Chapter 2 - Vai se foder

O que um simples coelho pode fazer para enfrentar um leão?

Mesmo que se recuperasse aos poucos, era difícil para Davi encontrar as forças para se levantar. Ele era realmente fraco, absolutamente impotente.

"O que eu posso fazer?" O garoto murmurou para si mesmo conforme tentava se levantar.

Com um esforço enorme, Davi forçou seu corpo a se mover. Primeiro, suas mãos buscaram apoio no chão, e ele tentou empurrar seu corpo para cima. Seus braços tremiam descontroladamente, e sua visão estava embaçada, tudo girando em torno dele.

"É com essa força ridícula que vai se tornar um explorador?" Com um genuíno desprezo na voz, Norman riu levemente.

Davi desejou mais que nunca poder acertar um soco no seu maldito pai. Se ele só pudesse acertar o rosto daquele homem de merda com toda a força.

O garoto respirou fundo, ou pelo menos tentou. Cada tentativa de puxar o ar era um ato de pura força de vontade, como se o próprio oxigênio estivesse se recusando a entrar em seus pulmões. 

E finalmente ele conseguiu ficar de pé, com seu corpo ainda tremendo.

"Você acha que pode ir para a Enki e ser um explorador? Você mal consegue ficar de pé!"

Davi não respondeu. Em vez disso, concentrou-se tentando superar o medo profundamente gravado no seu corpo. Ele precisava encontrar uma forma de vencer.

Foi naquele momento que ele sentiu a brisa bater no seu corpo. O vento forte fez seu longo cabelo castanho tremular. Então uma ideia passou pela sua cabeça.

Talvez seja possível, mas preciso aguentar um pouco mais.

Davi pensou, conforme ele entrava em posição de combate. Já no primeiro passo que tentou dar para frente ele cambaleou quase caindo. No entanto, usando o último resquício de força que tinha, ele firmou os pés no chão.

"Sim, eu posso ser um explorador mesmo que não seja tão poderoso assim." Não tinha como ele ganhar tempo lutando, mas ele podia enrolar um pouco com palavras.

"Sério, como?"

Davi começou a argumentar desesperadamente, tal qual o vento trazia mais e mais fuligem, piorando a virilidade aos poucos. 

Norman notou aquilo, mas não conseguia imaginar como um pouco de fumaça seria um problema, afinal ele podia sentir a presença de mana ao seu redor.

Por fim o homem arrogantemente deixou seu oponente seguir com seu plano. E finalmente quando a visibilidade já estava ruim, Davi se moveu.

O garoto concentrou energia nas suas mãos, então disparou na direção do brutalmente diante de si, reiniciando a luta.

Norman naturalmente bloqueou o golpe com facilidade, achando a tentativa de ataque ridícula. Contudo foi naquele instante que o vento soprou mais forte, trazendo ainda mais fuligem, ao ponto que manter os olhos abertos era impossível.

O brutamonte então apenas fechou os olhos e se concentrou em sentir a energia ao seu redor. Claro, ele podia dispersar aquela fuligem em um instante. Na verdade era isso que ele fazia todos os dias quando o vento trazia aquela névoa desagradável para sua casa. Contudo aquele homem era profundamente arrogante e decidiu pagar para ver.

Davi respirou profundamente, agradecendo pela oportunidade que tinha recebido. Então ele forçou o seu corpo ao limite usando o resquício de energia que havia dentro dele.

O garoto usou sua manipulação de mana para criar três versões dele mesmo feitas de mana. Seu pai podia sentir a presença da energia, mas a quantidade natural de mana do Davi era tão baixa, que ficava impossível diferenciar os falsos do real. Da mesma forma, é impossível para o olho humano notar a diferença entre dois ou três milímetros.

Então ele avançou com tudo o que tinha.

Norman encarou aquilo como se fosse patético e, com um estalar de dedos, disparou raios na direção dos quatro inimigos que se aproximavam dele. 

O brutamonte sequer precisava pensar em qual era o real ou não, bastava atacar tudo ao seu redor.

Por isso Davi viu uma tempestade de raio avançar em sua direção. E ao notar aquilo ele sorriu levemente. Por sorte, seu pai seguia sendo um idiota arrogate.

