O pequeno reino goblin
Gabriel estava exausto. Era o terceiro dia dele ali.
— Vamos lá, hoje é o último dia, se levante. — Jake esticou a mão.
— Não tem a menor chance de eu conseguir usar isso como vantagem.
— Você não é tão ruim assim, garoto. Eu que sou muito bom. — Ele estufou o peito num tom arrogante.
Gabriel levantou, Jake se afastou. Então, Gabriel avançou com uma adaga de madeira, ao chegar perto de Jake, deu uma leve abaixada para acertar suas pernas, mas tomou outro chute. Nesses três dias foram vários.
— Ah, qual é! Isso é injusto! Na hora os monstros não vão saber que eu vou fazer isso para me chutarem. — Gabriel não levantou seu tom de voz.
— O problema é a sua velocidade, você tem que ser mais rápido, se você for rápido suficiente, eu não te chuto.
Que espécie de treino doentio é esse?
Eu tenho certeza que ninguém aprende algo em 3 dias.
Ele só quer me chutar, eu tenho certeza.
— vamos de novo! Se levanta!
Um pingo de suor caiu pelo queixo de Gabriel.
— Bom, isso realmente pareceu hard. Jake não pega leve. — Zoe respondeu, enquanto os dois corriam nos seus exercícios matinais.
— É, tipo isso. Mas no final, consegui fazer umas duas vezes sem ele me chutar, não só aprendi a habilidade, como fiquei mais rápido e forte, mesmo que pouco. — Um silêncio perdurou por poucos minutos, e então — O nome da skill é flash flush, aliás. E o seu treino, como foi? — Sem perceber Gabriel tentava puxar assunto.
— Comparado ao seu, acho que fácil. — Eles pararam de caminhar, haviam alcançado a distância que queriam. Então, foram andando lentamente para fazer os exercícios no tatame novamente. E Zoe voltou a falar. — a skill que aprendi foi "avanço", como o nome diz eu avanço numa velocidade surreal com a espada e acerto o monstro ou sei lá.
— Então, você pode usar isso pra fugir também?
— Eu também pensei nisso, but é uma espécie de magia, aí só posso usar pra avançar em algum inimigo. No entanto, posso usar pra desviar ou ir até às costas de algum deles, só não posso ir na direção contrária, então é bem flexível.
— Heh, legal, eu queria ter algo assim, parece bem mais legal.
— Yeah, kinda.
— De onde vem esse seu inglês afinal? Eu perguntei antes mas você nunca respondeu.
Zoe se aquietou, seu sorriso de sempre sumiu. Ela parou de andar por um momento, mas logo o acompanhou.
— Mesmo depois de todo esse tempo, lembrar é difícil.
Ah, desculpa. — Gabriel pensou, mas não falou. Não parecia certo.
Zoe tomou coragem, respirou fundo e falou:
— Meus pais. Minha mãe pra ser mais exata, ela era americana e meu pai brasileiro. Eu aprendi mais inglês do que português. Quando tudo aconteceu eu estava visitando a casa dos meus avós paternos aqui no Brasil.
— Eu não sei o que falar…
— Tudo bem, faz tempo de qualquer forma e não é como se só eu tivesse perdido minha família, todos perdemos.
Após isso, o clima entre os dois ficou estranho, e eles não se falaram o resto do caminho. Gabriel queria dizer algo, queria confortá-la, mas ele não conseguia. Tudo que ele pensava parecia raso.
Isso não é o que eu gostaria que falassem para mim.
Na real, eu gostaria que falassem Algo para mim?
Eu acho que não. Eu não sei o que eu quero. Mas eu sei que eu preciso de algo. Mas, o que?
Bom, isso não se trata sobre mim.
Mas eu não sei o que ela espera de mim. Não sei o que ela quer.
É melhor ficar calado. Só espero que eu não quebre alguma expectativa dela. Não dela.
Não que tenha algo em especial. Não é isso.
