Chereads / Sombras Do Passado: Entre A Lei E A Paixão / Chapter 1 - O Preço da Insubordinação

Sombras Do Passado: Entre A Lei E A Paixão

Nowero
  • 14
    chs / week
  • --
    NOT RATINGS
  • 1.1k
    Views
Synopsis

Chapter 1 - O Preço da Insubordinação

Há Treze anos, o imponente edifício J. Edgar Hoover em Washington DC projetava sombras alongadas naquela manhã de outono. No quarto andar, a Agente Nora Mitchell aguardava na antessala do Conselho de Revisão do FBI, seus dedos tamborilando discretamente no braço da cadeira de couro. Uma mistura de contentamento e apreensão a dominava - finalmente saberia seu destino.

O ar condicionado soprava suavemente, carregando o aroma específico de café e papel novo que permeava os passageiros da agência. Através das persianas semi-abertas, raios de sol criaram padrões geométricos no carpete azul-marinho. Nora observa essas formas, tentando ignorar o peso do distintivo em seu blazer preto - um distintivo que, ela sabia, não poderia carregar por muito mais tempo.

Sua mente vagou por três semanas atrás, revivendo a operação que a trouxera ali. O som dos tiros ainda ecoava em seus ouvidos, junto com a certeza absoluta de que sua decisão, embora tecnicamente insubordinada, havia sido a única opção para salvar aquelas vidas inocentes. Mesmo que isso signifique desobedecer ordens diretas.

"Agente Mitchell." A voz do assistente administrativo cortou seus pensamentos. "O Conselho está pronto para recebê-la."

Nora se declarou, alisando automaticamente seu blazer. Seus saltos ecoavam pelo corredor de mármore enquanto seguiam a assistente até a sala de audiências. O ambiente austero, com suas paredes revestidas de madeira escura e a longa mesa onde cinco diretores a aguardavam, pareciam projetados para intimidar.

Sentou-se ao lado de seu supervisor, sentindo o olhar penetrante do Diretor Adjunto Harrison fixou nela. O silêncio na sala era quase tangível.

"Bom dia, Agente Mitchell," a voz grave do Diretor reverberou pela sala.

"Bom dia, diretor." Sua própria voz saiu firme, surpreendendo-a.

O Diretor ajustou seus óculos de armação dourada, seus olhos examinando um documento à sua frente. "O Conselho de Revisão chegou a um veredito sobre seu caso. Após extensa deliberação, foi determinado que sua insubordinação em campo colocou em risco não apenas a operação, mas a vida de seu supervisor imediatamente." Ele fez uma pausa, seus olhos encontrando os dela. "No entanto, considerando o seu histórico exemplar, o Conselho está disposto a oferecer uma transferência para a unidade de investigação."

Nora sentiu um gosto amargo na boca. Uma transferência para investigação - essencialmente uma despromoção velada, um exílio burocrático. Suas mãos se fecharam em seu colo, mas sua voz controlada: "Agradeço a atenção do Conselho, mas devo recusa a oferta."

O silêncio que o silêncio foi garantido. 

"Muito bem." O Diretor fechou a pasta à sua frente com um movimento definitivo. "Então não nos resta outra alternativa senão solicitar que você entregue sua arma e distintivo. Seu emprego está encerrado."

Nora assentiu uma única vez, levantando-se com dignidade. Ela já havia chorado todas suas lágrimas nas últimas semanas - agora só restava enfrentar as consequências de sua escolha com a mesma verdade que a levara a fazer-la.

Com uma breve oração silenciosa, Nora girou a maçaneta e entrou no escritório principal. O silêncio que a recebeu foi garantido - Agentes, pessoas com quem havia trabalhado por anos, observando sua última caminhada até sua mesa. Todos, exceto um.

O Agente James Carlton mantinha os olhos fixos em seus documentos, sua postura denunciando que sua indiferença era deliberada. O ar entre eles estava carregado de palavras não ditas e promessas quebradas.

Com movimentos metódicos que mascaravam seu turbilhão interno, Nora esvaziou sua mesa. Cada objeto guardado era um fragmento de sua identidade profissional sendo desmontado. Fotos de formaturas, medalhas de reconhecimento, até mesmo o pequeno cacto que sobreviveu três invernos em seu canto da janela - tudo encontrou seu lugar na caixa de papelão.

No escritório do Agente Thompson, seu supervisor, o ritual final se desenvolve com uma solenidade dolorosa. Suas mãos tremeram levemente enquanto desengatilhava sua arma - um gesto que havia praticado milhares de vezes, mas nunca com essa finalidade. O distintivo, quando o depositou na mesa, pareceu absurdamente pesado.

"Você ainda pode mudar de ideia", ofereceu Thompson, sua voz gentil treinando preocupação genuína.

"Não, não posso." A resposta veio sem hesitação. Algumas linhas, uma vez cruzadas, não permitiam retorno.

Ele se pediu, contornou a mesa e o abraçou. O abraço de Thompson foi paternal, um último gesto de solidariedade que quase cortou sua compostura. Quando se afastou, Nora viu em seus olhos o mesmo que via nos de todos os outros: uma mistura de respeito e pena que ela se recusava a aceitar. Todos pararam para se despedir dela, exceto o Agente Carlton.

Sua última parada foi a mais difícil. Ela caminhou até a mesa do Agente Carlton, retirou de sua bolsa, um envelope e um conjunto de chaves - símbolos de uma vida compartilhada que agora chegava ao fim. 

Pela primeira vez naquele dia, James Carlton levantou o olhar para para olhar para ela. Onde antes havia calor e desejo, agora só restava uma frieza calculada, uma raiva contida que transformava seus olhos castanhos em obsidiana. Ela colocou as chaves e o envelope em sua mesa.

"Todas as minhas coisas foram retiradas de casa", sua voz tão estranhamente distante dos próprios ouvidos. "O cheque cobre minha parte do aluguel e das utilidades."

Sem esperar resposta - sabendo que não havia viria - Nora pegou sua caixa e caminhou em direção aos elevadores. Cada passo a se afastou não apenas de sua carreira, mas do homem que havia sido seu parceiro, sua amante, do homem que amava.