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Chapter 3 - Durma mais um pouco

Gabriel abriu seus olhos. Estava escuro.

O que houve comigo?

Ele estava deitado e lentamente se levantou, ficando sentado. Olhou ao redor, e viu um monte de pessoas numa sala, todas dormindo.

Meu Deus, onde eu estou?

Quem são essas pessoas?

Ele não sabia, não tinha como saber. De qualquer jeito, a ficha ainda não tinha caído. Ele estava nervoso, mas não desesperado, ainda não. Ele estava com a mesma roupa de quando estava no colégio, uma calça jeans e uma camisa de manga com algumas frases em inglês, mas agora estavam todas rasgadas, como se estivesse velhas.

Eu estava com Ana no colégio se não me engano...

Enfim, preciso sair daqui ou eu vou surtar, deve ser perigoso continuar aqui.

Gabriel se levantou sem fazer barulho, e seguiu em direção a única porta que havia na sala em que estava.

Talvez eu deva tentar acordar alguém aqui.

Não, muito perigoso.

Afinal, eles estão realmente… vivos?

No momento em que ele abriu a porta, um raio de luz imensa entrou em seus olhos, por um momento ele ficou cego, então, enxergou tudo novamente. Havia um balcão com algumas pessoa, e várias mesas vazias. Assim que ele deu um passo para fora, a pessoa do balcão o viu, e ficou surpresa. Gabriel achou que não deveria ter saído, ele não sabia mais o que fazer.

Será que devo voltar? Será que dá tempo?- Ele perguntou a si mesmo. Mas não tinha como voltar mais. A única coisa que ele acha ter certeza é de que isso não vai terminar nada bem. Mas antes de ele agir ou pensar em mais algo, o balconista gritou:

— Ei, você, vem aqui!

Gabriel olhou para todos os lados e não viu ninguém, no entanto ficou imóvel.

Onde estão os outros? Ana, Vitor, qualquer um. Eu estava com eles, tenho quase certeza.

— Você mesmo de jeans, vem aqui!

Gabriel pensou um pouco sobre o que deveria fazer e sem demorar muito, seguiu em direção ao balcão. Ele não conseguia parar de pensar que estava prestes a se dar mal. Onde ele estava? Como ele chegou ali? Quem era aquele que estava o chamando? Bem, o que mais ele podia fazer nessa situação? Pelo menos ele está segurando seu surto até o último minuto.

Ao chegar no balcão, sua unico pró foi desfeito, ele teve sua primeira crise de ansiedade. Ele não parava de se perguntar milhões de coisas ao mesmo tempo, estava começando a respirar ofegante, com dificuldades. Mas ele tinha que ouvir o balconista antes de falar algo.

— Você acabou de acordar, não?

— hãm, sim. Eu acho.

— Está aí o seu assassino, complete seu grupo— Ele falou para a garota ao seu lado, apontando para Gabriel.

— Você sabe que eu já tenho grupo completo, não tire onda comigo.

Ele riu.

— Bem, está na hora de você ir, vou ter trabalho com esse aqui.

Assassino? É o que?

Gabriel estava suando frio, ele começou a roer as unhas enquanto olhava os dois tendo essa pequena conversa. Logo a mulher foi embora e o homem se voltou para Gabriel.

— Então, tem algumas coisas que eu quero deixar claro antes de começarmos.

— Hã.

Gabriel não conseguia raciocinar, agora ele simplesmente convencido de que foi raptado e que eles iriam soltá-lo somente com dinheiro.

— Você não corre riscos de morte, ninguém aqui é do mal. Apenas aconteceu de você aparecer aqui.

O balconista o fitou, esperando uma resposta, mas Gabriel continuo calado olhando fixamente para ele, então, ele continuou:

— Algumas coisas mudaram desde que você dormiu, acho difícil você acreditar, mas você verá por si mesmo quando sair daqui. Explicarei tudo de qualquer jeito.

Gabriel não conseguia falar, ele estava tentando mas as palavras não saíam. Ele abriu a boca repetidas vezes, mas nenhum som saia da sua boca.

Por quê? Por que eu não consigo falar? Eu quero perguntar.

