๑ ⋆˚₊⋆────ʚ Thalia ɞ────⋆˚₊⋆ ๑
As Mudanças vem para um plano maior.
Eram aproximadamente 14h da tarde, o quarto do imperador estava muito movimentado com empregados vindo de um lado para outro. Eles estavam ocupados recolhendo as minhas coisas que haviam se estabelecido ali mesmo.
Pensei que iria demorar um pouco para me mudar para o palácio Lilith, mas parece que Zeus deseja que eu seja envergonhada mais cedo que o normal. Começo a pensar na desistência, mas eu sou uma santa e não posso desistir por meros obstáculos colocados pelo inimigo.
Eu apenas os deixei entrar e pegarem as coisas para levarem, se me opor-se seria vista como um mau exemplo por não seguir as ordens do imperador.
- Vossa Santidade. - Evangeline se aproxima de mim lentamente com um semblante aflito. - Por que não pede para o imperador reconsiderar?
- Evangeline, eu não pretendo ir contra as decisões do imperador, pelo contrário irei segui-las para continuar sendo um bom exemplo para os meus adoradores. - Respondo com um semblante calmo e entardeceste.
- O que você acha que os empregados pensariam ao me ver indo contra a figura mais importante do império? Com certeza eu não seria bem vista.
- Vossa Santidade tem razão. - Ela murmura solenemente.
- Não se preocupe, o Palácio Lilith não deve ser tão ruim como apontam que seja, posso suportar esse fardo.
- Mas senhorita, uma santa não pode aceitar tamanha humilhação! - Ela começa desabar de lágrimas.
- Eu posso sim. - Falo em tom agradável e consolador. - A provações maiores para vir diante de mim, para isso irei passar por essa com a ajuda de Deus.
- Oh, Vossa Santidade. - Evangeline desaba mais ainda em lágrimas enquanto coloca o seu rosto sob meu peito em um abraço apertado.
( ... )
O sol já começava a inclinar-se no céu quando deixei o quarto do imperador pela última vez. Cada passo pelo corredor parecia pesar mais, como se as paredes do palácio sussurrassem críticas pela decisão que eu havia tomado - ou pela falta de resistência que demonstrei. Evangeline caminhava ao meu lado, secando as lágrimas com um lenço de seda, mas seu semblante continuava sombrio.
Ao longe, o Palácio Lilith já podia ser avistado através das janelas. Apesar de sua beleza arquitetônica, envolto por jardins descuidados e sombras que pareciam persistir mesmo sob o sol, ele era um símbolo de desonra. Diziam que nenhuma mulher que pisasse ali manteria sua reputação intacta.
- Evangeline, você pode voltar agora. Não precisa me acompanhar até lá. - Falei gentilmente.
- Não, senhorita! Jamais deixarei que atravesse aquele lugar sozinha. - Ela respondeu com determinação inesperada, agarrando minha mão como se pudesse me proteger.
Ao chegarmos, a entrada do palácio era sombria e fria. As portas de ferro rangeram ao serem abertas pelos guardas, revelando um vasto salão vazio e mal iluminado. Assim que entrei, percebi que meus pertences já haviam sido trazidos e largados sem cuidado no centro do salão.
Um homem surgiu do corredor à frente. Ele usava um manto escuro, e seu rosto era marcado por cicatrizes e um olhar perscrutador.
- Vossa Santidade. - Ele falou com uma voz grave, inclinando-se apenas o suficiente para demonstrar respeito, mas com uma clara falta de cordialidade. - Meu nome é Damian. Fui designado para supervisionar sua estadia aqui.
- É um prazer conhecê-lo, Damian. Espero que possamos trabalhar juntos em harmonia. - Respondi, mantendo meu tom tranquilo e cordial.
Ele esboçou um sorriso frio.
- Harmonia é uma palavra ambiciosa para este lugar, mas veremos.
Antes que eu pudesse responder, Damian virou-se e começou a caminhar, indicando que o seguisse. Evangeline hesitou, mas continuei avançando. Cada passo pelo Palácio Lilith trazia uma nova sensação de desconforto: os corredores eram mais estreitos, o ar parecia mais pesado, e o silêncio absoluto era interrompido apenas por ecos de passos distantes.
Damian nos conduziu até um quarto simples, sem ornamentos ou qualquer indício de hospitalidade.
