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Chapter 11 - Culto

Quando nos aproximamos da cidade sinto uma frequência de poder que me é familiar, não de um individuo mas de um grupo, um cujo tenho uma história de ressentimentos, tudo bem que senti poucos deles na cidade, mas não quero arriscar que alguém anuncie ao mundo que ainda estou vivo, não tão cedo.

Pulo a muralha, eu não quero lidar com burocracia antes de saber o que eles estão fazendo aqui, me seguro no outro lado da parede e rapidamente pulo para a casa com o telhado mais próximo e continuo assim até pular diretamente em um beco deserto.

Bem não exatamente deserto, já que cinco pessoas se encontravam nele, mas fora isso, um beco isolado e deserto.

Eles eram cinco homens, as roupas não tinham nada de especial, isso se você não souber o que procurar todos os cinco usavam um anel no dedo médio com uma pedra vermelha incrustada e esculpida de modo a lembrar chamas dançando, o trabalho é de boa qualidade as labaredas pareciam quase sair dos anéis, o problema é as pedras em que as esculturas foram feitas.

Pedras lapis, eu não estou falando de lápis lazúli, me refiro as do tipo que teria diminuído a contagem de torturas de Baha em um. Pedras de lapis podem recriar a sensação de uma energia ou fenômeno, basicamente são a entrada indolor para o mundo dos Synchroners.

O que isso me diz é que esse grupo só tem Synchroners variando do primeiro ao terceiro estágio, não acho que tenho algo com o que me preocupar se eu der cabo de um grupo tão insignificante, além do que estragar os planos do Culto da Chama Cinzenta é simplesmente o melhor jeito de voltar a ativa.

Pensando nisso quase me movo de modo a arrancar a cabeça de um desses bastardos com as mãos nuas, a cena desenrolando na minha mente é o suficiente para me fazer sorrir como nunca antes na ultima década, mas essa mesma década e mais algumas me ensinaram a me conter, então não separei as cabeças dos pescoços deles ainda porque vou usa-los antes de me livrar deles.

Eu acabei de achar parceiros de treino para os meus não-discípulos, penso nisso com um sorriso quase tão grande quanto se eu tivesse decapitado os cultistas.

Culto da Chama Cinzenta eu não ia procurar por vocês tão cedo, mas já que apareceram por vontade própria, eu obviamente tenho que devolver um pouco do sofrimento que fizeram eu e o Velho Estrela passar.

Da mesma forma que cheguei até aqui eu pulo para outro beco deserto, sem ninguém dessa vez, e em seguida volto as ruas normais e me dirijo a primeira taberna que encontro.

Eu preciso de um pouco de álcool pra abafar minha mente das emoções de uma cidade lotada.

A dita taberna estava numa esquina, tem dois andares com o primeiro sendo usado para atender os clientes, o segundo provavelmente é a residencia do proprietário, o interior não tem nada de especial, vou até o balcão e me sento em um dos cinco bancos dispostos a frente do mesmo, e bato duas vezes na madeira do balcão.

Não muito tempo depois ouço passos firmes, provavelmente descendo os degraus de uma escada, o tom que eu ouço muda, provavelmente uma mudança no material do piso. Da porta atras do balcão um homem afasta cortina de cordões de madeira, ele parece estar no inicio dos trinta tem uma barba negra curta e espessa cabelos igualmente curtos, usava um avental marrom avermelhado.

"Normalmente as pessoas só vem resmungar da vida daqui a umas duas horas caro cliente, então peço que perdoe o fato de não telo atendido prontamente."

O provável proprietário do lugar diz isso com um tom jovial e calmo. Me pergunto se nos tempos medievais de volta a Terra todos os profissionais de áreas que exigiam constante interação com os clientes também serviam de terapeutas?

Provavelmente não, mas quem sabe os mais gentis.

"Tudo bem só vou me considerar com sorte só do fato do lugar estar aberto, aliás é por isso que está aberto a essa hora do dia, não perder um cliente aleatório que pode vir aqui só uma vez na vida?" Pergunto fazendo o possível para falar num tom tão calmo quanto o dele.

"Todo mundo tem contas a pagar, então um cliente extra que entrou aqui simplesmente porque as portas estavam abertas mesmo que nunca volte contando que pague ainda é lucro." O proprietário me responde sem pensar muito.

"Bem, se assim, já vou te dar algum lucro, me traga um copo de vodka." Álcool para minha garganta finalmente.

"Sim, senhor." Ele responde enquanto tira um garrafa de baixo do balcão e um copo pequeno, o qual enche de vodka e empurra para mim.

"Aqui está."

"Obrigado."

Trocamos as cordialidade básicas e viro meu copo na minha boca sem pensar muito, eu só quero não pensar no ruído constante em minha mente por um tempo.

"Outro, por favor."

"Okay, só vai com calma amigo." O proprietário fala com preocupação audível, ainda bem que gentileza não é uma das emoções que eu sincronizo, eu definitivamente não preciso de mais ruídos na minha cabeça.

Outro copo vem a minha mão, dessa vez tomo o licor em pequenos goles, vamos ver se os bastardos traíras ou os cultistas deixaram escapar alguma coisa porque acharam que ninguém nas massas ia notar.

"Então, eu sou novo na cidade, tem algum lugar que todos aqui devam evitar a todo custo?" Pergunto, casualmente? Não sei, normalmente eu posso só quebrar tudo até ter uma resposta.

"Hum, vejamos, acho que além de coisas que dariam ruim em qualquer cidade não há nada digno de nota por aqui." Ele responde "Sem contar que o amigo é mais intimidador que a maioria dos bandidos."

Esse aí tem bons olhos.

Eu posso ser pior se necessário.