Logo, chegaram no centro de treinamento. Jake estava lá, dessa vez com uma mulher, então, eles passaram direto, apenas acenando de longe com a mão.
Enquanto era a vez de Gabriel fazer a abdominal e Zoe descansar, ela começou a puxar assunto para acabar com o silêncio que estava deixando Gabriel louco.
— You know, why don't you ever smile?
Gabriel parou por um momento.
— Êh? — Sem entender
— Ahh, Sorry, eu quis dizer, por que você nunca sorri?
— Oh, eu não sou muito bom em inglês, desculpa. — ele falou isso e voltou a fazer sua abdominal, pensativo.
Eu nunca sorrio?
Desde quando?
Eu não percebi. Por que eu nunca sorrio?
Eu não sei. Eu não consigo me entender.
O que eu estou fazendo...
— Então…? — Zoe interrompeu seu raciocínio.
— Ah, desculpa, eu... fiquei pensando. Eu nunca sequer… tinha reparado sobre isso.
Eu sempre fui assim?
Não. Eu devo sorrir, em algum momento devo ter sorrido, certamente…
— Você deveria rir mais. I mean, é chato ser chato, você não acha?
— Não é porque eu não sorrio que eu sou chato. — ele parou de fazer. Ou melhor, terminou.
Por enquanto, vou agir como se não.
— Claro que é, que tipo de pessoa legal não sorri? É só sorrir, cara.— Zoe pegou seus dedos apontadores, um de cada mão, e puxou o canto dos lábios, formando um sorriso. — Smile! — balbuciou
— Eu não sei. Não lembro se eu era realmente alguém que sorria muito. Não acho que estejamos em posição pra fazer coisas triviais como isso.
É.
Precisamos focar.
Talvez eu não sorria mesmo.
Por que eu sequer precisaria sorrir?
Eu só preciso sobreviver.
— Pra que você vive, se você não é feliz suficiente para dar um sorriso?
— Sorriso não é tudo nessa vida.
— Sorriso é demonstração de sentimento. Você precisa mostrar as pessoas que se importa com elas. — Ela pôs seu punho fechado no peito de Gabriel, no lado do coração.
Ela parecia séria. Ela tinha o seu rosto habitual. Não estava sorrindo, mas não estava triste como na hora em que falou sobre seus pais. Era mais como se estivesse determinada.
— Eu não preciso viver pelos outros, preciso?
— Não pelos outros, mas para viver para si mesmo você precisa dos outros. Como você caçaria sem ninguém? Você tentou. Não dá. Se você não tivesse amizade com Larissa antes disso tudo, você estava ferrado. — Ela fez uma careta, parecia irritada.
Estaria?
Talvez. Não. Com certeza.
Mas eu não estou no clima para sorrir para os outros. Nem para mim mesmo.
Eu gosto desse tipo de conversa.
Me acalma. Parece que está tudo bem. Parecemos dois adolescentes falando sobre sentimentos.
Não parece que Matamos Monstros como forma de sustento. Não parece que aconteceu nada.
— Não há o que fazer, a humanidade vive em conjunto, somos umas sociedade, antes ou agora. Não tem como se isolar, principalmente na situação em que todos estamos. — ela continuou.
— Talvez você esteja certa. Mas não sorrir e fingir um sorriso não sai muito diferentes. Prefiro ao menos ser honesto comigo mesmo.
— Sometimes, você parece que está prestes a explodir. Surtar. Eu me pergunto se estou apenas pensando demais… — Ela deu um olhar desconfiado para ele, como se quisesse saber se ele está bem.
Nem ferrando que eu falo algo.
Eu não quero que me achem louco.
Aliás, eu estou completamente de boas.
Então, por que eu não quero falar?
Talvez eu não esteja.
— Viu, você está fazendo agora.
— Ah, eu só… estou pensando demais. Não é nada.
— Se você diz, tudo bem então.
Ela se preparou para fazer sua abdominal. Sentou e com as mãos se encontrando ao redor do joelho falou :
— Você pode falar comigo, sabe.
