[POV Jhin]
Anúncios por todas as cidades mostravam que a famosa guilda Royal finalmente encontrou a localização da sala do boss do território.
Felizmente, todos os meus companheiros conseguiram alcançar o nível vinte. Havia uma clara evolução neles, pareciam mais determinados depois de terem ouvido que enfrentaríamos um boss.
Hoje, posso dizer que a Sabertooth era uma boa guilda, apesar de pequena.
Eu já estava no nível vinte e oito. Por vezes, pensava qual era o limite que um jogador poderia alcançar; apenas quatro territórios se passaram e eu já estava assim.
Bom, se considerarmos que mais de três meses se passaram, dá pra dizer que meu progresso individual é bom, mas o geral é um pouco abaixo das expectativas. Não tem problema, a tendência era que todos em AWO acelerassem ritmo daqui em diante.
Na casa da guilda, eu estava analisando um item que havia conseguido depois de matar um Mago Ocultista em uma das minha caçadas solo.
Amuleto dos Santos – Nv.2
"Este amuleto, confeccionado por uma freira pura, aumentará as suas chances de forja."
Interessante. Então, havia mesmo taxa de sucesso para itens construídos? Este não era um item raro, mas bem útil.
Sem que eu percebesse, Lilia se aproximou por de trás e me cutucou, fazendo com que eu me assustasse um pouco.
- Ah, algum problema? – Perguntei.
- Não, não, não! Na verdade, tenho uma coisa pra você!
Lilia convocou de seu inventário um item o qual me encheu os olhos: na mesa em minha frente, um bolo de chocolate suculento e de aparência formidável apareceu em um prato. Não vou negar que comecei a salivar, ainda não tinha tomado café da manhã.
- N-nossa...! Que bolo bonito! Mas pra que isso?
- É um presente! Sei que não é muito, mas queria te agradecer por tudo que fez pela gente... por mim até agora.
Céus, que sorriso... até mesmo eu caio nessa pose dela, que garota fofa. Tá, sei que não é de propósito, é o jeito da Lilia, ela é assim mesmo, não força essas coisas. Vou aceitar de bom grado, até por que, é um bolo muito bonito.
- Nossa, obrigado – segurei o garfo que estava ao lado do prato e me preparei para atacar, mas antes a olhei: - Só que... – peguei um pedaço -, você vai comer junto comigo!
- H-hein...?! – Ela se assustou um pouco com a minha intenção de dar um pouco de bolo a ela na boca.
- Vamos, vamos, coma, a primeira mordida é sua – aproximei o garfo de seus lábios, que mesmo tímidos, ainda se abriram devagar para receber o bolo.
Haha, eu sei que pode parecer estranho, mas foi mal Lilia, isso me pareceu bem divertido.
Me veio na cabeça em como seria passar um tempo somente com essa garota. Nos dávamos bem, ela era gentil, bem bonita e suas curvas me atraiam bastante, mas a verdade é que nunca tive tempo pra essas coisas aqui em AWO.
Ngh...! O... o que eu tô pensando?! Que porcaria! É sempre nestes momentos aleatórios que essas imagens vem na minha cabeça. Uh... acho que seria legal, talvez... mas pode não ser a hora pra essas coisas.
- E-eu... você é bem legal, Jhin... o melhor de todos... – ela murmurou tão baixo que quase não pude ouvir.
Espera...? Hein?! O que a Lilia disse?
Percebi que seu rosto estava bem corado, além disso, ela só olhava para baixo, parecia não conseguir me encarar. Uh... isso tá mesmo acontecendo? Quer dizer... eu não sou idiota ou coisa do tipo, a cena aqui é clara...
Eu não consegui evitar de olhar para aquela garota. Não entendi muito bem, mas instintivamente, toquei seu braço de forma gentil, o que a fez virar seu rosto para mim.
Não tinha me dado conta, mas nossos olhos estavam muito próximos um do outro...
- Uuuuh, que cansaço!!! – Ouvi a porta se escancarar.
Merda! O Batata entrou de repente na sala!
Droga... é claro que isso aconteceria. Parece uma situação extremamente clichê que já li em livros e vi em filmes, mas... meu Deus, passar por isso de verdade é a coisa mais estranha do mundo.
- Hã? Que que cês tão fazendo?
- Uh... – Lilia hesitou, parecia nervosa e não fazia ideia do que falar.
Eu COM CERTEZA não queria que nos pegassem em uma situação assim. Imagina a reação dos três se eu estivesse saindo com a dodói da guilda? Provavelmente eu seria vigiado o tempo todo...
- Matando o tempo, só isso – tentei responder o mais normal possível.
Ah... os dias junto da Sabertooth tem me agradado bastante. Eu resolvi o problema de me sentir mal por estar caindo em um comodismo, logo enfrentaríamos um boss poderoso e eu conseguiria dar sequência à vontade de Gunta.
Meus companheiros conseguiam acompanhar meu ritmo, isso era muito bom, pois mesmo eu levando mais jeito pra esse jogo do que eles, cada um tinha sua própria forma de evoluir, e pra mim isso era excelente.
