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Chapter 3 - Capítulo 3 - Que Deus proteja a santa do pecado.

๑ ⋆˚₊⋆────ʚ Thalia ɞ────⋆˚₊⋆ ๑

Que Deus proteja a santa do pecado.

- Tio, por que eu preciso usar isso? - Aquela adorável criança pergunta enquanto está usando uma roupa maior do que aquele corpo pequeno.

- Porque você fica adorável assim criança. - Aquele homem responde de uma forma suave e delicada, enquanto arruma a roupa da criança. - Uma santa deve usar roupas em tons azuis claros para poder esconder a sua humanidade.

- O que é uma santa, tio? - A pobre criança pergunta confusa, não por ser ignorante mas sim por nunca ter tido um ensinamento adequado.

- Uma santa significa ser a filha de Deus, alguém importante que Deus considera importante.

- Eu sou importante? - Os olhos azuis daquela menina se enchem de um brilho intenso como um riacho jovem e bonito que passa por um bosque.

- Sim querida, a partir de hoje você é a filha de Deus, agora que tal brincarmos de algo?. - Ele murmura enquanto traz 2 homens e 2 mulheres doentes

- Nunca tive permissão para brincar. - Ela diz deslumbrada mas ao mesmo tempo confusa com aquela situação.

- Irei te contar uma coisa muito triste, Thalia. - Aquele homem misterioso se aproxima novamente daquela criança e coloca a mão sob seu ombro.

- Aquelas pessoas estão terrivelmente doentes, e elas precisam da nossa ajuda o mais rápido possível para salvarem as suas vidas. - Ele comenta com um semblante triste. - Você poderia ajudá-los, Thalia?

A criança parecia assustada e preocupada com aquela situação, mas ela se compadeceu daquelas almas doentes e se aproximou deles.

- O que eu poderia fazer para ajudá-los, Tio? - Perguntou à criança preocupada e aflita com aqueles doentes.

- Você poderia tocar neles e desejar que eles fossem curados, deseje isso com todo o seu coração, querida. - O homem proferiu de uma forma gentil e doce para aquela menininha.

Ela levou aquilo como algo sério e por algum motivo, se sentiu atraída por uma mulher que estava estava com um semblante doente e com suas vestes manchadas de sangue. Ela era a única que realmente parecia doente para aquela criança.

- P-p-por f-f-favor, me salve. - Murmurou a mulher sentido uma dor extrema.

Após isso, aquela adorável criança começou a chorar lágrimas cristalinas como diamantes puros e nobres, chorava mais e mais enquanto segurava a mão daquela mulher doente. E de repente, um milagre aconteceu naquele grande local, a mulher que antes sentia dor intensa e uma torturante dor em seu corpo parou de sentir aquela dor.

Todos ao redor daquela garotinha ficaram agraciados em poder ver tal milagre, mas alguém parecia mais feliz com isso. Uma mulher ruiva que estava do lado do homem misterioso que salvou Thalia.

Aquela mulher, aquela mulher....

- Nãooooo. - O desespero me tomou novamente.

- Ah... - Suspirou com alívio após entender que era apenas um sonho.

- Isso...

- Mais uma vez...

- Mais uma vez esse sonho.

Por que disso? Porque eu continuo tendo sonhos assustadores como esse? O que essa mulher com longos cabelos ruivos significa? Porque ela me ronda em todos os meus sonhos como um demônio?

Isso é muita coisa para que eu possa suportar, por que tenho que suportar tudo isso meu Deus? Essa é outra provação sua para testar a minha fé no Senhor?

- Parece que até a alma de uma santa pode ficar angustiada. - Uma voz grossa e firme ecoa pelo quarto.

- Quem está aí?! - Grito alto com pavor em minha voz.

- Quem teria coragem de entrar em um lugar tão protegido como o quarto do imperador? Teria que ser uma pessoa extremamente louca pra fazer tal coisa! - Tento amedrontar o ladrão que teve a coragem de entrar aqui.