E sem uma única palavra a mais, os dois fizeram o restante dos exercícios.
Os dois chegaram no quarto dos meninos, como sempre, e já estavam Miguel, Laura e Larissa lá.
— Atrasados. — Foi a primeira coisa que Larissa falou ao rever os companheiros após esse curto período.
— Ah, foi mal… — Gabriel trocou olhares com Zoe e então: — Surgiu algo.
— Algo? Ah, deixa pra lá, como foram esses dias pra vocês?
— Ah, foi normal, eu acho, aprendi a skill flash flush, fora isso nada especial.
— E vocês? — Zoe perguntou.
— Eu tinha uma skill para arco e flecha, agora aprendi "double hit". Basicamente eu aumento a velocidade com que consigo bater. Enquanto os outros… — Zoe a interrompeu.
— Espera. Você tem uma habilidade para usar arco e flecha? i mean, que? Você nem usa arco e flecha.
— Verdade! Mas na primeira vez que vi vocês, Larissa estava usando um… — Gabriel comentou.
— Você se surpreenderia com o quão boa eu sou. Na verdade, é minha especialidade.
— Então…
— Porém quebrou, no dia depois que Gabriel chegou. O custo é muito expansivo, os arcos chegam a ser 30 ou 40 moedas de prata, fora as flechas que eu precisaria repor. Sabemos que não temos condições para algo assim, não é? — Ela jogou um olhar para Gabriel, mas sem maldade.
— Heh, legal. Triste também, mas legal.
Miguel, que não tinha nenhum tipo de habilidade, aparentemente aprendeu "stun", que consiste em aumentar bater duas vezes com o seu escudo com uma força anormal, e isso costuma fazer os inimigos caírem ou ficarem atordoados no mínimo.
Sinceramente, até eu saberia fazer isso. - Mas, aparentemente o escudo ficava reforçado com algum tipo de magia para isso.
Laura, por outro lado, não aprendeu nenhuma skill nova. O que ela fez foi aprimorar as três que ela tem e aumentar o número de vezes que podia conjurar. Pra começar, ela podia conjurar três vezes em um pequeno intervalo de tempo entre cada, depois dessas três, teria que esperar um bom tempo para poder usar de novo, agora ela conseguia utilizar quatro. Além disso, o projétil se tornou projéteis, dois, o que mexe com a cabeça dos goblins aumentou a porcentagem de sucesso, antes alguns goblins conseguiam ficar ilesos, enquanto monstros mais fortes quase nunca eram afetados, agora apenas os goblins e monstros mais fortes devem conseguir fugir bem menos. A cura continuou a mesma, apenas diminuiu um pouco o tempo de conjuração, era praticamente inviável conjurar no meio de uma batalha antes, agora mesmo demorando, dá. Além disso, ela não pode mais ultrapassar o limite de magias em caso nenhum, se ela o fizer, vai ter um risco de 99% de morrer.
Depois de todos falarem sobre suas melhoras e treinos, sem muitos detalhes, sob o comando de Larissa, todos foram caçar. Mas não era no mesmo local de sempre, Larissa tinha outras coisas em mente, afinal, a intenção de todo o treino era conseguir aumentar a caça, não faria sentido continuarem na mesma. Não havia muitos goblins naquela floresta. Eles estavam com o dinheiro zerado, com toda a crise. E o treino não foi de graça, eles tinham que conseguir alguma coisa, alguma coisa boa.
Acho que finalmente as coisas vão ficar meio… legais.
Legais? Não… essa não é a palavra, não sei nem se chega perto.
Eu não sei como as coisas vão ficar.
Eu não sei como quero que fiquem. - enquanto andava em direção ao novo local, Gabriel ficou pensativo. No final do seu raciocínio, percebeu Zoe, que estava o fitando, mas logo desviou o olhar.
