Assim que cheguei em casa ontem, desabei na cama e apaguei. O dia na oficina foi exaustivo, e meu corpo implorava por descanso. Acordei com o celular vibrando na mesa de cabeceira. Era Layla.
— Malia, tudo bem? O que acha de tomarmos um café juntas no Momys?
— Claro! Só vou me ajeitar e te encontro.
— Ótimo, te espero às 8h.
— Fechado!
Layla parecia ser uma garota bacana. Apesar do estilo patricinha, não demonstrava aquele ar esnobe e metido. Se fosse, eu nem perderia tempo trocando palavras com ela.
Me levantei rápido, só para dar de cara com a bundinha do Lorax quase na minha cara. Ele é carente e espaçoso. Dei um afago no peludo e fui me arrumar. Peguei um short branco, um biquíni e uma blusinha aberta — regra número um de quem mora na praia: nunca saia sem um biquíni.
Quando cheguei ao Momys, Layla já estava sentada, sorrindo de orelha a orelha.
— Oiê! Como você consegue ser tão animada às 8h da manhã? — perguntei, sentando ao lado dela.
— Kkk hoje estou de bom humor. Olha o que eu ganhei!
Ela estendeu a mão e exibiu um anel com uma pedrinha de safira.
— Uau, Layla! Que coisa linda!
— Luck me deu ontem. Agora é oficial, anel de compromisso, finalmente!
— Mas vocês já não namoravam?
— Sim e não. A gente se chamava de namorados, mas nada tinha sido oficializado.
— Entendi. Bom, ele tem bom gosto... o anel é lindo!
— Obrigada hihi. E você? Namora, fica, enrola?
— Eu? Kkk sou uma loba solitária. De problemas já bastam os meus.
— Ah, para! É bom ter alguém para compartilhar as coisas, desabafar...
Fiquei pensativa por alguns segundos. Meu último namorado foi no ensino médio. Desde então, não sentia necessidade de outra relação.
Fiz uma cara de "não, obrigada", e Layla riu.
Pedimos dois cafés com ovos mexidos, e Layla começou a contar sobre as ondas em Malibu. Nos empolgamos tanto que nem percebemos o tempo passando. Mostrei alguns designs de pranchas no estilo que ela queria, e ela adorou.
Quando ouvi uma voz familiar na entrada, olhei para a porta e vi Luck e Patrick vindo em nossa direção, rindo e trocando soquinhos.
— Oi, amor! — disse Layla para Luck, apontando o dedo para Patrick e mostrando o anel.
— Finalmente! — Patrick levantou as mãos em um sinal de "glória".
Ele não me cumprimentou, mas mesmo assim, olhei para ele.
— E aí, Malia, como você tá? — perguntou Luck.
— Tô bem. E vocês?
— Bem. — Patrick me encarou por alguns segundos antes de desviar o olhar.
— Que tal pegarmos umas ondas hoje? O dia está perfeito. — sugeriu Luck.
Nunca tive companhia para surfar. Como eu disse, sou uma loba solitária. Mas, dessa vez, achei que seria divertido.
— Topo!
— Pensei que só fizesse pranchas. — Patrick arqueou uma sobrancelha.
— Surfo melhor do que faço pranchas.
— Quero ver.
Quando disse que precisava buscar minha prancha, Patrick se levantou, pegando as chaves do carro.
— Quer uma carona?
— Não precisa, vim de bicicleta.
— Bicicleta? — Ele franziu a testa. — Você não tem carro?
— E deveria?
— Aqui todo mundo tem algum veículo para se locomover.
— Ué, eu tenho. Minha bicicleta.
Ele me lançou um olhar desconfiado, e eu respondi com um sorriso sarcástico.
Layla sugeriu que nos trocássemos na minha casa. Aceitei, e eles me acompanharam devagar enquanto eu pedalava. Assim que chegamos, ficaram impressionados com a vista.
— Malia, sua casa é incrível! — disse Luck, fascinado.
Enquanto eles exploravam a varanda, notei que Patrick segurava Lorax no colo, fazendo carinho nele. Curioso. Lorax não gosta muito de visitas, mas parece que abriu uma exceção.
Fui para o quarto me trocar. Peguei meu wetsuit e estava prestes a fechar o zíper quando a porta se abriu.
— Opa! Desculpa, achei que era o banheiro. — Patrick parou, surpreso e visivelmente sem graça.
Se ele tivesse entrado alguns segundos antes, eu estaria quase pelada.
— Não é legal sair entrando nos lugares assim.
Ele hesitou, depois se aproximou devagar.
— Deixa eu te ajudar.
Sem esperar resposta, virou-me de costas e fechou o zíper. Antes que eu pudesse reagir, ouvi passos na porta. Layla e Luck nos encaravam com expressões confusas.
— Pat? — Luck franziu a testa.
— Achei que fosse o banheiro.
Ele saiu rápido, e eu apenas olhei para Layla e Luck com cara de "também não sei".
No mar, as ondas estavam perfeitas. Pegamos algumas, nadamos, apostamos corrida. Layla surfava incrivelmente bem, e Patrick... bom, ele era melhor do que eu imaginava.
Depois de horas, sentamos nas pranchas, deixando o sol nos aquecer.
— Malia, você é incrível! Devia competir! — disse Layla, empolgada.
— Faço isso por lazer, não quero compromisso.
— Mas deveria investir. — Patrick me olhava com intensidade.
No dia seguinte, enquanto eu trabalhava na oficina, vi Patrick surfando no quintal da minha casa. Ele acenou, e meu corpo se arrepiou. Quando percebi, já estava observando ele há um tempo.
Minutos depois, ele apareceu ao meu lado.
— Oi.
— Oi. E aí?
— Esse lugar é incrível.
— Vou começar a cobrar diária.
— Pago o dobro.
Rimos. Mas então ele me desafiou.
— Faço uma aposta: se você conseguir passar por um tubo ilesa, te dou minha prancha novinha.
— E se eu perder?
— Vai ter que sair para jantar comigo e me dar uma das suas pranchas.
Pisquei, interessada.
— Tenho uma aposta melhor.
— Manda.
— Se você conseguir fazer um aéreo perfeito, deixo você entrar aqui sempre que quiser, pela porta da frente. Mas se perder, vai ter que cuidar do Lorax três vezes por semana, com direito a veterinário e spa.
Ele riu, mas aceitou.
As ondas estavam fortes. Quando tentei fazer o tubo, caí. Patrick, por outro lado, fez um aéreo impecável.
Na areia, ele se aproximou com um sorriso convencido.
— Amanhã, às 7h, estarei aqui. E quanto ao jantar... deixo você escolher quando.
Ele piscou para mim antes de ir embora, ainda comemorando. Droga.