Uma semana se passou. Gabriel conseguiu aprender a skill: passos leves e não era mais um completo amador. Ou melhor, era, mas saiu da estaca zero.
Ele acabou de acordar e recebeu dez moedas de prata, sendo "expulso" do dormitório dos ladrões. Jake o lamentou, mas reforçou que era assim com todos. Gabriel, no entanto, não ligou tanto, ele sabia que seria difícil arrumar um grupo e não queria trabalhar com nada mais. Logo, ele decidiu tentar lutar sozinho.
Com suas dez moedas de prata, ele comprou duas adagas barata, um bracelete e uma armadura leve. Mesmo seu instrutor, Jake, tendo o avisado para não usar nada além de bracelete, Gabriel achava que ficaria muito exposto e como queria começar a caçar sozinho, decidiu que era melhor. Além disso, comprando a armadura, o bracelete vem de graça. Mas na verdade, a periculosidade era apenas um pretexto, ele está num conflito interno sobre ser ou não um ladrão ainda.
Talvez seja melhor assim.
Essa armadura vai me ajudar bastante.
Sobraram-se apenas uma moeda de prata. Isso é equivalente a cerca de três dias numa pousada, fora a comida.
Se tudo der certo, eu arrumo pelo menos mais uma moeda de prata.
É uma aposta enorme, mas talvez eu consiga.
Então, assim que saiu e comprou seus objetos para caçar, saiu da cidade. Já era a tarde, eles têm apenas um relógio no centro da cidade, e quando ele terminou de comprar tudo, eram 13:30.
Do lado de fora Gabriel não conseguiu enxergar nada que pudesse ser de uma antiga civilização, apenas floresta.
Os goblins são as criaturas mais fracas, como sempre.
Se eu pegar um sozinho usando os passos leves com certeza mato.
Ele olhou para os dois lados antes de decidir para onde ir. Existe um mapa sobre fora da cidade, mas não valia a pena gastar com isso, foi o que ele pensou.
Gabriel está com um pouco de medo, ele nunca enfrentou um monstro antes, nem sequer tinha visto. Mesmo após todo esse tempo, pensar que monstros de jogos ou séries existem o assustam. Quem não ficaria assustado? Ao menos ele, ficou assustado. Como ele poderia saber se tudo ia dar certo? Não tinha como. Ele não podia estar vivo no dia de amanhã. E o pior de tudo, ele sabia disso.
Gabriel saiu para a direita pois teve a impressão de ter mais árvores durante suas corridas e pensou que poderia ser mais furtivo assim.
Dando passos vagarosamente, Gabriel estava com dificuldades para achar um goblin.
Se eu soubesse que era longe, teria vindo com mais pressa.
Durante a semana em que ele treinou para ser um ladrão, ele pegou o hábito de caminhar todas as manhãs ao redor da cidade, dentre outras coisas. Jake o disse que contanto que ele não fosse longe não haveria perigo, então ele não estava cem por cento nas cegas, apesar de isso não ajudar em quase nada. Ele não tinha nem pensado em desviar o caminho e ir mais fundo, com medo, praticamente não olhou para a floresta a dentro.
Havia passado cerca de trinta minutos desde que ele saiu da cidade e nada, mas ele sabia que não podia deixar a guarda baixa. O plano era matar sem nem ter que lutar, se ele falhasse, um versus um ainda era viável mas se ele achar goblins em grupo é impossível de ele vencer, e ele sabe disso.
Com mais dez minutos, Gabriel finalmente achou uma presa. Um goblin sozinho dormindo encostado em uma das árvores. Ele ativou passos leves. Apenas precisava respirar fundo e se concentrar no corpo inteiro para funcionar. Em seguida, foi em direção ao goblin, com mais medo do que ele queira admitir a si mesmo.
Wuah eles realmente existem.
Eu sabia, mesmo assim, é difícil imaginar.
Ele é verde e horrível. Nunca vi algo tão feio antes.
Que horrendo.
Quando Gabriel se aproximou, notando na aparência grotesco de um monstro pela primeira vez. Honestamente ele ficou com receio de olhar e ficar com medo, por isso evitou o contato, apesar de estar com medo igual. Então, ele levantou sua mão com uma das adagas para apunhalar o monstro.
Um ladrão. É agora. Hora de fazer uso do sangue do meu pai.
TOMA ESSA!
Ele falhou. Na hora em que o fez, o goblin agarrou sua mão e subiu em suas costas.
Mas o quê?
Como ele acordou?
Ele é muito rápido, o que é isso?
Mas ainda sim o goblin estava desarmado, ao falhar em roubar a arma de Gabriel, ele soltou um grito digno de monstro, horrível de se escutar, e bastante alto.
