[POV Jhin]
Lilia me pediu para teletransportarmos para a cidade quatro, "Elmarin", onde seus companheiros combinaram de se encontrar.
Enquanto caminhávamos até o bar pré-estabelecido, ela me contou que estava um pouco nervosa por tudo o que houve e também por seu atraso.
Achei essa garota totalmente o oposto do que AWO era. Pode ser que eu a estivesse subestimando, mas imagino se ela teria coragem, por exemplo, para enfrentar um boss.
Me perguntei como seria os outros membros. Ao julgar pelo que ouvi, provavelmente era uma guilda nova e fraca.
Quando chegamos ao bar, vi três rapazes sentados a uma mesa, todos provavelmente de idades próximas à minha. Eles levantaram ao ver Lilia e vieram em nossa direção, preocupados com o atraso.
Pelo visto, acabei ficando próximo do 'dodói' da turma. Logo fui questionado se tinha feito algo para Lilia, que explicou toda a situação e aproveitou para lamentar o fato de ter perdido a Pérola da Noite.
Lester, Batata e o líder: Cain.
Estes eram os apelidos deles.
- Cain... me perdoe... – Lilia se desculpou, do mesmo jeito que havia falado comigo outrora.
Eu entendi o motivo dela ser tão protegida por eles, era uma garota fofinha. Realmente... não fazia o tipo do jogo mortal que era AWO.
O líder era um bom rapaz, sem dúvidas. Eu esperava uma resposta clichê sobre não ter problema e que uma hora eles conseguiriam outra, mas o que ele fez foi ainda melhor:
- Lilia, eu sei que você perdeu algo importante, mas não se abale por isso. Trate de ficar mais forte pra que ninguém possa mexer com você de novo.
Esse era dos meus. Cain parece ser o tipo de cara determinado e que não abaixa sua cabeça à ninguém. Ele mal citou o item, apenas quis que tal acontecimento não se repetisse com Lilia.
Não vou entrar em detalhes, mas saibam que eu fui aceito de bom grado na guilda, que se chamava Sabertooth. Os outros membros ficaram extremamente felizes com alguém novo.
Nós compartilhamos nossos níveis: Lilia estava no doze, Cain no dezessete, Lester quatorze e Batata treze.
Eu era o mais forte do grupo, o que os deixou empolgados em excesso, jamais tinham visto um jogador maior que nível vinte pessoalmente.
Comemoramos a noite toda. Bebemos, sorrimos e nos conhecemos melhor.
Quer saber? Não era tão mal estar naquele ambiente. A companhia de pessoas era importante, eu percebi isso passando um tempão sozinho. No entanto, minha prioridade ainda é a quest...
Território de Nível 4, Floresta de Carvalhos, 8 de Agosto de 2033
Tivemos um dia para nos prepararmos para a missão. Eu agora carregava a insígnia da Sabertooth ao lado de meu apelido, era um símbolo azul com uma presa branca.
Meu primo chegou a me contar sobre essa floresta estranha naquela vez. Nunca soube o que tem aqui, mas ele disse que é bom sempre ficar esperto com algumas Flores de Gases que há pelo mato.
Ainda me lembro de suas palavras:
"No Território de Nível Quatro existe uma floresta de carvalhos muito bonita, mas bem traiçoeira. Basta pisar em uma flor pequena e roxa que você vai ter um problemão."
Eu nunca cheguei a perguntar pra que elas servem, mas se tem até mesmo um nome próprio, devem ter alguma utilidade.
Lilia era um pouco desastrada, então é claro que ela seria a primeira que quase pisaria em uma das flores. Eu a impedi, bem atento ao chão ao nosso redor. Fiz questão de avisá-los também.
Não queria compartilhar tudo que sabia, é óbvio que isso não era o adequado a se fazer. Além de ser questionado demais, provavelmente seria taxado de trapaceiro.
Acabei presenciando com meus olhos o que um grupo pode fazer. Mesmo com táticas básicas, a batalha contra o urso Hija foi de certa forma fácil.
Não quero me gabar, mas a minha força já havia passado os limites do Território de Nível Quatro. Só que lembram quando eu disse que nem tudo aqui são números?
