Assim que o intervalo começou, Grace foi atrás de Scott. Quando ela viu o garoto se afastando de seus amigos e o pequeno drone voando atrás dele, ela soube quem eram os Mirai.
Ela se aproximou e esmagou o drone em pleno ar com uma velocidade exorbitante. Scott ficou de olhos arregalados vendo aquilo.
-Vem, garoto. -Ela disse. -Preciso falar com você.
Scott não questionou. Ele seguiu Grace até a pedagogia. Estava vazio lá dentro.
-É... -Ele olhou em volta quando ela fechou a porta. -Eu fiz alguma coisa?
-Supostamente sim. -Grace fechou a janela que dava para o pátio. -Eu percebi que tinham algumas "moscas" assistindo as pessoas da sua turma. -Ela fez sinal de aspas.
-É. Todo mundo percebeu já. Eu só ignorei porquê deve ser algum aluno com fogo no...
-Erro seu. Esses drones apareceram depois que o Tristan voltou. Alguém tá observando vocês.
-Drones? Mas por quê?
-Bem... -Ela coçou a cabeça. Ele não tinha percebido que eram drones? -Você e os seus amigos todos ficaram bem próximos da Claire do nada. Daí o Tristan volta... Seja quem for, já percebeu que vocês são os Mirai.
Scott arregalou os olhos.
-Merda...
-É. Bem, eu tô aqui pra ajudar. Primeiro, vocês são os únicos Mirai?
-Não... -Scott parou e pensou. Seria mesmo uma boa ideia contar sobre Erine? -Quero dizer, a gente é, mas agora só. O nosso amigo falecido era também.
-Qual era o nome dele mesmo?
-Joe. Joe Ardens. -As autoridades haviam noticiado o nome de Joe como "Ardens" para proteger a identidade de Erika.
-Entendi, entendi. Bem, eu acho que você já entendeu que estamos com sérios problemas. Alguém está observando vocês. Tenha cuidado.
Scott olhou em volta. A sala toda fechada.
-Professora... -Ele coçou a cabeça. -Sabe... O quê você fazia pra se acalmar quando seu pai começava a ter problemas com... Você sabe, as bebedeiras que você falou...
-Eu me escondia. Eu me trancava no meu quarto. Às vezes no banheiro. Mas quando ele estava surtando e me assustando, eu acabava abrindo a porta...
-Desculpa por perguntar isso. Esquece.
-O quê foi?
-Nada.
-O quê foi, Scott?
-Eu já disse que... -Ele olhou para Grace. -Ah, é que meu pai bebe bastante também. Às vezes ele bate na minha mãe e eu não sei o quê fazer. Eu me tranco no quarto com meus irmãos para ele não bater neles. Mas...
-Mas não quer ver sua mãe apanhando enquanto se sente impotente?
-É. Eu não sei o quê fazer...
-Bem, você vai ter que enfrentar ele, cedo ou tarde. Se sua mãe ficar sozinha nessa, pode ser pior para ele.
-Mas e se eu fizer algo e acabar sendo levado para algum reformatório?
-O quê? Como assim?
-Depois que o Joe morreu... Eu fiquei com raiva... Porquê eu tava lá, eu não consegui salvar ele... Um dia meus pais brigaram e ele tentou bater nela... Quando eu mandei ele parar e usei a marca etérea ele saiu de casa e foi beber. Depois minha mãe disse que se eu fizer algo idiota eu ia destruir a minha vida.
-Scott... Não! Não, nossa. Você deve defender ela.
-Mas ela defende meu pai quando eu faço isso. Ela mesmo me disse que ela vai dar um jeito de tirar a gente de lá. Eu odeio isso. Eu fico com raiva e...
-Scott, calma. -Ela olhou para o garoto. -Sua mãe não pode te reprimir desse jeito. Ou você vai acabar explodindo cedo ou tarde. Você vai precisar ser forte quando a hora chegar, ninguém vai ser forte por você.
-Entendi. Obrigado.
Scott ficou sentado por alguns segundos, em silêncio.
-Vamos lá, vai beber uma água, vai tomar um ar e esfriar a cabeça. E não fica com raiva de si mesmo.
-Tá bem.
Ele se levantou e foi beber água enquanto pensava nas palavras de Grace. Ele se lembrou da história que Joe contou sobre Jake Ardenbrough.
E se ele sofresse igual Scott? Será que Scott faria algo parecido?
Ele molhou o rosto, se levantou e se virou. James estava ali, atrás dele.
-E aí, Scott. -James sorriu e deu um tapa no ombro de Scott.
Scott franziu a testa.
-O quê você quer?
-Só vim te dar oi. Eu vi que você tava conversando com a professora e tal.
-Já deu.
-Calma, cara. Fica tranquilo. Sabe, eu gosto de você, é meu favorito de todos na turma. Você fala o que pensa, não deixa nada barato.
-E...?
-E eu acho você um cara foda. Sabe, eu não gosto do Hector nem do Max. Eles são dois metidinhos. Mas você não, você nunca tá nem aí.
-Foda-se.
Scott saiu andando, e James foi atrás dele.
-Espera aí. Não precisa ficar com raiva. Não posso dizer quem é ou quem não é seu amigo. Quero dizer, eu te vejo como um amigo. Mas ei, deixa disso. Bora andar junto e tal. Acho que você precisa de mais amigos...
-É? Por quê?
-E por que não? Vamos lá, eu posso te ajudar. Tem alguma garota que você gosta na turma? A Claire? Heather? Alex? Ou a professora Grace...
-Não, não tem. -Scott ia se virar. Mas algo passou pela sua cabeça. Talvez, se aproximar daquele babaca fosse uma boa ideia. Talvez... -Mas valeu pela ajuda.