— Cala boca seu pedaço de…
Antes que Gabriel pudesse terminar, o goblin saiu de suas costas, soltando seu braço. Mas isso não significou moleza. O goblin rapidamente deu um murro na dobra de trás de seu joelho, o derrubando, contornou até sua frente e deu um murro em sua barriga antes que pudesse se recuperar.
— Yuhhhh!
Se contorcendo de dor, Gabriel conseguiu levantar e tentou acertar o goblin com a faca, mas errou o goblin, estava com o coração a mil, desesperado. No contra ataque o goblin jogou a adaga para longe, e dessa vez deu um soco no rosto de Gabriel, que estava perto de perder a consciência. Ele estava pirando, mas sabia desde o começo que não podia pirar, que não havia espaço para isso.
Eles estão o tempo inteiro dizendo para não enlouquecer.
Então, não irei. Vou derrotar esse cara aqui e provar que estou bem, estou perfeitamente normal.
Tudo que ele conseguia fazer naquele momento era mentir a si mesmo e não desistir. Os murros do goblin estavam frequentes, Gabriel defendia com seus braços mas não conseguia achar uma brecha.
Ele não sabe que eu tenho outra adaga, eu posso usar isso a meu favor- ele pensou isso, orgulhoso.
E realmente deu certo, Gabriel segurou um dos murros, puxando o goblin para ficar de costas a ele, deu um giro rápido e enquanto segurava o goblin com uma mão, pegou a adaga com a outra e tentou o acertar nas costas, na pressa, sem conseguir agir direito, acabou acertando apenas o ombro.
Droga. Mas agora tenho vantagem, é só não vacilar.
Somente a finalização.
O goblin agora tem apenas um de seus braços para poder usar, Gabriel ganhou confiança. Está com o sangue quente, querendo lutar contra o goblin. Querendo vencer e matá-lo, era o que dizia a si mesmo. Mas então, por que seu corpo inteiro tremia? Certamente não era de dor. Medo. Ele estava apavorado com a situação, com um monstro, com ter que matar um monstro, com mil outros fatores que estavam à tona na sua cabeça. Conseguiria ele continuar lutando desse jeito? Ele não podia pensar na resposta para isso. Não importava a resposta, ele tinha que tentar.
Então, o goblin soltou outro rugido, exatamente igual ao anterior, por um instante Gabriel se assustou. Mas nada aconteceu, até que ele foi pra cima. Mais dois goblins saíram das árvores. Eles pularam em cima de Gabriel que estava com a guarda baixa prestes a acertar o goblin de antes. Caído no chão, os três goblins começaram a lhe chutar. Ele sabe que se tentar reagir, eles vão simplesmente apunhalá-lo, logo eles começaram a rir. E finalmente iriam abatê-lo.
Droga, não tem nada que eu possa fazer?
Meus músculos doem.
Eu não consigo me mexer. Eu estou com medo, droga!
Eu devia ter esperado. Devia ter arrumado um emprego.
Talvez seja melhor assim, eu perdi tudo, afinal.
Queria ter ao menos matado o 1° goblin. - ele começou a enumerá-los
Achei que pelo menos você serviria para isso...
— wuaaaaaaaaa!
Gabriel soltou um grito, de desespero, enquanto segurava a expressão normal em seu rosto, para não dar o gosto de seu medo aos inimigos, bom ele tentou. Mas a dor era maior. O 1° goblin deu um chute na sua barriga mais uma vez, e pegou a adaga de Gabriel para o matar. Mas, quando a mão do goblin já estava indo para baixo, uma flecha o acertou. Gabriel ficou com os olhos fechados e não viu, surpreso por não ter sido acertado os abriu e olhou ao redor. Um homem, alto e forte, com armadura bastante pesada apareceu correndo e afastou os dois outros goblins de cima de Gabriel, movendo sua espada sem mira certa.
— Uhriaaaa!— ele berrou.
O quê ele vai fazer? Ainda é um três contra um. Não tem a mínima chance de eu conseguir ajudá-lo.
Sem muita demora, apareceram mais duas pessoas, fazendo o pensamento de Gabriel ser considerado um erro total.
Ah é, a flecha na mão do 1° goblin.
Saindo de arbustos, uma garota com arco e flecha apareceu, juntamente com uma garota com um cubo de magia.
— Toma essa!— ela atirou mais uma flecha, o 2° goblin desviou, mas bateu no ombro do 1° goblin que estava atrás dele se debatendo ainda da outra flecha, no mesmo ombro em que Gabriel havia o acertado.
Uh, essa doeu. Agora ele definitivamente não vai mais usar aquilo.
— Ush!
