No fim, nós não vamos conseguir.
O grupo liderado por Larissa finalmente tinha alcançado sua estabilidade. Estava difícil, eles estavam no seu limite contra tantos goblins num curto período de tempo, mas não havia outra opção. Não que se eles fossem mais forte haveria, a questão é que despertados sempre lutam no limite. É como se eles estivessem numa guerra constante. Na verdade, eles realmente estavam, mas eles evitavam esse pensamento a qualquer custo. Desde que conseguissem viver para mais um dia, não haveria problema. Apesar de esse não ser o pensamento de Gabriel. Ele não tinha porque viver mais um dia, estava procurando uma razão. Mas até agora falhou miseravelmente.
— Por que você falou dos meus olhos? Naquele dia... Tem algum problema neles? — Gabriel perguntou a Zoe enquanto os dois corriam. Ele estava aborrecido, mas não deixava transparecer, a olhava e desviava o olhar na mesma hora diversas vezes.
O quê ela é? Uma fiscalizadora de olhar?
Espera... ela fica olhando pros meus olhos?
— huh? — Ela o olhou sem entender. — Oh! nenhum, é só que... é meio... ah, esquece, nem eu sei o que eu quis dizer. Tem algo na ponta da língua, mas não sei o quê, de verdade.
— Heh... se você diz.
O que foi isso? Droga...
Eu realmente queria saber. Primeiro meu sorriso, depois meu olhos, o que você é? Minha mãe?
— Eu nem lembrava mais disso, haha. De qualquer jeito, já se acostumou com o local? Faz o quê...? Uns quatro dias que estamos indo. — Ela mudou de assunto.
Óbvio que eu não esqueceria, eu fiquei esse tempo todo pensando nisso.
Meus olhos.
Eu estou um pouco paranóico comigo mesmo.
— Um pouco, já estamos bem melhores do que no primeiro dia e o dinheiro não está sendo mais um problema maior.
No entanto não somos ricos.
Não somos classe média também.
Talvez sejamos um pouco pior que pobres. Mas temos o suficiente para sobreviver decentemente.
Nesses quatro dias, eles aproveitaram para comprar algo que não fosse pão, de restante cada um possui seu pouco dinheiro e decide como gastar. Seu lucro, além das necessidades básicas, era geralmente de menos de 30 moedas de bronze, então ficava bastante difícil de juntar para algo.
Nem tem tanta coisa pra comprar nessa droga de mundo.
Eu sinto saudades do meu smartphone e computador...
— O primeiro dia foi dureza, principalmente aquela primeira batalha. Acho que estávamos enferrujados após apenas aqueles três dias. — ela deu um sorriso forçado.
Gabriel a olhou rapidamente e voltou sua visão para frente, sem resposta.
Enferrujados? Não. Não foi isso. Nós realmente melhoramos, mas não foi nada considerável, foi uma melhora mínima, só pra dizer que melhorou.
Enferrujados você diz, mas se fosse desse jeito depois de todos os treinos nos ferraríamos. Nós somos fracos, essa é a razão, eu não sei até que ponto, eu não sei se tem problema desde que alcancemos o objetivo de sobreviver. Mas nós somos.
Ainda era manhã, todos se juntaram como habitual para caçar. Os cinco despertados estavam saindo andando normalmente do seu alojamento. Laura e Larissa estavam conversando com pequenas risadas de momentos em momentos. Miguel e Zoe estavam apenas com um leve sorriso no seu rosto, sem falarem nada nem olhando para ninguém. Gabriel estava com sua face normal, sem muita expressão. Normal. Normal? Desde quando sem expressão era normal? Gabriel que costumava interagir bastante com seu grupo de amigos no colégio, agora inexpressivo? Ele preferia evitar esse tipo de pensamento, mas era algo inevitável às vezes. Ele estava apenas olhando ao seu redor como se não tivesse passado ali dezenas de vezes.
O caminho até o esgoto não era tão longo. Eles passavam pelo centro da cidade até ir a divisa com o lado de fora, então, passavam pela floresta, dificilmente encontravam goblins lá, se fosse o caso, eles os matariam. Após seguir um caminho específico pela floresta, eles chegavam no rio e a partir daí eles passavam um pouco mais de meia hora para chegar no esgoto. Isso é, andando lentamente. Se eles corressem, chegariam em uns dez ou quinze minutos, mas óbvio que eles não se cansariam desse jeito antes de lutar.
As coisas realmente não costumam sair muito do controle.
Desde que eu cheguei aqui, só consigo pensar em como a rotina ficou mais monótona do que era com a tecnologia. Até agora não tivemos demais problemas, porém não sei dizer se isso é normal ou não. Somos muito cautelosos, afinal, então dificilmente procuramos algo anormal.