Entendi ao participar da luta, que sozinho eu teria tido muitos problemas contra Hija e seus homens, mas com o apoio dos dois espadachins Cain e Batata, o lanceiro Lester e o suporte mágico de Lilia, nós quase nem levamos dano.
Quando recebemos as recompensas da quest, todos ficamos muito felizes. É claro que eu não seria inconveniente de não dividir com meus companheiros de guilda os itens ganhos.
Cain pediu o Pó da Lua e a Pérola Negra. Eu não sei por que, mas parecia que ele tinha algum objetivo específico.
Nós dividimos o resto assim:
Lilia ficou com as Penas de Fênix e o Olho Observador.
Lester ficou com o Anel do Invocador, que valia bastante dinheiro.
Batata com as Botas de Paracles.
O cofre da guilda Sabertooth recebeu os nins.
E eu obtive o Fragmento de Asa de Anjo.
Você provavelmente está se perguntando por qual motivo aceitei essas condições e fiquei só com um item, já que fui eu quem trouxe a quest à todos. Bom, a verdade é que esse fragmento era provavelmente o item mais raro de todos.
Há cerca de duas semanas, ouvi uma conversa entre membros da guilda Royal de que seu líder estava muito interessado em todos os fragmentos de asas que seus seguidores encontrassem.
Como tudo ainda é muito novo no jogo, estamos conhecendo sobre os itens, suas funções e o que podemos obter com eles. Em adição, há sempre uma descrição do quão raro é o item se abrirmos seus detalhes.
É consenso entre todos que asas são algumas das coisas mais valiosas de Adventure World Online. Imagine: além de todos os atributos bônus que dão, ainda te possibilita a voar.
Não chega a ser desbalanceado, mas com certeza é uma grande vantagem. Atacar a cabeça de um chefe gigante, por exemplo, pode causar mais dano, mas é bem arriscado saltar ou correr por seu corpo. Com uma asa, a ação se torna bem mais tranquila.
Eu estava satisfeito com o término da quest, e logo pensei em abandonar a guilda. No entanto, bastou alguns dias convivendo com eles para que eu me acostumasse com o grupo. Na verdade, acho que estou feliz do jeito que as coisas estão.
Já fazia uma semana que estávamos juntos. Eu me aproximei bastante de Lilia; podíamos conversar sobre qualquer coisa. Só confirmei cada vez mais que ela era uma garota que não deveria estar aqui em AWO nestas condições.
Se tivesse que se defender de um PK, Lilia não conseguiria zerar seu HP, além disso, parecia ser bem dependente de seus companheiros.
Mas uma coisa que também aprendi é que as guildas servem pra isso, suprir seus defeitos. Ela com certeza não era inútil: uma maga com bons atributos e que executava muito bem suas habilidades, uma excelente linha de trás. O que acontece é que era uma garota bem comum, como a grande maioria dos players de AWO.
A diferença entre nós é que eu sentia que estava começando a me apaixonar por este lugar. Sempre fui alguém que amou jogos, e a ideia de me imergir totalmente em um mundo de fantasia parecia um sonho que se tornou realidade.
Meu talento nato era ser um jogador. Me adaptava fácil ao ambiente em que estava.
Só que o principal é que eu tinha coragem para fazer o que era necessário. Eu queria acabar com isso, eu precisava! Pelo meu primo... para ver minha família de novo.
Não que os outros jogadores não queiram o mesmo, mas sinto que há pessoas começando a se acostumarem a ficarem presas aqui, algo que não pode acontecer de jeito nenhum.
Controverso, não? Me apaixonar por Adventure World Online, mas querer destruí-lo totalmente.
Eu não queria cair no comodismo e me acostumar com isso, deixar que outros façam a vontade que herdei de Gabe.
Cada monstro novo era uma sensação de emoção, mas também um obstáculo a menos para sair daqui.
Eu me divertia e também me sentia sufocado.
Ficava em solidão, assim como experimentava o aconchego deste mundo.
Tinha medo de morrer, mas revolta por estarmos presos.
Bem que dizem que o amor e o ódio andam de mãos dadas...