Onde estão meus amigos? Onde eu estou? Que mudanças aconteceram? Eu tenho mil perguntas, mas não consigo fazer nenhuma. Por quê? Nada sai da minha boca.

Não há a mínima chance de ele conseguir falar ou perguntar algo agora, e apesar do atual caos mental em sua cabeça, ele percebeu isso. Sua mente estava num choque enorme, e mesmo se perguntando mil coisas, ele não ia conseguir perguntar uma ao homem em sua frente. Enquanto o suor não parava, e após cinco minutos com ele abrindo a boca e fechando sem falar nada. O balconista botou sua mão direita na cabeça, coçou um pouco e falou:

— Olha, eu sei que você está com muitas perguntas entaladas na garganta, mas tão nervoso que não consegue falar nada, então me deixe explicar o básico daqui, e o resto você se vira para descobrir. Mas antes, qual o seu nome?— perguntou, apontando para Gabriel.

Ele respirou fundo e cruzou seus braços. Ficou alguns minutos organizando os pensamentos e finalmente respondeu:

— Hãm, meu... meu nome é… Gabriel, senhor.

— Então, Gabriel… Gabriel? Tipo o…

Oh, droga, ele sabe.

— Não, deve ser minha imaginação, deixa pra lá.

Ele coçou a cabeça novamente e continuou:

— Isso vai ser longo. Então… sabe teu mundo normal? Já era. A nossa tecnologia e paz no mundo? Bem, "paz", Quem dera. É o seguinte, a humanidade entrou em um tipo de estado de hibernação, não afetou em nada nosso corpo, é como se estivéssemos parados no tempo. Ninguém sabe ao certo a quanto tempo acordamos, ou quanto tempo ficamos adormecidos, mas existem criaturas lá fora, criaturas mitológicas. Ah e também, não ficamos imune a chuva e essas coisas então nem todos sobreviveram nesse estado adormecido, parabéns.

— Criaturas?— Gabriel o interrompeu

Que? Isso é insano, não tem como ser verdade. Meu pai armou isso para mim.

Eu estou num programa de piadas.

É isso. Só pode ser isso.

Gabriel começou a rir, histericamente, perdendo um pouco de sua sanidade.

— Ah, garoto, não seja um dos loucos, você não vai gostar. Mas sim, criaturas, e algumas pessoas as matam para sobreviverem, como forma de dinheiro. Eles são chamados de despertados.

Louco, talvez seja isso.

Enlouqueci.

Deve ser melhor assim.

O balconista deu um tapa em Gabriel, que parou de rir quando foi acertado.

— O quê? Me dá um tempo, cara.

— Tempo não muda os fatos, garoto.

— Cara…

— Eu já estive no seu lugar. Sei como é difícil, sem amigos, sem família. Mas você tem que sobreviver, é o que eles iriam querer.

Amigos, família.

Onde eles estão?

Meus pais…

Meus amigos… Ana, ela estava comigo na hora.

— Agora você precisa dormir, está tarde, amanhã volte aqui e eu vou arrumar um grupo para você.

— Dormir? Eu estou dormindo por mais de cem anos, você mesmo disse. Eu não estou com nem um pouco de sono.

Gabriel bateu na mesa com suas duas mãos, se exaltando.

— Onde estão meus pais? E meus amigos? Existe uma maneira de encontrá-los?

— Calma, meu amigo. Eu não dou a mínima pra você, só pra lembrar.

No momento em que o balconista disse isso, ele puxou uma faca e se encostou no balcão, apontando para o pescoço de Gabriel, que ficou imóvel.

— Eu estou fazendo um favor aqui pra você, sabia? Não venha com ignorância em cima de mim.

Ele voltou para trás do balcão, guardando sua faca.

— É impossível achar seus amigos e familiares, com sorte você pode os encontrar alguma hora. Mas é raro.

Impossível.

É impossível.

— E o que eu vou fazer de agora em diante?— Ele perguntou coçando o pescoço que estava com a faca anteriormente.

