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Chapter 2 - Conto 2: Por amor

Era uma vez uma senhora muito boa, de grande fé, e isso a tornava muito próxima de Deus. Ela orava todos os dias, e, no seu coração, o Senhor a aconselhava. Ela se chama Dulce, minha mãe.

Fazia um tempo que não a via, e numa bela tarde de sábado fui visitá-la. Enquanto conversávamos na mesa da cozinha, tomávamos café com biscoitos. Então, com um olhar sério, ela me diz:

- Ana, presta atenção! O Senhor está dizendo que, quando estiver em perigo, você tem que clamar pelo sangue de Jesus! As pessoas brincam com isso, mas elas não sabem o que fazem! Jesus derramou o seu sangue na cruz para salvar nossas vidas! Essa frase só pode ser utilizada em situações de perigo!

"Por que ela está me dizendo isso? " – pensei surpresa.

E ela continua:

- Você vai lembrar? – perguntou com ar de preocupação.

- De quê? – respondi impaciente, pois não tinha entendido o que dissera e mal sabia quem era Jesus.

- De clamar pelo sangue de Jesus quando estiver em perigo! O Senhor está dizendo que é importante que lembre disso!

- Está bem! – falei pra encerrar logo o assunto.

Conversamos mais um pouco, e como já era tarde, dei-lhe um beijo e um abraço e fui embora.

Passaram-se alguns dias....

Estava em casa, alguém bate na porta; pelo olho mágico vejo que era Luís, meu ex-marido.

- O que você quer? – perguntei assustada.

- Quero falar com você! É sobre o Victor! – respondeu calmamente, queria conversar sobre nosso filho.

Mesmo com receio abri a porta, não ia deixá-lo entrar, pretendia falar com ele ali mesmo. Percebo seu olhar de fúria, sinto o cheiro de bebida, estava alienado. Tarde demais! Ele me empurra para dentro e invade minha casa, fecha a porta e guarda a chave no bolso.

- Vou te matar! – gritava furioso e com os punhos fechados.

Corri, tentei usar o telefone, mas ele arranca o fio e me empurra no sofá! Senta na minha frente e continua:

- Antes de te matar, você vai me ouvir! Você vai ouvir tudo o que tenho a dizer!

Nesse momento descobri que existem atributos além de prostituta.

- Como você diz essas coisas pra mãe do seu filho? Nunca traí você!

Abraçada a uma almofada, chorava compulsivamente. Acontecia uma festa junina no condomínio e a música estava tão alta, que, mesmo que eu gritasse ninguém me ouviria!

Já tinha perdido a noção do tempo.... De repente, ele levanta e diz:

- Vou beber água.

Foi andando, calmamente, para a cozinha. Sobre a mesa havia apenas uma faca, e um raio de luz, vindo da janela, a fazia cintilar.

- Vou te matar com essa faca. – falou baixo e serenamente.

Virou-se para mim, estava a três passos de distância. Seus olhos tinham um brilho maligno, esboçava um sorriso de meia boca. Ficou parado, e, olhando-me parecia planejar minuciosamente o que iria fazer...

Meu Deus! Isso é uma armadilha feita pelo mal: a porta trancada, a música alta, a faca, um homem desvairado. Tudo estava contribuindo para meu fim...

Ele volta para a sala, senta no sofá, em silêncio. Sento em frente, abraço a almofada, olho para baixo chorando, sinto frio, muito frio, frio demais. Era o frio da morte! Meu fim estava chegando...

Repentinamente, lembrei-me do que minha mãe dissera: "Quando estiver em perigo, clame pelo sangue de Jesus! "

Comecei a orar:

"Jesus derrame sobre mim o seu sangue, daquele que foi derramado na cruz pra nos salvar! Porque seu sangue tem poder: de libertar, de salvar! Jesus, por favor, suplico que derrame sobre mim o seu sangue, por favor, salve-me do mal! Meu filho ainda é pequeno, ele precisa de mim! ".

Eu chorava e ele continuava a me ameaçar:

- Vou te matar... vou matar Victor! O caixão dele vai ser pequeno! – mostrava o tamanho do caixão com as mãos, e continuou. – Depois, eu vou me matar! Meu caixão será maior, quero levar meus livros.

"Meu Deus? Olha o que fiz? Eu o magoei tanto! Não posso ir embora sem pedir perdão! " – pensei arrependida.

Bruscamente, levanta-se com os braços erguidos e as mãos abertas, então grito:

- Perdão!

Ele para com as mãos próximas ao meu pescoço, seus olhos estavam arregalados, parecia uma estátua. Ficou surpreso.

- Perdão! Não queria te magoar, por favor, me perdoa! Nós temos um filho! - suplico.

Senta-se no sofá, abaixa a cabeça entre as mãos e começa a chorar desesperadamente.

- Me perdoa... – imploro baixinho.

Ele começa a chorar, chora, chora, chora....

- Espera um pouco. – diz soluçando.

Levanta-se, anda bem devagar até a porta e tira a chave do bolso. Suspira, inclinando a cabeça para trás, abre a porta, entrega-me a chave e vai embora, sem dizer uma palavra.

Rapidamente tranco a porta, encosto-me nela com os braços levemente estendidos e sem acreditar no que tinha acontecido! Quase morri...

Ligo para minha mãe e conto tudo. Ela finaliza:

- Realmente era uma armadilha do mal pra ceifar sua vida. Mas, quando a morte chegou, você se revestiu do sangue de Jesus e ela não conseguiu te tocar. Jesus enviou anjos para te proteger, e o mal foi embora. Você acredita?

- Sim. – respondi admirada.

- Então você tem que agradecer! – continuou explicando. – Você tem que dizer: "obrigada Jesus".

- Obrigada, Jesus. – disse envergonhada, querendo terminar o assunto. – Beijos e obrigada pelos conselhos!

- Beijos e que Deus te abençoe!

"Mal o conheço, e, mesmo assim Ele me ajudou... Por quê? " – penso intrigada.

E uma voz interior responde: "Por amor! "