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Chapter 11 - Terceiro lugar

Oh, olá, caro leitor. Quem diria que estaríamos aqui novamente em outra conversa unilateral.

O que posso compartilhar com você? Além das penosas e desastrosas situações do meu dia a dia.

Não pretendo assustá-lo, apenas desejo revelar meus segredos. Não estou me sentindo bem aqui.

É sério, meu futuro me preocupa mais do que meu passado me aflige, e meu presente me tortura mais do que derrama lágrimas.

Assim como a história do navio de Teseu, que, tábua por tábua, não permaneceu o mesmo, consigo notar essas mudanças. As pessoas não são mais as mesmas, o mundo não é mais o mesmo e, para piorar, nem eu sou mais eu.

Não desejo passar fome, sofrer ou sequer a mais insignificante das dores.

Meu poço de criatividade secou, ou melhor, não é que secou, mas sim que as ideias se esgotaram.

Tudo o que escrevo reflete meus pensamentos e/ou a realidade definitiva. Portanto, o que mais desejo é uma conexão, entretanto, quanto mais tento me incluir nesses meios, mais paranoico e confuso eu me sinto.

Talvez, o que eu possua não seja um poço de criatividade, mas, na verdade, não seja nada mais do que um idiota e profundo buraco.

O que faço é, simplesmente, usar outras palavras para descrever um acontecimento.

Pensar assim revela o quão insípido eu sou, incapaz de enxergar além do que meus olhos permitem.

Admito que consigo imaginar bem, mas sou desastroso na criação de algo novo.

Tudo que desenhei, pintei e escrevi foram imagens gravadas em minha memória. No máximo, posso descrever como uma experiência e, na pior das hipóteses, uma simples cópia de um objeto que já vi.

Nessa perspectiva, nem eu sou eu. Nunca fui um navio para começar, existo apenas porque copiei pessoas, mentalidades e observei as experiências dos outros, transferindo essas coisas para mim.

Posso afirmar isso, pois meu estilo não é meu, mas sim de um escritor que admirei na infância.

Minha melancolia é de Mário de Sá, entrelaçada apaixonadamente com a morte.

A instabilidade emocional veio dos pseudônimos de Fernando Pessoa.

A tragicidade amorosa exclusiva de Vinicius de Moraes.

O jogo de palavras e sentidos de Fábio Brazza.

A condução da história de Sid da Bendita.

Nessa perspectiva.

Não sou eu.

Nem estou observando nos ombros de gigantes.

Sou apenas um minúsculo repetidor de Wi-Fi dentro de uma casa pequena, inútil, pois toda a casa já era coberta pela rede.