"Ei, parem o carro! Eu ainda estou com as pantufas! Meus sapatos!"
Mas Kim não deu ouvidos, e continuou dirigindo para o início da rua, em direção à avenida de onde vieram. Lee apenas riu.
"É sério! Meus sapatos ficaram na porta de entrada!" ela protestou, embora percebesse que eles propositalmente a estavam ignorando. " O que vocês estão fazendo?! Isso é um complô?!
"Deixe de bobagem, Srta Nam!" o médico falou um tanto asperamente, reforçando o Srta. por algum motivo. " Entre as pantufas e um par de sapatos trocados, pelo menos fique com o que é mais confortável."
"O Dr. Kim não deixa de ter razão, Srta Nam." o homem loiro ponderou. 'Apenas relaxe e aproveite pés confortáveis por uma noite."
"Relaxar e aproveitar por uma noite. Eu posso fazer isso." Ela concordou com o músico que tinha se virado e sorria para ela. " E o Dr. Kim, pode fazer isso?" ela perguntou, pois ele parecia novamente ácido, embora ela ainda não tivesse conseguido detectar o que tinha sido dito ou feito para mudar o humor dele, que era uma montanha-russa, aparentemente.
"O Dr. Kim tem pensado em coisas muito sérias ultimamente. Eu não sei o que exatamente, mas percebi isso hoje." o amigo do médico comentou. "Mas depois de resolvermos o problema do guincho, você vai nos dar uma chance e se divertir, Jun Hyeon? Aliás…"
Ye Rim gostava do timbre e do tom de voz do músico, calmo e compassado, mesmo imprimindo um tom de animação no que dizia. Imaginou se ele também cantava.
"Aliás," ele se repetiu "já que estamos num não encontro a três, não seria melhor se pudéssemos deixar de lado as formalidades? Assim nossa convidada não fica na desvantagem."
Um pequeno silêncio se seguiu. Ye Rim ficou um pouco alarmada, mas percebeu que o médico tinha deixado a decisão na mão dela. 'Por que eu tenho que decidir se ele é o mais velho. O mais apropriado seria ele permitir…' "Bom, por mim tudo bem, se o Dr. K…"
"Por mim tudo bem. Já pode nos tratar por 'oppa!'" ao falar a última palavra, ele fez um falsete esganiçado e zombeteiro.
Lee riu, Ye Rim os acompanhou, e fez isso exatamente como ele, para mais risos.
"Oppa! Oppa!"
'Então espera… Será que o Dr. Kim ficou bravo porque eu chamei Lee Dae Won de oppa lá atrás? Foi isso?'
Mas você não respondeu, Jun Hyeon oppa. Você pode deixar os problemas de lado e se divertir conosco por uma noite? Ela perguntou. A adição do agradável e belo Dae Won tinha mudado a dinâmica entre eles irreversivelmente.
"Uhn…" Fingindo pensar sobre o assunto, o médico se fez de dificil,mas assentiu com a cabeça sob os olhares dos outros dois passageiros do carro. "Ok. Vamos nos divertir inconsequentemente esta noite."
…
"Sua pequena delinquente! Pare com isso agora!"
O homem que segurava seu braço não parecia estar para brincadeiras, e sibilou em um tom autoritário e intimidador, enquanto a pescou do banco da scooter, a colocando de pé.
Ele a revistou rapidamente, e ela logo pensou que ele poderia ser um policial disfarçado. 'Mas isso ao menos faz sentido?'
Seu instinto alertou que não estava numa situação normal.
O homem, vestido de preto da cabeças aos pés, a encarava de um modo diferente e avaliativo, porém, definitivamente, hostil. Eun Ha sabia que tinha sido pega.
Mas poderia ao menos tentar escapar dessa. Várias ideias estranhas e que vagamente se pareciam com desculpas ou cortinas de fumaça passaram por sua cabeça, mas o olhar dele era tão intimidador que as ideias simplesmente morriam assim que chegavam perto de sua língua.
Eun Ha apertou a varinha de condão na mão, pensando apenas em fugir dali. Mas o estranho deu mais um passo em sua direção, e apertou mais o seu braço.
"Me larga, seu idiota!"
"Varinha no chão! Agora!" Eun Ha arregalou os olhos, e tentou olhar melhor o rosto do homem que a estava abordando de maneira violenta, mas ele deu um tapa dolorido no topo de sua cabeça, e torceu seu braço a ponto de Eun Ha gemer.
"Largue a varinha, agora, vai mesmo insistir em ficar com ela?"
"Aiiiiiii! Ela gemeu. Ela ficou surpresa com o que ele disse, afinal de contas, para todos os efeitos, ela estava segurando uma caneta bonita.
Era bastante fora de contexto que ela estivesse em cima de uma scooter parada no acostamento de uma avenida, como uma sniper apontando uma caneta a esmo, mas ainda assim, ela poderia tentar alegar insanidade.
Mas o bom senso prevaleceu, pois estava bem nítido que ele não iria cair nessa conversa. Sua varinha caiu com um barulho seco no asfalto, Eun Ha sentiu um arrepio, não gostava de imaginar que estava jogando no chão asfaltado algo tão precioso e especial daquela maneira.
Quando ela o fez, o homem soltou seu braço e se afastou o suficiente para que ela pudesse ve-lo. Eun Ha se empertigou e arrumou as roupas, ainda assustada. "É… Eu… Eu...Eu posso explicar!"