Gabriel continuava perdido em seus pensamentos. Ele não sabia para onde ir. Que motivações ele tinha para viver? Possivelmente nenhuma. Ele apenas tinha pensado em matar monstros no calor do momento, talvez no desespero e falta de opção, afinal, perder tudo que não somente ele, mas todos, perderam e depois continuar vivendo com uma vida monótona de comerciante ou algo similar na situação em que estava era fora de questão.
Se fosse assim, talvez até o suicídio fosse melhor. Seria completamente inútil viver desse jeito.
Mas mesmo como despertado, não havia motivos para viver. Ou melhor, talvez fosse mais correto dizer que ele não estava vivendo, apenas existindo. Uma fraca, instável e triste existência. Mas ele não tinha mais tempo para pensar em si mesmo, eles chegaram.
O lugar era, literalmente, um esgoto.
Antes.
— O que?! Então vamos basicamente caçar a mesma coisa? Não tem condições, cara! — Zoe elevou sua voz, surpresa.
Eu meio que fico feliz com ela tomando essa iniciativa.
— Como eu estava dizendo… Nós provavelmente não conseguimos ir contra monstros melhores atualmente. Mas com certeza conseguimos matar os goblins com mais facilidade.
— Ou seja… — Miguel quis participar, mas falou apenas isto, deixando o restante para Larissa que falava com certa empolgação
— … Ou seja, nós conseguimos derrotas mais globins em menos tempo! Por exemplo, antes tínhamos uma média de um grupo de manhã e uns dois a tarde, certo? Agora devemos conseguir uns dois de manhã e três ou até mesmo quatro a tarde sem problemas!
— E problema resolvido. — Completou Miguel.
Isso parece funcionar, vamos tentar. — Calado durante toda a conversa antes de saírem, Gabriel, juntamente com os outros foram ao local destinado.
Agora.
A medida que entravam no esgoto, as luzes iam sumindo. O local era sujo, havia partes do chão que estavam molhadas e partes do teto que pingavam aquela podre água. A maior parte da parede era coberta de lodo e constantemente podia se ouvir a corrente da água que ficava no meio, no entanto, não havia realmente muitos lugares com saneamento básico, então, o volume da água não era muito alto nem nada do tipo, podendo se passar para o outro lado com algum esforço e coragem. Era um lugar que ninguém iria querer estar, não que Gabriel e os outros tivessem muita opção. Era nojento, repugnante. Existem muitos adjetivos para isso, mas não há necessidade de ficar citando. Além disso, por mais poucos que tivessem, haviam baratas, ratos e morcegos. O motivo de terem pouco, os goblins, claro. O motivo de Larissa querer ir para o esgoto ao invés de continuar na floresta era simples, na floresta não havia demanda de goblins tão alta, o esgoto era quase como um pequeno reino deles. Sim. O pequeno reino goblin. É assim que eles começaram a chamar, Laura deu a ideia, mas às vezes ainda chamavam de esgoto, era mais fácil. De qualquer jeito, os goblins se instalaram ali e tiveram como fonte de alimento os pequenos animais dali. Houve a proliferação e o resto é óbvio. Parecia um labirinto, mas ali era bem mais fácil que a floresta de se montar um mapa, Zoe levou um papel e estava fazendo um mini mapa para eles. Assim, eles iriam se encontrar tranquilamente sem precisar comprar um mapa.
Ela realmente foi criativa nessa.
Quero dizer, não que seja difícil pensar nisso, mas com tudo rolando isso nem passou perto da minha cabeça.
Ela é importante. Para o grupo todo, claro.
Passou-se algum tempo, cerca de quinze minutos, antes de encontrarem os primeiros goblins. Foi logo antes de uma dobra para a direita dentro do esgoto, os goblins estavam virando o final do corredor. Eles eram bastante barulhentos, diferente de Larissa e o grupo, que sabiam que não podiam fazer barulho ali, então, apenas falavam cochichando.
— Gabriel, vai ver quantos são. — ordenou Larissa.
Passos leves.
