A garota do cabelo grande
Nem sempre é bom ser deixado de fora, ainda mais quando você é novo no grupo. Mas, sinceramente, Gabriel se sentiu feliz por ter certeza de que sobreviveria mais um dia.
Sério, por que diabos ninguém vende uma malha de couro por aqui?
A única coisa que ele não sabia é que malhas, por mais fracas que fossem, eram difíceis de achar e caras. Acontece que por ser a pior, ninguém compra, se ninguém compra, ninguém faz, e assim vai.
Ele precisou pedir a alguém que lhe mostrasse um lugar, mas ninguém sabia, ainda mais barato.
Depois de pouco mais de uma hora, ele desistiu. E focou na outra parte, vender a armadura atual. Essa, por outro lado, era bem fácil. Qualquer um compraria, a armadura era semi-nova, então, se ele não conseguisse vender pelo preço que comprou, perderia pouquíssimas moedas.
As duas facas custaram, juntas, 4 moedas de prata, enquanto a armadura custou 5. Ele queria vender a armadura por pelo menos 4 moedas. Seria ótimo se ele conseguisse vender por 5. Na verdade ele espera que venda por 5. Mas é bastante difícil, a luta com os goblins a deixou um pouco danificada. Ele continuou dizendo a si mesmo que aceitaria 4 ou 5, mas recusou várias pessoas que ofereceram 4.
Gabriel estava prestes a desistir de achar alguém que a comprasse por 5, mas decidiu perguntar as pessoas se havia alguém antes. Seria difícil já que a maioria dos comerciantes não iria querer perder para outro. Mas após algum tempo ele finalmente achou.
— Ei, você conhece algum lugar que aceitaria essa armadura por cinco moedas?
— Isso é difícil, mas na verdade sim. Suba a ladeira no final da rua e você vai encontrar um depósito, provavelmente eles comprarão por cinco moedas.
O homem acima do peso respondeu.
Gabriel seguiu para a ladeira sem pensar muito. Ainda era cedo, o ponteiro do relógio da cidade havia marcado meio dia, mas quando Gabriel subiu a ladeira estava um pouco escuro.
Apenas, com que merda isso ficou escuro?
Ele ficou com um pouco de medo. Como se não bastasse lá fora, ele também não estava se sentindo seguro ali dentro, pelo menos não nessa área. E não deveria mesmo, além da escuridão que não tinha explicação, as ruas eram podres, diferentemente das outras que possuem apenas plantas, essa tem uma pessoa deitada no chão a cada duas esquinas. Gabriel sempre olhava para trás, escutava barulhos de garrafa o tempo inteiro e se assustava. E finalmente, a única coisa que ilumina tudo, o depósito.
Para um lugar tão ruim, dentro não era nem um pouco similar. São apenas armaduras, armas, e até mesmo outros materiais. São todas as lojas em uma só.
— Oi? Hã, alguém aí?
Um homem sai de um dos corredores.
— Diz aí, o quê tu quer?
Por um momento, Gabriel o observou, ele parecia alguém ruim. Então, respondeu:
— Eu queria vender essa armadura por cinco pratas, vocês comprariam?
— Cinco pratas, hein? É um pouco demais, mas irei aceitar dessa vez.
— Muito obrigado, senhor.
— Não me chame de senhor, me chame de Peter.
— Okay, Peter.
A única coisa que Gabriel queria, era sair dali. Ele consegue disfarçar bem, não mostrar expressões foi algo que ele estava se tornando especializado nesses tempos. Mas ficar ali por muito mais tempo era um perigo, não precisa ter noção desse mundo praticamente novo para isso.
Logo que pegou suas moedas e deu a armadura a Peter, ele saiu o mais rápido que pôde daquele lugar inteiro, sempre olhando para os lados desconfiado.
Eram uma tarde quando ele saiu de lá. Gabriel voltou para o prédio em que estava com seu grupo para almoçar, todos deviam ter voltado entre 12:00 e 12:30, então, quando ele chegou todos estavam atrás do prédio, na cozinha improvisada, provavelmente já tinham comido.
— E aí, já estava preocupada, pensei que havia se perdido.
Larissa falou, enquanto Gabriel se encostou no primeiro lugar que viu para descansar.
— É, foi complicado, mas consegui vender a armadura por 5 pratas de volta.
— Ao menos isso você sabe fazer, e comprar a malha?
Gabriel apenas respondeu, ignorando a provocação de Laura.
— Não consegui achar a tempo, após comer e descansar um pouco eu volto a procurar. — ele pegou um pão e começou a comer.
— Falei cedo demais, nem isso sabe fazer.
