O caçador abaixou a mão, aparentemente satisfeito que ela se lembrasse, e disse: "Por que seria, digamos, íntimo. E contaminaria…Não deixe humanos ou fadas tocarem sem respeito o que é seu. É a mesma coisa se eu tocasse seus...ah," ele fez uma menção com o queixo, apontando para o peito da mulher. Eun ha instintivamente encolheu a área, e protegeu o busto com os braços cruzados.
"Não! Que horror! Não meus peitos!"
"Seria muito invasivo e ofensivo tocar nas partes íntimas de uma pessoa, e também é invasivo e ofensivo tocar a varinha de outra fada… É assim." ele fez um gesto de pouco caso ante a reação dela.
"Bom, entendi, mas tem um motivo pra que seja assim além de que é um objeto particular muito importante e poderoso?"
Isso tirou um sorriso de canto do professor de Eun Ha. "A varinha é um objeto importante para toda fada, mas ele não tem nada de poderoso."
A informação soou estranha para a jovem fada, que começou a duvidar de seu professor. Infelizmente ele era o que ela tinha disponível. "Se a varinha não é poderosa, porque ela é importante? Desculpe, estou com dificuldades aqui."
Ele assentiu, e tirou o cachecol usado da sacola, e falou: "Coloque sua varinha aqui."
"Esse cachecol enrolado assim é o suficiente para impedir o "toque" na minha varinha?"
Ele a olhou por um momento, enquanto segurava o cachecol enrolado várias vezes para que ela colocasse a varinha. Ela um pouco receosa, após a informação, fez isso. OS paradigmas a respeito de sua varinha mudaram completamente com a analogia que ele fez agorinha mesmo. Como se lesse seus pensamentos, ele falou, ácido:
"Se você tivesse esta espessura de roupa entre seus hmm e a minha mão, ninguém em sã consciência, e com certeza eu jamais, acharia que estou tocando seus hmm, Jung. O mesmo vale para sua varinha. É isso que eu estou falando."
"Ah… Agora entendi.Tem que ser um toque real." Ela guardou o choque com mais uma analogia assustadora. Rápida e possessivamente ela estendeu a mão para pegar a varinha de volta do berço de tecido onde ela estava, na mão em concha do Caçador, mas ele deu uma lambada em sua mão, com sua outra mão livre. Ela deu um gritinho de surpresa, e retirou a mão. Ele pegou este ninho e colocou com cuidado no chão.
"Sua preciosa varinha está segura longe do contato dos dedos de outra pessoa. Agora, faça de novo o que fez antes com o arbusto."
"Isso não…"
"Faça, Jung. Pelo menos, tente."
Embora chocada, Eun ha era inteligente o suficiente para entender o que ele queria dizer. E isso não era menos fantástico. Era outro paradigma surgindo como um paredão se erguendo do nada em sua mente. Ela deveria então conseguir fazer magia sem a varinha?
"Uau. Eu nunca pense…"
"Já sei que não. Agora faça. Mostre-me do que é capaz sem a varinha para te atrapalhar."
Uhn? O que ele quis dizer com isso? Ela, que achava que tinha entendido algo, sentiu-se novamente confusa com as palavras dele. Atrapalhar?
Mas se virou para o arbusto. Concentrou-se para fazer o mesmo efeito anterior. Sentia-se já um pouco estranha por não estar segurando a varinha, e desenhando arabescos no ar para que as coisas acontecessem. Ela respirou fundo, tentando invocar a magia. Imaginou que o poder saía de sua mão direita, e um pouco constrangida, estendeu a mão na direção do arbusto. Não sentia o formigar no braço, apenas um leve calor nas bochechas e no pescoço. "Hummmmh!" Comuma careta, se forçou mentalmente, mas não parecia que algo ia acontecer, apenas que estava contraindo vários músculos do corpo ao mesmo tempo.
"Professor Shin! Eu não consigo!" Talvez o que eu consiga é um acidente se continuar fazendo tanta força, isso sim.
"FOCO!" Ele falou com voz autoritária. "Pare de se encolher! Solte o ar dos pulmões! Concentre-se no que vai fazer! Pare de pensar que você tem uma varinha. Desenrole-se! Encontre o calor dentro de você. Ele é a magia. Deixe o calor crescer…faça crescer!"