A maga soltou algum tipo de magia no 3° goblin, ela já estava fazendo alguns sussurros esquisitos quando chegara ali. E o mesmo não conseguiu desviar. Não tinha como. Era uma espécie de projétil invisível. Pegou em sua perna, torando-a. Uma cena horrível de ver quando não se está acostumado. O 1° e 3° goblin estavam berrando, o 3° já não podia lutar, não conseguia ficar de pé. Mas o 1° e o 2° estavam tentando abater o homem alto de armadura, mas não parecia que iriam conseguir. O 1° goblin já estava desesperado por causa de seus ferimentos, e o 2° praticamente sozinho não iria conseguir. Ainda mais com uma maga e uma caçadora no flanco.
No caos, Gabriel conseguiu se arrastar para longe e ficou encostado em uma árvore observando tudo. O 2° goblin até tentou ir até ele enquanto o 1° segurava o homem de armadura, mas toda vez que tentava, a caçadora atirava uma flecha em seu pé.
Eles já eram, vou só… descansar um pouco.
Gabriel fechou seus olhos lentamente, e a caçadora de aproximou dele correndo, mas não adiantou muito tudo que ele afetou foi ele escutar:
— Hey, não feche os olhos! Está me escutando? Não os feche!
Antes de dormir, ao escutar isso, Gabriel se lembrou de Ana o mandando não dormir.
Se ao menos você estivesse aqui...
Mesmo quase inconsciente, ele certamente ficou muito triste com isso.
Abrindo os olhos lentamente, Gabriel se deparou com o quarto em que ele havia passado a semana inteira, o dormitório dos ladrões.
Ah é, aquilo aconteceu.
Aquilo era ele não ter conseguido se virar e quase ter morrido para simples goblins. Não foi surpresa, era uma possibilidade. Mas uma que podia ter sido evitada.
Afinal, como o goblin conseguiu me escutar?
Eu não sou perfeito nessa fazendo passos leves mas com certeza não sou tão ruim assim.
Bom, já que estou aqui posso perguntar a Jake.
Se levantando, Gabriel saiu do dormitório e seguiu para o saguão principal. Lá, as três pessoas que o salvaram estavam conversando com seu tutor. A caçadora parecia séria, ela lidera a conversa enquanto Jake escuta atentamente e a maga e o tanque apenas olham. Ao se aproximar eles param de conversar e Jake o chama:
— E aí, garoto. Não conseguiu sair debaixo da minha asa por tão pouco tempo?
— Eu tinha plenas possibilidades de…
Gabriel tentou se explicar, começou até a mover suas mãos para argumentar, mas Jake o interrompeu, e falou:
— Possibilidade de matar três goblins? Acho que não. Larissa estava me contando o que aconteceu, você contra três goblins. Sozinho.
— Era apenas um! Eu me aproximei com os passos leves e mesmo assim ele me escutou. Deu um grito e apareceram mais dois, se não fosse por isso eu o mataria e sairia tranquilo.
— Cara, até um surdo acordaria com essa sua armadura. Passos leves não é 100% de sucesso, você não dominou totalmente, e não funciona quando você usa esse tipo de armadura, mesmo sendo leve. Eu te avisei que você não era um guerreiro, se você insiste tanto, posso te recomendar algumas malhas de couro, mas nada de armadura, entendido?
Jake deu alguns tapas leves no peitoral que Gabriel estava usando.
Bom, o que ele esperava? Que eu fosse sozinho sem armadura matar alguns goblins?
Se bem que talvez ele não esperasse que eu fosse matar goblins, ainda mais sozinho.
De qualquer forma essa malha pode me ajudar melhor de agora em diante, irei aderir.
— Beleza.
Gabriel acenou com a mão.
— Gabriel?
A caçadora, Larissa, o chamou.
— Oi?
Ele ficou confuso, Jake podia ter contado seu nome, mas o jeito com que ela o chamou foi estranho. Gabriel sentiu que seria algo sério. E ela parecia bem séria, assim como antes.
Ela tocou em seu rosto com a mão direita, passando suavemente. Ele pirou um pouco, mas ficou calado para ver até onde ela iria.
O que há com essa garota? Será que surtou?
Eu sei que não sou tão bonito, mas poderia ser que...
— Você não lembra de mim?
— De você?
Ele pôs o dedo indicador em seus lábios e o dedão no queixo e pensou por um momento.
Larissa? Larissa? Larissa!
Oh Deus. E eu achando que ela queria algo comigo.
— Meu Deus, é você?
— Yeah, quanto tempo, hein?
— Pra mim foram algumas semanas, sabe.
— Ah, verdade. Estou aqui faz uns três anos, mas só comecei a caçar fora há alguns meses, não temos exatamente um calendário aqui. Por isso não me reconheceu. Ah, e o meu cabelo também.
Os dois tinham dezessete antes do apagão. Estavam Gabriel e todos os seus amigos no terceiro ano, alguns com dezesseis ainda, mas a maioria dezessete. Agora Larissa tinha provavelmente vinte, enquanto Gabriel continua com seus dezessete.