Ele andou lentamente. Era estranho que não fizesse muito barulho ou mesmo barulho nenhum. Ele ficava tão cauteloso quanto como se estivesse normalmente, ele não sabia o limite da skill, quando falharia ou algo do tipo. E de certa forma, não conseguia acreditar que não estava fazendo barulho, então fazia coisas como andar nas pontas do pé.
São cinco, então.
Ok damos conta.
Ele voltou, dessa vez mais apressado e sem muito cuidado, porém nada inesperado aconteceu.
— São cinco deles.
— Okay, vamos fazer o combinado.
— Certo. — todos responderam, assentindo.
O combinado. O combinado, na verdade, era praticamente a mesma coisa de antes. Miguel segurando dois com Laura, enquanto Gabriel, Larissa e Zoe ficavam os três num um-contra-um. A única coisa que mudou era que eles precisavam fazer isso rápido, finalizar rápido. Sem espaços para vacilos.
Agora é a minha hora.
Eles se revelaram, cada um tomando seu posto. Miguel ficou com o 1° e 2° goblin. Larissa, Zoe e Gabriel, ficaram com o 3°, 4° e 5° goblins respectivamente.
Isso tem que ser rápido.
E eu não tenho uma babá mais.
Me provar. Eu ainda tenho que me provar.
Gabriel não teve o elemento surpresa, ele não infligiu um golpe fatal ou algo do tipo antes de começar, como fazia na floresta, esse tipo de coisa era muito mais difícil de acontecer no local atual. Ele encarou o inimigo cara-a-cara, sem truques. Ou seja, começou já com as suas duas adagas. Todos os goblins também estavam armados com adagas e não pareciam nem um pouco surpreendidos com eles, pelo contrário, rapidamente estavam em posição, preparados. Após se encararem por pouco tempo, Gabriel e o 5° goblin chocaram suas adagas. Os dois pularam para trás, em seguida, Gabriel tomou a iniciativa. Ele fez vários ataques consecutivos.
Direita, esquerda, baixo, direita, direita.
Mas o goblin saiu ileso de todas.
Droga. Tenho que ser mais rápido.
Ele queria usar a skill nova, mas ele não podia, e ele sabia que não podia. Tinha que esperar uma abertura, um vacilo, mas não estava acontecendo. Até que ele cansou, e o goblin pegou a dianteira da luta. Mas o 5° goblin não era tão rápido para atacar, quanto era para desviar, pareciam que seus movimentos eram calculados, robóticos, como se ele não soubesse lutar, apenas tivesse decorado os golpes. Talvez esse goblin fosse um novato. De alguma forma Gabriel se enxergou nele.
Desse jeito, logo eu vou poder contra atacar, é bem mais fácil.
Zoe estava sendo mais agressiva do que Gabriel, sua skill permitia isso.
— Avanço… avanço… avanço... — Repetidamente usava.
O goblin estava perdido, ela se movia muito rápido e ele não sabia o que fazer. Na verdade, não tinha o que fazer. Ela atacava dos dois lados rapidamente, o 4° goblin protegia, com sua adaga, até que, insatisfeito apenas em desviar, o goblin decidiu revidar, era o que Zoe queria. Os braços dele não tinham forças para fazer algo muito útil, ela não sabia se era ágil suficiente para fazer isso, mas tinha que testar. Zoe deixou uma abertura de propósito, e quando o 4° goblin se jogou para a atacar, ela desviou por pouco. O goblin arranhou um pouco feio seu rosto, porém ela perfurou seu peito. Ela venceu.
— Yeah!
Larissa teve um pouco mais de dificuldade. A classe de caçadores e ladrões têm dificuldade sozinhos, linha de frente não é realmente o seu foco. No entanto, aquilo não deveria ser difícil, mesmo para eles.