Ele respirou profundamente, então avançou o mais rápido que podia, andando diretamente para a tempestade de raios. Ele podia não ser capaz de desviar daquele golpe, mas se ele conseguisse atravessar, talvez pudesse pegar aquele homem de surpresa.

Davi sentiu os raios queimarem a sua pele e uma dor insuportável se espalhou por todo o seu corpo. Sua visão ficou turva e por um instante ele achou que perderia a consciência, ainda assim o garoto deu um passo adiante.

E com o que lhe sobrava de forçar, ele conseguiu forçar seu punho para frente, finalmente atingindo o musculoso braço esquerdo do seu pai.

Então o garoto caiu de joelho no chão. Todo o seu corpo gritava de dor e ele mal conseguia respirar. Ainda assim, naquele momento ele levantou a cabeça e pela primeira vez conseguiu encarar seu pai sem sentir medo.

Davi tossiu sangue e sentiu que estava prestes a desmaiar, ainda assim se levantou. E encarando aquele homem que ele tanto odiava, ele juntou o que lhe restava de forças e repetiu uma frase que já tinha ouvido muitas vezes:

"Eu ganhei, fracassado."

Incapaz de aceitar a própria derrota, a primeira reação de Norman foi agarrar a cabeça do seu filho e chocá-la contra o solo, rachando o piso da sua arena. Ele odiava aquele tipo de truque patético, além do mais o soco tinha sido tão fraco que mal contava como golpe. 

Acima disso tudo ele só perdeu porque o garoto deu sorte de o vento trazer a fuligem exatamente naquela hora. Além de ter dado sorte que ele não tinha disparado a fuligem. Aquele era uma vitória verdadeiramente patética.

Contudo, por mais que o brutamonte não reconhecesse aquela vitória, ele ainda era alguém que cumpria com sua palavra. 

Sem se preocupar muito com seu filho que estava quase morto no chão, ele transferiu uma soma considerável de dinheiro para o garoto. 

Dito isso, ele mandou uma mensagem para um conhecido seu da Academia Enki. Ele não ia deixar o garoto entrar e envergonhar o nome da sua família.

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Depois de algum tempo, Davi finalmente conseguiu se levantar e viu que tinha sido abandonado naquele chão frio. Ele queria gritar, reclamar com seu lixo de pai, mandá-lo se foder. Ainda assim, tudo o que ele podia fazer era se levantar com dificuldade e agradecer que pelo menos tinha conseguido o dinheiro que precisava.

Seu corpo estava completamente tomado por cansaço, ainda assim como podia ele caminhou até a sua casa. Ele não tinha quebrado nenhum osso, por isso provavelmente se recuperaria sozinho.

Chegando em casa, ele só conseguiu se deitar na cama exausto. Então ele suspirou, pensando em como queria que sua família fosse diferente.

Contudo ele rapidamente afastou esses pensamentos idiotas.

Querendo sentir um pouco de felicidade, ele encarou seu celular. Ele tinha recebido o dinheiro que tanto precisava.

Além disso, ele sorriu levemente vendo as mensagens da sua melhor amiga e decidiu avisar que finalmente tinha conseguido o suficiente. Davi levou o celular para perto do peito, pensando que finalmente seria livre. Que finalmente poderia encontrar seu amigo, com quem só tinha falado pela internet.

Ele sorriu levemente e rapidamente ela o respondeu, dizendo que já estava em casa e que eles deveriam entrar em uma chamada de vídeo.

O garoto concordou, afinal ele queria poder comemorar com ela. 

E logo ele estava encarando os olhos intensamente azuis e um rosto bonito da Luna. Seu longo cabelo preto estava bagunçado como de costume, e ela vestia roupas largas e confortáveis, afinal estava em casa.

Como sempre, o coração do garoto palpitou e sua pele ficou levemente ruborizada. A beleza daquela garota sempre o impressionava.

"Você está bem, o que aconteceu?" Sua amiga perguntou, assim que viu o estado do seu amigo.

Davi riu levemente e tentou fingir que não tinha sido nada, mas obviamente não tinha como esconder o quanto ele estava acabado. No fim, ele disse a verdade, contando a história por completo.

Luna ouviu atentamente, encarando com pesar o seu amigo. Ela não podia deixar de sentir uma raiva profunda tomar o seu peito vendo toda aquela injustiça.