- Eu quem deveria estar fazendo essa pergunta, não? - Ele acende uma pequena vela que acaba revelando seu rosto.

- I-I-imperador?! - Digo o seu nome surpreendida com a sua chegada repentina.

- Acho que a santa estudou tanto os ensinamentos divinos que esqueceu completamente dos ensinamentos humanos. - Ele comentou com sarcasmo.

- É considerado imoral uma jovem noiva entrar no quarto do seu noivo sem ao menos terem se casado ainda. - Ele coloca a vela em uma pequena mesa ao meu lado. - Principalmente quando está apenas com vestimentas de dormir.

Envolvo o meu corpo nos lençóis em que eu estava envolvida antes de despertar. Me sinto extremamente envergonhada por estar apenas com roupas de dormir. Eu tinha esquecido completamente que esse era o quarto dele, por esquecer disso preferi dormir aqui, Evangeline e Penélope nem ao menos contestaram a minha decisão.

- Evangeline disse que eu poderia ficar aqui já que você tinha sumido. - Respondo com um pouco de falha na minha voz.

- Hmmm, Evangeline disse isso? - Ele perguntou curioso.

- Sim.

Ele fica em silêncio por um certo momento, mas logo em seguida começa a rir intensamente da minha fala.

- Parece que você não é boa com desculpas, "santidade". - Ele enfatiza santidade com sarcasmo.

- Se deseja passar a noite comigo é só pedir que darei continuidade a nossa última conversa, minha adorável "santa". - Ele rir em seguida.

- Você é realmente um pecador maldito, nem ao menos parece aquele homem que eu conheci desde o meu nascimento como santa. - Murmuro com desdém.

- Você não é mais nenhuma criança, não preciso continuar te tratando como uma "irmã". - Ele enfatiza com sarcasmo.

- Mas não se preocupe, eu não tenho o menor interesse em você. - Ele muda o seu tom de voz pra um tom mais assustador. - Você não é apenas uma figura egocêntrica da igreja católica, só estou te aturando porque a aliança entre nós fará o povo ficar ao meu lado.

- Maldito pecador. - Serro os dentes.

- Perto de você, eu que me torno o verdadeiro santo aqui. - Ele continua permanecendo no seu tom amedrontador.

- Mas tão pouco me importa com o que você faz ou deixa de fazer, "santa".

- Enquanto estiver nesse palácio, você deve ser tão quieta quanto um rato morto. E se você não cumprir esse papel, eu te farei ser o rato morto no sentido literal.

Assim que ele fala palavras tão horripilantes, a raiva e angústia me tomam instantaneamente. Esse homem é o demônio que Deus colocou em minha vida para me testar. Ficou ali, parada naquela cama fria, sentindo uma presença ameaçadora se espalhar pelo ambiente.

O silêncio que se seguiu à partida do imperador era sufocante, como se o próprio ar estivesse carregado de uma tensão invisível. Cada respiração sua parecia mais difícil, mais pesada. Tentei ignorar, mas não consegui. Algo estava errado. Algo estava prestes a acontecer.

De repente, uma rajada de vento frio atravessou a sala, apagando a vela e mergulhando o quarto na escuridão completa. Senti um calafrio instintivo no meu corpo, sentindo a opressão no peito crescer ainda mais, como se fosse esmagada por uma força invisível. Eu podia ouvir meu próprio coração batendo acelerado, o som reverberando em seus ouvidos.

Foi quando vi. A mulher de cabelos ruivos, cuja figura ela reconhecia dos seus sonhos, apareceu em minha frente. Não a ouvi entrar, não ouvi seus passos, mas ali estava ela, de pé, com uma expressão séria e quase sobrenatural. Seus olhos verdes brilharam na escuridão como se fossem duas lâmpadas acesas, intensamente penetrantes.

Tentei falar, mas minha voz falhou. Meu corpo estava congelado, como se algo me impedisse de me mover. Tentei gritar, mas nada saiu. Apenas o peso da presença da mulher fazia meu corpo tremer, como se ela fosse uma criatura feita de pura energia.

