"Sinto muito mesmo pelo comportamento deles. Vou deixar sua criada entrar agora", disse Jerome, envergonhado pelo comportamento de seus mestres. Soleia o seguiu até os portões, onde a pobre Lily estava esperando com uma expressão frenética no rosto.
"Princesa! Você está bem?"
Jerome rapidamente deu um passo à frente, querendo ajudar Lily com o baú, mas Soleia o impediu.
"Tudo bem, eu posso puxá-lo assim."
"Você pode... o quê?" Jerome perguntou, confuso.
"Colocar rodas", disse Soleia, enquanto puxava seu baú na vertical. Ela apontou para a parte de baixo do baú, onde havia aparentemente rodinhas de argila presas ao fundo, unidas por uma haste de madeira. "Eu fiz isso porque me cansei de não fazer nada no caminho para cá."
"Que engenhoso!" Jerome elogiou, seu rosto brilhando de contentamento. Talvez essa nova duquesa fosse exatamente o que a propriedade precisava para prosperar. Enquanto voltavam, Jerome começou a informar Soleia sobre os diversos problemas da propriedade.
Resumindo, eles estavam sem dinheiro. Este território não era considerado importante pelo Rei, o que significava que não recebia qualquer apoio da família real.
Há várias gerações atrás, era considerado um bastião para Vramid, mas aos olhos da família real atual, não passava de um lugar para descartar membros da corte problemáticos que faziam muito barulho. Como tal, ninguém queria estender a mão para salvar a propriedade em ruínas. Fazer isso poderia atrair a ira do Rei atual!
Era simplesmente muito risco para pouca recompensa.
A única coisa que Drakenmire podia se orgulhar era de sua bela paisagem, mas vistas bonitas não alimentam um homem. Soleia só pôde suspirar; talvez mais tarde ela desse uma olhada nas contas para ver o que poderia fazer.
Mas no fundo, ela sabia que o verdadeiro problema seria lidar com os novos membros de sua família. Nunca antes ela havia visto um grupo tão sem vergonha!
Enquanto Jerome a mostrava a propriedade lamentável, eles eventualmente pararam em frente a uma porta.
"Este é o quarto principal onde o Duque reside", disse Jerome.
"Obrigada", disse Soleia, mas antes que ela e Lily dessem mais um passo, uma ruiva familiar veio correndo.
"Pode parar!" Lucinda esbravejou, usando seu corpo para bloquear o caminho. "O que você acha que está fazendo? Quem disse que você poderia se mudar para este quarto?" Ela então se virou para Jerome e repreendeu, "Jerome, este é o quarto da minha prima. Nem todo mundo pode ficar aqui."
"Este é o quarto do meu marido", Soleia respondeu calmamente. "Por que não posso ficar aqui?"
Lucinda bufou, olhando com desdém para a bagagem de Soleia. "Ou fique nos quartos dos criados ou caia fora", ela disse. "Não temos espaço para uma princesa inútil. Os fundos estão limitados e há bocas para alimentar, estômagos para encher. Fique à vontade para ir embora se estiver insatisfeita. Caso contrário, pague."
Soleia apertou os dentes com força, suprimindo sua raiva o melhor que pôde. Tinha sido um dia longo e cansativo. Se ela fosse embora, não teria onde descansar a cabeça naquela noite além do estômago dos monstros.
Voltar ao palácio também não era uma opção. Seu pai simplesmente a mandaria de volta pela metade viva.
"Tudo bem", cuspiu Soleia. "Eu vou contribuir para prover à família. Pelo menos até o retorno do meu marido."
Os lábios de Lucinda lentamente se estenderam em um sorriso largo e sinistro.
"Assim é melhor."
Dois anos depois...
Soleia estudava os livros de contas à luz de vela, sua pena arranhando o pergaminho amarelado. Infelizmente, não importava como ela equilibrasse as somas, ainda não havia dinheiro suficiente para comprar grãos para a propriedade. Sua sogra precisava de remédios, os cavalos precisavam ser alimentados...
Mais uma vez, ela teria que usar suas próprias economias minguadas para complementar o orçamento.
Felizmente, Lily havia embalado todas as suas joias, então ela não estava completamente desprovida de recursos. Caso contrário, ela não teria sobrevivido nem a primeira semana aqui neste lugar desmoronando e esquecido por Deus.
Soleia suspirou. Talvez fosse hora de vender outra invenção.
Anteriormente, ela havia vendido uma receita para um creme espesso que protegia a pele do frio, mas as moedas de ouro estavam acabando lentamente. Ela teria ganhado mais se tivesse produzido e vendido ela mesma, mas a propriedade do marido era simplesmente muito inconveniente!
"Minha senhora!" Lily bateu rapidamente na porta. "Tenho grandes notícias!"
"O que é?" Soleia bocejou. "Lucinda exigiu outro banho quente? Diga a ela que não temos mais água quente!"
"Não! É o Duque Elsher! Ele está voltando da guerra!"
Soleia imediatamente levantou-se da cadeira.
"Como assim?"
"É o Duque, Sua Alteza", repetiu Lily. "Ele voltou―"
Soleia não esperou Lily terminar a frase antes de disparar. Com as saias nas mãos, Soleia correu pelos corredores até a porta da frente da propriedade. Não era um prédio grande, como o palácio em que cresceu, e ela chegou aos portões rapidamente.
Ela chegou bem a tempo.
O inverno era muito mais frio aqui no território norte de Vramid, e depois do pôr do sol, a névoa havia rapidamente se acumulado nas florestas que cercavam a propriedade do Duque. No entanto, mesmo à distância, Soleia podia ver os homens a cavalo marchando de volta com tochas nas mãos, a bandeira de Vramid erguida alto no ar.
Um sopro de ar excitado escapou de seus lábios enquanto ela descia os degraus. Depois de dois longos anos guardando o ninho sozinha, seu marido finalmente havia retornado. Ela finalmente não teria que lidar com aqueles parentes insuportáveis dele sozinha nunca mais―
Soleia parou em seus passos quando percebeu que havia outra pessoa liderando as tropas. Duque Elsher não estava no cavalo da frente. Ele caminhava ao lado dele, guiando o cavalo enquanto outra pessoa estava sentada nas costas do animal.
Uma mulher.