Soleia apertou firmemente os lábios, seus pensamentos correndo desenfreadamente.
"Ferido?" ela ecoou. "Como?"
"Estávamos acampando durante a noite quando encontramos alguns cães-espinhos," Ralph explicou.
"Você está dizendo que alguém que foi capaz de derrotar um dragão e retornar praticamente ileso quase caiu para um cão-espinho?" Soleia falou secamente. Quanto mais Ralph explicava, mais absurda ela achava a história.
"Havia um número estimado de quarenta cães-espinhos naquele bando," Ralph disse. "Em comparação, éramos apenas cinco homens. Era um grupo de reconhecimento liderado por Sua Graça à frente do restante do batalhão. Apenas o Duque e mais um voltaram vivos, e mesmo ele estava gravemente ferido, vindo a sucumbir aos ferimentos posteriormente."
Ralph apertou firmemente os lábios, fazendo Soleia franzir o cenho.
"O que mais você não está me contando?"
"Foi lá que ele encontrou a Senhorita Elowyn," Ralph finalmente disse. Isso fez Soleia olhar de volta para as escadas onde os dois haviam desaparecido, seu franzir de cenho se aprofundando à medida que ele falava. "Ela foi quem o trouxe de volta à segurança depois dele ter desaparecido por um mês."
"Mas cães-espinhos normalmente não permanecem ao redor do lado sudeste de Vramíd," Soleia murmurou em voz baixa. "Como eles―"
Um olhar para Ralph e ela soube sua resposta.
"Ela estava com vocês o tempo todo, nos dois anos," ela disse em realização.
Ralph meramente acenou com a cabeça, entorpecido.
"E ninguém pensou em me contar?" A voz de Soleia tremeu quando ela cuspiu aquelas palavras, traição se prendendo em cada uma delas.
"Tentamos, Sua Alteza," Ralph disse, perturbado. "Mas até lá, Sua Graça e a Senhorita Elowyn..."
Ele parou de falar, mas não precisava terminar a frase. Soleia podia adivinhar o resto por si mesma. Um mês era muito tempo, tempo suficiente para dois adultos completamente crescidos fazerem muitas coisas que nunca deveriam ser faladas em plena luz do dia.
"O que o fez demorar um mês para retornar?" Soleia perguntou trêmula. "O que eles estavam fazendo todo esse tempo?"
"Sua Graça havia esquecido completamente de tudo quando acordou pela primeira vez, de acordo com a Senhorita Elowyn," Ralph disse. "Levaram semanas até ele sequer se lembrar que estava liderando um exército para a batalha."
"E meu pai?" Soleia perguntou, "Ele sabia que o Duque poderia estar morto?"
"Ele comandou o batalhão para avançar até as linhas inimigas de qualquer forma," Ralph disse. "Com Sua Graça ausente, eu era o próximo no comando. E fiz o que me foi ordenado."
Soleia só pôde dar uma risada fria. Ralph falou com tanta seriedade que ela se perguntou por um segundo se ele não percebia que o Rei estava enviando todos eles para uma missão suicida. Ele nunca pretendeu que voltassem vitoriosos. Eram meros porcos para o abate.
Mas voltaram.
Agora que haviam desafiado todas as probabilidades e voltaram vivos, o Rei Godwin estaria ainda mais determinado a fazer Soleia guardar o Duque Elsher como um cão. Seu pai temia revoluções, e com o crescente carinho do povo pelo Duque, sua preocupação de que o Duque eventualmente lideraria os cidadãos de Vramíd à revolta só aumentava a cada dia que passava.
"Ele deveria ter ficado morto," Soleia murmurou em voz baixa, carrancuda.
Ela tinha que pensar em uma maneira de apaziguar seu pai se ele eventualmente viesse atrás dela. Enquanto Soleia não tinha intenção de defender o Duque Elsher uma segunda vez, a estupidez dele eventualmente levaria ao seu declínio, e ela precisava encontrar uma saída.
No entanto, antes que pudesse sentar e planejar as coisas, ela ouviu um estrondo vindo da direção dos quartos de dormir.
A cabeça de Soleia virou rapidamente naquela direção, seus olhos arregalados de alarme. Ela havia deixado alguns de seus novos protótipos deitados no quarto, já que era mais fácil mexer neles lá do que no escritório, que estava lotado de documentos sobre o feudo.
"O que foi isso?" Ralph perguntou.
Era isso que Soleia pretendia descobrir. Ela correu escada acima e foi direto para os quartos de dormir, e quando finalmente chegou à porta, seu coração caiu para o fundo do estômago. Era como ela temia.
Elowyn estava bem em frente à penteadeira, que havia sido temporariamente usada como estação de trabalho pelos últimos dois anos na ausência do Duque. No chão, havia um monte de cacos de vidro, peças de metal e madeira estilhaçada. Papéis estavam espalhados por todo lado, e no centro de tudo estava o culpado.
"Você se machucou?" Orion perguntou a Elowyn, preocupado, segurando a mão dela enquanto a virava de um lado para o outro para procurar por arranhões.
Nenhum deles prestou atenção a Soleia até ela deixar escapar um grito sufocado.
"Meu protótipo!" ela gritou. "O que você fez?"
Elowyn deu um passo à frente e bloqueou o caminho de Soleia. "Eu só estava tentando―"
Com pressa para entrar no quarto, Soleia empurrou Elowyn para o lado, e a última gritou em pânico ao cair. Se não fosse por Orion, ela sem dúvida teria se chocado contra o criado-mudo, mas Soleia não se importava com isso agora.
Ignorando Elowyn e Orion, ela entrou no quarto e ajoelhou-se ao lado das peças. Havia sido arruinado além da salvação―se Soleia não fosse a criadora, ela nunca teria conseguido adivinhar o que foi antes, mesmo com a ajuda dos manuscritos.
"Isso era pra ajudar a pagar a provisão do próximo mês..." Soleia murmurou em voz baixa.
"Você terminou de divagar?" A voz do Duque Elsher desviou sua atenção da bagunça no chão. Quando Soleia levantou o olhar, ela encontrou seus olhos frios. "Quem te deu o direito de colocar essa sujeira inútil nos meus aposentos?"
"Sujeira inútil?" Soleia ecoou. A fúria queimou em seu coração enquanto a indignação rapidamente a preencheu. "Inútil? Sujeira? Você tem alguma ideia do que você acabou de fazer?!"
Ela se ergueu sobre os pés e caminhou para a frente. Antes que alguém pudesse reagir, ela levantou a mão e desferiu um tapa na bochecha de Orion. Um som nítido ecoou pelo ar enquanto todos presentes paralisavam. A cabeça de Orion virou para um lado, seus olhos arregalados de incredulidade enquanto suas bochechas ardiam com o impacto.
"Você está falido!" ela gritou, incapaz de conter a raiva que sentia. "Não há dinheiro sobrando no seu tesouro e tudo, desde as roupas de cama até a comida no estômago da sua mãe, são comprados com o dinheiro ganho das coisas que você chamou de sujeira inútil! Então como ousa!"
Similarmente, o vermelho coloriu os olhos de Orion enquanto as peças de jade que ele usava começaram a brilhar levemente em verde. Ele levantou a mão para o ar, e o que veio a seguir foi um segundo som de tapa ecoando pelo quarto.