Ela estava esperando, na defensiva, até que o goblin cansasse, para ir com tudo. O 3° goblin estava furioso, ele tentou pular na cabeça de Larissa, mas ela teve sucesso em desviar sem demais problemas. Seus golpes eram precisos e fortes, provavelmente era o líder desse pequeno grupo. Então é líder contra líder. O goblin soltou um corte rápido do lado esquerdo, que Larissa defendeu com sua espada curta, então, rapidamente ele deu um chute em sua barriga e ela se afastou. Ela não podia continuar assim, ela que estava se cansando. Ela sabia disso. A criatura foi para cima de novo, dessa vez soltando vários ataques perfurantes de frente, Larissa desviava de um lado para o outro, às vezes até para trás, mas já estava com alguns arranhões. Ela estava começando a suar, porém o goblin já estava muito mais cansado, ele foi para mais uma onda de ataques, Larissa, ao invés de desviar, defendeu o primeiro, e em seguida ativou sua habilidade:
— Double hit!
Começou a bater no goblin, que parecia com mais raiva do que antes. Mesmo cansada, a velocidade dos seus hits permaneciam altas, o goblin, no entanto, conseguiu defender um de seus ataques, quebrando o ciclo. Larissa, com o fim de seus ataques, estava exausta, e o 3° goblin teve sucesso em atacá-la, ele acertou o ombro esquerdo dela em cheio.
— aaarrrrrhe!!
Laura e Miguel estavam do outro lado do esgoto, lidando facilmente, era questão de tempo até os dois mísseis de Laura ficarem prontos. Sem demais arranhões, Miguel estava se dando bem em desviar e usar seu escudo contra os ataques do 1° e 2° goblins, principalmente com a nova habilidade.
Gabriel não somente desviava. A luta entre ele e o 5° goblin estava acirrada, porém, quanto mais durasse, melhor para ele. Os treinos matinais com Zoe estavam o dando estamina, ele não cansa tão rápido mais. O 5° goblin deu um pulo para trás, tentando resetar a luta e conseguir fôlego, nesse momento, Gabriel correu.
É agora. É a hora.
Eu vou fazê-lo.
Ele deu uma espécie de carrinho, ia acertar as pernas do 5° goblin, que foi pego de surpresa e não tinha agilidade para desviar. Porém, na hora do golpe Gabriel escutou o grito de Larissa e se distraiu. Ele olhou para onde a companheira estava, mas não conseguiu enxergar, isso porque antes de seus olhos sequer conseguirem focar, o 5° goblin o chutou.
— tsss! — gemeu de dor.
Droga.
O que aconteceu?
Estão todos bem?
Algo deu errado?
Eu não sei, droga!
Não tenho tempo pra isso, eles conseguem se virar, se eu, o pior, estou vivo, com certeza eles estão.
Espera, eu, o pior? Desde quando eu acho isso?
AAH! sem tempo pra isso.
O goblin pulou em cima de Gabriel, que ainda estava deitado, sua adaga havia caído um pouco mais afastada. O 5° goblin levou as duas mãos ao alto, e em seguida abaixou as duas, que seguravam a adaga dele, em direção ao peito de Gabriel. Ele conseguiu segurar os braços do goblin momentâneamente. Sua cara estava horrível, cerrando os dentes e franzindo o nariz, pela raiva e esforço. Ele ofegava. Ofegava tanto que pareciam que seus pulmões iam explodir ali mesmo, mas ele sabia que não podia se deixar ao luxo.
Droga, eles me disseram que ladrão arrumava dinheiro fácil.
Onde diabos isso é fácil?
Ele conseguiu, de alguma forma, arrumar forças para empurrar o goblin para trás, o derrubando. Então, inverteram-se as posições, Gabriel estava em cima do 5° goblin, agora com a adaga do mesmo e sem resistência, o apunhalou diversas vezes.
No momento em que Larissa gritou, Zoe já estava a caminho. Ela deu um chute no 3° goblin, que caiu.
— Isso vai doer mais ainda, ok? — Zoe puxou a adaga do ombro de Larissa.
— hmmmwhuaaaa — Larissa tentou segurar, mas falhou. A expressão em seu rosto era horrível.
Seus dentes estavam mais cerrados que nunca, parecia que eles podiam quebrar a qualquer momento. Naquele momento ela preferia que quebrassem a sentir aquela dor.
