Eu o conhecia faz tempo. No final do ano voltei a conversar com Edgar, pela internet. A lembrança que tinha era de um rapaz bem afeiçoado, inteligente e bom; amigo de Victor.
Marcamos um encontro, e, passados alguns meses começamos a namorar.
" Eu queria outro filho, mas tenho receio... " – pensava. – "Mas se demorar muito, não vai dar tempo, já estou com 39 anos! "
Finalmente chegaram as tão esperadas férias. Uma tarde, enquanto fazia crochê no sofá da sala, ouvi uma voz:
- Quero ir pra aí! – pediu.
- O quê?! – perguntei admirada.
- Eu quero ir pra aí...
Percebi a presença de um espírito bom: era um anjinho! Ele era pequeno e estava de pé, bem na minha frente.
"Meu Deus! Chegou a alma que eu iria receber! " – pensei assustada. – "Nós conversamos por pensamento! Como fiz isso?! ".
No dia seguinte, liga-me Lívia, minha amada irmã:
- O anjinho chegou, viu? – disse ela, enfaticamente.
- Eu sei, ele já falou comigo...
- E o que disse? – perguntou curiosa.
- Que queria vir para cá! Só que eu estou com medo de recebê-lo! – desculpei-me.
- Essa criança vai vir de qualquer jeito! Se você não o receber vai se arrepender! Se não for com você, esse espírito virá através de outra mulher! – retrucou fervorosamente.
- O Edgar não quer um filho!
- O Edgar não sabe o que quer! Se você não receber esse espírito, lá na frente você será cobrada. Pensa no que vai fazer!
- É que eu tenho medo... – justifiquei.
- Você está bem, não é? Chega e sai a hora que quer. É difícil sair da zona de conforto, começar tudo de novo, eu sei disso...
- Chego em casa, tiro os sapatos e deito no sofá. Não tenho criança pequena pra olhar!
- O Victor está grande. E você está tão resistente que o próprio anjinho veio falar com você. Deus vai te dar forças pra que você receba este espírito!
- Edgar acha que não tem condições financeiras para ter um filho.
- Tudo vai acontecer no tempo certo.
- Não tenho tanto tempo...
Passaram-se alguns dias. Estava em casa, indo do quarto para a cozinha, pensando: "O Victor me deu tanto trabalho quando criança, passar por tudo isso de novo...".
- Eu vou ser bonzinho! – diz o anjinho.
Continuo pensando: "Nem vou ser tão exigente com o próximo filho".
- Quero que seja tão exigente comigo como foi com o Victor. – responde.
"Ele tá sondando meus pensamentos... Como faz isso?" – reflito, bem intrigada.
Mais dias se passaram... estava deitada na cama e o anjinho se aproxima e diz:
- Quero ir pra aí...
- Eu quero que venha, é o Edgar que não quer! Vai falar com ele! – retruco, já brava.
Ele sai do quarto. Posso sentir seus movimentos, a distância, o tamanho dele, não sei como explicar.... Depois disso, nunca mais falou comigo, será que ficou chateado?
- Sonhei com uma menina, ela vinha de mãos dadas com alguém e segurava uma boneca. – contou Edgar.
- E como ela era? – perguntei.
- Bonita, usava um vestido e tinha um laço na cabeça. Venho sonhando com essa menina há várias noites... – e continua. – Ela me chama pra brincar! Até fiquei com vontade de ter um filho.
Ri do sonho, como se fosse tolo, mas, na verdade, fiquei intrigada.
"Será que o anjinho é uma menina? " – pensei.
Contei a Edgar sobre o anjinho, ouviu com desconfiança e não emitiu opinião.
Repentinamente, os sonhos desapareceram e o anjinho ficou em silêncio.
"O que aconteceu? Pra onde ele foi?" – perguntava-me, com temor.
Passaram-se alguns meses... Eu engravidei! Para a surpresa de todos: era um menino! Seu nome: Luigi. Será que o anjinho vai gostar desse nome quando nascer?
Sempre que orava pelo bebê, Deus me dava uma visão: uma luzinha brilhante junto dele.
Essa visão me tranquilizava, pois dava-me a certeza de que Deus olhava por nós.
No tempo certo ele nasceu. O anjinho, com quem conversava, veio para cá como bebê. Reconheci seu espírito e pude cuidar dele.
Luigi foi crescendo, e, surpreendentemente, gostava de bonecas: as penteava enquanto assistia desenhos.
- Luigi... eu gosto do meu nome, Luigi. – disse ele.
Numa bela manhã de sábado fomos andando até a padaria. Luigi, já com dois anos, estava no colo do pai e perguntou:
- Eu sou bonzinho, né, papai? Sou bonzinho, né, mamãe? Sou bonzinho...
- Sim, você é bonzinho, Luigi, um anjinho. – respondi carinhosamente.
E pensei: "Meu Deus! Ele disse isso antes de nascer! Cumpriu o que prometeu, ele é bonzinho...".
Edgar colocou Luigi no chão, para correr um pouco:
- Durante o banho, Luigi falou que lembrava que conversava com você, antes de nascer. – contou Edgar, intrigado.
- Nunca comentamos disso na frente dele...
- Eu sei, fale com ele depois.
Chegando em casa perguntei curiosa:
- Luigi, você lembra que conversou com a mamãe antes de nascer?
- Lembro. – respondeu calmamente.
- E onde você estava?
- Aqui! Com você!
- E o que você queria?
- Eu queria colo, queria tête.
- E o que a gente conversava?
- Não lembro...
E uma voz fala comigo, em pensamento:
- Será dado esquecimento a ele. Daqui em diante não se lembrará de mais nada.
- Então tudo o que aconteceu, antes dele nascer, não era coisa da minha cabeça?
- Não era! Sua fé vai aumentar depois disso.
"Essa voz interior era um anjo! Era um anjo que falava comigo! Agora sei disso, pois percebi sua presença boa! " – penso admirada.
O anjo se vai e eu medito:
"Então é possível conhecer o espírito antes dele nascer! E como é curioso vê-lo depois, com um corpo, e cuidá-lo, como filho. Mas... se existe vida antes do nascimento, de onde vêm esses anjinhos? "