- Este será seu aposento. - Ele disse, abrindo a porta com um gesto brusco. - Refeições serão servidas pontualmente às seis, do contrário, terá de esperar até o dia seguinte.
- Entendido. - Respondi calmamente, ignorando sua tentativa de provocar.
Assim que Damian saiu, Evangeline olhou para mim com preocupação renovada.
- Isso é inaceitável, senhorita! Não posso permitir que viva nessas condições.
- Evangeline, por favor, não se preocupe. Deus está comigo, e Sua presença é suficiente para tornar este lugar suportável.
Enquanto a noite caía, sentei-me junto à janela do quarto, observando o céu escurecer. Mesmo na penumbra, sentia uma força maior me envolvendo, como se cada provação fosse uma preparação para algo grandioso.
"O peso da santidade não é para ser leve", pensei comigo mesma. E então, pela primeira vez desde que entrei no Palácio Lilith, sorri para a noite que me cercava. Parece que terei muito trabalho de agora em diante, meu pai.
( ... )
Hoje é um novo dia radiante e adorável, uma ótima brisa lá fora, novos objetivos estão prontos para serem iniciados e concluídos. Chamei todos os funcionários deste palácio para dar um comunicado importante.
- Eu chamei todos aqui para fazer um comunicado de extrema importância e urgência. - Falo com determinação diante de dos únicos 6 empregados do palácio. - Hoje, iremos fazer uma limpeza enorme neste palácio e torná-lo limpo o mais rápido possível.
Todos me olham surpresos e começam a sussurrar coisas sobre o meu respeito, mas isso não me abala só me deixa com mais determinação.
- Vossa Santidade, não é possível somente nos 6 limpamos este palácio inteiro. - Uma mulher levanta a mão e logo em seguida pergunta com tom de desdém.
- Não será somente vocês que irão limpar o palácio, teremos mais pessoas pra não ajudar. - Respondo com convicção.
- Mais pessoas? - Uma segunda mulher levanta a mão.
- Sim! - Digo com empolgação. - Evangeline, chame os jardineiros, cozinheiros, qualquer pessoa que trabalhe aqui.
Todos ficam assustados com minha fala mas não questionam em momento algum a minha ideia louca. Após o meu pedido, evangeline chama todas as pessoas que trabalham e logo em seguida começamos o trabalho intenso.
- Todos prestem atenção! - Chamo a atenção de todos à minha volta. - Preciso que todos se apresentem e digam seus nomes!
Por um momento todos ficam surpresos e em conflitos consigo mesmos, mas mesmo assim um deles dá início às apresentações.
- Me chamo Dominique Reynold, sou empregada do palácio Lilith há 5 anos, entrei aqui como punição por ter roubado algumas joias. - Ela responde de forma despreocupada.
- Me chamo Persephone Monte, comecei a trabalhar no palácio Lilith há 3 anos, entrei neste palácio como punição por ter agredido alguns guardas. - Ela murmura de forma relutante.
- Me chamo Annika Capsian, trabalho do palácio Lilith à 1 ano, entrei aqui como punição por ter arruinado uma festa do chá da senhorita Annaelise. - Ela fala com um pouco de receio e tristeza na voz.
- Me chamo Theodora Martins, fui designada para trabalho no palácio Lilith há 10 anos, entrei aqui por vontade de seguir a dona do do palácio e decidi permanecer aqui mesmo depois de sua morte. - Ela responde de forma elegante e solene.
- Me chamo Cristine Allan, fui transferida para cá por pura vontade à 10 anos para servir a dona deste palácio. - Ela comenta com plena confiança e atitude.
- Me chamo Luna Constantino, fui enviada para cá a mais ou menos 3 meses, entrei aqui por ser considerada inútil diante da empregada chefe do palácio Liliana.
Todas as 6 foram simplesmente consideradas descartáveis e jogadas nesse palácio imundo, preciso mudar isso imediatamente.
- E vocês 2? - Direciono o meu olhar para o cozinheiro, jardineiro.
- Ah bem, eu me chamo Tristan Edward, sou jardineiro do palácio Lilith há mais ou menos 5 anos, fui mandado pra cá por destruir uma árvore importante do Domo de Cristal. - Ele apenas murmura de um jeito despreocupado.
- Me chamo Otávio Alexandrite, sou o cozinheiro do palácio Lilith à mais de 10 anos, fui enviado para cá por supostamente envenenar o imperador em seu aniversário de 118 anos. - Ele responde com um semblante cansado.
