Na mesma noite da minha grande conquista, Stephen fez uma festinha entre amigos, apenas nós três, mas não deixou de ser divertido.
Naquela noite nós também saboreamos do tão aclamado hambúrguer que o Stephen sempre se gabava de ser perfeito, mas nunca fazia.
E o gosto? Era bom mesmo.
Eleanore passou a noite inteira rindo enquanto se embebedava, Stephen passou a noite contando histórias sobre suas aventuras no leste do país, e eu? Me sentia cada vez mais próxima desses dois. Era como uma reunião animada em família, e sim, eu já os considerava família.
Foi a melhor noite que eu tive nesses últimos dois anos.
E, pra completar aquela noite com chave de ouro...
Na mesma noite:
Stephen: Depois de tanta espera, você finalmente conseguiu, senhorita. Estou feliz por você.
Eleanore: Hic! Isso é verdade, eu estava prestes a desistir, nas poucas vezes em que dei aulas, você foi uma das mais longas. Hic! Se não, a mais problemática mesmo. Hic! Hic!
Ela falava soluçando, como uma legítima bêbada.
Emilia: Oh! Obrigada! haha...
Stephen: Descanse bem, você precisará disso amanhã.
Eleanore: Isso ai! Hic! Já passou da hora de crianças estarem na cama. Hic!
Emilia: Sim, sim... Ei, espere! Como assim "amanhã"? mais?! É sério?
Stephen: Claro, você já completou os testes da cachoeira e de sobrevivência, porém, ainda faltava um. Mas, fique despreocupada, pois esse é o ultimo teste… E também o provável mais difícil…
Emília: Heh?! Espere! Como assim-
Stephen: A partir de amanhã você estará treinando intensamente para o último "teste", o Campeonato.
Emilia: Isso não é... Heh? Campeonato? Como assim "Campeonato"?
Stephen: É isso mesmo, senhorita. O próximo teste será uma classificatória para finalizar o seu treinamento. Enquanto você estiver lutando lá, haverá vários outros campeonatos em andamento por todo os cantos do país. Isso acontecerá em três meses, por isso o treinamento. Nós não queremos que você falhe, temos altas expectativas em sua vitória.
Emília: E se eu falhar?... O que vai acontecer comigo?
Stephen: De duas, apenas uma. Você escolhe esperar por mais um ano, treinando mais intensamente ou você desiste e volta pra casa.
Por um breve momento eu fiquei apreensiva.
Eu não podia esperar por mais um ano.
Eleanore: Para mim, você vai varrer o chão com o rosto daqueles idiotas, mesmo sem ter despertado o Moon light. Hic!
Emilia: Calma, isso é muito para processar ao mesmo tempo. Que droga é essa de "Moon Light?"?
Eleanore e Stephen se encararam por um breve momento, com um olhar confuso. Depois voltaram a me encarar com o mesmo olhar de antes.
Eleanore: Ah... Bom, Moon Light é um Boost de poder, além de ficar mais forte, mais rápido e com reflexos quase perfeitos, você poderá despertar habilidades elementares. Uuuh! Elementares…
Stephen: Eh… Exato. Um exemplo é o próprio Merlin, ele é conhecido por muitos como o Imperador do Gelo, e pelo nome, da pra se deduzir de cara que ele domina o elemento de Gelo, derivado da habilidade mãe, Água.
Eleanore: O Merlin tem grandes feitos ao longo de sua história, mesmo tão jovem. Um - de muitos feitos dele - é ter congelado um dragão enorme apenas com o toque de uma espada. É uma lenda entre os caçadores, há apenas uma pessoa que é capaz de bater de frente com ele.
Entendo perfeitamente! Então o Merlin é tipo um protagonista de anime Shonen.
Emilia: Hmm... E quem seria essa pessoa?
Eleanore: Seu nome é: May Ockman. Mais conhecida também como a Princesa do Fogo.
Stephen: Você se esqueceu da outra alcunha dela...
Eleanore: Ah... Hmmm hum! Bom, é que ela não gosta de ser chamada assim, mas... Ela também é conhecida por alguns como... Como era mesmo?
Stephen: Monstro.
Eleanore: isso mesmo! Hic!
Emília: Oh! Que alcunha terrível... Quem a chama assim?
Stephen: nós.
Eleanore: nós. Hic!
Com um sorriso idiota no rosto, eles apontavam um para o outro.
Emília: heh-? Heeeeeeh?!
Eleanore levanta os braços e começa a balançar no ar.
Eleanore: É uma longa história! Ehehehe... Hic!
Stephen: Er.. Hum! Voltando ao assunto. Quando esses dois se enfrentam numa batalha, vira um espetáculo.
Emilia: Uaaaah!... Quem diria que o doce garoto que um dia conheci, se tornaria um dos homens mais fortes do mundo...