— Como eu disse, o que mais rende é virar um despertado. Entrar em um grupo e ganhar dinheiro matando os monstros, é arriscado, mas rende muito, como eu já disse. Ou você também pode tentar virar um trabalhador, é o que a maioria prefere. Ter uma vida calma e pacífica, sendo comerciante.

Despertado, hm? Talvez seja melhor.

Estou sem amigos. Sem minha família. Não vejo motivos para viver uma vida pacífica, não existe uma felicidade para mim aqui.

— Diga-me mais sobre os despertados. Posso ter interesse.

— Amanhã, hoje durma.

— Eu espero que isso seja uma brincadeira.

— Não, não é. Se você não for dormir, eu vou. Está tarde e não há nada que possa ser resolvido nesse horário. Além do mais, seus olhos parecem bem cansados.

Meus olhos são assim, droga.

— E onde eu vou dormir?— Gabriel franziu a testa, tentando ignorar o comentário do balconista sobre os seus olhos.

— Você é azarado mesmo, hein. Vou deixar você dormir na minha casa hoje, amanhã arrumaremos um lugar para você.

— Ok, qual o seu nome?

— João.

Gabriel e João saíram do local onde estavam, era uma escola, talvez a de Gabriel. No entanto, está irreconhecível para ele, muitas plantas ao redor, o lugar inteiramente rachado. Mas era o de se esperar, tinham-se passado mais de cem anos. Eles passaram por algumas salas de aula, repletas de corpos adormecidos, Gabriel ficou com medo, mesmo sem admitir a si mesmo.

Ao finalmente saírem, ele pode notar a mudança do tempo. Os prédios que não estavam destruídos, as plantas dominaram, mesmo sendo habitáveis e até mesmo talvez utilizados atualmente, parecem abandonados. Fora isso, existem algumas barracas de comércio que fazem com que pareça que eles estão de volta a idade média. Tudo parecia antigo, porque realmente é.

Sem luxo, hein?

Não acho que eu vá me acostumar fácil, preciso ficar calmo- Gabriel fazia pensamentos normais, como uma tentativa de forçar a si mesmo a aceitar tudo e se controlar. E aparentemente estava dando certo, na medida do possível.

Ao chegar na casa de João, Gabriel decidiu que iria dar uma volta, clarear os pensamentos. Até porque ele não estava nem um pouco com sono, e ficar na casa de um desconhecido não parecia algo realmente atrativo.

Ele queria ver como estava sua antiga casa, mas não podia. Ele nem sequer sabia se aquela era realmente sua cidade mais. Talvez seu corpo tenha rodado pelo país inteiro. A antiga cidade estava com muros enormes ao redor.Talvez sejam para proteger das "criaturas".

Eu posso tentar ir lá fora quando for um despertado.

E mesmo apesar dos muros, a cidade em si não era pequena, com certeza havia mais de mil habitantes ali, talvez mais de três mil.

Os arredores são todos iguais, não tem nada diferente do que Gabriel havia visto fora do antigo colégio, mas o principal motivo de ele ter dado uma volta não era realmente ver tudo. Era se acalmar, e pensar sobre o que fazer.

Despertado. - essa palavra ecoava na mente de Gabriel.

Talvez derrotar monstros me faça esquecer.

Esquecer de todas as minhas perdas. Focar em outra coisa.

Pode ser que isso me deixe calmo.

Enquanto voltava para casa de João, ele passou por um outro colégio antigo. Era apenas mais um com plantas pelos seus muros, mas esse tinha menos. Parecia mais estável também, mesmo com rachaduras.

Mas o quê?

Havia alguém no colégio. Ele teve dificuldades para ver pois o portão do colégio estava no caminho, mas esticando-se um pouco ele pôde ver uma garota.

Pela janela... Por que aquela garota está entrando pela janela?

Gabriel não conseguia ver direito, mas tinha certeza que havia alguém ali, ele viu longos cabelos, e…

Que bela bunda.

Ele não se importava tanto com essa garota invadindo um prédio antigo e escuro, principalmente depois de tudo que descobriu hoje, mas achou interessante olhar. De qualquer jeito ela entrou rapidamente, e gabriel seguiu seu caminho de volta a casa de João.