O grupo inteiro era igual. Eles não almejavam o topo, não queriam ser ricos. Contanto que pudesse ter suas conversas no caminho para a caça e dormir para um novo dia, estavam bem. Mas claro, Gabriel era uma exceção sobre isso.
Todos estavam olhando Gabriel, eles já tinham matado seus goblins, menos ele. Essa foi a primeira batalha do dia, foi tudo bem rápido, dessa vez Larissa e Laura lutaram num dois-contra-dois, mas não foi necessário que Laura usasse nenhuma skill, Larissa ganhou dois contra um praticamente, Miguel ficou junto com Zoe do mesmo jeito. Gabriel, por sua vez, estava do outro lado mais afastado apenas com um, aparentemente o líder desse pequeno grupo.
Droga, eu tenho que vencer logo, não posso depender dos outros. - Com esse pensamento, Gabriel havia dito aos outros para o deixar lidar com aquele goblin sozinho. Ele respirava com a boca, ofegante, os dois estavam frente a frente. O goblin tinha apenas um corte do seu braço esquerdo mas não era grave. Com um pé na frente e um atrás Gabriel ficava atento aos movimentos do goblin, que estava cercado e olhava ao redor o tempo inteiro tentando achar uma brecha. Ao desistir da idéia, ele se focou em Gabriel e avançou contra ele com um pulo para frente, Gabriel desviou para o lado, caindo com um rolamento e antes que o goblin pudesse reagir, o acertou na nuca.
— Isso! — Gabriel fez um punho de vitória, apesar disso, ele não estava eufórico.
— Já tava na hora, né? — Laura soltou.
— Cala boca.
— Mas, cara, pensei que finalmente veria seu sorriso. — Zoe botou a mão no ombro de Gabriel.
— Eh? O sorriso de Gabriel? — Larissa perguntou.
— É, você já viu ele sorrindo desde que se encontraram depois de tudo?
— Agora que você falou... — Miguel arregalou os olhos.
Calem a boca, calem a boca!
Cuidem da sua vida, droga!
Eu sou perfeitamente capaz de sorrir, só não vejo motivos para. - o rosto de Gabriel, que estava apenas com uma certa expressão de orgulho, agora se fechou, com raiva
— Yeah, yeah, vamos continuar logo, não temos tempo a perder.
— WRUAAAAAHN! — O goblin rosnou alto, talvez muito alto. Definitivamente muito alto.
— Cala boca, tá? — Gabriel foi até ele e o esfaqueou mais algumas vezes, aproveitando para pegar o que tivesse de bom.
Espera, esse grito não foi alto ao ponto de outros escutarem, foi?
Bah, provavelmente é coisa da minha cabeça. Mas e se não for? Podemos continuar? Não estamos nos arriscando demais? Talvez tenhamos nos acomodados, imprevistos acontecem. Seria esse um deles?
É melhor se eu ficar calado, não quero arrumar mas nenhum briga, se fosse perigoso mesmo os outros saberiam.
O que eu estou pensando...? Estou muito paranóico. - ele parou depois de pegar as coisas do goblin pensando nisso.
— Vamos? — Zoe o chamou com uma voz calma e sossegante, que quase o fez esquecer de seu medo atual, pondo a mão no seu ombro.
Ele a examinou por um momento. Seu rosto fino com nariz afilado e cabelos longos castanhos faziam com que parecesse que seu rosto brilhava, mesmo num lugar daquele.
— Você tocando no meu ombro ta ficando cada vez mais normal. — ele se levantou.
— É, talvez, você parece estar no mundo da lua muitas vezes. Desse jeito eu te acordo. — houve uma pausa. — sou quase uma psicóloga, eu diria. — Ela continuou com uma voz de ironia, apontando para o próprio peito.
— hnf.
— Vamos lá, sorria! — Ela o balançou, com as sobrancelhas franzidas.
— Bom, vamos continuar, podemos falar disso depois... — Ele coçou o lado da boca com vergonha. — Eu acho...
Seus olhos se iluminaram, surpresa, e então ela respondeu com um simples :
— Hm!
Eles seguiram pegando um beco a esquerda, nenhum deles tinha se machucado sério. Miguel não tinha nenhum arranhão, Zoe e Larissa tinham alguns e Gabriel tinha apenas o do seu braço. Então, Laura não curou ninguém. Ela havia usado apenas uma habilidade, podendo ainda usar três
Em ainda pouco tempo, havia outro beco à direita ou eles poderiam continuar em frente, mas optaram por seguir em frente. Se virassem muito podiam acabar voltando ao início, mesmo estando ali por algumas semanas, o mapa que Zoe vivia fazendo estava longe de acabar e nem sempre evitaria coisas desse tipo. Eles estavam ali para caçar, não para fazer mapas, então virar no beco apenas para aumentar seu "campo de visão" estava fora de cogitação também.
