A aula na quinta feira começou totalmente caótica. Quando Hector e Max se sentaram, Claire veio até eles, reclamar.
-Ei, vocês dois. Souberam da merda?
-Não. -Hector riu. -O Scott partiu o coração de quem agora?
-Cara, a Elaine... Ela é uma filha da puta. -Claire suspirou, o ódio visível no seu olhar.
-Ei, calma aí. -Hector ficou sério.
-Devagar aí. -Max falou. -Conta mais aí, o quê deu?
-Terça, a Starla me deu um abraço. Eu... Eu tava chorando. Precisava disso, tá? Nós mulheres somos sensíveis, diferente de... Algumas pessoas.
-Beleza.
-A Elaine viu, e prometeu que ia ficar de boas. Ontem, a Starla não veio. E aí a gente descobriu que a Starla foi suspensa até sexta por ter me dado um abraço!
-Você disse para sua mãe? -Hector questionou. -Ela é adulta e... Cê sabe.
-Não!
-Fala para ela. Eu não posso resolver tudo na base da martelada. Pede para o Scott partir o coração da Elaine. Vai que funciona...
-Hector. -Max interrompeu. -Chega.
-Foi mal.
-O quê é? Vocês estão meio caídos hoje. Alguém morreu?
-Sim.
Claire riu
-É sério. -Hector disse. -Uma... Conhecida nossa morreu.
-Ah, merda. Desculpa.
Nathan e Scott conversavam atrás deles, e pararam ao ouvir a situação.
-Como assim? -Nathan perguntou. -Quem morreu?
-Uma... Vizinha nossa. -Scott disse. -Por isso faltamos ontem. Ela era uma amiga das nossas famílias.
-Ah sim. -Nathan concordou. -Caras, querem ir lá em casa sábado? Meu irmão vai estar lá. A gente pode jogar videogame ou assistir. Ou até lutar com ele!
-Vamos. -Hector disse. -Minha mãe vai querer ver a sua. Bora aproveitar!
-Vocês não estão de luto? -Claire perguntou.
-Sim. -Max respondeu. -Mas precisamos seguir a vida. Não é a primeira vez que isso acontece...
Claire baixou o olhar.
-É. Seu amigo. Desculpem. Vou parar de incomodar.
-Ei. -Hector chamou. -Vou tentar ver a Elaine.
David estava desenhando no caderno, quando sentiu Zack cutucar suas costas.
-E aí? -Ele olhou para Zack.
-David... Olha em volta.
David olhou.
-Tudo normal. A sala é a mesma de sempre.
-Sim. Normal.
-É.
-As moscas, burro. As moscas sumiram.
-Puta merda. -Ele olhou para Scott. Ele conversava com Nathan. David olhou em volta. Trixie não falava com ninguém. -Trix... Ei!
Ela olhou para ele.
-Oi? -Ela o encarou. -Quê foi?
-Você viu alguma mosca?
-Não.
-Beleza. Heather?
Heather prestava atenção neles.
-Não vi. Isso é estranho. Será que esconderam para culpar a Starla?
-O quê?
-Faz sentido. -Zack comentou. -Usar o sumiço da Starla para culpar ela pelas "moscas".
-Mas... Faz sentido. -David coçou o queixo. -Será que o Tristan concorda?
Tristan estava sentado do outro lado da sala. David andou até ele.
Heather olhou para Zack.
-Não sai falando disso por aí. -Zack falou.
-Eu tenho cara de fofoqueira? -Heather respondeu. -Fala para o seu amiguinho ali. Daqui a pouco todo mundo vai saber.
-Ah, bosta. Ei, David! Vem aqui!
Os dois discutiram por algum tempo. O dia prosseguiu, e durante o intervalo, os cinco foram atrás de Erine. Claire foi até eles.
Erine e seu grupo estavam em rodinha, próximos de uma parede.
-Oi! -Karen disse quando os viu. -Estão bem, pequenos?
-A Erine contou para a gente. -Paul comentou.
Matt passou a mão na cabeça deles.
-Oi. -Claire disse quando chegou ao grupo.
-Olá. -Anne respondeu.