— Cara…
— Mas, malha de couro é realmente difícil de achar, e caro. Logo quando acordei e tive que comprar, fui atrás, pensei que era barato e fácil de encontrar. Mas não é.
Miguel interrompeu Gabriel, deixando Laura sem graça e corada.
— Sendo assim tudo bem então.
Ela respondeu, abaixando um pouco a cabeça com vergonha.
— Enfim, não é como se você tivesse algo a mais para fazer mesmo, você teria que ficar em casa o resto do dia para melhorar os ferimentos, pelo menos assim você não fica entediado.
— Belo ponto, mas eu não reclamaria de ficar sem fazer nada o dia todo, ainda tenho muito a pensar.
— Então pensa enquanto anda, ué, não consegue?
— Ah, sei lá, tenho que prestar atenção nas lojas e preços, não é muito bom
— E como diabos você espera lutar contra vários monstros ao mesmo tempo, e ainda ficar em sincronia conosco, se não consegue nem procurar uma loja e pensar ao mesmo tempo? — Laura se intrometeu novamente
— Laura… — Miguel tentou reclamar mas antes de qualquer coisa Larissa falou:
— Ela tem um ponto, Miguel, na hora da batalha é mil vezes mais corrido que isso, ele tem que conseguir. No treino é ele contra o treinador, somente. Na vida real, é bem diferente, e ele precisa saber disso. Venham vamos para fora do prédio treinar um pouco.
Eles ficaram do lado de fora, onde deveria ser o estacionamento, mas está coberto de grama alta. Gabriel deu uma última mordida no seu pão e o que Larissa pretende, treinar de barriga cheia? Eles podem vomitar e seus movimentos não vão estar 100%, mas mesmo assim, Gabriel, que nem sequer considerou isso, sacou sua adaga e começou a lutar com Laura de aliada, contra Miguel e Larissa.
Estavam todos com uma adaga.
Vai ser de boa, adaga é o meu forte.
Assim que começou, Larissa foi pra cima de gabriel rapidamente, mirando em sua garganta, mas Laura apareceu para bloquear
Quê? Como assim? Essa velocidade…
— Vamos! O que está esperando, um convite?
Enquanto Laura e Larissa estava numa disputa de força que parecia não ter fim, Gabriel olhou para Miguel, que não era tão rápido quanto Larissa, óbvio, ele é o tanque afinal, o normal é ele ser lento. Foi o erro que Gabriel cometeu de pensar.
Num piscar de olhos, Miguel tentou apunhalar Gabriel na barriga, segurando a adaga com as duas mãos e indo em sua direção, mas no último segundo Gabriel conseguiu bater na adaga dele com a sua, desviando pelo lado do ataque de Miguel, que passou reto.
Ele ta tentando me matar, não está? Tenho quase certeza que está.
Droga, eu não ganho em força, nem velocidade, o que eu faço?
Larissa e Laura se afastaram, e Larissa soltou:
— Vamos lá. Nós somos um dos grupos mais fracos daqui, se você não conseguir seguir nosso ritmo, você tá muito ferrado.
— E você devia mesmo conversar com ele enquanto luta comigo? — Larissa respondeu, deferindo outro ataque.
Miguel estava um pouco afastado de Gabriel, esperando uma brecha, na verdade, existiam várias. Então provavelmente Miguel estava esperando Gabriel bolar um plano. Mas não havia o que fazer, se ele não tinha força, nem velocidade, para ele acabou. Experiência não é seu ponto forte também.
Tem alguma coisa errada, eu estou deixando algo passar. Se não, eles já teriam parado isso quando vissem que eu sou inferior em todos os aspectos. Eu tenho uma chance.
Mas nada vinha na sua cabeça, o tempo passava, ele estava suando, se sentindo pressionado. De repente, tudo começou a girar, Gabriel ficou tonto, cada gota de suor parecia que ele estava caindo junto, e então, ele vomitou.
— Oh, cara, isso é nojento, quase pegou no meu pé.
Todos eles pararam a luta, e ficaram esperando ele terminar de vomitar um pouco afastados.
— Que cara mais inútil, além de tudo, ainda vomita.
— Mas que diabos você quer que eu faça? Eu acabei de almoçar, meu sistema não digere comida em 5 minu... — ele falou, logo voltando a vomitar mais um pouco, e eventualmente, parando.
— Então, nós vamos voltar a caçar, você descansa um pouco, e volta a procurar sua malha. Você precisa dela hoje, para talvez amanhã caçar conosco.
— Okay.
Larissa lhe deu alguns tapinhas nas costas, e foi pegar suas coisas no quarto para ir caçar.
Eu realmente preciso melhorar, se eu quiser ganhar algum respeito por aqui, eles acham que eu sou um burro? Eu já estive com muitos "talvez" na cabeça, eu quero uma certeza.
