"No princípio, havia apenas os Deuses."
Eles moldaram os céus e a terra, esculpiram os mares e as montanhas, lançaram o sol e a lua ao firmamento. Criaram a vida, deram alma aos primeiros homens e os ensinaram a temer, a curvar-se e a rezar.
Pois os Deuses eram absolutos.
E os mortais, insignificantes.
Mas nem tudo que nasce está destinado a obedecer.
Dentre incontáveis gerações, houve um que se recusou a ajoelhar. Um homem sem fé, sem medo, que olhou para os céus e não viu deuses, apenas tronos intocáveis e mãos invisíveis puxando os fios da existência. Ele não rezou. Não pediu. Ele tomou.
Seu crime foi ousar devorar aquilo que não pertencia aos mortais: o poder divino.
Os deuses o chamaram de Herege, um erro que precisava ser apagado. Mas ele já havia se tornado algo além da compreensão, um flagelo que caminhava entre a luz e as sombras, entre a carne e o eterno. Destroçou apóstolos, devorou orações, corrompeu milagres. Cresceu. E os Deuses, temendo o que ele poderia se tornar, voltaram sua ira contra ele.
E então, o Herege caiu.
Seu nome foi apagado. Seus feitos, enterrados. Sua existência, amaldiçoada.
Mas há murmúrios. Profecias proibidas, sussurros esquecidos, escritos em sangue e ocultos dos fiéis. Dizem que um dia, outro Herege surgirá. Alguém que recusará o jugo dos Deuses, que tomará para si o poder que nunca deveria cair nas mãos de um mortal.
E, quando isso acontecer, o mundo tremerá mais uma vez.
Apenas uma pergunta permanece:
Será que os Deuses aprenderam com seus erros?
Ou será que, desta vez, serão eles os caçados?
---