"Nem mesmo um novo grupo que tenha aumentado a tensão entre as autoridades e os criminosos locais?" Pergunto novamente.

"Hum, tensão entre os criminosos locais e as autoridades?" Ele pergunta a si mesmo com uma das mãos apoiando o queixo " Não sei se é o tipo de tensão que o amigo se refere, mas tem um grupo vendendo uns incensos que supostamente vem de Aurora Eterna, até aqui seri só um produto exótico, mas segundo os boatos todos que usaram esses incensos começaram a pregar sobre se purificar em brasa ardente e deixar que a fumaça negra leve as impurezas de nossas almas."

Okay, isso foi mais obvio do que eu esperava.

"Isso é exatamente o que eu procurava. Posso levar a garrafa toda?" Pergunto assim que a realização do descaso que o culto tem com as autoridades locais passa.

"Desde que pague." O proprietário responde, no mesmo tom de sempre.

Eu sei que não teve nada de especial na nossa conversa mas, esse cara por acaso é cronicamente calmo?

Que inveja.

"O amigo claramente não pretende voltar e se voltar peço seu nome enquanto lhe sirvo as bebidas, sem falar no mais importante, o amigo fede a problemas." Wow, que direto e pratico.

Me despeço do proprietário sem nunca pedirmos os nomes um do outro, enquanto vou tomando a vodka direto da garrafa, eu paguei obviamente. Agora, hora de achar os pirralhos.

Não que seja difícil, especialmente a Mingten, cabelo vermelho e energia unica, deve ter sido um inferno ter que esconde-la Yanan, bom trabalho.

Espalho meus sentidos como uma onda sonora, estou procurando um homem com Ki de fogo e uma garota com Ki de vento mais uma energia que se assemelha a fissão, essa parte ainda me incomoda.

Achei eles.

Bem, eu já me arrisquei o suficiente com a entrada exagerada, vou ir até os pirralhos andando devagar, principalmente para aproveitar a bebida.

Vinte minutos depois já com a garrafa vazia chego a uma pousada simples, troco algumas palavras com o dono do lugar, troca que chegou perigosamente perto de virar uma batalha de insultos, felizmente, consegui me conter.

Depois desse episódio, me dirijo ao quarto que os pirralhos supostamente alugaram para mim, a mesma coisa da ultima pousada, só que tudo é um pouco mais velho. Eu devia ter acrescentado mais dois insultos para aquele velho decrepito.

Bem, que se dane, vou atormentar os pirralhos para ver se meu humor melhora.

Ainda me lembro da energia deles, e seguindo essa informação vou até o quarto ao lado oposto do meu, e bato na porta, normalmente, sem tentar destruir algo.

"O que foi?" Baha atende a porta com a cara de quem acabou de acordar.

"Sessão de treinamento especial." Digo com um sorriso, que sem duvida alguma, não esconde o quanto eu me divirto com o sofrimento deles

Ele belisca a própria bochecha, depois solta um suspiro de resignação, arrasta a mão pelo rosto e gesticula para eu entrar.

"Entra." Ele diz "Pesadelo dos infernos" a ultima parte em sussurros quase inaudíveis.

Continue assim Baha que um dia você vai começar a falar em frequências infra-sonoras, e finalmente não ouvirei seus resmungos.

"Você lembra como virou um Synchroner não é?" Pergunto abruptamente.

"Sim, claro que eu lembro" Ele fala, com um pouco do rancor do ocorrido escorrendo pelos lábios. "Vocês dois fizeram a ocasião desnecessariamente memorável, da pior forma é claro."

Na verdade você podia ter esquecido bem fácil Baha, trauma. Sera que ele nunca ouviu falar? Bem, que seja, não estou aqui para falar disso mesmo.

"Memorável, hein?" Volto a falar com o malabarista "Bom jeito de colocar, mas normalmente não é assim que se desperta um Synchroner, o método usual envolve o uso de pedra especial para não colocar todo mundo que tenta virar um Synchroner a meio centímetro da morte."

"Você está dizendo que eu sofri por nada, então?" Baha, pergunta levantando uma das sobrancelhas, o que por sua vez distorce a tatuagem próxima a mesma.

"Bom não por nada." Eu começo falar, e como muitas outras vezes não me importo se quem ouve realmente entende o que digo "Foi pra poupar tempo, e porque eu não tem esse tipo de pedra comigo e mais importante seria uma lição caso você sobrevivesse: atalhos normalmente vem acompanhados de dor extrema."

"Como o treinamento que você nos faz passar." Isso não é um mistério nem novidade, Baha. "E eu quase morri por que você não queria perder algumas horas?"

"Horas não, meses." Isso já ficou tangencial demais "Nada disso importa agora, o que importa é que vocês pirralhos vão conseguir umas dessas pedras amanhã."

Pela cara que o malabarista esta fazendo, acho que não consegui esconder completamente minha empolgação.

"Em que tipo de inferno você está pensando em nos jogar, Kaz?" Baha pergunta com preocupação estampada no rosto.

Não é a melhor das tatuagens.

"Inferno? Eu não acho que vai ser tão ruim" infelizmente "mas se conseguirem fazer os seus oponentes de 'treino' experimentar um, eu vou adorar ouvir e ver tal inferno"

Cultistas bastardos, merecem ainda pior no que me diz respeito.

Felizmente para eles procrastinar tudo que não seja urgente, mesmo quando eu sei que vai ser mais problemático a longo prazo, é uma das minhas muitas qualidades.

Isso e deixar projetos inacabados para outros completarem, como estou fazendo com os pirralhos.

Me divertam, cultistas, o fato que só posso ver vocês sofrerem enquanto estiverem vivos, é maior razão para eu não os exterminar de uma vez.