Desde a infância, Caelum sempre foi visto como uma figura irrelevante, alguém que passava despercebido. Seus pais, sempre ausentes, nunca demonstraram qualquer tipo de carinho por ele. Para eles, ele era mais um peso, uma responsabilidade que o tempo transformou em indiferença. Ele não sabia o que era um abraço sincero, um gesto de afeto, e a ausência de qualquer tipo de apoio emocional moldou uma pessoa que aprendeu a se esconder do mundo.
Na escola, Caelum nunca teve amigos. Os outros alunos o tratavam com desdém, zombando de sua quietude e da forma como ele se distanciava de tudo e de todos. Seus dias eram passados em um vazio solitário, onde sua única válvula de escape era a imersão em histórias de mundos diferentes – um refúgio encontrado em mangas e animes, mas nada além disso.
A adolescência não foi mais gentil. Ele se tornou alguém introspectivo, talvez por necessidade, já que não tinha apoio. Os anos foram se arrastando de forma insípida, e quando chegou ao ensino médio, ele já não tinha mais esperanças de ser aceito. Ele se sentia invisível, uma presença sem importância. Nada mais importava para Caelum além da forma como o mundo o ignorava. Era assim que ele existia: sem propósito, sem carinho, sem motivo para se levantar todas as manhãs.
Quando chegou à fase adulta, a vida parecia ter se tornado um ciclo sem fim. Trabalhou em diversos empregos administrativos, sem paixão ou ambição. Ele possuía uma habilidade rara: uma memória excepcional, capaz de recordar com perfeição detalhes minuciosos de qualquer coisa que tivesse lido ou visto. Mas, em um mundo que valoriza as conexões sociais, essa habilidade se tornou mais uma maldição do que uma bênção. Ninguém a reconhecia, ninguém se importava.
Ele nunca teve sucesso nos relacionamentos. Tentou se envolver, procurar alguém que compartilhasse a sua dor, mas sempre falhava. Cada tentativa de se conectar com o mundo se transformava em mais uma decepção. Mulheres com quem tentou algo o deixavam sem explicações, e com isso Caelum se isolava ainda mais. O peso da solidão se tornou insuportável, um fardo que ele carregava dia após dia.
Aos 35 anos, ele já não tinha mais forças. Sua vida era uma sucessão de fracassos, de quedas que nunca terminavam. Sem amigos, sem família, sem amor, Caelum olhou para sua vida e não viu nada que o fizesse querer continuar. O vazio estava profundo demais, e ele não sabia mais como lidar com ele.
Foi então que a decisão foi tomada. Ele não queria mais viver nesse mundo de dor constante, onde tudo o que ele tocava parecia se desfazer. Com uma garrafa de comprimidos nas mãos, Caelum fechou os olhos e aceitou que aquele seria o fim. Ele não sentia medo, nem tristeza. Apenas uma sensação de alívio ao se libertar daquilo que nunca havia sido vida de fato.
Mas, antes que o mundo ao seu redor desaparecesse completamente, uma sensação estranha tomou conta de seu corpo. Algo o puxava, uma força invisível que o arrancava da realidade. Foi quando seus olhos se fecharam por completo, que ele sentiu o peso de sua existência desaparecer.
E então, o escuro.