Cain, em especial, era um monstro insaciável. Ouso dizer que ele tinha mais gana de caçar do que eu. Mesmo que fosse prudente, se arriscando em monstros de nível inferior para que não corresse risco, ele poderia passar uma semana inteira se esforçando no mesmo lugar só para aumentar um nível.
De fato, meu líder era alguém que eu respeitava bastante.
Nós estávamos a um dia da batalha contra um boss. Naturalmente, os nervos de todos estavam à flor da pele; ninguém conseguia parar quieto dentro da casa da guilda, e isso já me incomodava um pouco, mas é claro que eu entendia.
Quando enfrentei meu primeiro boss, meu coração tremeu de medo, mas eu tinha a ambição que herdei de Gunta para me apoiar, só assim consegui seguir em frente. Não sei se eles tem algo parecido, mas todo mundo deve encontrar um motivo pra lutar aqui, seja ele altruísta ou egoísta.
Graças à Cain, todos poderiam espairecer um pouco os ânimos. O líder sugeriu que fossemos em uma última caçada antes do chefe, para que aquecêssemos e ficássemos preparados para o combate.
Honestamente, eu não tô muito afim, já estava cheio de matar monstros do Território de Nivel Quatro, eles já não me davam mais tanta experiência e parecia cada vez mais difícil cair algum item interessante deles.
Cain disse que gostaria de ir a um lugar em que não fomos ainda, um local secreto que ele avistou há alguns dias e que poderia haver algum tipo de monstro especial escondido.
Fiquei em dúvida de qual lugar ele estava falando, afinal, se minha memória não falha, eu já tinha explorado todos os cantos deste nível. A minha vontade era de descansar em vez de fazer isso, mas não seria inconveniente, aceitaria os acompanhar.
Para minha surpresa, algo mais interessante apareceu:
- Aaaah! – O Cain exclamou, levando as mãos à cabeça.
- Qual o problema? – Lester perguntou.
- Lembra dos itens que eu queria arranjar? Eu esqueci que tinha que ir buscar o resultado deles! Droga! Eu fiz de tudo pra agilizar a tempo dia programado do boss.
O líder abriu o menu dele e viu que já era quase fim de tarde, e isso o desesperou um pouco, sabendo que provavelmente o ferreiro, que era um player, estava prestes a se retirar do trabalho.
- Ainda dá tempo? – Lilia o questionou.
- Sim, mas... eu queria os levar até o lugar onde falei... Bom, dá pra deixar meu item pra outra hora, né? Haha...
Era típico do Cain. Mesmo que seu rosto estampasse uma vontade imensa de ir atrás de seja lá o que mandou fazer, ele sabia que seria importante dar uma acalmada nos ânimos da guilda.
Aquela era uma oportunidade perfeita para eu relaxar um pouco sozinho. Além disso, estou curioso em relação a como funciona uma forja de um player.
- Líder – me interpus -, eu posso buscar pra você, se quiser.
- J-Jhin...? M-mas e a nossa aventura...?
- Não precisa se preocupar. Podem me levar uma outra hora.
- Valeu, Jhin...
O local onde o jogador que Cain solicitou a forja era na cidade dois deste nível. Me teletransportei para lá e me encaminhei o mais depressa possível, na esperança de que ainda estivesse funcionando.
Era em uma portinha em um beco afastado do centro. Será que Cain levou ali mesmo? Bom, não vou julgar. Ainda é muito cedo para a maioria dos players adquirirem propriedades médias ou grandes, nós mesmos estamos alugando uma pequena casa.
Entrei no local, que tinha uma iluminação suave. Eu adorava aquela temática medieval, e sempre quis estar em um lugar daquele jeito.
- Huh? Olá? – Um garoto de cabelos loiros e curtinhos se aproximou de mim.
- Hm? Você é o tal ferreiro?
- Eu mesmo!
"Jeremiah"
- Jeremiah... este é seu nome. Muito prazer, sou Jhin, membro da guilda do Cain.
- Aaaah, você é da Sabertooth!
- Nos conhece?
- Claro! O Cain me ajudou no começo de tudo. Ele ficava enchendo meu saco pra entrar, mas eu tô de boa! Só quero ficar aqui trabalhando bastante e ganhando meu dinheirinho pra sustentar minha família.
Que pensamento maduro para um moleque que não devia ter mais de treze anos... Espera, família?!
- Amor, já vamos fechar? – Uma garotinha muito bonita da idade de Jeremiah apareceu, e eu pensei por um segundo se aquilo era sério mesmo.
- Só um segundo, Mira.
"A... amor...?!" Meu queixo quase caiu.
- Sr. Jhin, essa é minha esposa: Mira.
"Esposa?!" Cara... essas crianças... E por que diabos eles parecem um casal de meia-idade?!
Escolhi ignorar o quão inadequada era aquela situação, afinal, isso é um jogo, que façam o que quiserem da vida deles. Mas era bem estranho...
Passadas as surpresas, Jeremiah me contou que gostaria de me mostrar uma coisa. Ao me levar até sua fornalha, abriu o menu e entrou na descrição do que estava sendo criado.
- Sr. Jhin, veja isto.
