Em uma cidade do reino do Inverno, alguns guardas do reino estavam oprimindo os cidadãos que trajavam roupas desgastadas e possuíam um aspecto emagrecido. Os cidadãos estavam contrariados, pois estavam confiscando a produção de mantimentos daquela vila, eles não tinham nem para sua subsistência.
— Vocês não podem levar! Já não levaram o suficiente a semana passada.
— Vocês não podem pensar somente em vocês, as outras pessoas do reino também precisam se alimentar. — disse o guarda empurrando com rudez a senhora.
— Estamos trabalhando, mas estamos passando fome, não é o suficiente nem para a gente, como você quer dividir. — disse um dos cidadãos, puxando um saco de comida.
— Se tem pouca comida devíamos dividir igualmente você diz?... A comida tem que ser apenas para aqueles que precisam sobreviver, alguns precisam ser sacrificados e nesse caso seriam vocês. Um trabalhador descartável como você deveria simplesmente morrer.
Letícia estava passando pela estrada próximo aquela cidade, não compreendeu a situação da aglomeração, eles observaram a distância, quando ela compreendeu a situação superficialmente e não podia aceitar que os cidadãos do reino fossem tratados daquela forma. Ela se interpôs ao escutar a última fala do guarda.
— Retire o que disse. Isso é não é algo que se diga a um cidadão do Reino, todos são importantes.
— E quem é você para se intrometer.
O guarda de aspecto rude levantou a mão para golpear Letícia, Aleph o deteve com o olhar penetrante, segurando com firmeza o punho do guarda. O guarda puxou imediatamente seu braço e recuou devido ao medo que sentiu como se Aleph o fosse matar apenas com o olhar, mas logo em seguida pôs a mão sobre a espada como se estivesse prestes a sacá-la. Aleph se adiantou e mostrou a insígnia do Reino do Inverno, o guarda deteve a mão da empunhadura, percebendo que eram pessoas que não poderia contrariar, logo se aproximou com uma atitude bajuladora.
— O que pessoas tão importantes como vocês estão fazendo por aqui?
Uma senhora idosa com um aspecto emagrecido se aproximou de Letícia e lágrimas começaram a percorrer seus olhos, pois não sabia a quem recorrer, pois a situação do vilarejo estava crítica.
— Por favor, nos ajudem eles querem levar nossa comida, iremos morrer de fome.
O chefe do vilarejo que já estava cansado dessa situação havia desistido de intervir se aproximou e explicou a situação para Aleph e Letícia, o guarda quis se interpor para contrariar a fala do chefe do vilarejo, porém Letícia forneceu atenção a ambas as partes escutando o que tinham a dizer, logo após ordenou aos guardas que retornassem sem levar os mantimentos da população e entregassem uma carta ao rei Hayden, nela explicava e sugeria uma alternativa para remediar aquela situação.
Os cidadãos estavam empolgados, pois sentiram como se finalmente algo iria mudar e logo o chefe do vilarejo os questionou.
— Ouvi dizer pelos guardas que o Reino fez um acordo econômico com o Reino do Outono. Isso é verdade?
— É verdade — confirmou Letícia.
— Espero que o acordo dê certo, pois poderemos viver um pouco melhor. A comida que produzimos não está sendo capaz de suprir todo o reino.
As pessoas começaram a comentarem entre si, falando que o boato do acordo econômico era real. Esta era uma situação inesperada para Letícia, pois ela não tinha uma imagem completa da real situação do reino e pode perceber pelas expressões daquela população sofrida que ela não poderia ser a causa da discórdia entre os dois reinos, pois a população dependia desse acordo para prosperarem novamente e se alimentarem adequadamente.
Letícia se recordou de algo que o rei Hayden havia lhe informado que caso o casamento não fosse realizado, o reino do outono cancelaria o envio dos suprimentos e não realizaria o acordo econômico.
Eles foram bem recebidos pela população do vilarejo, apesar de não terem muito para compartilhar, eles queriam agradecer a ajuda que esses forasteiros haviam prestado e realizaram um jantar conjunto próximo a fogueira. Alguns jovens estavam dançando enquanto dois aldeões tocavam flauta. A imagem da felicidade daquela população se unindo com a música e as labaredas da fogueira deram um significado diferente para a missão que Letícia precisava cumprir. Ela estava encantada com aquela alegria contagiante, a esposa do chefe do vilarejo se aproximou de Letícia e perguntou:
— A senhorita devia se unir a dança.
