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Chapter 5 - Conto 5: A estrela

Era uma ensolarada manhã de sábado e dona Dalva, como de costume, veio passar roupa. Ao chegar em casa, colocava seu avental, pegava o cesto e logo começava a dobrar as roupas, separando-as em pilhas, sobre a mesa da cozinha. Trabalhava em casa há anos e tinha confiança nela.

- Dona Dalva, eu preciso sair, vou até o shopping com o Victor!

- Fica tranquila, minha filha, se terminar antes de você voltar, tranco a porta e deixo a chave debaixo do tapetinho.

Victor não parava de correr com a cachorra ao redor da casa. Eles brincavam o tempo todo. Fui até a porta e o chamei:

- Victor, vem logo! Para de correr, vamos sair!

- Já vou! Deixa brincar mais um pouco!

- Não! Para e vem aqui, rápido! O que nós combinamos?

- Tá bom, mãe... – resmungou.

Ele vem emburrado e me dá a mão. Abro e fecho o portão, ando alguns passos na calçada em direção ao carro, e uma voz interior fala comigo:

- Volta!

Continuo andando... e de novo:

- Volta! Volta! – gritava aquela voz.

E...inesperadamente piso num coco enorme! Que nojo!

- Mãe, você tem que ter mais cuidado! – Victor repreende-me.

- Como não vi isso antes?! – respondo irritada. – Vou voltar pra lavar o sapato com a mangueira do quintal!

Antes disso, esfrego a sola num matinho da calçada. Quando abro o portão, vejo a dona Dalva correndo pela cozinha. Que estranho... parecia estar encobrindo algo...

Será que ela achou? Não, não é possível que ela tenha encontrado aquilo que eu escondia!

Tiro os sapatos na grama e corro preocupada até a cozinha, paro na entrada, fico estupefata... Vi a cena mais grotesca da minha vida: centenas de notas espalhadas pela cozinha. Tinha dinheiro sobre a mesa, pia, fogão, e a dona Dalva pegava punhados de notas e escondia entre as roupas, no avental, ao mesmo tempo algumas notas caiam no chão.

Victor olhava perplexo! Era uma cena incrível!

- Dona Dalva! A senhora está me roubando! – esbravejei.

- Não! Já tava tudo aí! – respondeu assustada.

- Como tava aí? Eu não deixei dinheiro espalhado pela casa!

Eu havia escondido um envelope com dinheiro no fundo de uma gaveta, em um móvel que ficava no corredor do outro lado casa. Estava juntando dinheiro há mais de um ano. Como ela achou? Ninguém sabia que o dinheiro estava lá!

- Depois de tudo que fiz pela senhora! Como teve coragem de me roubar? – continuei esbravejando. – Vou chamar a polícia! A gente vai pra delegacia!

- Não, não! Depois de velha não quero passar por essa vergonha! – suplicava.

- Quero meu dinheiro de volta!

Comecei a recolhê-lo. Juntei tudo e recoloquei no envelope.

"Ainda bem que consegui recuperar meu dinheiro", pensei aliviada.

- Conta! – disse aquela mesma voz.

Contei e faltava dinheiro!

- Dona Dalva, tá faltando dinheiro! Vou até o quintal e a senhora joga esse dinheiro em qualquer lugar!

Fiz assim porque achei que ela teria vergonha de devolvê-lo em mãos. Andei pelo quintal por algum tempo e voltei. Ela deixou uma parte do dinheiro em cima da mesa, outra parte sobre a penteadeira e o resto dentro do cesto de roupa suja, no banheiro. Devolveu tudo.

Suspirei, tentei me acalmar... voltei para a cozinha e sentei numa cadeira, perto dela.

- Eu ajudei tanto a senhora! – e continuei: – Como teve coragem? Por que fez isso?

- Eu não sei! Tava passando roupa e uma voz me falou: "Vai na última gaveta e pega o envelope do fundo". Eu peguei e tinha dinheiro! Eu tava precisando...

- A senhora estava roubando...

Ela começou a chorar.

- Você me ajudou muito, deu sapatos pro meu neto, roupas, brinquedos... Você é tão boa! Por favor, me perdoa... – suplicava em prantos, tentando enxugar as lágrimas com as mangas.

Comecei a sentir pena. Lágrimas desceram pelo meu rosto.

- Eu perdoo a senhora!

"Como consegui perdoar tão rápido?! Aprendi a perdoar!", pensei surpresa e ao mesmo tempo feliz.

- Você me perdoa mesmo? De verdade? – indagou com ar de preocupação.

- Eu perdoo a senhora! De coração!

- Posso morrer sossegada?

- Pode. A senhora está perdoada. Fique tranquila... pode ir em paz! – respondi intrigada.

Paguei o dia e ela foi embora.

Passou-se um mês. Recebi a notícia... dona Dalva foi para o céu.

Tudo o que aconteceu passou feito um filme pela minha cabeça. Senti paz por ter liberado o perdão. Agora entendo a importância de perdoar e de ser perdoado.