Mas ele não falou nada, com os pensamentos meio estranhos e fora de ordem, aos poucos, Gabriel estava se perdendo.
Após alguns minutos, ele tomou coragem e se levantou para ir buscar seu malho, mas sinceramente, ele já tinha ido praticamente em todos os locais da cidade e não havia nenhuma malha em nenhum desses locais, a única loja em que ele não perguntou sobre foi a que ficava na rua escura, e ele não voltaria ali por nada.
Ele pensou em dar voltas novamente e ver se esqueceu ou deixou passar alguma loja, e nisso se passou o resto do dia. Gabriel não aguentava mais ver as mesma lojas, ele passou umas três vezes por toda a cidade, ao menos serviu para ele não se perder mais… e saber cada ponto de comida de lá. Não que ele tivesse dinheiro para aquilo.
Estava escurecendo e nada da malha, Gabriel finalmente desistiu, frustrado com sua falha. Afinal, se ele não consegue achar uma malha pra comprar, como ele conseguiria lutar? Que inútil. Talvez Laura estava certa.
Quando ele estava voltando para o colégio-dormitório, viu uma garota. Ela tinha cabelos longos, batiam na bunda, ela era pequena, mas não tanto, e estava de short e camisa branca, suja, de manga curta.
Acho que já a vi antes… essa bunda, com certeza.
Pensando bem, é esse colégio é realmente o mesmo em que eu a vi pela primeira vez.
Ela olhou para os dois lados, e correu para o lado direito do prédio.
Eu definitivamente não deveria fazer isso, não é? Eu não deveria.
Gabriel a seguiu, com passos calmos, para ela não o perceber.
A garota de cabelos longos estava entrando por outra janela agora, uma diferente da primeira vez.
por quê ela tá entrando pela janela?
Enquanto a menina entrava no colégio, Gabriel saiu de trás do arbusto que estava silenciosamente, e quando deu um passo para voltar e entrar pela frente, a garota, que já tinha praticamente entrado, faltava apenas uma perna, ela caiu pra trás.
— Peguem ela! — uma cabeça saindo da janela falou.
Repentinamente surgiram duas pessoas. Uma de cada lado do "corredor", algo como um beco, na lateral do prédio. Ainda lá, no colégio, havia um pequeno espaço que ligava o começo e o fim e era fechado pelo monte de arbustos de um lado, e o prédio do outro. Além de ter uma pessoa em cada lado, havia a da janela.
A garota do cabelo grande olhou para Gabriel, e sem pensar muito avançou contra ele, o dando um mata leão de primeira.
— Ei, ei, eu não estou com essas pessoas, eu só tava por aqui. — Gabriel tentou se explicar, percebendo que ela achou que ele estava com o pessoal ao redor.
Whou.
Isso é excitante.
Mas eu já tenho complicações suficiente.
Me solta, garota dos cabelos grandes.
As duas garotas ao redor estavam indo encontrar os dois no meio correndo, enquanto a da janela estava tentando sair.
A garota do cabelo grande deu um chute na da janela, que caiu para trás com um gritinho.
— hooh.
Então, a garota do cabelo grande continuou:
— Esse é o troco, vadia. — em seguida, virou rapidamente para Gabriel e falou — Você, corre!
Ela pegou na mão de Gabriel, e foi em direção aos arbustos.
Os dois se arranharam bastante. Mas mesmo chegando do outro lado não podiam parar, facilmente as garotas chegariam ali, mesmo sem entrar nos arbustos.
Então, sem fôlego e ainda correndo, Gabriel olhou para o lado e falou:
— Então… qual o seu… nome?
A garota olhou para ele de volta, e soltou sua mão, o ignorando no momento.
No mesmo instante, na frente dos dois, apareceram duas estradas, uma para frente e uma para a direita, deram uma rápida parada, e a menina então falou:
— Lucky, duas ruas.
Ela fez sinal com a cabeça e seguiu pela direita, e ele foi atrás. Antes mesmo de entrar na rua, ela parou.
— O que você tá fazendo aqui? São duas ruas, a gente tá sendo perseguido, é óbvio que você tem que ir pela outra rua!
— Hã… mas…
Ela olhou para trás novamente, não havia mais tempo.
Ela pegou em sua mão novamente, deu uma puxada enquanto começava a correr, e rapidamente soltou, falando:
— Esquece. Corre
Então, eles tiveram que correr, correr por mais de 30 minutos.
Finalmente parados, se encostaram em uma calçada qualquer pra sentar. Os dois ainda ofegantes, quando Gabriel a olhou e começou a falar:
— Então, primeiramente, quem é você?