Letícia sentia um desejo de se unir aquela comemoração, mas não seria apropriado para a posição que ocupa. A senhora se aproximou de Aleph e o empurrou com o cotovelo.
— O que você está esperando? Chame a moça para dançar!
Aleph se levantou de seu assento e ofereceu sua mão com uma postura de cavaleiro, Letícia hesitou por um instante, mas a torcida da esposa do chefe do vilarejo lhe incentivou a aceitar.
Era uma dança típica daquele vilarejo, em que as pessoas ficavam mais distantes, apenas tocando-se pelas mãos quando iriam realizar giros e rodopios. Eles dois não sabiam ao certo os passos sincronizados da dança, mas estavam se divertindo com aquela alegria contagiante.
Logo o chefe do vilarejo se aproximou de sua esposa e comentou animado.
— Eles não sabem nenhum passo da dança.
— O importante é estarem se divertindo.... Eles formam um casal lindo.
— Não mais lindo que a gente. — disse e logo a convidou para dançar.
Na manhã seguinte, Letícia estava dormindo tranquilamente quando acordou ao escutar um estrondo, Aleph veio imediatamente até o quarto que Letícia estava hospedada e disse com uma voz aflita para que ela se apressasse, eles precisavam escapar. Letícia rapidamente organizou seus itens, não compreendeu o que estava acontecendo, mas ao sair da pousada não acreditou no que estava olhando.
Várias pessoas corriam desesperadas, algumas casas estavam pegando fogo, pois shineideas corriam montadas em cavalos ateando fogo nas casas para que ninguém pudesse se esconder. Um rapaz se aproximou correndo, ele estava desesperado, algumas partes de sua roupa estavam queimadas, porém ao passar por eles, Aleph o deteve para pedir informações. O rapaz respondeu com uma voz embargada, enquanto segurava sua testa com uma expressão de pânico.
— As shineideas estão atrás de alguém, se não encontrarem vão matar a todos.
Logo após, saiu correndo em desespero. Aleph virou-se rapidamente e segurou a mão de Letícia.
— Para sua segurança, precisamos fugir daqui imediatamente.
Aleph percebeu que as mãos de Letícia estavam trêmulas, mas com um olhar determinado de compaixão, desejando ajudar aquelas pessoas que estavam sofrendo nas mãos das shineideas. Letícia estava hesitante por um lado, pois nunca havia lutado contra uma shineidea, mas não podia simplesmente deixar aquelas pessoas e fugir.
Aleph também estava preocupado com os cidadãos do vilarejo, ele queria fazer o possível para ajudá-los, mas tinha uma missão que era proteger Letícia, ele a puxou pela mão e seguiram por outro caminho, evitando locais que haviam shineideas.
A situação estava se agravando, o fogo começou a se espalhar por todas as casas, as pessoas que saiam eram imediatamente capturadas e interrogadas, as que não respondessem eram imediatamente mortas.
Uma família saiu de uma casa em chamas, a primeira a sair foi uma mulher com uma criança em seus braços, porém sem aviso prévio recebeu em seu peito o ataque da shineidea, caindo sem vida ao solo, enquanto a criança que estava em seus braços, se levantou e aos prantos balançava o ombro da sua mãe, a chamando, porém sem resposta, enquanto o pai da criança estava em choque imóvel. A shineidea se posicionou para cortar a criança com uma katana com a uma lâmina violeta. A lâmina se chocou com um objeto contundente, era a lâmina da espada de Aleph que se interpôs no ataque, chicoteando a espada da shineidea para longe, ele imediatamente atacou eliminado a shineidea. O pai da criança conseguiu sair do estado de choque, pois sentiu que naquele momento teve a vingança pela morte de sua esposa, segurou seu filho e fugiu daquele local.
Quando as shineideas que estavam ao redor perceberam que sua companheira foi eliminada, voltaram sua atenção para Aleph, largando as pessoas que estavam interrogando. Porém, uma delas estava ainda segurando uma pessoa apontando uma adaga para o pescoço da vítima e disse olhando para Aleph.
— Somente iremos parar quando encontrarmos a princesa Letícia. — gritou uma das shineideas, enquanto cortava o pescoço do cidadão.
Essa shineidea levantou sua espada, ordenando que as outras reiniciassem o ataque.
Quando ouviu o que a shineidea disse, Letícia se sentiu extremamente culpada por aquele incidente.
— "As shineideas estão matando todas essas pessoas, apenas para me encontrarem!"
