Chereads / A Ascenção do Herege / Chapter 3 - Capítulo 2 – O Lugar Entre Mundos

Chapter 3 - Capítulo 2 – O Lugar Entre Mundos

Caelum sentiu a dor se dissipar. Ele já não tinha mais o peso de seu corpo, nem a sensação de sufocamento que havia o consumido nos últimos momentos. A escuridão, que o cercava por tanto tempo, foi substituída por um vazio profundo e intransponível. Não havia mais tempo. Não havia mais vida. Apenas uma extensão sem fim do que ele soube chamar de "realidade", agora desconstruída. Era como se ele estivesse se desintegrando em pedaços, caindo por um abismo interminável.

Mas então, uma luz começou a surgir diante de seus olhos fechados, algo suave e pulsante. Caelum tentou resgatar o controle, tentar entender o que estava acontecendo, mas sua mente já estava acostumada à ideia de que tudo havia chegado ao fim. A morte não era um lugar. Era um estado de inexistência. Ou, pelo menos, deveria ser.

Quando ele abriu os olhos, a primeira coisa que notou foi a imensidão à sua frente. Não havia terra ou céu. Ele estava flutuando em um espaço sem fim, onde tudo parecia distorcido, como se as leis da física simplesmente não existissem ali. O lugar estava repleto de uma névoa densa que dificultava a visão. Ele olhou ao redor, tentando discernir o que estava acontecendo.

"Isso… não é possível. Onde diabos eu estou?"

A voz que ecoou em sua mente não foi a sua. Não era um pensamento, mas algo mais profundo. Caelum não sabia dizer ao certo, mas parecia que a própria essência do lugar estava tentando se comunicar com ele.

"Você não está mais onde estava, Caelum", uma voz suave e grave falou. "Você foi retirado de seu destino final."

Caelum riu, amargo, sem uma gota de medo. Ele já havia aceitado o fim, aceitado a sua decisão. A dor já havia desaparecido, e agora, tudo parecia uma espécie de cruel piada.

"Então, é isso?" Caelum perguntou, a frustração se acumulando em sua garganta. "Eu me matei, e agora estou preso em algum lugar bizarro? Por que não simplesmente me deixou em paz?"

A voz parecia não se abalar. "Você não pode simplesmente ir embora, Caelum. Sua morte não foi um final. Foi apenas uma transição."

"Transição?" Caelum repetiu, desconfiado. Ele olhou ao redor mais uma vez, como se o simples fato de observar o lugar pudesse fazer mais sentido. "Do que você está falando? O que diabos é isso? Eu morri, e agora… o que? Eu tenho que viver de novo?"

"Sim", a voz respondeu calmamente. "Você não morreu no sentido como pensa. Sua alma foi escolhida para um propósito maior."

"Ah, claro!" Caelum se irritou, seu tom sarcástico tomando conta dele. "Claro que fui escolhido. Isso é sempre o mesmo papo, não é? 'Ah, você tem uma missão, você tem um destino'. Eu não pedi nada disso! Eu só queria acabar com tudo!"

Ele estava ficando nervoso. Ele sabia que, de algum modo, isso não era normal, mas ele não podia entender ainda o que estava acontecendo. Ele sentiu uma pressão no peito, como se uma força invisível o estivesse apertando.

"Você foi escolhido, Caelum", a voz repetiu. "Este é um novo começo. Você terá uma nova vida, em um novo mundo, onde você poderá alcançar poder além de sua compreensão."

A raiva de Caelum explodiu. Ele gritou, a frustração o dominando. "Eu não quero saber de poder, porra! Eu só quero a paz que finalmente alcancei! O que você está fazendo comigo?"

O ser pareceu esperar por aquele momento. Em um instante, a névoa ao redor de Caelum começou a se moldar. Uma enorme figura apareceu diante dele, uma forma que parecia não ter uma estrutura definida, mas que ainda assim o dominava completamente. Era uma entidade tão imensa, tão imponente, que Caelum teve a impressão de que o universo todo estava ali, em sua frente.

"Você acha que pode escapar do que é necessário, Caelum?" a voz ressoou de forma mais profunda agora, como se tivesse surgido de toda a vastidão ao redor. "Você acha que pode simplesmente fugir para a morte, sem compreender o que o universo exige de você?"

A presença de Caelum foi esmagada. Ele sentiu um desconforto insuportável, como se seu corpo, sua essência, estivesse sendo desconstruída. O ser parecia se divertir com a reação dele, com a dor que ele estava sentindo. Mas, para Caelum, essa dor não era mais do que um lembrete. Ele já havia sentido tanto sofrimento durante sua vida, que agora ele se recusava a se deixar abalar por algo tão incerto.

"Eu sei o que você está fazendo", Caelum rosnou, o sangue fervendo de raiva. "Você quer que eu aceite sua proposta, quer que eu aceite essa porra de 'missão' que você está me oferecendo. Não vai funcionar. Não vou ser seu brinquedo."

A entidade então, sem mais palavras, destruiu sua forma. Caelum sentiu uma dor profunda, como se a própria realidade estivesse se rasgando ao redor dele. Ele caiu, ou foi empurrado para um novo espaço, onde se viu reconstruído, como se nada tivesse acontecido, mas com uma sensação crescente de estar sendo mantido em cativeiro.

"Você não tem escolha, Caelum", a voz disse suavemente, mas agora com uma ameaça sutil por trás das palavras. "Você foi escolhido. E agora, você tem uma missão que cumprirá. No novo mundo, você terá a chance de alcançar poder, de construir o seu destino. Mas saiba: sua alma já está marcada. Sua única opção é seguir em frente."

A tensão no ar se dissipou lentamente, e Caelum se viu em um novo espaço. Ele estava novamente inteiro, mas o que sentia era muito mais do que a simples reconstrução do corpo. Ele sentia que algo havia mudado permanentemente. Algo havia sido colocado nele.

E, ainda assim, ele não estava pronto para aceitar a proposta daquele ser. Não ainda.

"Eu vou fazer o que quiser, não porque você me disse, mas porque eu tenho a minha própria razão para continuar."

A entidade não respondeu. Mas Caelum sabia que o jogo estava apenas começando.