- Bem, já que conheço todos vocês, iremos dividir a faxina por seus nomes!
- Dominique e Persephone vão limpar este andar, Cristine e Luna vão limpar o 2 segundo andar, Otávio e Theodora vão limpar a cozinhar e os banheiros, Penélope e Tristan vão limpar os jardins da frente e de trás, Evangeline e eu Iremos arrumar os escritórios e dormitórios.
Todos parecem não me compreender e apenas olham confusos para mim enquanto distribuo as suas funções.
- Se não entenderem, irei explicar novamente. - Comento com uma voz firme.
- Eu acho que isso seja uma perda de tempo, Vossa Santidade. - Damian aparece de repente com um tom um pouco duvidoso.
- Por que exatamente? - Pergunto confusa.
- Vossa Santidade, você não precisa fazer todo esse alarde só por causa do estado do palácio, o palácio está bem. - Ele responde em um tom despreocupado.
- Não, não está bem. - Retrucou o seu argumento com convicção.
- Olhe para esse palácio inteiro, está praticamente caindo aos pedaços de tão velho e acabado, ele está coberto por poeira de anos. Você é o responsável por ele, você deveria ter preservado ele. - O confronto diretamente.
- O antigo imperador nunca se importou com o estado deste palácio. Em anos ele nunca teve coragem de investir nenhum centavo depois da morte da senhorita Lilith, nem mesmo quando ela estava viva. A Vossa Santidade, acha mesmo que o filho dele irá se importar com o palácio da falecida amante do pai? - Ele altera o tom de sua voz com um tom bem rígido como se estivesse com uma raiva assustadoramente grande.
- Sei que o atual e nem o antigo imperador se importam com esse palácio, mas eu me importo pois ele está sob minha supervisão a partir de agora. - Aumento o meu tom de voz para me igualar ao seu.
- Eu sou a dona desse palácio agora, e agora vocês me devem respeito que mereço como dona dele, se eu peço que façam uma faxina geral nele vocês irão fazer.
- Aqui dentro sou eu que administro a partir de agora, irei comandar este palácio para que ele ganhe um nome digno e tenha o verdadeiro prestígio que precisa ter. Então não passem por cima da minha voz, vocês devem apenas me escutar e fazer o que mando independente do que seja.
- Vocês me entenderam ou preciso repetir a minha fala novamente? - Olho para todos ao meu redor.
Olhares surpresos vem em direção a mim, mas isso não pode me abalar porque preciso impor o respeito que mereço diante dos meus funcionários. Após alguns segundos eles para de me olhar e se curvam diante de mim como forma do respeito que eu desejava.
- Entendemos completamente, Vossa Santidade. - Todos falam ao mesmo tempo a ponto de suas vozes se cruzarem.
- Então que os nossos trabalhos comecem agora mesmo!
A decisão firme de começar a restauração do Palácio Lilith trouxe um novo ar ao ambiente. Os corredores que antes exalavam abandono agora ecoavam o som de vassouras, baldes e conversas baixas. Mesmo com o peso de suas histórias, os empregados começaram a trabalhar com uma energia renovada, como se as palavras da Santidade houvesse plantado uma semente de esperança em seus corações.
Evangeline, sempre ao meu lado, alternava entre organizar os materiais de limpeza e me lançar olhares preocupados, embora não dissesse nada. O ar no palácio parecia diferente - menos opressivo. Talvez fosse apenas uma ilusão, mas eu acreditava que estávamos mudando mais do que poeira e desordem; estávamos limpando os resquícios de um passado que insistia em nos prender.
Na cozinha, Otávio e Theodora trabalhavam em silêncio, mas seus olhares às vezes se cruzavam, como se quisessem dizer algo um ao outro, mas não sabiam como. Theodora, com seus movimentos elegantes, limpava as prateleiras enquanto Otávio fervia água para desinfetar os utensílios. Em um momento de pausa, ela finalmente quebrou o silêncio.
- A santa parece realmente determinada a trazer tempo de glória para esse velho palácio. - perguntou, tentando soar casual.
- Eu gostei dela e do espírito jovem que exala dela. - Otávio riu, balançando a cabeça. - Em toda a minha vida, eu nunca vi uma santa que colocasse sua não na passa para consertar as coisas. Isso me faz acreditar que ela seja diferente.
- Bem, faz um pouco de sentido. - Ela responde casualmente.
