"Vossa Graça―" Soleia elevou sua voz, tentando chamar a atenção de seu marido, mas nem mesmo a cabeça dele se virou. As tropas seguiam adiante pelos portões, forçando-a a sair rapidamente do caminho com um guincho.
O que o Duque estava pensando? Ele queria que seus homens a pisoteassem até a morte?
Ela tropeçou na neve, seus pés enroscando na barra de suas saias. Felizmente, um par de braços fortes a segurou antes que ela caísse de cara em um monte de neve.
"Cuidado, Sua Alteza," disse uma voz divertida.
Soleia se virou para olhar para a pessoa que a havia segurado. Ela estreitou os olhos para o rosto familiar diante de si, antes de seus olhos se arregalarem em realização, e ela se apressou em se levantar.
"Obrigada, Sir Byrone," disse Soleia.
Era ninguém menos que o braço direito do Duque Elsher. Suas proezas não eram menores que as de Orion Elsher em si e corria o boato de que era o melhor amigo do Duque. Por isso, Soleia ficou surpresa por ele ter parado por ela.
Afinal, nem seu próprio marido tinha parado por ela. Era como se ela não existisse.
Sir Byrone meramente riu, um brilho malicioso brincando em seus olhos. "Por favor, Princesa," ele disse, "Me chame de Ralph."
Ele colocou a mão no peito antes de se inclinar em reverência a Soleia. Suas bochechas naturalmente coraram, e Soleia não tinha certeza se era de constrangimento ou por causa do frio do ar de inverno. Fazia dois anos desde que alguém, além de Lily, a chamara pelo seu título.
Mas sua atenção foi rapidamente desviada de volta para o resto das tropas, a maioria das quais já havia passado por eles.
Ela olhou de volta para Ralph e disse, "Por favor, me dê licença," antes de correr apressadamente atrás do Duque.
A maioria das tropas já havia se dispersado para seus quartos de descanso quando Soleia alcançou-os, deixando apenas Orion Elsher ali com a bela dama que trouxe para casa. Quando Soleia entrou, a mulher estava ocupada tirando neve dos ombros do Duque Elsher enquanto ele olhava para ela com ternura.
"Você deveria tomar um banho quente," disse Orion suavemente, apenas alto o suficiente para Soleia ouvir suas palavras. "Drakenmire é uma região fria, a mais fria de Vramid. Eu farei com que os servos encontrem algo quente para você vestir."
"Oh, não se preocupe comigo, Vossa Graça―"
"Orion," ele corrigiu, segurando a mão da mulher que estava em seu rosto, puxando-a para seus lábios de forma que ele pudesse depositar um beijo bem na palma dela. "Quero ouvir você falar meu nome."
A mulher riu, e a outra mão de Orion veio ao queixo dela. Lentamente, com delicadeza, ele a puxou para perto e inclinou ligeiramente a cabeça. Ela fez o mesmo, seus olhos se fechando enquanto esperava pelo beijo que estava por vir.
Soleia pigarreou, finalmente capturando a atenção dos dois.
Como eles se atreviam? E quem era essa mulher?!
Soleia apertou os punhos ao lado do corpo enquanto lançava olhares ferozes para o casal. Não importava se esse casamento era político ou por amor, ela ainda era a esposa legalmente casada do Duque, a Duquesa de Drakenmire, e — mais importante — a Princesa de Vramid.
Ele, depois de tudo o que Soleia tinha feito por ele, não só tinha retornado com uma amante, mas trouxe seu relacionamento extraconjugal para casa sem nenhuma consideração pela reputação dela.
Eles se viraram para olhá-la e se separaram surpresos. A mulher usava uma expressão de choque enquanto Orion parecia impassível.
"Vossa Graça," disse Soleia, tentando manter um tom calmo, "bem-vindo a casa. Como foram suas viagens?"
O homem permaneceu em silêncio enquanto a encarava. Sua mão foi para o punho da espada presa à sua cintura, fazendo com que Soleia recuasse, alarmada.
"Oh," disse a outra mulher, colocando a mão no peito surpresa. "Eu estava nos perguntando onde estavam os servos. Ninguém veio cumprimentá-lo desde o seu retorno." Então ela se voltou para Soleia e começou a andar em sua direção. "Você poderia nos ajudar a trazer―"
Ela foi puxada de volta por Orion, que a segurou protetoramente em seus braços. Suas sobrancelhas se contraíram enquanto ele lançava um olhar feroz para Soleia, sua ação repentina fazendo com que a mulher parecesse confusa.
"Orion?" ela perguntou, suas mãos colocadas em seu peito para se equilibrar. "O que houve?"
"Essa não é uma serva," foi tudo o que ele disse.
Num movimento rápido, ele atirou a espada na direção de Soleia, fazendo-a ofegar de surpresa.
Se não fosse pelo fato de que um súbito raio de luz vermelha parou a espada no meio do ar, ela teria atravessado direto pelo crânio de Soleia.
Soleia soltou uma respiração trêmula enquanto encontrava a ponta da lâmina, repousando a apenas centímetros de seus olhos. Então, assim como isso, a espada foi arremessada de volta na direção de Orion, que a pegou sem esforço.
Gotas de sangue vermelhas caíram no chão, acompanhadas por um cheiro metálico perturbador. Soleia tocou a testa, mas não viu sangue.
"Calma, Vossa Graça," disse Ralph enquanto avançava, usando seu corpo para bloquear parcialmente Soleia de Orion.
Foi quando Soleia notou o rastro de sangue que pingava atrás de Ralph, originando-se da longa linha vermelha em sua palma, acompanhada pelo lampejo de vermelho que brilhava em seu peito.
"Não é assim que você deve tratar sua própria duquesa."
"Minha duquesa?" Orion ecoou. "Minha duquesa é Elowyn. Você esqueceu do casamento que mencionei mais cedo?"
O coração de Soleia imediatamente afundou ao ouvir aquelas palavras.