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Chapter 3 - Capítulo 3

Desde então, pelo menos duas ou três vezes ao dia, Patrick aparecia na praia atrás da minha casa. Às vezes, eu só percebia sua presença quando avistava um pontinho preto deslizando entre as ondas. Do armazém onde fazia minhas pranchas, tinha uma visão ampla dele. Ele surgia, sempre com um "Oi" rápido ou um "Tchau, até logo". Sem conversa. Sem contexto. Apenas um fantasma de cabelo bagunçado e sorriso enviesado que cruzava minha visão diariamente.

Não demorou quatro dias para perceber que ele era um surfista excepcional. Patrick tinha controle sobre as ondas como se fosse parte delas. Se quisesse, poderia vencer qualquer campeonato. Mas algo me dizia que não era esse o objetivo. Ele parecia gostar mais do desafio do que do prêmio.

Foi no meio desse pensamento, enquanto finalizava uma prancha da Layla, que meu celular vibrou.

Layla: Malia! Que tal sairmos para uma baladinha hoje? Estou entediada demais!

Eu: Balada, Layla? E tem isso aqui na cidade?

Layla: Claro! Tem uma ótima, pertinho de casa. Você pode vir agora cedo, comemos algo, conversamos e nos arrumamos juntas. O que acha?

Eu: Ok! Mas não tenho roupa pra essas coisas. Minhas roupas são bem praianas e casuais.

Layla: Não tem problema, gata! Sua fada madrinha chegou kkk. Temos praticamente o mesmo corpo.

Joguei o celular na cama e comecei a arrumar uma bolsa básica: maquiagem, produtos de higiene, perfume. Tomei um banho e, enquanto secava o cabelo, ouvi um barulho na entrada. Quando olhei, Patrick estava parado ali, examinando o entorno, como se procurasse alguém.

— Tá tudo bem? — perguntei, segurando o secador de cabelo.

Ele ergueu o olhar e sorriu de canto.

— Ah, oi. Tá sim. Só estava te procurando.

— Procurando por mim?

— Sempre que venho aqui, você me vigia. Hoje achei estranho não ter alguém me cuidando.

Revirei os olhos, cruzando os braços.

— Não fico te vigiando, você que aparece no meu campo de visão. Acaba sendo meu entretenimento.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Sei...

Patrick pegou a prancha que estava na areia, mas, ao invés de entrar no mar, me olhou de relance.

— Vai sair?

— Vou pra casa da Layla.

— Quer uma carona? Moro por perto.

— Imaginei que morasse.

Aceitei. Eu já estava atrasada e não queria pedalar até lá. Enquanto ele dirigia, admirei as casas luxuosas do condomínio. Só conhecia aquele lugar de vista, e agora estava ali dentro, sentindo-me deslocada entre jardins impecáveis e cachorros de raça que pareciam mais chiques do que eu.

Patrick me deixou em frente à casa da Layla. Antes que eu pudesse agradecer, ela apareceu na porta e veio correndo.

— Mais tarde vamos na Fantasy! Falei com o Luck, ele provavelmente vai te chamar também, mas já estou adiantando a fofoca.

Ela puxou minha mão, me arrastando para dentro.

— Valeu pela carona! — gritei para Patrick.

Ele apenas fez um sinal de soldado obediente e partiu.

Layla me emprestou um vestido azul longo, solto, com uma fenda na perna. Fez ondas no meu cabelo e uma maquiagem leve. Quando nos olhamos no espelho, rimos. Parecíamos versões alternativas uma da outra. Pegamos um dos carros da garagem e seguimos para a balada.

O lugar era sofisticado, não muito cheio, e a música era agradável. Assim que entramos, avistamos Luck e Patrick. Havia uma garota com eles, mas ele não fez questão de apresentá-la.

— Peguei o melhor camarote para gente — disse Patrick, vitorioso.

— Nossa, como? — Layla arregalou os olhos. — Tentei fazer uma reserva e me disseram que estava lotado.

Patrick sorriu de lado.

— Vantagens de vir de uma família de nome.

Revirei os olhos e me virei para observar o ambiente. Ele era esnobe. Irritantemente esnobe.

No camarote, Patrick passou o tempo todo de mãos dadas com a garota misteriosa. Quando me desafiaram a contar sobre nossa aposta, ele fez questão de esfregar na cara de todos.

— Falou pra eles que perdeu, Malia? — Ele me olhou com um brilho zombeteiro.

Layla se engasgou com o drink.

— E que você vai ter que me deixar surfar no seu quintal todos os dias e sair comigo para jantar?

Não respondi. Apenas peguei minha taça e fui até a pista de dança. Dois mojitos foram suficientes para me animar. No meio da música, senti uma mão em minha cintura. Me virei e vi Patrick a centímetros do meu rosto.

— Não me toca — murmurei, me afastando imediatamente.

Ele apenas sorriu de canto, sarcástico.

Layla e Luck estavam bêbados quando decidiram sumir juntos. Me deixaram com as chaves do carro e um "Fica à vontade". Quando cheguei na casa dela, Patrick estava sentado na entrada, o rosto machucado e um corte na testa.

— Meu Deus, Patrick! O que aconteceu?

Ele se levantou com dificuldade, apoiando-se em mim. Seu olhar estava turvo.

— Cadê a Layla?

— Com o Luck. Quem fez isso com você?

Ele não respondeu. Apenas desviou o olhar.

Levei-o para dentro, encontrei um kit de primeiros socorros no banheiro e limpei seus ferimentos. Quando terminei, ele pegou o celular do sofá e, antes que eu pudesse evitar, vi uma notificação.

"Te encontro na Praia Vermelha em 2 horas."

Layla.

Meu estômago revirou. Será que eles tinham um caso?

Ele notou meu olhar e pegou o celular da minha mão. Sem dizer nada, deitou-se no sofá e dormiu.

Eu não conseguiria dormir. Peguei as chaves e fui para a praia. Precisava entender o que estava acontecendo.

Quando cheguei, vi Layla sentada na areia, abraçando os joelhos. Toquei seu ombro.

— Malia? O que... Cadê o...?

— Patrick? Ele levou uma surra e estava na sua porta. Cuidei dele, agora está roncando no seu sofá.

Ela ficou pálida.

— Layla... você está tendo um caso com ele?

— O quê?! Claro que não! — Ela riu nervosa. — Eu e Patrick somos amigos há anos. Antes mesmo de ele conhecer o Luck.

— Então por que esse encontro secreto numa praia deserta às cinco da manhã?

Ela suspirou.

— Patrick me procura quando está mal. Ele não confia em muitas pessoas.

— Mas você sabe que esconder isso do Luck vai acabar mal, né?

Ela ficou em silêncio.

— Você gosta dele? — Layla perguntou, me analisando.

— Ele é bonito, surfa bem, tem um tanquinho maravilhoso...

— Maaas?

— Mas se acha melhor que todo mundo.

Ela sorriu.

— Com o tempo, você se acostuma.

Olhamos o nascer do sol em silêncio. Mas uma coisa estava clara: Patrick tinha segredos. E, de alguma forma, eu estava cada vez mais envolvida neles.