— Descanse, eu cuido do resto.
Soltando a mão do próprio ombro, Larissa pegou a pequena espada do chão e respondeu:
— Não, ele é nosso.
Zoe deu um sorriso aberto, então:
— Vamos lá!
— hm! — Larissa acenou com a cabeça.
Zoe foi primeiro, ela usou sua skill para chegar no goblin que tinha acabado de se levantar.
— Avanço!
Ela deu um golpe na vertical de cima para baixo com sua espada e o 3° goblin, sem ter como se defender, pôs seu braço direito como proteção, que foi arrancado com facilidade. Larissa chegou logo depois, mas nem precisou dar muita atenção.
— Heh, pensei que seria algo mais difícil depois daquele clima.
Zoe fez uma cara de surpresa, mas então sorriu e respondeu:
— Acho que eu deveria ter pego mais leve então, hehe. —
Larissa apenas deu uma risada séria como resposta.
As duas olharam para o goblin, que estava gritando por causa do seu braço. Ele olhou para as duas com raiva e correu na direção de Larissa, que com o braço esquerdo mole, apenas desviou e o acertou em suas costas.
— Seu pedaço de merda! — Larissa cuspiu nele.
Olhando o local de batalha como um todo, Gabriel estava deitado do lado do corpo do 5° goblin, esquecendo que a leptospirose não foi extinta. Enquanto Laura e Miguel estavam atravessando a água podre. As duas estavam no centro dali, então apenas esperaram após coletarem as coisas.
Com todos reunidos, começou-se um debate.
— Então, devemos ir mais fundo por aqui? — Laura perguntou. — Parece que vocês tiveram uma certa dificuldade.
— Ah, cala boca vai, Laura. Faz favor e cura meu ombro que está latejando bastante.
Laura riu. Essa interação entre as duas era normal. Era meio que engraçado até. Faz Gabriel pensar sobre Laura.
Por que ela não gosta de mim? Quero dizer, nunca fiz nada pra ela.
Além do que, eu não desgosto dela. Talvez eu até goste.
— Continuando, sim vamos fundo. Apesar de tudo, foi mais rápido, e parece que os goblins aqui tem mais coisas para lucrarmos. Zoe, obrigado agora pouco.
— Hâh? — Zoe estava pensativa, não tinha prestado atenção na conversa. — Ah, sim, de nada, apenas fazendo minha parte, you know.
— Yeah, yeah, i know.
Depois de todo aquele problema para Zoe entrar no grupo, eu meio que fico feliz com as duas sendo amigas. No entanto demorou um pouco até chegar nisso.
— Bom, essa mochila que Laura usa para guardamos as coisas foi realmente uma boa ideia, podemos até guardar o mapa de Zoe aí.
Com o fim da cura de Laura em Larissa, a conversa fiada acabou, os outros machucados não eram tão preocupantes, então, não faria sentido gastar magia neles. Eles preferiam não ficar muito tempo parados, tirando o fato que eles lutavam contra o tempo para conseguir dinheiro, quanto menos tempo ficassem naquele ambiente horrível, melhor.
Essa luta foi difícil. Definitivamente.
Quero dizer, foi fácil, mas foi difícil. Dá pra entender, né? Eu nunca estive tão sã desde que cheguei aqui.
Tipo, claro, foi rápido, para a quantidade. Mas Larissa podia ter perdido o braço. Acho que nunca tinha visto algum de nós termos uma ferida dessa gravidade. Isso me assusta um pouco.
Além de, eu quase ter morrido por causa Também disso.
Mas acho que isso deve se tornar uma rotina de agora em diante, vou ter que me acostumar, né?
Gabriel se perdia em seus pensamentos olhando para o verde-escuro do teto do pequeno reino goblin, quando Zoe o chamou.
— You know, seus olhos. Parece que você tem olheira ou algo do tipo. Como se fossem olhos de sono, talvez preguiça.
Gabriel apenas ficou sem reação, e sem responder, os dois seguiram.