Chereads / Através das Ondas / Chapter 4 - Capítulo 4

Chapter 4 - Capítulo 4

Deixei a porta aberta para o Patrick. Resolvi manter a aposta—não quero sair como a sem palavra no rolê. Ele chegou por volta das oito da manhã, enquanto eu tomava café na cozinha. Vi de relance quando ele passou pela sala e parou para dar carinho no Lorax.

— Você tá bem? — perguntei, sem levantar muito a cabeça da xícara.

— Tô bem, sim. Obrigado por ontem.

— O que aconteceu?

— Nada que seja interessante ou da sua conta.

Levantei uma sobrancelha, lançando um olhar de "Nossa, logo de manhã?".

— De boa, faz parte do seu charme — retruquei, sarcástica.

Ele revirou os olhos e se levantou.

— Inclusive, jantar hoje. Sei que você está enrolando.

— Hoje? Tem que ser hoje?

— Tem algo mais importante pra fazer? Sua vida não parece ser muito agitada, hein.

— Eu trabalho, Pat. Diferente de você, não tenho uma família rica me bancando.

— Então arruma um tempo. Foi uma aposta. Cumpra com o combinado.

— Mimimi — murmurei, revirando os olhos.

Ele pegou a prancha e foi direto para a praia, que ficava logo atrás da minha casa. Devia ter deixado ele machucado esperando a Layla na porta, pensei, ainda meio rabugenta. Liguei o som no volume máximo e fui para o armazém.

Quando me dei conta, estava parada na porta, de braços cruzados, rindo sozinha enquanto o observava surfar. As manobras eram impressionantes, e a trilha sonora de Boom Clap, da Charli XCX, só deixava tudo mais nostálgico. Sem resistir, corri para trocar de roupa, peguei minha prancha e aumentei o som. Não queria perder aquele momento.

Assim que entrei no mar, Patrick abriu um sorriso, ergueu as mãos e bateu palmas. Começamos a surfar juntos, sem palavras, sem necessidade de conversa. Apenas olhares, a prancha e o mar. O tempo passou sem que percebêssemos, e só paramos quando o sol começou a se pôr, a maré baixando junto com as ondas.

— Passo aqui às 19h30. Não se atrasa! — ele avisou, remando de volta para a areia.

Joguei a cabeça para trás num gesto exagerado de impaciência e rimos.

— Não vem? — ele perguntou.

— Vou ficar mais um pouco.

— Beleza. NÃO SE ATRASA!

— Para de ser chato, affs!

Ele seguiu remando em direção à praia, enquanto eu boiava por mais alguns minutos. Ego, da Beyoncé, começou a tocar no som, me arrancando uma risada. O céu estava alaranjado, gaivotas voando ao longe. Me peguei pensando em como seria minha vida se eu tivesse metade do dinheiro que esse pessoal tem. Como seria crescer filha de papai, com um império para administrar? Era um pensamento tentador, mas no fundo, eu sabia que não era minha vibe. Gosto da minha liberdade, mesmo com alguns perrengues financeiros.

Suspirei, saí do mar e fui para casa me arrumar para sair com o playboyzinho.

Não fazia ideia de onde ele ia me levar, mas apostava em algum lugar chique. Patrick adorava se exibir. Escolhi um vestido preto tubinho, curto, com uma fenda discreta, que valorizava minhas curvas. Nos pulsos, meus braceletes inseparáveis. Triondas no cabelo, maquiagem leve.

Por mim, eu me vestiria igual uma mendiga só para irritá-lo, mas não queria que ele me olhasse com ar de superioridade. Se eu me irritasse, podia acabar socando a cara dele, e íamos evitar isso.

Quando ouvi a batida na porta, respirei fundo. Peguei meu celular e fui.

Assim que me viu, ele parou por um instante.

— Uau — soltou, sem disfarçar a surpresa.

Lancei um sorriso forçado e o segui até o carro. Para minha surpresa, ele foi cavalheiro, abriu a porta para mim e esperou que eu entrasse antes de dar a volta.

O que eu tô fazendo?

Ele dirigiu em silêncio por cerca de vinte minutos até chegarmos a um restaurante que eu conhecia. Ainda bem que me vesti direito. Como eu suspeitava, era o tipo de lugar onde ele poderia se exibir.

Patrick deu o nome na entrada e fomos guiados até uma mesa. Assim que nos acomodamos, começamos a conversar enquanto esperávamos a comida.

— Entre tantas opções pra aposta, por que escolheu um jantar comigo? — perguntei, encostando no encosto da cadeira.

— Se eu te convidasse sem aposta, você aceitaria?

— Claro que não.

— Então…

— Mas por que me convidaria?

— Você pergunta demais.

— Quero saber qual o seu interesse.

— Achei você interessante. Além de chata.

Revirei os olhos.

— Eu, chata? Não sou eu que fico esfregando riqueza na cara dos outros.

— Esse é o seu problema comigo? Meu dinheiro?

— Não. O problema é que você é insuportável.

Ele riu, balançando a cabeça.

— Por que você só enxerga meus defeitos?

— Que qualidades, Pat? Mal te conheço.

— Então me conheça.

— Eu te rotulo pelo que vejo.

O garçom chegou com o vinho, e eu não recusei uma taça. Nem a segunda. Nem a terceira. Conversamos sobre pranchas, campeonatos e surfistas, e pela primeira vez, achei nossa conversa legal. Tínhamos algo em comum. Ele me contou sobre os campeonatos que participou, das viagens que fez com um grupo de surfistas que conheceu enquanto acampava.

Foi quando soltou:

— Meu pai é político.

Eu pisquei.

— Jura? Não faço ideia de quem seja.

Ele riu.

— Percebi que você não liga pra esse tipo de coisa.

— Nem um pouco.

Mais vinho. Mais conversa. O álcool foi soltando minha língua.

— Você e a Layla são amigos beeem próximos, né?

Ele não pareceu surpreso.

— Sei que você sabe. Vi você bisbilhotando meu celular.

— Estava na tela de bloqueio. Se quer esconder algo, esconda direito.

Ele me olhou por alguns segundos.

— Por que você é tão difícil?

— Não sou. Essa sou eu.

O vinho seguiu descendo fácil, e a cada gole, eu ria mais das piadas sem graça dele. No fim, pagou a conta e fomos embora.

Coloquei uma música no rádio e fui cantando a caminho de casa.

— Mas já? Ah, estava divertido — resmunguei, gargalhando.

— Pois é, eu sou divertido.

Ele entrou comigo, foi direto para a cozinha e, pelo cheiro, colocou café para passar. Eu, jogada no sofá, via tudo girar.

— Toma esse café, vai te ajudar.

Ele me entregou a xícara e sentou ao meu lado. Dei um gole e, antes que percebesse, desabei contra o ombro dele.

Dormi feito uma pedra.