A mulher ruiva sorriu de forma enigmática, seus lábios curvando-se lentamente para revelar um sorriso misterioso e cheio de segredos.

- Você não percebe? - A voz dela era suave, mas carregada de uma força que eu sentia em cada fibra do seu ser. - Você está mais próxima da verdade do que imagina. O que você pensa que é, não passa de uma ilusão, uma máscara para algo muito mais sombrio.

Finalmente acabei recuperando um pouco de controle sobre meu corpo, dei um passo atrás, tentando afastar a mulher.

- O que você quer de mim? - Minha voz saiu rouca, trêmula, mas havia uma chama de determinação que começava a crescer dentro dela.

A mulher ruiva riu baixinho, a risada ecoando nas paredes do quarto.

- Eu não quero nada de você, querida. - Ela deu um passo à frente, senti meu estômago revirar, em uma sensação de perigo iminente. - Eu sou parte de você. Eu sou o que você tentou esconder. O que você tenta negar, mas que sempre esteve lá, desde o momento em que foi marcada como santa.

Senti meu corpo tremer de repente, como se uma onda de calor me envolvesse, seguida de um frio cortante. Eu não entendia, mas algo naquelas palavras parecia se encaixar em minha mente, como peças de um quebra-cabeça que nunca soubera que estava montando.

- Não... você está mentindo! - Gritei, com as minhas mãos se apertando contra a minha cabeça, tentando afastar as palavras daquela mulher, mas uma verdade dolorosa começou a se formar.

- Não sou. - A mulher ruiva respondeu com um sorriso cruel. - Você nasceu para ser mais do que uma santa. Você é o reflexo do que Deus tem medo de criar. O reflexo de algo que ele nunca quis em sua criação perfeita. Você é a linha tênue entre a luz e a escuridão, Thalia. A escolhida... ou a condenada.

Cai de joelhos, minhas mãos estavam se estendendo para o chão, como se quisessem segurar algo para se apoiar. O peso daquelas palavras me atingiu com força, e uma dor lancinante se espalhou pelo meu peito, como se algo dentro de mim estivesse se rasgando. Não sabia o que pensar, ou o que acreditar. Tudo o que conhecia estava desmoronando diante de meus olhos.

A mulher ruiva deu outro passo, agora bem perto dela, e pôde ver os olhos da mulher se aprofundando, como se ela estivesse olhando diretamente para a alma da criança santa.

- Thalia, seja maior. Você é uma humana de carne e osso, seja a pecadora que todos temem. - Ela coloca um grande peso em sua voz. - Mostre que você não consegue ser uma perfeita santa, mostre que você também caí em tentação e comete pecados.

- Eu me recuso! Eu sou a filha de Deus, não uma mera humana que peca! - Grito com toda a força da minha alma.

A figura misteriosa daquela mulher se mantém calada após escutar as minhas amargas e dolorosas palavras que disse com tanta força.

- Então sofra por esse princípio, afinal, você sabe onde me procurar. - Ela apenas conclui de uma forma calma e serena.

Ela estende a sua mão e logo em seguida faz com que eu caia em um sono profundamente belo e aconchegante.

( ... )

O amanhecer trouxe pouca paz. Os primeiros raios de sol iluminavam o quarto, mas não conseguia dissipar as sombras que pareciam me envolver desde o momento em que despertei. A mulher ruiva ainda assombra minha mente. Suas palavras eram um eco cruel, reverberando no vazio que se formava dentro de mim.

Caminhei até a janela, observando os jardins do palácio. Do alto, eles pareciam perfeitos, quase divinos. Mas eu sabia que tudo ali era apenas fachada. Este lugar não era um templo de luz, mas uma prisão de silêncios e segredos.

Senti um aperto no peito, como se algo estivesse me sufocando. Fechei os olhos e tentei me concentrar em uma oração, mas as palavras vinham fragmentadas, vazias. Era como se até Deus estivesse se distanciando de mim.

