espesso tronco de cor preta, que se ramificava dividindo-se cada vez mais até alcançar os céus cobertos pela névoa escura. As folhas também eram formadas de pura escuridão e pareciam emitir névoa negra. Foi então que Christian percebeu que a fonte da névoa negra que cobria os céus de seu COR era justamente esta árvore que emitia a névoa escura de suas folhas.
Ele continuou aproximando-se pelo caminho de vidro desta região, até que estivesse extremamente próximo da árvore, de forma que pudesse vê-la detalhadamente. A gigante árvore preta no meio do deserto realmente chamava atenção. Principalmente por ser ela uma emissora da névoa, que obscurecia seu COR e impedia a passagem da luz do sol.
Assim que se aproximou da árvore, Christian sentiu que era conduzido a ali parar e assim o fez. Logo, a voz soou mais uma vez em seus ouvidos:
-Veja, esta árvore chama-se Errorum Originales! Esta é a árvore do tempo de Cadere. A cerca de dois milênios de ciclos atrás, os homens não tinham mais vida nem morada, pois as haviam perdido em um lugar onde nenhum homem poderia alcançar. Nos tempos de Alfa, os homens comeram o fruto que carregava a vetiti semen, que quando comido, semeou sua semente em seus corações de forma que uma árvore nascesse, e essa árvore é a Errorum Originales, a árvore que fez os homens perderem a vida e a morada nos tempos de Cadere.
Christian ficou surpreso por uma árvore dos tempos de Cadere estar em seu COR e perguntou:
-E o que ela faz aqui?
A voz respondeu:
-Criança, Errorum Originales não dá frutos! Por isso só uma árvore cresce no COR, e mesmo que retirada, ela não volta a crescer. Porém, ela passa através das gerações, de forma que ela cresce no COR de cada homem já logo ao nascimento! Errorum Originales é como uma praga que suga a vida e a fertilidade da terra em que se enraíza! Por isso que a região ao redor tornou-se desértica dessa forma. A árvore está exaurindo a vida da terra ao redor, tornando-as terras inférteis!
Christian chocou-se com aquilo, uma árvore dos tempos de Cadere está no seu COR, sugando a vida da terra ao redor. Logo a voz continuou:
-Além disso, esta árvore produz de suas folhas esta espessa névoa negra que cobrem os céus de seu COR, de forma que não só tornam as terras inférteis sugando sua vida, como impedem que os meus raios solares alcancem o solo para restaurar a vida no vale. Tu já experimentaste antes o que a névoa faz certo? Não vistes que quando andavas coberto pelo guarda-chuva, o vigor rapidamente exauriu-se de teu corpo? E quando te permitistes ser banhado por minha luz, a vida rapidamente vos preencheu e restaurou-vos o teu vigor!
Sentindo-se um pouco preocupado ouvindo aquelas coisas, Christian perguntou:
-Eu não posso de alguma forma cortá-la? Se derrubarmos a árvore, podemos de alguma forma fazer as coisas voltarem ao normal certo?
A voz respondeu:
-Criança, podes tomar o machado em mãos, e passar a tua vida batendo-o no tronco desta árvore, mas jamais a derrubarás! Isso não é algo que o homem é capaz de derrubar com suas próprias forças, o tronco da árvore é espesso e possui uma dureza extrema de forma que cortá-la seja impossível para ti!
Ouvindo aquilo, Christian perguntou:
-Então o que devo fazer?
A voz respondeu profundamente:
-Deverás nascer de novo Christian!
O garoto ouvindo aquilo respondeu:
-E como poderia alguém nascer de novo?
Mais uma vez a voz soou em resposta:
-Deverás renascer da água e do Espírito! Saiba que o que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. Os homens comeram o fruto através da carne e na carne semearam a vetiti semen. Renascendo no Espírito, te tornarás homem espiritual. Não mais vivendo para a carne, mas para o Espírito.
Christian perguntou:
-Homem espiritual?
A voz continuou:
-Ora, o homem natural é aquele que vive pela carne e , não aceita as coisas do Espírito da Luz, pois em sua escuridão, estas coisas lhe parecem loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar. Seu horizonte é limitado pelas coisas que seu cegos olhos podem ver. Mas quem está nas trevas não compreende a Luz e nem aqueles que nela habitam.
Logo prosseguiu deizendo:
-O homem espiritual, ao contrário, é aquele que vive pelo Espírito. compreende todas as coisas e não é compreendido por ninguém, julga todas as coisas, pois as compreende e por ninguém é julgado. Pois para julgá-lo deve o homem natural saber as coisas do Espírito, mas poderia ele sabe-lo? O homem espiritual não se limita a sua pouca visão, mas tem a própria Luz como a luz de seus olhos, e o próprio Sopro, revelando as verdades em seu coração. Saiba que os homens naturais que julgam os homens espirituais, que vivem de acordo com a mente da Luz, tentam de suas maneiras, absurdamente, iluminar a Luz e corrigir a Sabedoria.
Fazendo uma breve pausa, a voz continuou em tom profundo:
-Nos tempos de Regenboog criança, apenas oito pessoas se salvaram através da água. E é através desta água que renascerás, passando por uma renovação em seu vale. Vos foi dito que recebestes este jardim para cuidar, certo criança? Porém, por consequência dos eventos de Cadere, teu jardim sofre com este problema. Errorum Originales, suga os nutrientes do solo para si, e se alimenta da vida contida no jardim, acaba por tornar a terra infértil.
Logo, a voz prosseguiu:
-Sei o que estais pensando criança, Errorum Originales, uma árvore que torna as terras do vale inférteis, que cobre de névoa os céus de se COR, e que possui um tronco de tamanha dureza, de maneira que és incapaz de cortá-lo. Além disso, as ervas daninhas e outras árvores infrutíferas que tomam conta de tudo, fazem para ti, a tarefa de tornar tudo isso em um belo jardim, cada vez mais impossível, certo?
Christian acenou a cabeça em resposta para essa pergunta, e logo a voz continuou:
-Nos tempos de Regenboog criança, o mundo caminhava por caminhos escuros, e a Fonte da Vida, para corrigi-lo inundou o mundo para lava-lo de seus erros. Eis o que necessitas neste momento para renascer como um jardim renovado. Assim como a Fonte inundou o mundo com Suas Águas, também inundará todo o este vale, e lavará toda a terra, aniquilando todas as ervas daninhas, todas as árvores infrutíferas, e carregando para longe a própria Errorum Originales. Pois pode não ser viável cortar a árvore com o machado, mas não é assim que a inundação trabalha, pois as águas o arrancam pela raiz.
Então, terminou dizendo:
-Assim as águas renovam seu jardim e já sem Errorum Originales sugando a vida das terras, as águas restauram a fertilidade da terra, e torna as terras limpas novamente para que possas cultivar um belo jardim nelas!
Ouvindo aquilo, Christian perguntou cheio de interesse:
-E como devo fazer isso? Como faço para que as águas venham?
A voz respondeu:
-Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho da Luz, endireitai as Suas veredas. Criança, encontre aquele que vive no deserto…
Antes que Christian ouvisse mais, de repente, abriu os olhos e sentou-se olhando ao redor em confusão.