Sim, nesses dois anos que passei com eles, eu acabei falando sobre mim e Merlin. Porém, não contei que já namoramos. Seria vergonhoso contar isso.
Com um sorriso bobo no rosto eles concordavam comigo.
Emília: E como eu domino aquele "Moon light"?
Eleanore: Hmmm… lembre-se: Não se domina o Moon Light, se desperta. É algo que vem com você a partir do nascimento, e você precisa desperta-lo.
Stephen: Não é uma tarefa tão simples, pois, você tem que descobrir por si mesma como desperta. Todos nós que dominamos o Moon Light aprendemos por conta própria, sem a ajuda de ninguém.
Emilia: E se alguém já tiver despertado no meio do campeonato?
Stephen: Ai ficaria complicado para você, porquê a diferença de poder é ridícula. Mas confiamos em você, não passamos quase três anos aqui com você pra nada.
Eleanore: Isso é verdade! Se você fracassar, eu desisto. Hic!
Emilia: Er… Obrigada...
Na manhã seguinte:
O treinamento começou cedo e fomos até a noite.
O treino era basicamente resumido em: corridas em volta de toda a floresta, abrir pequenos rios com o peso da espada - às vezes eu até tentava abrir a cachoeira novamente, mas por algum motivo, eu só abria metade da cachoeira e o feito não se repetiu - Treinando as pernas com chutes e cambalhotas para frente e para trás, melhorando mais e mais minha especialidade em combate.
Todas essas coisas de uma vez só me deixaram ridiculamente exausta, isso só na primeira semana.
Depois de uma semana de treinos eu já estava acabada, mal podia me por de pé. Meu corpo estava indo além dos meus limites, sentia que estava me tornando frágil novamente.
Eram em horas como essa que aquela Fada maldita deveria aparecer para me ajudar - afinal, fadas são especialistas em cura, não? Ou estou enganada? - mas, aparentemente ela só aparece quando ela quer.
Então eu continuei com isso por semanas. Às vezes sentia algo quebrar no meu interior e, no final do dia, o Stephen aplicava em mim o que ele chamava de "magia de cura básica" e tudo ficava bem.
Eu também não sei como eles fazem para utilizar magia de verdade, só sabia que aparecia uma luz verde na palma de sua mão depois de citar uma frase com palavras embaralhadas, então sentia meu corpo se revigorar aos poucos.
Ainda pretendo descobrir como eles fazem isso, mas por ora vou apenas agradecer pelo que ele ta fazendo e continuar o treinamento.
Mas, teve um dia que eu pedi uma pausa para eles de pelo menos um dia para eu descansar. Depois de tanta conversa e discussões, eles aceitaram. Mas acho que não posso mais continuar mentindo para eles sobre meu corpo.
1 mês antes do campeonato:
Já era tarde da noite, estávamos em volta de uma fogueira em brasas, sentando em troncos de madeira, conversando sobre assuntos idiotas. Porém, por algum motivo eu sentia que aquela era a hora de contar a verdade.
Eleanore: Ai ele fez: BAAAM!!! E os restos dele espalharam por todo o lado, me sujei toda.
Stephen: História incrível. Gostei da parte do "baam".
Ela se empolga e abre um grande sorriso.
Eleanore: Não é!! Hehe!
Emilia: Haha... Er… Hum! Gente, precisamos conversar...
Eleanore: Ei, ei, ei!... Até ainda agora você estava rindo, e agora ficou séria? Você é retardada?
Emília: Sinto muito... Mas é importante.
Eleanore e Stephen: Estamos aqui para te ouvir... Ei, não copie o que eu digo. Aaaah! cala boca!...
Emília: Eh... Tem uma coisa que eu não falei pra vocês. Ah... O meu corpo é frágil, quando nasci fui diagnosticada com uma doença que enfraquecia todos os meus ossos. Antigamente eu nem conseguia andar que já corria o risco de quebrar algum osso do corpo e também…
Eleanore: Espere! Então você está nos dizendo que treinou esses últimos dois anos conosco com esse corpo? Você é retardada, garota? Quer se matar? E por que você não morreu ainda? - eu sabia que essa garota era problema desde o começo...
Stephen: Acalme-se, Eleanore. Deixe-a terminar de falar.
Eleanore: Faz sentido, agora faz todo sentido. Geralmente os alunos demoram menos de 1 ano para se formar, no máximo 1 ano pra 2 anos de treino, mas você… Você ta quase 3 anos nisso.
Stephen: Eleanore, por favor. Deixe ela falar.
Eleanore: Hum?!...