Ele foi falando pausadamente, e Eun Ha começou a seguir as sugestões. Agora que ele dava nomes às coisas, com sua voz rude e seca, ela começou a identificar "o calor" em suas bochechas e cabeça. Crescer? Ele está louco? Não acho que eu devesse deixar...cresce...
Mas ela não teve tempo de pensar mais nada a respeito disso. Um clarão como se um raio tivesse caído bem na sua frente a fez abrir os olhos, e ela sentiu-se tonta e quente, o calor de sua parecendo alcançar cada milímetro do seu corpo, ebulindo, e crescendo, amolecendo suas pernas e preenchendo suas células nervosas de algo que parecia eletricidade...Seus olhos estavam pesados e suas pernas leves, mas ela ouviu um estrondo forte, e sentiu o vento forte fustigar seu corpo.
Abrindo os olhos, espantada, ela viu o arbusto crescendo, rompendo o chão e o canteiro, seus galhos se multiplicando e repartindo-se em ramificações , o tronco tornando-se largo e encorpado, crescendo em altura como uma árvore frondosa e imponente, em questão de segundos frente aos olhos atônitos dela e de seu professor, chegando à uma altura de três metros rapidamente.
Ela ainda estava sentindo-se encalorada, se recuperando da experiência. Estava sentada no chão, sentindo-se incapaz de levantar nos próximos minutos.
O professor parou de olhar assombrado a árvore que surgiu diante deles de um mero arbusto, e se virou para En Ha, para falar algo, porém aparentemente se distraiu ao observar as reações dela após seu clímax mágico. Seu olhar boquiaberto mudou para um mal disfarçado sorriso de canto. Estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.
"Tudo bem?"
"Ah bem." Ela corou com o olhar dele, e tocou seu rosto com as palmas das mãos apenas para certificar-se que estava mesmo tão corada quanto sentia estar. Droga! Que vergonha! Quase me mijei!
"Nada mal, Jung. Nada mal." ele comentou, a colocando de pé.
"Eu fiz mesmo esta árvore?"
"Uhu. Não era o que você queria, certo?" Ele foi tangendo Eun Ha para longe dali, com passos rápidos.
"Não, eu… Não, não era."
"Então já deve saber para que a varinha serve."
"Ahn… Para canalizar a energia, como uma espécie de pára raios?"
Ele assentiu, devolvendo o tecido com a varinha. Eun Ha olhou novamente para sua varinha, com redobrada curiosidade.
"Então, quer dizer que a magia está em mim, e não na varinha, mas que eu controlo melhor a magia, com a varinha?"
"Isso, Jung. A varinha é, como você disse, um pára-raios. Ela transporta a magia até onde você precisa dela. É um objeto muito útil e particular. Porque, acho que você entendeu, ela tem parte de você."
"Eu pensava na minha varinha como um óculos de grau, mas não entendia assim."
"Bom, eu diria que uma varinha é como um dedo. Um dedo que você aponta quando quer as coisas feitas. Mas… Se você cortar o dedo fora, seu coração vai continuar bombeando sangue para seu corpo, seu cérebro vai continuar pensando… E o seu dedo, é bem inútil para quem encontra-lo. Ele só vale algo quando está na sua mão."
"O professor tem analogia bem estranhas com partes do corpo."
"Ah é?" Ele pareceu legitimamente surpreso, mas não pareceu se importar, ao mesmo tempo.
Ela ainda se sentia ofegante e com pernas bambas, então ele a sentou num banco de pedra. "Descanse um pouco, depois passamos para um pouco mais de prática."
"Esse tipo de coisa, que aconteceu hoje… Eu tenho como controlar isso? Nessa intensidade? Porque…"
"Vamos ver. Deve melhorar quando você começar a manejar sua varinha de maneira certa."
"Ah… Eu imaginava se estava fazendo alguma coisa certo."
"Se eu souber o que você estava fazendo, posso dizer."
"Bom, basicamente…" ela desviou o olhar do rosto dele, rolando a varinha em uma perna para se distrair. "Eu causo acidentes. Digo, pequenos acidentes. Um efeito poltergeist, sabe? Coisas caem, coisas estragam, coisas se perdem, ligações não completam… Coisas assim!
Diante do silêncio que se seguiu, ela ergueu os olhos para perguntar, olhando no rosto do Caçador:
"Isso faz de mim uma ameaça?"