E em menos de cinco minutos andando em frente, eles acharam um grupo. Eram 7. Raramente goblins andavam em grupos tão grande quanto de sete, essa foi a primeira vez que Larissa e companhia haviam visto.
— Sete? Será que devemos recuar? Ou damos conta? Mas se recuarmos, realmente conseguimos recuar? — Larissa estava murmurando, com a mão no rosto abaixado.
— Larissa. — Laura a chamou, tocando em seu ombro.
— Huh?
— Eu... nós queremos ir com tudo. — ela deu uma olhada para trás como se estivesse apontando para o resto do pessoal.
Zoe estava sorridente e fez uma pose com uma mão na cintura e acenando um legal, Miguel apenas acenou um pouco envergonhado, enquanto Gabriel estava com suas duas adagas na mão e com os joelhos levemente dobrados, pronto para atacar.
Matar. Sobreviver. - Esse pensamento movia Gabriel, mas não era suficiente, não era o que ele queria. O que faltava? Ele não sabia. Ele realmente queria saber, estava na ponta da língua, mas ele não sabia. Pois mesmo com pensamentos como esse, sua expressão não era de raiva, muito menos medo.
— Bom, então eu conto com vocês mais uma vez. — ela se virou para os goblins.
Eles que por sua vez estavam preparados, como Gabriel, mas pareciam conversar de alguma maneira também. Seus grunhidos irreconhecíveis estavam frequentes e calmos, pareciam ter um padrão. Se é que eles são capazes disso.
— Gabriel, Zoe, vão para o outro lado da esgoto, vocês vão ficar com os três de lá. Eu, Laura e Miguel ficaremos com os quatro daqui.
— Ok! — os dois concordaram, atravessando o rio o mais rápido possível.
— Laura, prepare os projéteis! Miguel, se der para você segurar três, segure, eu tento acabar com um rapidamente e a magia de Laura vai para te apoiar.
— Beleza!
Todos se posicionaram. Larissa estava frente a frente com o 1° goblin, enquanto Miguel estava com seu escudo pronto para se defender do 2°, 3° e 4° goblin.
Larissa encarava o inimigo e quando finalmente partiu pra cima uma flecha caiu em frente ao seu pé, a fazendo parar.
— O que?!
Era o 4° goblin, ele estava mais afastado e puxou um arco de suas costas, eles não conseguiam ver antes pois aquela área estava mais escura que o normal.
— Miguel! Tem um de arco e flecha, cuidado! Você também Laura! E use o projétil nele, a prioridade é ele!
— Entendido! — Laura respondeu
Ela olhou para o outro lado analisando se ele poderia usar as flechas até lá, mas descartou a ideia. Porém enquanto Larissa pensava em todas as condições da luta o 1° goblin avançou contra ela, acertando um golpe na lateral da barriga, mas não foi fundo suficiente para cortá-la. Ela sabia que não podia vacilar, isso não podia ter acontecido, por sorte, não houve demais ferimentos, mas o que não pode acontecer uma vez, definitivamente não pode acontecer novamente. Com o 4° e 1° goblin sempre no perigo, ela não podia pensar muito mais, então, decidiu focar apenas na sua luta agora, e deixar o resto com seus companheiros.
Gabriel ficou encarregado do 5° goblin e Zoe do 6° e 7° goblin. Eles estavam praticamente lado a lado, Zoe apenas segurava defensivamente os ataques do 6° e 7°, enquanto Gabriel ia pra cima do 5°. Aquilo era uma batalha de velocidade. Quem aguentaria mais? O 5° goblin ou Zoe. Gabriel não tinha espaço para pensar nisso, logo no começo tentou acertar o pescoço do goblin com um corte pela lateral, mas o monstro refletiu com sua adaga, o dando um murro na barriga, que não foi muito efetivo. Zoe por sua vez, mesmo na defesa, tentava achar uma brecha. os dois goblins tentavam acertá-la nas dobras de sua armadura, principalmente em uma no meio da barrigada, na altura do umbigo. Com sua espada ela conseguia segurar uns e desviar de outros, às vezes dando um corte no ar ou chute que os goblins desviavam facilmente. Era o de se esperar, no entanto, mesmo que a chance seja pequena, ela tinha que tentar revidar. Gabriel havia acertado o braço do 5° goblin. Ele não tinha certeza o por quê, mas a criatura tentou revidar e repentinamente ficou parado olhando para atrás dele, ele até olhou rapidamente mas não havia nada, então ele acertou o braço do goblin que estava esticado da tentativa de hit.