Emília: Eh... Ok. Quando fiz 15 anos, eu me sentia 100%, porém, não conseguia correr se não me cansava rápido demais. Quando comecei a treinar com vocês meu corpo foi enfraquecendo mais e mais, como quando você me pediu para subir a montanha, eu quase morri por falta de fôlego. Na luta contra a Eleanore eu quase morri de novo, foi um milagre eu ter sobrevivido. No teste da cachoeira da cachoeira as coisas mudaram. Apesar do meu corpo já ter se acostumado com os treinamentos diários, no fim do dia, minha mão sempre ficava dolorida, elas tremiam e doía bastante.
Comecei a olhar fixamente para as minhas mãos.
Emília: Todas as manhãs eu tremia de medo apenas por encostar nas minhas espadas.
Fecho os punhos e contínuo os encarando.
Emília: Agora, nesse treinamento de Resistência e Força meu corpo chegou no limite. Dói bastante para que eu me adapte ao treino, sinto que a qualquer momento todos os meus ossos podem quebrar e...
Stephen se levanta, sua expressão transmitia um ar de decepção.
Stephen: Senhorita, pensei que você tivesse nos dito que se tornaria uma caçadora de verdade.
Emília: E eu quero, mas…
Stephen: "Mesmo que todos os meus ossos se quebrem, mesmo depois de ter alcançado meus limites, eu continuarei lutando até me tornar uma caçadora." Foram essas palavras que você usou no dia que nos conhecemos, lembra? Ou estou enganado?
Quase fiquei sem ter o que falar.
Emilia: Não, não está! Mas Sensei, eu...
Naquele momento eu pude notar o olhar de decepção de Eleanore, então travei por um segundo.
Emília: Ah! Esquece. Eu vou dormir.
Me levantei frustada e fui pra "cama", batendo com força o pé no chão. Os dois ficaram lá em volta da fogueira olhando um para o outro com olhares confusos.
Eleanore: Você não acha que pegou um pouco pesado com ela?
Stephen: Se não fosse eu, seriam os próprios demônios nesse mundo. Ela quis se tornar uma caçadora, logo já deveria estar ciente do que teria que passar para se tornar uma. Porém…
Eleanore: Porém?…
Stephen: Se for verdade o que ela disse sobre o próprio corpo, ela vai precisar equilibrar o próprio corpo, ela vai ter que buscar alguém amplie a resistência do corpo.
Eleanore começa a mexer no fogo com um graveto para impedir que ele apague, e em seu rosto um olhar irônico.
Eleanore: Ah, é? E como você pretende fazer isso, Stephen Gounelle?
Ele cruza os braços enquanto olhava pra ela.
Stephen: Ela precisa aprender a ser uma usuária de Magia.
Eleanore: Então você... Finalmente vai trazer aquilo pra ela?…
Stephen: Exatamente. Amanhã mesmo eu vou embora para buscar aquilo, voltarei em alguns dias, quero que fique de olho nela por mim.
Eleanore: Espere, espere! Você sabe muito bem que o processo de aprendizado para aprender o domínio de nível baixo requer meses de ensino, como você pretende ensinar ela em menos de um mês?! Isso dependendo do tempo que você demorar pra voltar. Como faremos isso?!
Ele pisca pra ela com muita confiança.
Stephen: Eu tenho um plano.
Eleanore: Ah!... Ok, deixo isso em suas mãos, gênio.
O fogo aumenta e o lugar ilumina ainda mais.
Quando acordei na manhã seguinte, percebi um ar estranho na floresta.
Eu dormi no meu "saco de dormir" que ganhei da Eleanore no meu aniversário de 16 anos, e ainda dormir dentro de uma simples barraca de acampamento, que ganhei do Stephen no meu aniversário de 17 anos.
Eu sai da barraca ainda vestindo o saco de dormir, ou seja, me arrastei pelo chão como uma minhoca.
Emília: Humm… O quê?!
Notei que, a barraca do Stephen não estava mais no lugar que deveria estar. Rapidamente me pus de pé e fui pedir explicações a Eleanore, mas, ela só disse que ele tinha um trabalho mais urgente.
E, assim meus dias cansativos continuaram, tudo indo "bem" até a última semana antes do campeonato.
Stephen retorna da viagem que ele havia feito sem um aviso prévio.
Stephen encontra eleanore carregando um coelho morto - para o almoço - em uma das trilhas da montanha.
Stephen: Ei, Eleanore!
Ela olha para trás e vê o amigo. Um sorriso bobo cresce em seu rosto.
Eleanore: Hey!... Bem-vindo de volta.
Stephen parecia exausto, ele carregava uma mala de couro. O que teria dentro dessa mala?
Stephen: onde ela está?
Eleanore: A Emília? Bom, ela ficou exausta do treinamento de hoje, então eu dei permissão para ela descansar. Agora ela deve estar no alto da montanha.
Stephen: Obrigado. Foi bom te ver!
Eleanore: Igualmente…
Ele continua subindo a montanha. Ele parecia estar com muita pressa para me ver.