"Quem é você?" ele perguntou em um tom rude, se agachando para ver a varinha de condão dela. Ele pegou com um lenço, com uma expressão cínica e ostensivamente mostrando para ela que estava fazendo isso, e examinou com cuidado. "Por que você está perseguindo aquele casal de humanos?
"É…" Eun Ha pensou em fugir, mas também pensou que então deixaria a valiosa varinha de condão com este desconhecido assustador.
Porém, repentinamente, ela percebeu duas coisas: 1: Ele sabia o que ela era, o que era mais do que ela sabia, e 2: ele tinha deixado implícito que nem ela nem ele eram humanos.
Isso fez com que ela desse um leve sorriso, apesar de ainda se sentir intimidada. Talvez ela enfim conseguisse entender muitas coisas que não entendia. Como por exemplo:
"Espera! Se eu não sou humana, o que eu sou?"
Ele se ergueu em um átimo, e novamente sibilou, bastante irritado, enrolando a varinha de Eun Ha e colocando no bolso da jaqueta que usava. "Eu não tenho tempo para seus joguinhos, sua engraçadinha. Já que não parece arrependida, você pode buscar sua varinha, ou pedir para alguém buscar, no Portal do Domínio!"
A designer de moda olhou com desespero para seu bem mais precioso sendo confiscado assim por um estranho, sentiu-se assaltada.
"Ei, ajuhssi… Calma!" Ela ergueu as duas mãos, em sinal de rendição. "Eu não estava atacando humanos, eu estava defendendo minha amiga! Se eu não interferir, ela vai se machucar no futuro! E também… Se você levar a minha varinha mágica, eu não sei onde buscar. Portal de onde? Onde fica isso?!" Ela falou em borbotões, sem ao menos respirar.
For fim, encheu os pulmões de ar e disse: "E por último: por que você está fazendo isso comigo? Você é um policial das bruxas? Existe isso? Sério?!"
Novamente o homem com expressão desagradada e fria a examinou da cabeça aos pés, mas dessa vez foi diferente.
"Você não sabe o que eu sou?" ele perguntou, em tom admirado e ao mesmo tempo, suspeitoso. Jung Eun Ha primeiro balançou a cabeça enfaticamente em negação, e depois falou: "Não."
"E você acha que é uma bruxa?"
"Se não sou, então o que eu sou?! Ajuhssi!" Ela se angustiou, seu tom de voz se tornou mais agudo e implorativo: "O que eu sou, ajuhssi? Eu preciso saber!"
O estranho se virou de costas, nitidamente se preparando para partir. "Se você não sabe o que é, então você é um perigo em potencial com esta varinha em seu poder. Procure-me quando você souber." Ele começou a se afastar, mas Eun Ha se desesperou.
"Vo… Você?! Você está mesmo confiscando minha varinha?"
"Sim. Estou." foi a resposta do homem de preto, indo embora.
"Mas… Então, o que eu vou fazer?"
"Uhnnn…" Um suspiro aborrecido se fez ouvir. "Pergunte para seus pais."
"Oh, eu não tenho pais."
"Pergunte para seus padrinhos."
"Eu não tenho ninguém! Ninguém que saiba! Você não vê?!"
O homem dessa vez encolheu os ombros, e nada respondeu.
Era a primeira vez, e potencialmente, a última, onde Eun Ha encontrava alguém igual a ela.
A jovem mulher se jogou impulsivamente contra o corpo do homem, se agarrando a ele como uma planta parasita, e implorou: "Não, não vá! Não tire a minha varinha de mim,ajuhssi, nem vá embora! Eu preciso saber. "
Ele continuou andando e a arrastando facilmente, mas Eun Ha sentia que não tinha outra alternativa a não ser continuar implorando.
Era bem mais fácil falar com ele sem encará-lo, Eun Ha descobriu."Por favor! Você é primeira pessoa que eu encontro igual a mim, em toda a minha vida. A minha vida toda, eu…"
"Eu não estou interessado na sua vida. Me largue agora." Ele deu outro passo, mas então parou e começou a soltar as mãos dela de seu corpo. Eun Ha caiu no chão.
Até ali, ela estava sendo movida pelo seu ímpeto de saber, e não teve vergonha de implorar e pedir e de parecer patética e desesperada. Ela continuou ali, sentada no asfalto, apenas sentindo que tinha vendido o país em outra vida. Como um desabafo de seu coração, ela falou:
"Desde que eu encontrei essa a varinha mágica, eu sempre tive tantos questionamentos que nunca tiveram respostas, por mais que eu procurasse. Mas dessa vez, é real. Você está aqui. Você é igual a mim! Eu encontrei; fui encontrada, por alguém igual a mim. É tudo o que eu sempre quis. Mas.... É como chegar muito perto de um poço de conhecimento do qual eu não posso beber a água. É como um sonho do qual você acorda no momento mais importante." Ela sentia-se inútil e despedaçada. "Estou sendo confiscada e não tenho como me defender disso, pois não sei de nada..."
As lágrimas escorriam livremente por seu rosto. Ela tinha expressado seus sentimentos de derrota e desilusão ali, para o estranho de costas. Ela apenas queria que ele soubesse. "Eu daria tudo pra saber."
O homem se virou, colocando as mãos nos bolsos.
"Você tem minha atenção."