-Eu tava teorizando aqui. –Paul riu.
-Ele é um idiota. -Anne disse.
-Um nerd. -Martha corrigiu ele. -Devia ter entrado no processo para o outro colégio quando pôde.
-Devia... -Paul suspirou. -Mas não importa. Acho que vocês chegaram na hora certa. O recreio não vai demorar muito para acabar.
-Intervalo. -Zack corrigiu.
-Cara, você é chato. -Claire disse. Anne riu.
-Desculpa.
-A minha teoria é simples. -Paul disse. -Vocês trataram o tempo como um anel. Pensem nele como uma esfera. Ela tem todas direções possíveis, mas sempre retorna para o centro. Precisamos calcular a variável que vai fazer com que a esfera tome um rumo para fora dela mesma.
-Seria tipo quebrar o campo gravitacional da Terra. -Zack disse. -Meio difícil.
-Meio difícil. -Paul concordou. -Mas só precisamos tomar uma única decisão.
-Sem decisões que custem a vida de alguém. -Erine disse.
-Chega de mortes. -Hector disse. -Qual seu palpite?
-Não faço ideia. -Paul respondeu. -Acho que talvez... Encontrar a fonte desse paradoxo?
-O Homem de Amarelo. -David disse.
-Quem? -Paul perguntou.
-Provavelmente o Rei do Mal. -Hector disse.
-Gyazom. -Scott disse. -Os caras que mataram o Joe.
-Você acha que tem alguma relação com o apocalipse?
-Ei! Como assim apocalipse? -Claire se assustou.
-É. -Hector disse. -Estamos trabalhando para salvar o mundo. Não vou mentir. Por isso precisamos derrotar a Gyazom.
-Quem é Gyazom? -Claire estava ainda mais confusa.
-Os caras que mataram o Joe. -Scott repetiu.
-Ah. Seu amigo. Mataram a sua vizinha também?
-Não. -Hector disse. -Na verdade, eles meio que ajudaram. Mas não importa.
-Sei. -Paul coçou a cabeça. -Nada nessa palavra parece fazer sentido. Gyazom. De trás para frente, Mozayg. Nada demais.
-Mozayg? -Zack repetiu. -Tipo... Mosaico...
-O Homem Amarelo... -David repetiu. -Nós vimos ele. Ele estava sobre um mosaico. Será?
-Sim. -Scott disse. -Tem que ser.
-Uau. -Claire suspioru. -E aí, eles mandaram as moscas também?
-É uma possibilidade. -Zack disse. -E se?
-Olívia deve saber. -Erine disse. -Vou passar na casa do... Da Erika. Vou perguntar para ela.
-Olívia? -Claire perguntou.
-Nossa aliada. Ela é como você, caiu de paraquedas no fogo cruzado. -Erine respondeu.
-Ah sim. Gente, por acaso vocês tem aula com a Starla, de história?
-Sim. -Paul disse. -Ela foi suspensa por estar fazendo coisas esquisitas por aí. Disseram que foi suspeita de assédio.
-Mentira! -Claire gritou. -Mentira descarada! A Elaine é uma vadia!
-Ei! -A voz de Elaine ecoou de trás dela. -O quê você disse!?
-Isso mesmo! Surda, burra! A Starla me abraçou, só isso! Você disse que não ia fazer nada!
-Eu não fiz nada. Não contei. Foi sua mãe, garota!
-O QUÊ!? MINHA MÃE NEM VEIO PARA A ESCOLA TERÇA!
Os alunos ao redor começaram a encarar o grupo.
-Para minha sala.
-NÃO! VAI QUE VOCÊ INVENTA QUE MAIS ALGUÉM ESTÁ ME ASSEDIANDO POR AÍ!
-Eu não inventei nada! O ministério me deu uma advertência por ter deixado passar aquele abraço, sabia? Foi a mãe de um aluno que denunciou! Vai me dizer que eu sou sua mãe agora?
-O quê...?
-Chega, por favor. -Erine puxou Claire e a abraçou. Claire chorava.
-Desculpa, mocinha... Desculpa. -Elaine murmurou enquanto saia.