Estou na ponta de um penhasco, sobre a sombra de uma árvore frutífera com mais que o dobro do meu tamanho.
Meu treinamento de hoje me esgotou, minha visão estava até turva, mas, nada que uns minutos de descanso não resolvam.
Stephen: Senhorita!!
Ouço a voz de Stephen vir um pouco longe.
Meu coração bateu forte, pois já tinha me acostumado com a presença dele por perto. Quando soube pela Eleanore que ele teria que viajar meu coração apertou.
Estava com saudades...
Ele é um amigo que com certeza faz falta.
Stephen: EMÍLIA!!
Essa é realmente a voz dele!!
Olho para trás e vejo stephen surgir sobre as árvores, correndo em minha direção carregando uma mala.
Emilia: Stephen!… Quando que você chegou?
Stephen: Não temos tempo para isso, você precisa dominar um desses três feitiços.
Emilia: Feitiços? É o quê?
Stephen: Olha, aqui temos 3 feitiços!
Ele abre a mala e nela havia três frascos de vidro, dentro deles havia líquidos com cores variantes.
Um tinha a cor alaranjada, o segundo tinha uma cor avermelhada e o terceiro tinha uma for esverdeada.
Stephen: Esses feitiços são: Força temporária; Resistência temporária; e Cura imediata. Você só pode escolher aprender apenas um deles. Escolha sabiamente.
Emília: Vou poder usar magia, sério?
Stephen: Escolhe logo a porcaria do feitiço!
Emília: Espere, espere, espere! Eu posso usar mais de um feitiço ou apenas um pra vida toda?
Stephen: Emília, não temos tempo! Você precisa aprender a dominar um feitiço o quanto antes.
Emília: Ah- certo! Tudo bem, espere, espere... Bem, vamos ver. - A de força vai me deixar muito mais forte, mas se eu estiver em perigo, a beira da morte por conta do meu corpo, força não vai adiantar em nada. Então eu tenho esses dois... Cura é muito boa, e útil. Mas se eu estiver no meio da batalha contra um oponente que tem um vigor acima da média, me curar não vai adiantar, estaria tentada a ser machucada de novo, de novo e de novo... Claramente resistência vai ser a melhor escolha, talvez eu já esteja morta quando eu quiser usar a Cura. - Stephen, eu vou querer Resistência.
Ele sorriu orgulhoso, como um pai vendo sua filha aprendendo a dar seus primeiros passos.
Stephen: Escolha sábia, senhorita. Agora me entregue suas duas espadas e estenda sua mão para mim.
Emília: Está bem...
Entrego as espadas para ele e, estendo a mão. Ele puxou um pincel do seu bolso, e escreveu "Teikō" (resistência) na minha mão, ele derrama o liquido laranja do pequeno frasco na palma da minha mão, em cima da marca, e na lâmina da minha espada. A marca some fazendo um som de queimaduras e, a espada brilha num tom alaranjado.
Emilia: ai!... Isso arde!
Abano a mão e assopro na área que estava queimando.
Emília: Ok, como vou fazer para testar essa Habilidade?
Stephen: Simples, o único jeito... É na prática.
Stephen deu alguns passos para trás e correu em minha direção. Ele gira uma vez, e então me ataca com um chute.
Antes dele efetuar o ataque, eu me defendi usando os dois braços para amortecer o impacto
Ele não acertou, nem errou.
O chute foi defendido por mim, mas isso não foi capaz do ataque ser parado. Acabei sendo arremessada de cima do penhasco.
Meus braços doem, mas não é tanto quanto deveria doer. Existe alguma técnica para acertar o oponente com um chute que não doa tanto? Ou será que foi por que eu defendi?
Emília: Hummm!… Ei, espere, eu estou...
Olho para baixo e percebo estar caindo de uma altura realmente grande. Como se estivesse caindo de um edifício de 30 á 40 andares, isso por conta do forte chute de Stephen que, não foi um chute qualquer, mas que me jogou não só pra longe, mas também pra cima.
Emilia: Aaaaaaarrrrrhhh!!!... Ugh! Ei, ei, ei... É mesmo, a técnica de resistência, eu preciso fazê-la funcionar! Eu não quero morrer assim!!
Já perto do impacto contra o chão, meu coração acelerou, os batimentos estavam a mil.
"BASH!!"
E disso, um fogo mágico alaranjado cobriu meu corpo e o impacto do meu corpo no chão formaram uma pequena cratera e um som da queda ecoou sobre as árvores.
Eu sobrevivi… Alguma forma.
No entanto, eu dormi por 1 semana inteira. Acordei um dia antes do campeonato começar.
O que eu farei?! O que eu farei?! Estou em perigo? Talvez sim e talvez não.
Eu não sei nem como eu ativei a técnica, preciso saber como fiz aquilo ou serei humilhada no torneio.
Continua...