Ainda assim, tudo o que ela podia fazer era dizer algumas palavras gentis. Além do mais, aquele era um dia de comemoração, por isso eles não falaram muito sobre o assunto.

Apesar da dor, Davi não pode deixar de sorrir nem por um instante, enquanto jogava e conversava com sua preciosa amiga.

Claro, ele também já não podia negar os sentimentos que cresciam em seu peito. Já fazia tempo que ele sentia aquilo: amor.

Um frio na barriga o tomou só de pensar em se declarar. Dito isso, Davi não era o tipo de pessoa que deixava de fazer ou dizer algo por medo. 

Contudo ele reprimiu aqueles sentimentos por muito tempo. Ele não sabia se seria capaz de ir para a Enki e não queria ser um estorvo para sua amiga. 

Além do mais, ele sabia que não teria tempo para ela, enquanto estava trabalhando sem parar na mina. Mas e agora?

Talvez não fosse o melhor momento, contudo esperar ainda mais parecia um erro. E indeciso sobre o que fazer, Davi concluiu que era melhor pelo menos fazer isso de forma mais romântica. 

"Você vai ter tempo amanhã pela tarde?" O garoto perguntou, quando os dois já estavam para finalizar a chamada.

"Bem…" Luna ia dizer que não, mas vendo o olhar do Davi, ela decidiu que mudaria sua agenda. "Para você eu sempre tenho. Mas não quer passar seu último dia aqui com conhecidos?"

Davi sorriu e respondeu, "Obrigado… E você sabe que eu não tenho ninguém a quem me despedir." Ele simplesmente deu de ombros. "Além do mais, posso falar com as pessoas pela manhã. Eu realmente queria conversar com você."

"Ok, te vejo amanhã, então!" O sorriso da Luna era sempre tão lindo, ele preenchia o coração do garoto de paz.

Então sentindo aquele calor se espalhar por seu corpo, Davi desligou o celular e fechou os olhos. Ele estava realmente feliz em poder deixar aquele lugar e finalmente conhecer sua melhor amiga pessoalmente.

Então…

[Você subiu para o nível 25]

Então a mensagem ressoou de forma surpreendente. Ele sorriu um pouco, talvez aquele realmente fosse o momento de começar uma nova vida.

Ao abrir o sistema, ele encontrou:

Perfil:

Nome: Davi Motolitte

1° Classe: Escavador Lv 25

2° Classe: ??????

Habilidades:

Resistência térmica Lv 3Excavar Lv 12Escudo Lv 1Manipulação de mana Lv 31

Status:

Força: 25Resistência: 29(+5)Velocidade: 24Stamina: 32Inteligência: 25(-2)

Títulos

{Filho da ?????}

Efeito: Concede acesso a uma segunda classe.

Requisito: Obtenha uma namorada e tenha uma relação íntima com ela para que sua segunda classe seja escolhida.

{Aquele que fracassou}

Efeito: Instabilidade mental em algumas situações. -2 inteligência.

{Aquele que resistiu a condições de trabalho desumanas.}

Efeito: resistência básica a situações adversas. +5 resistência.

Como assim obter uma namorada? Claro, ele já pretendia se declarar para a Luna, mas agora as coisas acabariam ficando esquisitas.

Se ele contasse para ela sobre sua segunda classe, talvez a garota achasse que ele só queria namorar com ela por causa disso. 

Ou pior, ela podia achar que aquilo era apenas uma desculpa, para convencê-la a fazer coisas indecentes. Afinal, uma relação íntima fazia parte das condições.

Para começo de conversa, o que definia uma relação íntima?!

O problema era que ele também não podia esconder isso, afinal sua amiga já sabia sobre o título e a condição de chegar ao nível 25. Além do mais, ele não queria esconder nada dela.

"Ahh! Que saco!" ele gritou, enquanto se debatia na cama pensando no que fazer.

No fim, ele ainda decidiu que ser honesto era a melhor solução para o seu problema. Bastava que ele transmitisse os seus sentimentos e ela provavelmente entenderia.

Isso, claro, se ela só não rejeitasse ele… 

Naquela noite, Davi não conseguiu dormir, tal qual tinha pesadelos com um monstro aterrorizante: a friend zone.