Chapter 12 - CAPITULO 12

Com a febre de Letícia controlada, Laurenn pôde respirar aliviado. A angústia de perdê-la, como acontecera com sua mãe, lhe era insuportável. Visitava-a com frequência, certificando-se de sua recuperação. 

 

Aproveitando a melhora da irmã e a ausência de Laurenn, que fora aconselhá-la a repousar, Rachel decidiu colocar em prática seu plano de seduzir Aleph. 

 

Informou-se com sua dama de companhia sobre o paradeiro do cavaleiro, descobrindo que ele se encontrava na biblioteca. 

 

— Ele é o homem mais fascinante deste reino — pensou Rachel, com determinação. — E será meu. 

 

Na biblioteca, Aleph estudava atentamente os livros de história indicados por Letícia, consultando também outros documentos antigos. Sua concentração, porém, não o impediu de perceber a aproximação de Rachel. Sem levantar os olhos do livro, perguntou: 

 

— Em que posso ajudá-la, Lady Rachel? 

 

Rachel, ignorando a falta de formalidade, contornou a mesa com um sorriso sedutor. 

 

— Soube que partirá em breve, Sir Aleph — disse, pousando a mão em seu braço com um toque insinuante. — Por que não nos divertimos um pouco enquanto há tempo? Imagino que esteja desocupado agora que a princesa está doente. 

 

Aleph olhou friamente para o ponto onde ela o tocara e fechou o livro. Rachel, inabalável, inclinou-se sobre ele, sussurrando em seu ouvido: 

 

— Poderíamos… encontrar um lugar mais reservado. 

 

— Seria uma proposta interessante... — começou Aleph, com um tom enigmático. 

 

Rachel sorriu, interpretando sua hesitação como interesse. Mas Aleph completou a frase com uma frieza cortante: 

 

— … se eu estivesse interessado. 

 

Levantando-se, recolheu seus livros e se dirigiu à saída, dando as costas a Rachel sem hesitar. 

 

— Como ousa?! — explodiu Rachel, furiosa. — Serei a futura rainha deste reino! Deveria obedecer às minhas ordens! 

 

—Eu escolho quais ordens desejo seguir — respondeu Aleph, sem se virar. — E certamente não serão as suas. Aliás, se pretende continuar com essa atitude, aconselho-a a ser mais cautelosa. 

 

A arrogância de Aleph a enfureceu ainda mais. Como ele, um simples cavaleiro, ousava rejeitá-la e ainda tratá-la com tamanho desdém? 

 

"Não aceito ser humilhada dessa forma!" — pensou Rachel, cercando os punhos. — "Quem ele pensa que é?! Ele vai pagar por isso!" 

 

Rachel, consumida pela raiva e pela sede de vingança, jurou a si mesma que faria Aleph se arrepender amargamente de sua ousadia. 

 

Na manhã seguinte, com Letícia se recuperando lentamente, Laurenn convocou Aleph a seu escritório. 

 

— Letícia partirá em breve para o Reino do Outono — começou Laurenn, com um tom sério. — Sei que não deveria pedir isso, mas… você poderia protegê-la durante a viagem? 

 

Aleph permaneceu em silêncio por um momento, os olhos fixos em algum ponto distante. 

 

— A determinação e a força da princesa, mesmo diante da adversidade, me inspiram — respondeu, finalmente. — Não posso deixá-la enfrentar esses perigos sozinha. Irei aceitar a sua solicitação. 

 

Apesar da decisão, uma promessa ainda o prendia. Aleph tinha uma dívida de gratidão com alguém, uma pessoa que salvara sua vida no passado, e jurara retribuir o favor. Ainda não havia reencontrado essa pessoa, mas a promessa permanecia viva em seu coração. 

 

"Ainda não a encontrei, mas quando isso acontecer, minha lealdade será inteiramente dela, independentemente de qualquer coisa." — pensou. 

 

Hesitante, Aleph decidiu abordar um assunto delicado. 

 

— Há algo que… não sei se devo dizer… 

 

— Pode falar que irei lhe escutar. 

 

— Reconsidere seu noivado — disse Aleph, com franqueza. — Esse casamento foi arranjado pelo rei Hayden. Você tem certeza de que isso é o correto a se fazer? 

 

— Como posso recusar quando minha irmã foi submetida à mesma situação? — argumentou Laurenn. 

 

— São situações diferentes — insistiu Aleph. 

 

— Não vejo diferença — rebateu Laurenn, com teimosia. 

 

— Sei que não deveria interferir, mas você deveria assumir o trono o quanto antes — continuou Aleph, ignorando a objeção de Laurenn. — E evitar… 

 

Aleph se deteve em falar. Não podia interferir nos assuntos internos de outro reino, nem revelar informações confidenciais sem provas concretas. 

 

— Não posso dizer mais nada, Laurenn. Cabe a você descobrir a verdade. As diretrizes do Mestre Yoshi são claras: um príncipe visitante não pode interferir na política de outro reino. 

 

— Faz tempo que não conversávamos assim, desde o treinamento com Mestre Yoshi — comentou Laurenn, nostálgico. 

 

— Aprendi muito naquela época — concordou Aleph. — Mas você também. Seus relatórios na biblioteca são impressionantes. 

 

— Obrigado — respondeu Laurenn, mas a tristeza persistia em sua voz. — Mas a pessoa cujo reconhecimento eu mais desejo… continua a me desprezar. 

 

— Sua falta de confiança é infundada, Laurenn. Acredite em si mesmo. Não dependa da aprovação dos outros. 

 

— Mas a aprovação dele é importante para mim… — insistiu Laurenn, a voz carregada de angústia. 

 

... 

 

Após concluírem o rigoroso treinamento com o Mestre Yoshi, os príncipes herdeiros embarcam em um intercâmbio em outro reino, uma experiência prática para aprimorar seus conhecimentos sobre diferentes modelos de governança. Geralmente, esse intercâmbio se concentra em atividades administrativas, permitindo que os príncipes observem e aprendam com as práticas de outras cortes. 

 

Em casos excepcionais, a pedido do próprio Mestre Yoshi, o intercâmbio pode se estender a outras áreas, como diplomacia, comércio ou artes militares. Nesses casos, o Mestre envia um comunicado oficial ao reino escolhido, informando o rei ou o príncipe herdeiro sobre o início do treinamento especializado. Dependendo dos objetivos do Mestre, a identidade do príncipe em treinamento pode ser mantida em sigilo, mesmo em relação às autoridades do reino anfitrião. 

 

Essa discrição garante que o príncipe experimente a realidade do reino sem privilégios ou tratamento diferenciado, permitindo-lhe uma imersão completa na cultura e nos costumes locais. Em situações de perigo, o príncipe pode apresentar um símbolo de autorização real, comprovando sua identidade e garantindo sua proteção. 

 

Durante o intercâmbio, o príncipe visitante está sujeito a regras rígidas: não interferir na política interna do reino anfitrião, respeitar suas leis e tradições, e manter sua identidade real em segredo, a menos que seja absolutamente necessário. Essa experiência transformadora visa preparar os futuros governantes para os desafios da liderança, fornecendo-lhes uma visão ampla e diversificada das complexidades da governança.