Li atentamente a aba que ele me indicou:
Fornalha de Forja
Objeto sem identificação pronto para confecção
Taxa de sucesso: 6,5%
Deseja continuar?
- Uh... pode explicar?
- Nunca vi um objeto sem identificação. Cain me trouxe uma Barra de Aço Nobre, Pó da Lua, Pérola Negra e um Cristal do Universo, além disso, me deu uma fórmula de um objeto, uma arma, pra ser mais preciso.
- Fórmula? – Era a primeira vez que ouvia sobre aquilo.
- Sim. Todos estes são itens com classificações raras, inclusive a fórmula. É preciso delas para confeccionar qualquer item.
- E o que tinha nisso?
- Algo que despertou minha curiosidade: dizia exatamente todos os objetos necessários para a criação, mas só tinha o desenho de uma meia-lua. Eu sei que é uma arma por que tinha na classificação da fórmula.
"Acho que nem mesmo o Cain sabia. Ele me disse que encontrou isso nas pedras atrás de uma cachoeira no nível dois."
"Quando eu juntei tudo e consegui dar sequência ao estágio final do preparo, isso apareceu. Eu nunca tinha visto um item sem identificação na forja antes."
Eu fiquei muito curioso. O que o Cain estava aprontando? Por que nunca nos contou isso? Agora que penso, ele sempre manteve segredo sobre esse assunto. Sei lá, talvez o próprio não saiba bem o que seja.
É normal que estes mistérios despertem curiosidade, eu mesmo estou louco para ver o que vai sair daí.
- Sr. Jhin, eu preciso de autorização para continuar. Estes são itens raros que dificilmente vão ser reunidos de novo tão cedo. Posso continuar?
Apesar de me sentir mal se falhasse, tenho certeza que se o Cain estivesse aqui, diria que sim.
- Toma isso, Jeremiah – retirei do meu inventário o Amuleto dos Santos que consegui e entreguei a ele. – Use, acho que vai aumentar as chances.
- Um amuleto! – Pela cara que o menino fez, parecia ser um item bem interessante. Ele o pegou e adicionou a sua criação através do menu.
- E então?
- Com minha grande aptidão em forja, posso usar esse amuleto, vai ser de boa ajuda, olha só:
Taxa de sucesso: 9%
- Só nove...? – Não consegui evitar de lamentar, esperava que ficasse maior.
- Isso já faz muita diferença. É um amuleto de nível dois e só deu isso, sinal de que é um item raro.
- Manda a ver, Jeremiah!
Observei ansioso quando ele levou seu dedo ao "avançar". A forja fez um barulho estranho, e um brilho começou a ser expelido de seu interior. Reparei a expressão de deleite no moleque, acho que ele amava o que fazia, realmente.
Então, uma mensagem de sucesso apareceu em nossa frente.
- CONSEGUIMOS! – Jeremiah comemorou como se o item fosse seu.
Em seguida, a aba mudou para outra. Eu li o que estava escrito com o coração acelerado, não acreditei naquilo:
"Espada da Meia-Noite"
Retirar
- Sr. Jhin, pode fazer as honras – Jeremiah me indicou a opção.
Quando apertei "retirar", um objeto se formou através de um brilho em minhas mãos. Tremi de excitação: era uma espada negra com detalhes em um amarelo suave, uma meia-lua no início de sua lâmina e outra no cristal brilhante com o aspecto do universo que ficava no fim de seu cabo.
Ao analisar, não encontrei nenhum atributo necessário para uso e nem o que ela proporcionava, tudo que dizia era seu próprio nome.
Será que era mesmo uma arma?
No entanto, após alguns segundos segurando aquele objeto fenomenal, senti um peso absurdo em minhas mãos e logo me inclinei para frente, caindo no chão.
- Você tá bem?! – Jeremiah exclamou.
- Argh...! Que que é isso?! Que negócio pesado!
- Será que você não consegue usá-la?
- Não tem nenhuma exigência!
- Que item curioso... Sugiro que envie ao seu inventário, depois pode passá-lo pro Cain, ou não vai conseguir se mover.
- Ack... t-tá! – Eu fiz como Jeremiah disse e levantei imediatamente.
- É isso! Mais um belo trabalho concluído!
- Quanto nós te devemos?
- Não se incomode com isso. Olha só...
Ele me mostrou sua aptidão em forja:
Nível: 34
Trinta e quatro?! Esse moleque é realmente maluco por isso!
- Graças à isso eu acabei de ganhar três níveis na minha aptidão favorita! Foi demais! Diga ao Cain que está tudo bem!
- Obrigado, Jeremiah.
Assim que o agradeci, ouvi pequenas notificações vindas na minha caixa de mensagens. Era possível mandar textos para pessoas que estavam em sua lista de amigos, não importava em que cidade ou território se encontravam.
O que vi me deixou nervoso. Lilia me mandou um pedido de socorro desesperado, assim como a localização deles.
MERDA!
Eu não sabia... Se soubesse...!
PORCARIA!
O que tá acontecendo aqui...?! Não, não, não...
Eles estavam no único lugar onde não deveriam estar!