Um som leve atrás de mim interrompeu meus pensamentos. Virei-me rapidamente e encontrei uma criada me observando. Seus olhos estavam baixos, quase temerosos.

- Sua santidade. - disse ela, curvando-se. - O imperador deseja vê-la imediatamente na sala do conselho.

Meu estômago revirou. Não era comum ele me convocar assim, tão cedo.

- Estou a caminho.

( ... )

Ao entrar na sala do conselho, percebi que a atmosfera estava carregada. O imperador estava de pé diante de um enorme mapa que cobria uma parede inteira. Ele parecia estudá-lo com atenção, mas quando ouviu meus passos, virou-se lentamente.

- Finalmente, decidiu nos honrar com a sua "divina" presença. - Sua voz era fria, mas controlada, com um toque de sarcasmo.

- Como posso servi-lo, vossa majestade? - Fiz uma reverência, mantendo a postura firme.

Ele caminhou na minha direção, seus passos ecoando no piso de mármore, até parar a poucos metros de mim.

- Você conhece o papel que deve cumprir aqui, não é? - Ele perguntou, inclinando a cabeça ligeiramente.

- Meu papel é servir à vontade de Deus e garantir a união entre o império e a igreja. - Respondi com convicção, mesmo sentindo um leve tremor nas mãos.

Ele riu suavemente, mas havia algo cortante em seu tom.

- Palavras bonitas, mas vazias. - Ele disse, cruzando os braços. - Você acha que sua "santidade" será suficiente para manter este reino unido?

Fiquei em silêncio, tentando medir as intenções por trás de suas palavras.

- A fé é a base do povo. - Respondi finalmente.

- E o medo é a base do poder. - Ele retrucou, um brilho perigoso em seus olhos. - Você pode ser a filha de Deus para eles, mas para mim, é apenas uma peça. Uma peça que precisa saber o seu lugar.

- Então por que me convocou? - Senti meu sangue ferver com suas palavras, mas me forcei a manter a calma.

Ele caminhou até a mesa ao lado e pegou um pequeno medalhão dourado, examinando-o com desinteresse antes de olhar para mim novamente.

- Para lembrá-la de que sua posição aqui é delicada. - Ele deu um passo à frente, o medalhão ainda em sua mão. - Você é vista como uma santa, mas santos são facilmente destruídos quando deixam de ser úteis.

- Minhas ações são guiadas por Deus. - Respondi, erguendo o queixo.

- Veremos até onde essa proteção divina a levará. - Ele sorriu de lado, com aquele ar de superioridade que fazia minha paciência se esgotar.

Antes que pudesse responder, ele virou-se novamente para o mapa, encerrando a conversa.

( ... )

De volta ao meu quarto, meu coração estava pesando. As palavras do imperador ecoavam em minha mente. Ele parecia mais ameaçador do que nunca, mas algo em sua postura também me deixou desconfiada. Havia algo que ele não estava dizendo.

Ajoelhei-me diante do altar improvisado que mantinha no canto do quarto, tentando me conectar com Deus em busca de orientação. No entanto, ao fechar os olhos, fui novamente assombrada por sua imagem: a mulher de cabelos ruivos.

- Você não pode ignorar a verdade, Thalia. - A voz dela ressoou em minha mente, como um sussurro vindo de dentro de mim mesma.

Meus olhos abriram de repente, e senti um calafrio. Olhei ao redor do quarto, mas não havia ninguém. A sensação de ser observada, porém, persistia.

Com as mãos trêmulas, tentando encontrar conforto na memória de tempos mais simples. Mas, em vez disso, fui tomada por um sentimento profundo de que algo estava prestes a mudar. E eu temia que essa mudança não fosse algo que eu pudesse controlar.

- Que o meu Deus, tenha piedade da minha pobre alma humana que habita essa imensa terra. - Sussurrei como um pequeno consolo.

๑ ⋆˚₊⋆────ʚ Continua ɞ────⋆˚₊⋆