- Ela é uma menina boa, devemos confiar nela. - Ele comenta com um sorriso. - Em anos, ninguém nunca se importou com esse palácio esquecido.
Theodora não respondeu, mas algo em seus olhos suavizou.
- Bem, eu não sei ao certo qual o propósito dessa mulher. - Respondeu Damian que chegou de repente.
- Hora Damian, não seja duro com a menina. - Murmurou Otávio.
- Ele está certo, Otávio. - Theodora concordou com Damian. - Não podemos prever o que essa mulher pretende fazer aqui, ela pode ser uma santa mas ela ainda é humana.
Nos jardins, Tristan trabalhava ao lado de Persephone, que ainda parecia desconfortável com a situação. Ele, no entanto, assobiava enquanto cortava galhos secos e removia ervas daninhas.
- Você parece se divertir, mesmo neste lugar. - Persephone comentou, franzindo a testa.
- Se você parar de levar tão a sério, talvez também consiga. - Tristan respondeu com um sorriso largo, jogando um punhado de folhas secas no carrinho.
Persephone suspirou, mas não pôde evitar um pequeno sorriso.
- Você acha que a santa é boa? - Perguntou ele para Persephone.
- Bem, eu ainda tenho as minhas dúvidas sobre, nunca confiei nesse pessoal corrompido da igreja mas ela parece ser diferente, só parece. - Ele retruca.
Enquanto isso, no salão principal, Damian voltou da sua pequena ida à cozinha, ele apenas permanecia encostado em uma coluna, observando tudo com olhos críticos, mas sem se oferecer para ajudar. Sua expressão era uma mistura de ceticismo e desdém, mas ele não interferia.
- Damian! - Thalia gritou alto. - O que está parado aí?
- Estou apenas supervisionando, Vossa Santidade. - Damian Responde com um ar de desaprovação.
- Supervisionando? Supervisionar não tira a sujeira dos móveis. - Comece a limpar junto com os outros! - Thalia sorri com um sorriso que deixa Damian desconfortável.
- Bem, se sua Santidade está ordenando, quem sou eu para ir contra. - Ele rir de forma sarcástica.
( ... )
Quando os primeiros raios do pôr do sol começaram a se infiltrar pelas janelas, um progresso significativo já podia ser visto. O ar parecia mais limpo, e até os empregados, que no início mostravam resistência, começaram a interagir com mais leveza.
Eu reuni todos no salão principal ao final do dia, suas expressões agora cansadas, mas satisfeitas.
- Vocês trabalharam duro hoje, e isso não passou despercebido. - Falei, olhando nos olhos de cada um deles. - Este é apenas o começo. Nosso trabalho aqui não será fácil, mas acredito que juntos podemos fazer do Palácio Lilith um lugar digno novamente.
Damian, ainda em sua posição de espectador, cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha.
- Isso é admirável, Vossa Santidade, mas espero que esteja preparada para lidar com os desafios que estão além de pó e sujeira.
Sua voz carregava um tom de advertência, como se soubesse de algo que eu ainda não havia descoberto. Mas não deixei isso me abalar.
- Se existem desafios, Damian, tenho certeza de que Deus me deu força suficiente para enfrentá-los. - Respondi com firmeza, encerrando a conversa.
Enquanto os empregados começavam a se dispersar para descansar, eu me voltei para Evangeline, que observava a cena com um sorriso discreto.
- Vossa Santidade, talvez você consiga mudar este lugar. - Ela disse, com uma esperança que não havia demonstrado antes.
- Não será fácil, Evangeline. - Respondi. - Mas é nos lugares mais improváveis que a luz pode brilhar mais forte.
Passamos praticamente o dia inteiro limpando o palácio Lilith, não está completamente limpo mas com toda certeza é habitável agora. Me sinto revigorada por ter feito tamanha mudança nesse lugar, e ainda pretendo fazer mais para que ele se torne um lugar digno de ser chamado pelo seu nome.
Parece que estou começando a entender o propósito de Deus em me colocar neste lugar tão precário. Ele deseja que eu mude e limpe as almas que habitam aqui, tantas alma que estavam aflitas mas que agora estão começando a sentir uma certa alegria por tamanha mudança.
Obrigada pelo privilégio de poder colher essas adoráveis almas que precisam de ti meu Deus.
๑ ⋆˚₊⋆────ʚ Continua ɞ────⋆˚₊⋆