-Não tem como. -Claire disse. -Não tem. Hector... Você acredita em mim, não é?
-Eu... -Hector piscou. -Que sensação estranha...
-Você não tá usando seu poder para que ele fique com pena, né? -Scott questionou.
-Não!
-Scott! -Erine resmungou.
-Desculpa.
-Faria sentido, se sua mãe hipoteticamente fosse ciumenta. -Paul disse. -Ou se você viu mais alguma pessoa estranha por perto no dia.
-Não tinha ninguém. -Claire disse. -Só eu e a Starla. E a Elaine.
-Talvez a Starla tenha tentado alguma manobra maluca. -Karen disse. -Já que não viram mais ninguém...
-Ou a Elaine pode ter dito que ia deixar quieto por você ter influenciado ela, mesmo sem querer. -Scott disse.
-Não sei... Eu só... Eu saí com ela depois e fomos para a aula. -Ela ergueu o olhar. -Grace.
-O quê? -David indagou. -A Grace?
-Ela estava lá. Ela foi a única que apareceu no caminho.
-Aliás, -Zack disse. -Quando eu fui atrás das moscas, elas estavam se reunindo na sala que a Grace tinha saído. Vocês acham...
-É possível. -Scott disse. -Um traidor...
-Ah merda. -Max falou. -O meu sonho! Pensamos em todo mundo, mas não na Grace.
-Vamos investigar ela. -Scott disse. -Se for... Não sei o quê fazer.
-Chamamos o Jeff. -Hector disse.
-Isso! -Max disse. -E o Mil bem que podia... Esquece.
-Ia ser uma boa. Mas acho que ele não viria.
-É. -Scott disse. -Vamos avisar o Jeff hoje, e amanhã a gente...
-Quem é Grace? -Erine interrompeu.
-A professora de educação física. -Hector disse.
-Ah sim.
-Agora que você falou, -Zack disse. -Alguma vez você viu ela com alguma turma que não fosse do sétimo ano?
-Puta que pariu! -Max disse. -E se ela atacar? O quê a gente faz?
-Eu vou. -Scott disse. -Sou o mais próximo dela.
-Cara, e se der merda? -Hector perguntou.
-Eu sou um Eterista. Se der merda, eu ativo a marca. O David fica pronto para chamar o Jeff se sentir minha marca. Pode ser?
-Ótimo! -David disse.
-O plano tá saindo. -Erine disse.
-Espero que dê certo. -Paul comentou.
-O nosso foi todo por terra quando tentamos matar o vampiro. -Karen riu.
-Foi muito triste. -Martha terminou.
Matt soltou alguns grunhidos.
O sinal tocou, e então, o grupo se separou, e retornaram para suas salas.
Elaine, à distância, ouvia tudo. As crianças nunca souberam, mas a mulher possuía uma audição fenomenal. Era seu poder, ouvir bem.
-Grace...? -Ela sussurrou.
Uma curiosidade interessante. Será?
Naquele momento, ela pensou em qual teria sido a sua motivação. Ela precisava pesquisar mais sobre Grace. Ela correu até a sala dos professores. Julian estava sentado, comendo.
-Oi. -Ele disse.
-Julian. -Ela olhou em volta. -Qual o sobrenome da Grace?
-Eu não sei. Qual o problema?
-Acho que ela está fazendo algo esquisito. Aqueles drones que vocês mataram... Você viu algum perto dela? Os meninos disseram que ela esteve perto deles.
-Eu vi ela destruindo um. Aconteceu bem na hora que eu entrei na sala. -Ele se virou para trás, onde um buraco no teto estava muito visível. -Talvez... Talvez tenha sido de propósito.
-Pois é. Abra os olhos, aquelas crianças querem investigar ela.
-Vamos ver o quê conseguem. Vou ficar de olho neles. Mas por que só agora?
-Eu não gostava dela desde o início. Eu sempre deixei ela pensar que eu estava alheia à tudo que está acontecendo à minha volta. Tome cuidado.
Elaine se virou, e saiu da sala dos professores, direto para a pedagogia, onde vários documentos se localizavam.
Ela corria contra o tempo, pois percebeu Grace a seguindo haviam alguns minutos.