Ren viu, a árvore morta, sua silhueta retorcida recortada contra o céu noturno.
O Mantis Espelho estava se aproximando, e o som de suas placas quebradas era como uma promessa de morte.
A árvore morta estava a menos de cinquenta metros de distância quando o chão se abriu sob os pés de Ren.
A esperança o tinha distraído.
Por um momento terrível, Ren flutuou na escuridão, seu estômago revirando enquanto a gravidade reivindicava sua presa.
A faca de cozinha de seu pai voou do seu cinto. Num ato de puro instinto, Ren a agarrou. A lâmina cravou-se na parede do túnel, desacelerando sua queda com força que ele não sabia que tinha.
Terra e pedras choveram sobre ele, atingindo seu rosto, entrando em seus olhos.
Acima, o Mantis Espelho parou na borda do buraco. Suas placas quebradas criaram um caleidoscópio doentio de luas fragmentadas.
A criatura inclinou sua cabeça triangular, calculando, faminta.
"Não, não, não..." Ren chutava a parede, buscando um apoio. A faca estava escorregando.
A terra cedeu e Ren caiu.
O Mantis saltou.
Seus ganchos brilhavam na escuridão enquanto caía, o metal de seu exoesqueleto quebrado entoando uma canção de morte. Ren viu sua vida passar diante dos olhos, dez breves anos que terminariam na escuridão, longe de seus pais, sem sequer a chance de...
Um rugido ensurdecedor sacudiu o túnel.
A imagem do Escavador apanhando-o fez com que ele cravasse a faca novamente, e em seu desespero, ele viu um pequeno túnel ao lado.
O túnel paralelo era estreito, mal largo o suficiente para Ren rastejar por ele. Sem pensar, Ren se empurrou em direção ao túnel.
Mas o mantis o alcançou.
No entanto, bem antes que pudesse agarrar Ren ao entrar no túnel...
A parede sob o mantis se abriu, revelando a cabeça monstruosa de um Escavador Noturno.
A besta estava hibernando, armazenando o pouco de mana disponível, quando o colapso a despertou.
E agora estava faminta.
O Mantis Espelho torceu-se no ar, suas garras encontrando carne de escavador em vez de sua presa original. O Escavador rugiu de dor, suas garras imensas emergindo da terra para pegar seu atacante.
Ren estava paralisado pelo terror.
A menos de dois metros de distância, duas bestas de pesadelo lutavam numa dança mortal de metal e terra. As placas quebradas do Mantis criavam lampejos caóticos na escuridão enquanto o Escavador tentava arrastar sua presa para as profundezas.
À sua direita, quase invisível na escuridão, Ren distinguiu uma abertura. Um túnel mais velho, suas paredes alisadas pela passagem do tempo.
Ele não tinha escolha. O vencedor seria decidido em breve.
Ele se arrastou para o túnel enquanto atrás dele a batalha atingia seu clímax.
O grito metálico do Mantis misturou-se ao rugido do Escavador. Houve um estalo horrível, e então...
Silêncio.
Ren se arrastou para longe da borda, sua respiração tão alta em seus ouvidos que temia que a besta vencedora pudesse ouvi-lo.
'Estou vivo', ele pensou, incrédulo.
Os cogumelos em seu cabelo forneciam a única luz no absoluto escuro do túnel, seu brilho fraco mal suficiente para ver suas próprias mãos trêmulas.
♢♢♢♢
"Por favor, deixe que o Escavador tenha vencido, por favor, deixe que o Escavador tenha vencido," Ren murmurou enquanto se arrastava o mais rápido que podia.
Os Escavadores Noturnos eram territoriais e lentos, se venceram a batalha, levariam um tempo devorando sua presa antes de pensar em persegui-lo.
Mas se o Mantis venceu...
Um grito vitorioso fez seu sangue gelar. Não era o rugido profundo que ele esperava ouvir.
"Não, não, não..."
Os cogumelos em seu cabelo mal iluminavam o caminho quando uma bifurcação apareceu diante dele. O túnel à esquerda era irregular, claramente obra de alguma besta. Mas o da direita...
Ren parou, ofegante.
As paredes eram lisas, perfeitas demais. Exatamente como seu pai havia descrito em suas histórias:
"Como se alguém tivesse derretido a própria pedra, filho. Um túnel dos antigos, de quando os humanos viviam aqui e moldavam rochas com magia."
Atrás dele, o som úmido de carne sendo rasgada o fez sentir náuseas. O Mantis estava se alimentando. Mas uma refeição era tudo o que precisava para recuperar força e continuar caçando.
Ren entrou no túnel antigo.
Agora em um lugar muito mais espaçoso... Os cogumelos em seu cabelo revelavam marcas nas paredes, símbolos que ele não conseguia entender, mas que definitivamente não eram naturais. Esse tinha que ser o caminho que seu pai havia encontrado.
O túnel parecia se estender eternamente na escuridão.
Ren havia mantido um ritmo rápido por horas, impulsionado pelo medo e adrenalina, mas agora suas pernas tremiam com o esforço e sua respiração estava pesada.
Ele parou, recostando-se na parede lisa do túnel antigo.
Lembrando o que seu pai disse sobre as bagas ajudarem a recuperar energia e manter a mente clara, ele comeu algumas que trouxera.
Ele pensou em acender uma tocha com o pedernal, mas esquecera de coletar madeira e seus cogumelos já forneciam luz suficiente...
Com uma mente mais clara, ele começou a analisar sua situação.
De acordo com o mapa do seu pai, ele já deveria ter encontrado a saída. Teria ele se enganado no caminho? Escolhido o túnel errado?
Os cogumelos em seu cabelo forneciam luz na escuridão absoluta, mas seu brilho era mal suficiente para ver alguns metros à frente. Embora fossem melhores que uma tocha.
Eles também o tinham salvado...
Ren vinha amaldiçoando-os desde que os invocou, mas agora...
"Ao menos vocês servem para alguma coisa," ele murmurou para o esporo, ainda fundido com ele. "Mesmo que apenas como uma lâmpada."
Ele deixou-se cair no chão, suas pernas agradecidas pelo descanso. A água de sua cantil estava morna, mas nunca havia saboreado melhor.
Enquanto recuperava o fôlego, ele estudava os símbolos misteriosos nas paredes. Alguns pareciam responder fracamente à luz dos seus cogumelos, como se reconhecessem algo em seu brilho tênue.
"Suponho que eu deveria agradecer também por aquela coisa com os sapos," ele continuou, surpreso por falar com a criatura mais fraca do mundo. "Embora tenha sido pura sorte. Provavelmente você nem sabia o que estava fazendo…"
Um eco distante interrompeu suas palavras. O som inconfundível de metal contra pedra, seguido por aquele sibilo faminto de congelar o sangue.
O Mantis havia terminado de se alimentar.
E desta vez não haveria mais Escavadores para distraí-lo.
Desta vez ele estaria sozinho.
E agora estava vindo atrás dele.
"Não, não, não..." Ren se levantou quando o sibilo metálico ressoou à distância, mas mais perto. Os cogumelos em seu cabelo agora pulsavam com um estranho brilho amarelado, mas ele mal tinha tempo para se perguntar por quê.
O túnel se estendia diante dele como uma garganta negra. Não havia saídas laterais, nem lugares para se esconder.