-Quê ajuda? Você nem disse quem é... -James riu. -Ah, entendi. Você ficou sem jeito. Fala aí, quem é?
Ele pensou por alguns segundos.
-Grace...
-HAHA, SABIA! Caraca, mano. Deixa comigo, eu posso te ajudar com isso. Mas já aviso que mulher mais velha não te vê do jeito que tu vê ela.
-Nah, eu não quero nada com ela. Mas se você me arrumar um papo com q Tammy, vai me provar que é mesmo meu amigo.
-PORRA! A Tammy? A menina mais rica de todas? Você é louco!
Scott riu.
-Você ainda não viu nada.
-Deixa comigo. -James se virou. -Vamos ver o quê vai dar.
-Beleza.
Scott se virou, deu tchau e saiu andando. Quando se aproximou de seus amigos, Hector o encarava. Nathan estava com a sobrancelha erguida.
-Caraca, Scott. -Hector disse. -Não sabia que você e o James eram amigos.
-Nem eu. Ele acabou de me contar.
Hector riu.
-Caralho. Mas e aí, o quê você falou de tão interessante para ele?
-Ele queria me ajudar com alguma garota que eu gosto. Disse que gosto da Tammy.
Hector riu ainda mais.
-Quem é Tammy? -Nathan perguntou.
-Uma garota que saiu da nossa turma ano passado. Scott é louco de fazer isso. Ela é rica demais, nem sei porquê ela ainda estuda aqui.
-Foi só pra ver o quê ele vai fazer. -Scott disse. -Não vou ligar se a Tammy me odiar.
-Esperto. -Hector disse.
Scott percebeu que haviam duas "moscas" voando em volta de Hector e de Nathan. Ele as encarou por alguns segundos. Depois, sorriu e continuou conversando com Hector.
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-Doutor, parece que esses garotos estão tramando algo. -Um dos pesquisadores disse. -Coloquei um drone atrás desse menino, mas alguém esmagou ele.
O Doutor se aproximou das telas, e começou a assistir. Ele passou a gravação de Grace esmagando o pequeno drone.
-Muito bom. -Ele riu. -Mapearam quem são eles? Aparentemente esses são os Mirai.
-Tem certeza que são eles?
-Sim. Eu já não disse que tenho um informante dentro do colégio?
-Entendido. Vamos mapear os Mirai imediatamente.
O Doutor saiu da sala. Ele fez uma ligação através de um de seus dispositivos de comunicação.
-Ninguém, está aí?
-SIM SENHOR!
-Pela santa mãe, homem, não grita desse jeito!
Ninguém riu.
-Calma, tiozão. Qual é o problema?
-Eu estou tendo complicações com os Mirai. Temos um informante no colégio. Mas algo está me incomodando, especificamente sobre esse garoto, o Hector. Disseram que ele não tem poder nenhum.
-Coitado. Vamos trazer eles para o laboratório e aí damos algum jeito de ajudar ele a ganhar um poder. Aliás, quem é Hector?
-Pelo jeito, ele é o líder dos Mirai. Agora, eu acho que precisamos colocar o Cataclismo em ação.
-O Cataclismo? O quê essas crianças fizeram para merecer o Cataclismo como punição?
-Alguém precisa observar essas crianças. Se você encontrar o Cataclismo, mande ele entrar em contato. Se não, vamos esperar que ele milagrosamente apareça.
Ninguém deu uma risada.
-Caraca, doutor, você não vai acreditar. Ele tá bem aqui.
-O quê?
Cataclismo entrou no comunicador dele.
-Oi.
-O seu milagre está aqui. -Ninguém riu mais ainda.
-Onde você está? -O Doutor perguntou.
-Ninguém me chamou aqui mais cedo, ele queria tomar um sorvete e me pagou um.
-Um sorvete?
-É. Tá calor.
-Quer um também, doutor? -Ninguém perguntou.
O doutor suspirou.
-Não. Mas eu quero que o Cataclismo...
-Eu ouvi você falando. Vou observar as crianças.
-Ótimo. Desligando.
-Ei, ei! Espera! -Ninguém protestou. -E aí, vai fazer o quê com as crianças?
-Atlas está preparada para entrar em ação. Basta uma ordem do Oblivion e nós teremos nossa vitória.
-Nossa. Vou ter que avisar a equipe da Lótus que o inimigo vai estar pronto para ser abatido...
-Não. Vamos deixar a equipe Lótus pronta para capturá-los na viagem de fim de ano até segunda ordem. Se algo der errado...
-Vai dar errado. Atlas não vai conseguir capturar essas crianças. Ela é uma brutamontes indelicada!
-Acho que o Ninguém tá certo, hein. -Cataclismo disse.
Uma transmissão chegou até o canal deles.
-Ai, mamãe, é ela! -Ninguém gritou e desligou.
-Ei! -O Doutor gritou. -Droga. Atlas, na escuta?
Silêncio.
-Entendido. Acredito que isso seja um sim. Encontre o Cataclismo na frente do colégio Moreil. Se as coisas correrem tudo bem, vocês dois vão conseguir capturar os Mirai. Se der errado, saia. Não mate ninguém, precisamos dessas crianças inteiras e bem. Machucá-las vai enfurecer o Chefe.
Três estalos foram ouvidos.
"Entendido." Ela quis dizer.
-Ótimo. Não vou te incomodar mais quê isso por hoje.
Ele desligou.
Enfurecer o Chefe... Era estranho dizer aquelas palavras. Assim como era estranho um grupo de crianças conseguirem descobrir a existência deles. Um jogo estranho estava começando ali.
Ele pensou em contatar Atlas outra vez, afinal, ele tinha uma teoria.
-Aureus... -O Doutor resmungou. -O quão bem será que você sabia da nossa existência?