Aleph não sabia ao certo porque as shineideas estavam atrás de Letícia e realizando tantos esforços para capturá-la. Então, se questionou como elas sabiam sobre a localização deles, então cogitou uma hipótese.
— "Somente se foi...O que ele ganharia com isso."
Letícia queria que aqueles ataques parassem, à medida que os ataques prosseguiam mais pessoas perdiam suas vidas. Diante dos seus olhos, se deparava uma cena em que dezenas de pessoas estavam morrendo e que ela unicamente era a causa daquilo. Ela subiu em cima de um palco e chamou a atenção das shineideas e gritou para que pudessem escutar.
— Sou a pessoa que vocês procuram. Parem os ataques!
As shineideas ao escutarem pararam imediatamente e todas voltaram sua atenção para Letícia, elas estavam se aproximando com as espadas em punho, Letícia desembainhou rapidamente a espada e se defendeu dos ataques consecutivos das shineideas. Porém, seus ataques não produziam efeito nas shineideas, era como se a lâmina passasse pelo inimigo, mas não produzisse efeito algum, era como golpear o vento, porém estava mais aliviada, pois as shineideas pararam de atacar os cidadãos.
Aleph não se afastou de Letícia, nem por um instante, olhou em todas as direções, procurando uma forma de escapar sem ter que utilizar a habilidade que estava procurando esconder. Aleph estava conseguindo se desvencilhar dos ataques e contra-atacar efetivamente o que impressionou Letícia, pois ele havia demonstrado anteriormente a habilidade de eliminar shineideas. Letícia percebeu a preocupação de Aleph, talvez estivesse pensando em como eles iriam derrotar todos aqueles inimigos. Porém, mesmo demonstrando a habilidade de eliminar shineideas parecia que ele estava se contendo, pois estava diferente de quando lutou contra Laurenn, porém ela não tinha tempo para refletir sobre isso, pois precisava se defender dos ataques das shineideas.
Um grupo de shineideas os haviam cercado, Aleph conseguiu se defender de todos os ataques, porém as shineideas começaram a achar graça. Letícia estava preocupada.
— "São muitas shineideas, como poderemos dar conta de todas elas... E, além do mais, proteger as pessoas desse vilarejo.
Os cavaleiros reais apareceram, porém não conseguiam infligir nenhum dano as shineideas, mas a sua chegada produziu o efeito contrário nas shineideas, pois elas intensificaram o ataque. Alguns desses guerreiros estavam priorizando proteger a população, mas alguns perderam suas vidas sob as lâminas das shineideas. Disseram para eles mesmos que não tinham medo de morrer contanto que conseguissem expulsar as shineideas do vilarejo e proteger os cidadãos.
Aquela cena em que as chamas tomavam conta das casas, pessoas estavam deitadas sem vida espalhadas em todas as direções, vários soldados tentavam lutar sem a mínima possibilidade de vitória completamente machucados, pessoas correndo desesperadas, preenchiam os olhos e a mente de Letícia.
— "Se apenas eu tivesse a habilidade de derrotá-las. Fiz o treinamento, mas não tinha atingido essa capacidade. Não irei conseguir proteger as pessoas desse vilarejo."
Aleph percebeu que Letícia estava se sentindo culpada pelo fato de não estar conseguindo derrotá-las, apesar de estar se defendendo bem. Porém, a segurança dela era fundamental, afinal ele havia prometido protegê-la durante a viagem. Aleph iria sugerir que eles deixassem aquela situação com os soldados. Porém, as shineideas começaram a atacar novamente as pessoas do vilarejo, foi que nesse momento, Letícia viu diante de seus olhos, o chefe do vilarejo ser atingido mortalmente pelas costas com um golpe de espada, sem nem ter a possibilidade de se defender.
Letícia se distraiu devido ao choque de tal cena, um dos shineids se aproximou de Letícia pelas costas e atacou na vertical de cima para baixo, ela apenas se virou, porém Aleph a havia protegido, porém ele estava bastante ferido.
Letícia estava imóvel depois daquela cena, alguém que havia sido tal gentil no dia anterior havia morrido daquela forma, um dos shineids percebendo a situação dela, levantou a espada para atacá-la na vertical de cima para baixo sem prévio aviso, Letícia detectou a aproximação do shineid, porém sabia que não daria tempo de se defender do ataque, quando sentiu aquela sensação quente do sangue em suas mãos, ela olhou adiante e Aleph a havia protegido, porém havia sido atingido profundamente no ombro direito.