— Sim, sim, você cortou o cabelo, pelo que vejo. E tem um ar mais maduro ao seu redor. Eu poderia ter notado sabe, apesar de tudo foram apenas três anos, mas acredito que com tudo que está passando pela minha cabeça nesses dias não reparei.
Ele apontou para os pontos que citava, enquanto falava sobre.
Não, eu nunca teria pensado que era ela, ela era quietinha e meio solitária, seu cabelo era um rabo de cavalo. É como se fosse outra pessoa.
— Entendo perfeitamente, só não entendo por quê você saiu sozinho para caçar uma semana depois de chegar aqui, desistiu de viver?
Larissa levantou as mãos, em dúvida.
— Claro que não! Eu apenas não queria esperar, e não tenho habilidades para trabalhar em mais nada por aqui.
Gabriel se aborreceu com a seriedade na pergunta dela e acabou se excedendo nos gestos. Mas logo que terminou de falar, se encolheu.
Enquanto os dois conversavam, os dois outros amigos de Larissa estavam de queixo caído com a interação entre os dois. Jake não parecia surpreso, devido a sua experiência já havia visto fatos como esse antes.
— Então, que tal recrutamos ele para o grupo?
O tanque interrompeu a conversa frenética dos dois com uma sugestão que não foi muito bem aceita. Ao menos não por alguns. Com um. Uma.
— Mas ele é um ladrão! Como sabemos se ele é confiável?
A maga questionou, com o preconceito esperado.
— Pode ser uma boa idéia, poucos grupos possuem um devido ao preconceito, e ele é um conhecido meu de antes do apagão. É confiável sem dúvidas. Precisamos de um guerreiro e um ladrão para fechar o grupo, arrumamos um. Mas ladrão, hein? Tem alguma coisa na ponta da língua sobre isso que eu não consigo saber o que é.
Larissa olhou para ele, desconfiada.
No entanto, eu sinceramente não estou muito a fim de entrar.
Mas acredito que não há outra escolha atualmente, tenho que entrar.
Ficar me encarando com esse olhar julgador tentando lembrar de algo que não tem nada a ver comigo não ajuda, espero que não se lembre.
— Eu não vou roubar nem machucar ninguém, eu só quero viver e caçar alguns monstros. Acabei de chegar aqui, eu era um estudante.
— Não se preocupe, eu o treinei, Gabriel não tem o coração ruim.
Jake segurou no ombro dele.
— Tsch, tudo bem então, mas não pense que tem minha confiança.
A maga concordou, resmungando.
— Está fechado então. Vamos, temos um dormitório.
Gabriel seguiu Larissa e seus companheiros até um dormitório, o colégio em que Gabriel viu alguém entrar na outra noite. Aparentemente, grupos possuem o privilégio de ter um dormitório desses de graça, no entanto, não são muito atraentes.
Sua parte é no final do prédio, um pouco afastado do resto. Possuem dois quartos, cada um com quatro camas.
Oito camas no total?
São cinco classes, tem grupos que usam oito membros?
Talvez eu pergunte isso a Larissa depois.
Eles também podiam usar um banheiro apenas deles, e há um lugar para lavar suas roupas. A cozinha eles improvisavam do lado de fora com uma fogueira e panelas.
Assim que Larissa o mostrou tudo, eles foram até o lado de fora, onde tinha um banco, o tanque e a maga estavam sentados conversando e os dois se juntaram a eles.
— Então, quais são seus nomes?
Gabriel sentou já falando. Enquanto a maga começou a ficar incomodada.
— Miguel.
— La…
— O quê? Não entendi, você falou muito baixo.
Ela não queria falar, por isso falou baixo. Mas na inocência, Gabriel não percebeu e insistiu. Algum momento ela teria que falar, os dois estavam no mesmo grupo agora, afinal.
— Meu nome é Laura.
— Prazer em conhecê-los, Miguel e Laura. Como já sabem, sou o Gabriel.
Com pouca de interação por causa da intolerância de Laura, todos foram dormir cedo. Por terem encontrado Gabriel em estado crítico, não caçaram o resto do dia, tiveram que voltar às 15:30.
no dia seguinte eles combinaram de acordar cedo para lavar suas roupas e caçarem. E Gabriel vai ter que vender sua armadura, e comprar uma malha de couro, por causa de seus ferimentos ele não iria lutar com eles nesse dia, Laura pode curar, mas mesmo isso possui limites. Ela não recupera o sangue perdido, você vai ter que descansar um pouco pra se recuperar, além disso ela não pode recuperar algo como um membro do corpo perdido, se seu braço inteiro fosse arrancado, por exemplo, ela não conseguiria te curar.