Nós vamos conseguir? Eu não acho que um sete contra cinco seja uma boa para nós. Não somos fortes assim.
Eu sei que tenho apressado bastante as coisas. Tentado me provar.
Sinceramente até agora eu não fiz nada. Nada incrível, nada memorável, eu apenas existi. Eu não sou incrível, mas eu não sou ruim. Todas as vezes que eu tentei me provar acabei estragando tudo.
Eu tenho noção disso.
Mas estou começando a pensar que está bom dessa maneira.
Mas realmente está?
Eu tenho est... - ele não conseguiu completar o pensamento.
O 5° goblin repentinamente pulou nas suas costas enquanto ele estava distraído.
— Droga! Sai, sua peste!
ele ficou se balançando e procurando uma parede para jogar o goblin contra mas não conseguia. Era tudo muito rápido e as mãos do goblin estavam no seu rosto. Então, finalmente ele conseguiu o agarrar e jogou-o no chão, o dando várias facadas no rosto e peito.
— tsch! Lixo.
Sangue vermelho.
É estranho, mesmo sendo criaturas horripilantes e míticas, seu sangue parece com o de humanos.
— Uma help seria bom. — Zoe o chamou, acertando um chute no 7° goblin
— haah! — concordou.
Miguel não tinha dificuldade em se defender, dificilmente uma flecha o acertaria ou as espadas atravessariam sua armadura. Mas ele também não conseguia revidar, o 2° e 3° goblin estavam o fazendo de besta, sempre que ele tentava os acertar eles desviavam fazendo caretas e rindo dele, era um pouco macabro. Isso mexeu um pouco com a cabeça de Miguel, que costuma ser calmo, ele começou a atacar mais, mesmo devendo focar na defesa. Aparentemente era o plano deles, pois quando Miguel deu um golpe de cima pra baixo forte, ele conseguiu ver uma flecha passando por cima dele, em direção a Laura.
— Droga!
Por sorte, Larissa conseguiu desviar com sua espada na frente de Laura, que apenas piscou assustada. Mas por causa disso, o 1° goblin conseguiu acertar a barriga de Larissa, foi no mesmo lugar do outro, ela apenas soltou um leve gemido de dor e pôs a mão na ferida.
— Se controle, Miguel, não deixe esses goblins ditarem o ritmo!
— Desculpa.
— Larissa, está quase pronto!
— Ok!
Larissa estava com uma mão na ferida, na parte esquerda da barriga, enquanto a outra estava segurando a espada frente ao 1° goblin.
— Vem.
— Brlhuaaa!
O goblin correu reto com a adaga para frente e Larissa simplesmente deu um passinho para o lado, dando um chute em suas costas e o fazendo cair.
— Agora, Laura!
Os sussurros eram diferentes. Não. Era a mesma coisa. Mas tinham coisas adicionais, no meio de todas aquelas palavras era possível perceber que havia algo a mais. Provavelmente fruto do fortalecimento das skills.
— Ash Ush!
E então, o vento foi cortado como se algo estivesse em alta velocidade ali, duas vezes. Uma em direção do 4° goblin, que estava com uma flecha pronta para sair e acabou tomando o projétil bem no pescoço. Enquanto o outro seguiu para o 1° goblin, que sentiu e conseguiu desviar, mesmo no chão.
— Ah, não vai!
Antes que pudesse se levantar, Larissa cravou sua espada curta no crânio do bicho.
Agora é um dois contra dois aqui e parece que Larissa está se dando bem também.
Nós conseguimos. Nós vamos conseguir.
Eu não preciso me provar. Nós somos fortes. Totalizando, já é um 5 contra 4. - com isso pensado, Gabriel se acalmava.
Mas não tinha espaço para se acalmar. Logo quando ele, Larissa e Laura haviam abatido um goblin cada, um dos quatro gritou.
— WRUAAAAAHN!
Merda, parece aquele grito do outro. Mas muito pior.
O que há com eles hoje? Gritando assim.
Todos os outros goblins se afastaram, o que deixou o grupo inteiro estranhando, e então, sem demora, houve um rugido ainda maior atrás:
— WHRoAAAAAAAH!
Algo enorme surgiu atrás deles, no meio da água podre.
O que é isso?
Eu não fui contado sobre algo assim.
O quê? O quê? Como vamos derrotar algo desse tamanho?
Era um goblin gigante. Ele estava segurando a cabeça de um goblin menor em uma mão, uma espada proporcional a sua altura na outra e usava um capacete velho. Sua sede de sangue era enorme, seus olhos estavam vermelhos, não parecia haver muito além de puro ódio ali.